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Delito de Opinião

O 25 de Abril não se fez para isto

Pedro Correia, 23.07.25

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Vivemos na era das atitudes birrentas e do queixume em sessões contínuas. Também nisto me sinto desactualizado. Há largos anos, era eu rapaz, aprendi: é feio ser queixinhas e uma estupidez fazer birra seja pelo que for. Depois ensinei isso aos mais jovens.

Nestes tempos recentes, a queixinha e a birrinha tornaram-se inseparáveis. Com direito a emblema na lapela, caderneta por pontos, quadro de honra. Falta pouco para justificarem condecoração no 10 de Junho.

Os queixinhas proliferam como cogumelos. Com eles medra o ofendidismo: qualquer coisa belisca, perturba, ofende, angustia, traumatiza. Isto começa a parecer uma sociedade de donzelas vitorianas.

Lamento, mas é bote em que não embarco: abomino gente birrenta e queixinhas, desprezo o ofendidismo militante. E sou frontalmente contra o crescente policiamento do vocabulário na Assembleia da República, que devia ser o palco mais livre da nação. Daí dizer daqui ao presidente do parlamento, José Pedro Aguiar Branco, e aos restantes 229 deputados: frouxo e fanfarrãoseja em que contexto for - são vocábulos normalíssimos no debate político, não merecem censura alguma.

Consideram que dizer coisas como estas ultrapassa o decoro parlamentar e constitui abuso da liberdade de expressão? Caramba, que almas tão delicadas. Parafraseando uma frase batida, o 25 de Abril não se fez para isto. 

O MFA está com o povo?

Laura Ramos, 24.10.11

 

A maior parte de nós, homens e mulheres de agora, vive alheada da política de defesa nacional.

É um fenómeno típico das sociedades que experimentam a paz civil duradoura. Afinal, toda a Europa atravessa uma espécie de stand by, se esquecermos as sangrias que escorreram depois da desconstrução da Jugoslávia. E pouco mais.
Por isso, as milícias, as 3 armas - que a maioria observa como uma espécie de forças simbólicas e quase esvaziadas de objectivo imediato - embora nos tranquilizem, vagamente, não preenchem um décimo da nossa energia de observação política.

Curiosamente, toda a atenção que tínhamos com este tema, vista agora, parece ter-se esgotado com o sofrimento  febril e exaltado da guerra colonial. E serenado,  depois, já reconciliados pela gratidão de Abril.

 

Mas a defesa nacional é uma obra bem mais vasta do que a que associamos à gestão das forças armadas. E as forças armadas, por seu lado, têm sobre os ombros muito mais do que a administração de uma guerra teórica, entregue a paradas de rotina e à organização dos de oficiais de dia.

 

Apesar de tudo, nos dias que correm, não há amnistias. E eles também não escapam ao julgamento civil, mesmo que semi desatento. Porque todos sabemos que os militares não se furtaram à maré dos privilégios estatais e que, pelo contrário, a galgaram em prancha olímpica, aproveitando os tempos de sagração do MFA e da sua condição tutelar e libertadora.

Foram os aristocratas da democracia.

 

O ministro José Pedro Aguiar Branco sabe disto. E é um democrata genuíno, que viveu numa distância  milimétrica a ameaça geracional do recrutamento para as guerras de África. Empenhando-se desde o primeiro dia (ainda caloiro, nos bancos da universidade), na vivência total da democracia.

 

Por isso, as suas afirmações não são retóricas, quando diz que «nas ditaduras é que há silenciamento, e em democracia há manifestação, há opinião crítica».

 

De facto, as  Forças Armadas são depositárias dos valores mais estruturantes de Portugal e, por tudo aquilo que representam, espera-se que saibam estar à altura das suas obrigações: a vocação primária que desempenham na coesão nacional.

 

A história não pode justificar tudo.

Mais uma vez, em tempos de cólera, esperemos pelo exemplo de quem deve ser exemplar.