Alerta de terrorismo: mais um lobo solitário
Para J.B., o Ocidente é um alvo a abater. Trata-se de um mundo de hedonismo, divorciado dos valores que estruturam as sociedades puras e justas. O Ocidente está confortavelmente deitado nos braços da promiscuidade sexual e do consumo rápido, fácil e acrítico, um espaço onde a indecência vagueia com um à vontade mefistofélico. Perante tamanha ignomínia, o exercício de crítica é timorato e confunde-se com complacência. A J.B. não lhe restava outro caminho que não fosse a mais elevada forma de sacrifício: oferecer-se como mártir, levando consigo o maior número possível de vidas imorais. Contudo, foi detido a tempo pela polícia belga. Quando analisaram o engenho explosivo que levava à cintura, os elementos policiais depararam-se com um novo e grotesco instrumento de terror: sal e bolachas. Sim, leu bem. Este jihadista pretendia rebentar o mundo que odeia usando sal e bolachas. A candura idiota deste indivíduo transporta uma carga cómica capaz de ressuscitar os grandes nomes do humor, de Benny Hill a Badaró.
A informação disponível é escassa, mas tudo indica que J.B. contactou as autoridades locais no início do mês afirmando ter contactos com organizações terroristas que o incentivavam a juntar-se às fileiras jihadistas na Síria. Mas nenhuma se perfilou para reivindicar esta admirável tentativa de atentado. Faltou o módico de competência que infelizmente não faltou ao alienado responsável pela matança em Orlando. É a rotina habitual na maioria dos casos de lobos solitários: indivíduos com sérios distúrbios mentais cometem actos de violência em nome de um terrorismo que não entendem e com o qual não têm qualquer relação. Se há um mínimo de mestria, há uma longa lista de organizações a reivindicar a barbárie. Caso contrário, o demente fica a falar sozinho.
O mais curioso nestes casos é que os detractores do Islão obedecem ao mesmo padrão de comportamento. Se há um mínimo olímpico de competência no atentado, mesmo que estejamos perante de um caso óbvio de psicopatia, são rápidos a rotular o Islão como uma fé de violência, de intransigência, de sectarismo. Os factos são acessórios para a defesa do seu argumento. No entanto, quando a inépcia do terrorista roça o absurdo, os militantes anti-Islão disfarçam a sua indignação, sendo incapazes de reconhecer que aquilo que é comummente designado como jihadismo pouco tem que ver com Islão e encerra realidades muito diferentes que não se prestam a leituras imediatistas.