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Delito de Opinião

Lübeck

Cristina Torrão, 27.07.24

Além da Casa Buddenbrook, Lübeck tem outras atracções. E eu não poderia ir a esta cidade sem visitar a Igreja católica do Coração de Jesus, onde se encontra a ala de homenagem aos quatro mártires, dos quais já aqui falei: Hermann Lange, Eduard Müller, Johannes Prassek e Karl-Friedrich Stellbrink - os quatro sacerdotes (três católicos e um luterano) executados pelo regime nazi, a 10 de Novembro de 1943.

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Foto © Horst Neumann

 

Não vimos tanta gente nesta bonita igreja como tínhamos imaginado. E um conhecido nosso, morador em Lübeck (embora não natural de lá) e com quem nos encontrámos, não tinha ainda ouvido falar destes mártires! Por a homenagem se encontrar numa igreja católica?

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Foto © Horst Neumann

 

Na verdade, além de, hoje em dia, muita gente, apesar de ser mais ou menos crente, andar afastada das igrejas, os católicos são uma minoria, no Norte da Alemanha, de esmagadora maioria luterana. Muitas vezes, as comunidades católicas sobrevivem à custa dos imigrantes: muitos polacos, bastantes sul-americanos, alguns portugueses e um ou outro espanhol. De qualquer maneira, a igreja do Coração de Jesus estava em muito bom estado e até fomos presenteados com música, tocada ao vivo, no órgão. A entrada na ala de homenagem é gratuita, mas os visitantes costumam deixar um contributo voluntário nas várias caixas de esmolas.

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Foto © Horst Neumann

 

Ao contrário da igreja católica, a catedral de Lübeck, pertencente à Igreja luterana, tinha muitos visitantes (os católicos do Norte da Alemanha pertencem à arquidiocese de Hamburgo). Enfim, uma catedral é sempre mais imponente, apesar de esta, para a sua categoria, até nem ser muito grande.

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Foto © Horst Neumann

 

Nesta fotografia, estou a filmar antigos túmulos, pertencentes a elementos da nobreza dos séculos XVIII e XIX, que me impressionaram pela sua imponência. E aqui está o resultado das filmagens:

Casa Buddenbrook

Cristina Torrão, 23.07.24

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Holstentor (Porta de Holsten), em Lübeck - Foto Horst Neumann

Lübeck, no Norte da Alemanha, não tem apenas um passado glorioso como importante cidade da Liga Hanseática. Era igualmente o berço dos irmãos Thomas e Heinrich Mann, cuja família enriquecera precisamente com o comércio praticado nos Mares do Norte e Báltico.

Thomas, vencedor do Nobel da Literatura, é o mais conhecido dos dois. Mas Heinrich Mann foi igualmente um excelente escritor, autor de, por exemplo, Professor Unrat, o livro que serviu de base ao filme O Anjo Azul, dando a conhecer ao mundo Marlene Dietrich.

Thomas Mann escreveu verdadeiros clássicos da literatura mundial, como Morte em Veneza, A Montanha Mágica e Os Buddenbrook (todos eles fontes de inspiração para o cinema e/ou séries). N' Os Buddenbrook, o escritor baseou-se na própria família. Tanto, que a casa dos Mann, em Lübeck, construída em finais do século XVIII, se passou a chamar Casa Buddenbrook.

Íamos com vontade de a visitar, na semana passada, mas estava em obras. Pode, aliás, visitar-se uma exposição sobre os Buddenbrook num outro outro local, mas acabámos por não o fazer. Fica para a próxima, quando a verdadeira casa tornar a abrir ao público. Lübeck não é muito longe de Stade: cerca de 120 km, hora e meia de comboio, com transbordo em Hamburgo. No entanto, se quisermos ver o interior da famosa casa, teremos de esperar até 2028. Nessa altura, as obras terão durado cerca de dez anos.

A duração destes trabalhos tem dado que falar. Não sei se foi essa polémica a inspiração para a espécie de banda desenhada colocada nas janelas da casa. Os protagonistas são os próprios irmãos Mann. No início, são identificados com turistas, que dão com a porta fechada.

- Thomas, a Casa Buddenbrook está em obras.

- Nós conseguimos fazer melhor Heinrich, se unirmos a intelectualidade à força dos nossos braços.

Heinrich permanece céptico, mas Thomas está decidido. Os dois começam os trabalhos e não tarda a instalar-se a confusão. Depois de algumas peripécias, o balde de cimento fresco acaba por cair e enfiar-se na cabeça de Heinrich. Thomas acha uma pena, tinha acabado de misturar o cimento, tanto trabalho para nada. Nestas cogitações, dá-se conta de que o melhor é livrar o irmão daquela situação aflitiva, antes que o cimento seque.

- Boa ideia - concorda Heinrich. - Tu tens sempre as melhores ideias.

Vaidoso com o elogio, Thomas inicia uma dissertação sobre como tem sempre boas ideias, seja para enredos, seja em pensamentos filosóficos, até que Heinrich tem de o interromper, pois o cimento começa a secar. Depois de resolvida a situação, Thomas sugere deixar aquele tipo de trabalho nas mãos de profissionais.

- Mais uma vez, uma exelente ideia tua - concorda Heinrich. - Olha, vamos mas é à Behnhaus, ver a exposição dos Buddenbrook!

- Surpresa! Afinal, tu também tens boas ideias!

Para ser sincera, não achei grande piada. Acho que estes dois génios da literatura mereciam melhor do que uma história que os infantiliza e carecida de originalidade, ao basear-se na máxima "cada macaco no seu galho": os artistas que façam uso da sua intelectualidade e deixem outros tipos de trabalho para quem entenda disso. Seria para honrar os trabalhadores da construção civil? Não haveria outra maneira? Qual é a vossa opinião?

Enfim, deixo-vos com um pequeno vídeo da fachada da Casa Buddenbrook. Valha ao menos as figuras dos irmãos estarem bem desenhadas.