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Delito de Opinião

As ligações insulares da Líbia

João Pedro Pimenta, 30.03.18
O suposto patrocínio de Muammar Kadhafi e do regime líbio à campanha presidencial de 2007 de Nicolas Sarkozy, que levaram à detenção deste há poucos dias,  não é exactamente uma novidade nem um rumor esquecido. Já tinha sido publicitada várias vezes, a começar pelo filho do próprio ditador da Líbia durante o levantamento no país, quando a França liderou a intervenção militar externa que seria decisiva para a queda do "regime verde" e para os acontecimentos que se seguiram. 
 
A ser verdade não sei quais as razões deste patrocínio financeiro a Sarkozy, mas por certo seria para obter quaisquer objectivos financeiros ou estratégicos da parte da França. De resto, Kadhafi nunca deixou de se imiscuir nos assuntos dos outros países de forma diversa. Na sua versão mais recente fazia-o através de recursos económicos proporcionados pelo petróleo líbio, como os interesses que tinha em empresas italianas como a FIAT, ou até em clubes de futebol. Mas nas primeiras décadas, o coronel esteve envolvido em  quase todos os conflitos envolvendo terrorismo e rebelião. Do IRA à ETA, passando por todas as organizações palestinianas e estando por trás de grandes atentados dos anos oitenta, como a explosão do avião sobre Lockerbie, ou estreitamente ligado aos grandes terroristas da época, como Carlos, O Chacal, ou Abu Nidal, Kadhafi não perdia uma. E quando não tinha uma organização terrorista ou ma causa subversiva para apoiar, procurava-as. Um artigo recente de Rui Tavares conta-nos que o ditador líbio, numa reunião da Organização dos Estados Africanos, exigira a "liberdade da colónia africana da Madeira, ocupada por Portugal", dizendo o mesmo das Canárias. Se a esta ainda podia fazer referências aos guanches, o povo autóctone pré-espanhol, já dificilmente veríamos os madeirenses a querer ser libertados por Kadhafi. 

 

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Mas os líbios, sempre prestes a auxiliar um bom movimento separatista, também olhavam para os Açores, já fora da órbita africana. César Oliveira, antigo deputado e autarca do PS (e pai de Tiago Oliveira, agora muito falado por estar à frente da estrutura que previne os fogos rurais), já desaparecido, conta-nos as suas impressões da Líbia em finais dos anos setenta no seu livro de memórias de 1993, Os Anos Decisivos:

País de um novo-riquismo impressionante e avassalador, a Líbia constituiu (...) a certeza de que representava uma ameaça para a paz e no Norte de África como para o próprio Sul da Europa (...) Um alto dirigente líbio colocou-me a pergunta sobre a posição da UEDS quanto à ala esquerda da FLAMA e da FLA. E como tivéssemos respondido, naturalmente, que não víamos qualquer ala esquerda naqueles movimentos insulares e que, pelo contrário, os víamos como de extrema-direita e politicamente suspeitos, acabaram-se todas as facilidades e tive mesmo dificuldades em obter o bilhete de avião  para Lisboa, via Roma. 
 
Claro que o apoio a tais movimentos não passou de intenções, discursos e perguntas. Mas revela bem até que ponto aquele excêntrico regime líbio interferia ou procurava interferir nos assuntos dos outros países. Daí que não possa deixar de me rir quando ainda ouço inúmeras indignações A invasão e "violação da soberania da Líbia." Não que não tivesse acontecido, que aquilo não tenha redundado num caos e que a morte de Kadhafi e outros não seja condenável. Mas se houve país que se imiscuiu nos assuntos alheios, com consequências trágicas, a Líbia é o melhor exemplo, assim como Kadhafi é o responsável por inúmeras mortes e conflitos. Aplicou-se, de novo, a velha teoria de que quem com ferros mata...

Os Buíças de Sirte

Pedro Correia, 24.10.11

Pensava que a esquerda radical era claramente favorável ao tiranicídio. Pensava que a esquerda radical gostava de ver ditadores executados pelas "massas populares" em vez de os ver placidamente confiados à "justiça burguesa". Afinal enganei-me: o Bruno Carvalho e a Helena Borges, que nunca choraram qualquer lágrima pelas vítimas de Kadhafi, andam a chorar a forma como o ditador foi executado. Tratou-se de um acto brutal e repugnante - de acordo. Mas será que no mesmo blogue onde escreve quem celebrou o regicídio de Fevereiro de 1908, elegendo até esse duplo crime que chocou a Europa como acto fundador da república portuguesa, sobrará um pingo de moral a alguém para se indignar agora contra os Buíças de Sirte?

Lágrimas pelo coronel corrupto

Pedro Correia, 21.10.11

Muammar Kadhafi era um simples coronel do exército líbio quando subiu ao poder, em 1969. Quarenta e dois anos depois, ao ser derrubado, era um dos homens mais ricos do planeta e provavelmente o mais rico do continente africano: a sua fortuna estava avaliada em 150 mil milhões de dólares, desviados de fundos estatais da Líbia e espalhados um pouco por todo o mundo. Só em Portugal, como revelou hoje o Público, o ditador deixou 1300 milhões de euros em quatro contas na Caixa Geral de Depósitos. 

Nada de muito original: vários ditadores antes dele eram também corruptos. Novidade é vermos pela primeira vez a esquerda radical, pura e dura, verter lágrimas por um multimilionário.

Como se mata um Khadafi

Rui Rocha, 21.10.11

Tudo indica que Khadafi foi conduzido à morte tal e qual como viveu. De forma ignóbil e cobarde. Nada que nos faça perder tempo se o nosso ponto de referência for a relação do próprio Khadafi com a vida e com a morte. O ditador infame, por si, não vale, sequer, o custo de produção das balas que o mataram. Todavia, se sempre o repudiámos em vida, como podemos  tomar-lhe agora o referencial sanguinário para nos pronunciarmos sobre a sua execução? Há aqui um estremecimento que interpela o nosso sentido de dignidade e de justiça. Não me parece que possamos admitir que o nosso sistema de valores está também indexado ao preço dessas mesmas balas. Sob pena de termos de reconhecer que somos mais rápidos a seguir a lição da barbárie do que as revoluções árabes a encontrar o caminho da democracia. Dir-me-ão que não vale a pena perder tempo com o fim do déspota. Respondo que fazê-lo é falar muito mais de nós e muito pouco dele. Para além disso, reclamo para mim uma paz de espírito que me permita continuar a espantar-me com exemplos como aquele que o Luís aqui nos traz. Em rigor, nenhum ditador merece morrer assim. Um julgamento justo, uma pena adequada, a expiação, um a um, de todos os crimes cometidos, a privação do poder de que abusaram, a existência prolongada no limiar da fragilidade humana, é esta a única forma adequada de os matar.

Reflexão do dia

Pedro Correia, 28.08.11

 

«'Façamos um raciocínio meramente experimental', escrevia a académica americana Anne-Marie Slaughter no Financial Times, na quinta-feira passada. 'Imaginemos que a ONU não tinha votado a autorização do uso da força na Líbia, em Março passado. Que a NATO não tinha feito nada. Que o coronel Kadhafi tinha tomado Bengasi. Que os Estados Unidos tinham ficado a ver. Que a oposição líbia ficara reduzida a um ou outro protesto, rapidamente esmagado...'

Para o povo líbio e para a Primavera Árabe, as consequências deste cenário alternativo teriam sido obviamente catastróficas. E para a Europa? Teria sido absolutamente insuportável do ponto de vista moral e do ponto de vista político. Os europeus passaram anos a apostar na 'estabilidade' do mundo árabe, garantida pelos regimes mais ou menos opressores que dominavam a região. Com ou sem estados de alma, conviveram tranquilamente con Ben Ali ou Mubarak e passaram a ser (uns mais do que outros) visitas assíduas à célebre tenda do coronel Kadhafi, sobretudo a partir do momento em que o ditador aceitou renunciar ao terrorismo e a qualquer ambição nuclear a troco da reabilitação ocidental. No início deste ano, descobriram que, afinal, a única alternativa aos ditadores não era o fundamentalismo islâmico, que os povos da região também aspiravam à dignidade e à liberdade e resolveram agarrar no destino com as próprias mãos. Teve de rever a sua estratégia. Imagina-se o que teria significado se os mesmos visitantes da tenda assistissem impávidos e impotentes a um massacre em Bengasi.»

Teresa de Sousa, no Público

De Salazar a Kadhafi

Pedro Correia, 23.08.11

 

Escuto um daqueles programas destinados a "ouvir a voz do povo" num canal televisivo de notícias. O tema da tarde era a queda da ditadura líbia no preciso momento em que as forças da oposição irrompiam no bunker de Kadhafi, no centro de Trípoli, e se confirmava a conquista da capital após seis meses de sangrenta guerra civil.

Para meu espanto, nem uma só voz se ergueu em defesa dos combatentes anti-Kadhafi. Todas as opiniões exprimiam apoio explícito ou velado ao coronel que oprimiu a Líbia durante 42 anos.

Opiniões como estas:

«A Líbia é um paraíso. É um país como a Suíça, mas [os opositores] deram cabo dele.»

«Preocupa-me saber o que é que estes senhores [da oposição] vão fazer quando chegarem lá [ao poder].»

«Eu nunca estive na Líbia. Mas o que está em causa na Líbia é o dinheiro, é o petróleo.»

«Há duas semanas também houve violência na Inglaterra.»

«Não me venham falar em direitos humanos.»

«O que vão fazer ao Kadhafi? O mesmo que ao Saddam Hussein?»

Trinta e sete anos depois do 25 de Abril, chegámos a isto: queremos a democracia para nós enquanto toleramos e até aplaudimos a ditadura para os outros. Quem lamenta a queda de Kadhafi, pela mesma lógica, alinharia por Marcelo Caetano contra Salgueiro Maia.

«Não me venham falar em direitos humanos.» Uma frase que poderia ter sido proferida por Salazar, reeditada neste Portugal do século XXI. Como se a atracção pelos regimes de "pulso forte" estivesse inscrita no nosso código genético.

Este já não prende mais ninguém

Pedro Correia, 22.08.11

 

Muammar Kadhafi subiu ao poder há 42 anos. Quando Marcelo Caetano era o chefe do Governo português, Richard Nixon disputava a Casa Branca contra Hubert Humphrey e Neil Armstrong acabara de deixar a sua pegada impressa no solo lunar. A larga maioria dos líbios nunca conheceu outro dirigente supremo senão este coronel que nos últimos seis meses, acossado pela crescente revolta de massas contra o seu domínio tirânico, não hesitou em desencadear uma guerra civil contra o próprio povo.

Kadhafi, convém recordar, foi um dos ditadores a quem o Governo português estendeu a passadeira vermelha em Dezembro de 2007, por ocasião da  lamentável cimeira UE-África. Como na altura escrevi, o seu cadastro como governante era o menos recomendável possível: «Financiou o terrorismo internacional. Sob o seu mandato, pelo menos 250 presos políticos "desapareceram" misteriosamente. Os partidos são rigorosamente proibidos no país. A liberdade de expressão é uma miragem. A tortura generalizou-se como instrumento de combate ao "crime". Muitas mulheres suspeitas de adultério são remetidas a casas de "reabilitação". Na Líbia de hoje, uma crítica ao Governo pode ser punida com a prisão. Ou ainda pior: a tristemente célebre Lei 71 pune a "dissidência", em casos extremos, com a pena de morte.» O mais recente relatório anual do Observatório de Direitos Humanos não deixava lugar a dúvidas: «A repressão da sociedade civil, sob o controlo do Governo, continua a ser norma na Líbia.»

Kadhafi não está em condições de mandar prender e torturar mais ninguém: a resistência líbia já entrou em Trípoli e promete instaurar um regime democrático no país. O coronel não lidera nada, mas as televisões portuguesas continuam a chamar-lhe "líder líbio". Será assim tão incómodo pronunciar a palavra ditador?

Os ventos da liberdade

Pedro Correia, 18.08.11

 

Estamos em 2011, como estivemos em 1989, a viver tempos de grande aceleração da História. Um passo é dado sem que tenhamos capacidade para prever qual será o passo seguinte, tão dinâmica é a realidade e tão voláteis são alguns cenários que julgávamos sólidos e resistentes. Há seis meses, por exemplo, nenhum dos mais credenciados observadores da cena política internacional era capaz de vaticinar os movimentos insurreccionais que se sucederam no Magrebe e na Península Arábica contra as ditaduras de diversos matizes ali instaladas. Ben Ali e Hosni Mubarak, que geriam com punho de ferro a Tunísia e o Egipto, caíram do pedestal e viram-se forçados a enfrentar pesadas acusações do foro criminal. O coronel Kadhafi, outrora ídolo da esquerda radical europeia, está cada vez mais cercado no seu bunker de Trípoli, com a Líbia a ferro e fogo, enfrentando um crescente movimento de revolta popular: em desespero, não consegue encontrar melhor modelo do que o Franco de 1939 para garantir que esmagará o seu próprio povo. Na Síria, a ditadura de Assad tenta desesperadamente dispersar a tiro o irreprimível movimento de protesto que leva milhares de pessoas para as ruas em massas compactas de indignação: muitas delas já pagaram com a vida este impulso em defesa da liberdade.

Ao contrário do que pensadores como Hegel e Marx defendiam no século XIX, há sérios limites para a capacidade de previsão em História. Que o digam todos aqueles cultores da realpolitik - com Henry Kissinger à cabeça - que nas décadas de 70 e 80 agiam como se a política de blocos nascida da Conferência de Ialta estivesse inscrita nas estrelas, como garantia para a eternidade. Nenhum deles foi capaz de prever aquele inesquecível ano de 1989, quando toda a Europa de Leste submetida ao domínio comunista se desmoronou como um castelo de cartas e o Muro de Berlim ruiu enfim sob a pressão de quantos o viam como aquilo que de facto era: um inaceitável símbolo de intolerância e repressão.

O mundo bipolar que ditou o destino de três gerações tornou-se tão obsoleto como a grafonola, o telégrafo ou a máquina de escrever. Mas pelo menos uma lição podemos e devemos extrair tanto dos acontecimentos de 1989 como deste extraordinário ano de 2011 ainda em curso: não é possível governar os povos pela força durante o tempo todo. Nenhuma região do mundo está imune aos ventos da liberdade.

Parece escrito por um iletrado

Pedro Correia, 17.08.11

Raras vezes temos oportunidade de perceber o que um ditador contemporâneo verdadeiramente pensa da democracia. Em regra, impera o cinismo: estabelece-se a ditadura entre proclamações de suave apego aos valores democráticos. O Livro Verde de Muammar Kadhafi tem o mérito - que será, provavelmente, o único - de nos revelar um ditador que não reconhece nenhuma vantagem na democracia tal como a conhecemos em qualquer parte do mundo. E chega até ao requinte de anunciar que a democracia é a verdadeira ditadura, enquanto a ditadura dele é a verdadeira democracia. Eis-nos mergulhados num universo concentracionário, versão alternativa do 1984 de George Orwell com as suas palavras de ordem alucinadas: "Guerra é paz", "ignorância é força" e "liberdade é escravidão".

Este livrinho com boa encadernação impresso em Portugal por decisão das autoridades líbias, que o distribuíram em vários idiomas por diversos países, tem a pretensão de se assumir como a "Terceira Teoria Universal", sem especificar quais foras as outras duas. Está dividido em três partes: política, económica e social. A primeira "assinala o início da era das massas", a segunda "inaugura uma revolução económica internacional", a terceira "desencadeia a revolução social". Não se contenta com menos. "Apresenta a genuína interpretação da História" e "debruça-se sobre a solução do problema das minorias e dos pretos (sic), de modo a estabelecer os princípios firmes da vida social para toda a Humanidade".

 

A leitura é penosa. Por este simples motivo: o estilo é do mais rudimentar que há. Felizmente o livrinho - a bíblia da ditadura de Kadhafi, inaugurada em 1969 - tem apenas 120 páginas. O homem que não hesita hoje em aniquilar parte do seu povo, depois de durante décadas ter apoiado o terrorismo internacional, exprime aqui o seu ódio aberto à democracia representativa, ao sistema partidário e à legitimação dos políticos pelo voto popular. "Os parlamentos são a falsificação da democracia", escreve na página 9, concluindo com humor involuntário: "As ditaduras mais tirânicas que o mundo tem conhecido foram estabelecidas à sombra de assembleias parlamentares."

Cruzando o messianismo político e um nacionalismo de pacotilha com um vago "socialismo" na economia, Kadhafi sintetiza o seu programa político numa frase que nos esclarece bem sobre o verdadeiro ideário deste "líder" que durante largos anos seduziu importantes sectores da esquerda mundial (incluindo, naturalmente, a errática esquerda portuguesa): "A verdadeira lei de uma sociedade é o costume ou a religião. A Constituição não é a lei da sociedade." (p. 31)

Este livro não possui qualquer mérito literário: na verdade, em muitos trechos parece ter sido escrito por um iletrado. Também não revela qualquer mérito histórico ou sociológico: Kadhafi não se dá ao incómodo de citar um autor, de invocar um dado estatístico ou aludir sequer a algum acontecimento histórico, tirando uma vaga alusão à Revolução Industrial. Por vezes, julgaríamos estar perante um banalíssimo livro de auto-ajuda: "A Terceira Teoria Universal é o anúncio às massas da salvação final de todas as formas de injustiça, despotismo, exploração e hegemonia política e económica."

Pura charlatanice. O verdadeiro mistério é conceber nos nossos dias o que terá levado este coronel a ser apresentado outrora como figura inspiradora a milhões de fiéis no mundo inteiro. Lido hoje, o seu Livro Verde parece cheio de verdete.

Os amiguinhos do carniceiro

Pedro Correia, 23.06.11

Todos os dias há quem entre e saia de blogues: nada mais normal. Jorge Palinhos fez o que entendeu: desvinculou-se do 5 Dias por já estar farto de ver alguém por lá chamar "carrasco do povo líbio" ao eurodeputado Rui Tavares, aliás antigo membro do mesmo blogue. Levou logo ali o troco, desta forma elegantíssima, da parte de um dos fãs assumidos do verdadeiro carrasco do povo líbio: Muammar Kadhafi, que prometeu entrar em Bengazi como Franco fez em Madrid no fim da guerra civil 1936/39. Com a prestimosa ajuda do 'Comité de Não-Intervenção', cuja passividade funcionou como estímulo adicional ao ditador espanhol na sua ofensiva bélica.

Não consigo dissociar Kadhafi de Franco enquanto verifico a forma entusiástica como o coronel é acolhido e as operações da NATO na Líbia, a coberto do direito internacional, recebem ferozes críticas naquele mesmo blogue. Talvez por lá preferissem um novo 'Comité de Não-Intervenção' para facilitar o esmagamento dos líbios pelo tirano pró-nazi que há 42 anos oprime o seu povo, tal como pormenoriza a Amnistia Internacional.

Diz-me que modelo tomas, dir-te-ei quem és. Se no 5 Dias há quem ponha em dúvida a existência de um regime democrático em Espanha e associe com beata reverência Fidel Castro à miraculosa descoberta da "vacina contra o cancro do pulmão", nada mais natural que também ali se considere a Líbia um modelo de liberdade. Isto enquanto os patriotas anti-Kadhafi resistem em Misrata e outras cidades expostas à fúria demente do carniceiro. Entretanto, Jorge Palinhos pode considerar-se um indivíduo com sorte. Noutros tempos, noutro local, arriscava-se a ser brindado com algo mais do que palavras insultuosas: era também capaz de receber um golpe de picareta.