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Delito de Opinião

O prémio Shit-zker

Rui Rocha, 20.06.11

A Cãmara Municipal de Leiria decidiu vender o Estádio Municipal em hasta pública. Aquele que foi um dos palcos do Euro 2004 terá como preço base 63 milhões de euros. Considero que esta é uma péssima decisão. A maturidade de um país mede-se, também, pela capacidade de assumir erros e fracassos. Os estádios de futebol do Euro 2004 deviam ser mantidos na esfera pública, encarregando-se o tempo de providenciar a sua degradação, até se tornarem colossos em ruínas. É fundamental que suportemos os custos mínimos e indispensáveis de tal processo até ao último tostão. Para aprendermos. As páginas dos livros de história devem inclui-los nos capítulos dos desastres, com dimensão equivalente à de Alcácer Quibir. Salientando a diferença fundamental. D. Sebastião desapareceu e os responsáveis por este atoleiro continuam por aí. O país é periférico, tem matriz católica, o solo não é muito fértil,  o euro está em crise, os especuladores são lixados e um par de botas.  Com as solas rotas. Mas, que diabo. Nós cavámos bem a nossa parte do buraco e não devemos prescindir de o afirmar com provas e evidências. Pedagogicamente, as visitas escolares do futuro deviam começar todas numa escola secundária reabilitada pela Parque Escolar. Sim, é importante apreciar no local os jardins interiores, os candeeiros torneados, os sofás e os tapetes. E contactar com a realidade. Começando pela disponibilidade de fabulosos quadros interactivos que ninguém usa e a quase total indisponibilidade de verba para os marcadores necessários para escrever um exercício ou uma frase. Depois, a visita deveria prosseguir em direcção a Leiria, assegurando-se, independentemente da origem, uma passagem prolongada pela indispensável Auto-estrada do Pinhal Interior. Para terminar, no centro do Estádio em ruínas, deveria ser projectado um vídeo de Mesquita Machado, o autarca de Braga, afirmando o seu orgulho pelo facto de a capital do Minho dispor, não de um, mas de dois estádios municipais. A nossa redenção passa por encararmos este passado recente de frente. Para tal, proponho ainda a instituição do Prémio Shit-zker. A atribuir anualmente ao responsável público que mais se distinguisse na promoção de projectos inúteis com potencial para pôr em perigo o futuro das próximas gerações.