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Delito de Opinião

Talvez seja melhor refrear o entusiasmo

Pedro Correia, 25.07.24

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Com espanto, vejo à minha volta aqui por Lisboa vários devotos de Donald Trump seguirem com maior fervor a pré-campanha presidencial nos EUA do que alguma vez terão acompanhado uma campanha qualquer em Portugal.

Talvez isto seja sintoma de que somos já irremediavelmente colonizados pelos norte-americanos. Não apenas do ponto de vista cultural, mas do ponto de vista político. E nem falta até quem gostasse de ver transposto para este nosso cantinho ocidental da Europa o sistema eleitoral lá dos States.

Lamento, mas estou no campo oposto. Detestaria ver por cá uma lei eleitoral capaz de permitir a eleição para a Casa Branca de alguém que recolheu menos meio milhão de votos do que o rival (aconteceu com George W. Bush em 2000, contra Al Gore) ou até menos três milhões de votos (aconteceu com Trump em 2016, contra Hillary Clinton).

 

Entretanto, a esses meus amigos que andam tão entusiasmados com Trump ao ponto de jurarem que será «ainda mais fácil derrotar Kamala Harris do que Joe Biden», gostaria só de lhes lembrar o seguinte: dos 18 presidentes norte-americanos do século XX, sete foram vice-presidentes.

Eis os seus nomes:

Theodore Roosevelt

Calvin Coolidge

Harry Truman

Lyndon Johnson

Richard Nixon

Gerald Ford

George Bush.

 

Cinco republicanos, dois democratas. Equivalem a 38% do total.

Durante um século. Em número suficiente para desenhar uma tendência.

Quem pensar que é irrelevante, estará muito enganado.

Eis um tema que motivará certamente dezenas de textos no DELITO DE OPINIÃO nos próximos três meses. Ainda a procissão mal chegou ao adro.

Não é um homem vulgar

Sérgio de Almeida Correia, 24.07.24

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A decisão do presidente Biden de se retirar da corrida presidencial e desistir de concorrer às eleições de Novembro para tentar a renovação do mandato foi a todos os títulos um acto de grande dignidade e nobreza política.

Pressionado por alguns dos membros do seu próprio Partido Democrata, depois de vários deslizes, sempre vistos, tal a frequência, como mais do que simples lapsos, e na sequência de uma desastrosa prestação televisiva no debate de 28/06/2024 com Donald Trump, onde foram notáveis as suas dificuldades e se percebeu que não estava na posse de todas as faculdades de que fez uso nos últimos cinquenta anos da sua vida pública, Joe Biden fez a análise que se impunha e tomou a única decisão que um político de estatura, um homem de Estado e decente podia subscrever, renunciando à reeleição.

Como já alguém escreveu Biden não é "an average Joe". 

Com o seu gesto, old Joe relançou as hipóteses de eleição de um presidente da sua área política.

A indicação de Kamala Harris, vice-presidente, como sua escolha para ocupar o lugar mostrou ser uma jogada hábil que ficará agora dependente de confirmação com a sua nomeação como candidata pela convenção do partido e do resultado que as urnas ditarem lá mais para a frente.

A eventual eleição de Kamala, mulher inteligente, com formação académica, reputação profissional intocável e experiência política, cuja campanha para procuradora na Califórnia foi ademais, anteriormente, financiada pelo próprio Trump, que viu nela as qualidades necessárias,  pode ser o impulso decisivo para ser dada continuidade ao trabalho do velho Biden, mantendo os Estados Unidos da América nos carris do republicanismo, da herança democrática e devolvendo elevação à política interna e segurança à externa, em prol de um mundo mais justo, mais equilibrado e com menos armas.

Quanto ao mais, vamos aguardar para ver qual a disponibilidade de Trump para se apresentar em debates com Kamala. Ele que disse que seria mais fácil derrotá-la do que a Biden.

Para já, o cafre desavergonhado que irá representar o Partido Republicano deverá começar a ficar preocupado com as sondagens. O velho sem capacidades, posto que qualidades nunca as teve, passou a ser Trump.

E não lhe será fácil, desta vez, agarrar Kamala por ali, por onde ele dizia que seria mais fácil. Esta não é igual a algumas das outras, não está numa situação de dependência. E aprendeu na sua vida profissional a lidar com escroques.