O 25 de Abril não se fez para isto

Vivemos na era das atitudes birrentas e do queixume em sessões contínuas. Também nisto me sinto desactualizado. Há largos anos, era eu rapaz, aprendi: é feio ser queixinhas e uma estupidez fazer birra seja pelo que for. Depois ensinei isso aos mais jovens.
Nestes tempos recentes, a queixinha e a birrinha tornaram-se inseparáveis. Com direito a emblema na lapela, caderneta por pontos, quadro de honra. Falta pouco para justificarem condecoração no 10 de Junho.
Os queixinhas proliferam como cogumelos. Com eles medra o ofendidismo: qualquer coisa belisca, perturba, ofende, angustia, traumatiza. Isto começa a parecer uma sociedade de donzelas vitorianas.
Lamento, mas é bote em que não embarco: abomino gente birrenta e queixinhas, desprezo o ofendidismo militante. E sou frontalmente contra o crescente policiamento do vocabulário na Assembleia da República, que devia ser o palco mais livre da nação. Daí dizer daqui ao presidente do parlamento, José Pedro Aguiar Branco, e aos restantes 229 deputados: frouxo e fanfarrão - seja em que contexto for - são vocábulos normalíssimos no debate político, não merecem censura alguma.
Consideram que dizer coisas como estas ultrapassa o decoro parlamentar e constitui abuso da liberdade de expressão? Caramba, que almas tão delicadas. Parafraseando uma frase batida, o 25 de Abril não se fez para isto.


