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Delito de Opinião

O plenipotenciário Mourinho

jpt, 02.06.24

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É certo que o trabalho diplomático tende a ser discreto. Mas é de sublinhar o relevante feito da diplomacia portuguesa, agora comandada pelo ministro Rangel. Pois há poucos dias o deputado Ventura, líder do importante partido CHEGA, vituperara os turcos de incompetentes preguiçosos, assim maculando a nossa imagem entre aquele povo e nisso atentando contra (traindo até) os interesses nacionais na sua interacção com aquele nosso poderoso aliado. Mas hoje mesmo o desagradável incidente - para não lhe chamar pior - foi ultrapassado, devido ao extraordinário sucesso tido pelo enviado especial português a Istambul, o plenipotenciário Mourinho.

Gostar e não gostar, eis a questão!

Helena Sacadura Cabral, 20.12.15

Gostar e não gostar, eis a questão!

 

Apesar de ter feito análise vários anos e de considerar que ela me ajudou muito a perceber-me e a escutar os sinais que o corpo e a alma me dão para antecipar futuros efeitos funestos, a verdade é que existem algumas pequenas janelas que conseguiram escapar àquele processo.
Uma delas, e talvez a mais significativa, respeita o facto de eu ser perfeitamente capaz de gostar e não gostar, em simultâneo. Explico-me melhor com um exemplo.
Tive sempre com José Mourinho esta ambivalência. Aprecio as suas qualidades profissionais, mas o que mais gosto nele é também aquilo que menos aprecio. Se, por um lado, admiro a convicção, a segurança, a autoconfiança, a frontalidade que sempre manifesta, por outro, irrita-me sobremaneira a arrogância, o amor próprio, a sobranceria, o orgulho, que também tem e que são o reverso da medalha daquilo que ele realmente é.
Assim, como se deduzirá, o special one atrai-me e afasta-me, diria, com a mesma intensidade. Mas não seria verdadeira e aqui é que reside o nó górdio da questão. É que para se poder conviver com este dualismo, tem que se perceber que um dos lados possui algo mais do que o outro, mesmo que a diferença seja, diria, infinitesimal. No caso vertente esse infinitésimo pende a favor de José Mourinho, sabe-se lá porquê. Talvez, admito, porque também é um bonito homem!

A vaidade e a soberba

Helena Sacadura Cabral, 08.08.13
Sou daquelas que se envaidecem quase tanto com os sucessos dos portugueses, como se seus fossem. Não são. Pertencem aos próprios e ao país que, esse sim, é nosso. Deles e meu.
Gosto de Cristiano Ronaldo e apesar dos tiques de novo riquismo  sou sensível à sua história de vida e ao amor que preside e persiste no clã Aveiro. 
Gosto de Mourinho e do estilo ácido de quem sabe o que vale e não se esconde em falsas modéstias.
Ambos têm alguma coisa em comum que os torna especiais a jogar e a treinar futebol. Mas incomoda-me a exploração quase diária, que uma certa comunicação social está a fazer da sua zanga, que em si é lamentável e só pode ser reflexo de alguma questão mal resolvida. A vaidade e a soberba ficaram mais á vista e sem qualquer vantagem!
A estes ícones nacionais - como aos políticos -, tem que se lhes pedir contenção. Porque não são só eles que estão em causa. Somos também nós portugueses e o nosso país que, assim, lavamos a roupa suja em público. E esta deve ser lavada em privado e, de preferência, na máquina. Nunca à mão...

"Em Espanha há gente que me odeia"

Rui Rocha, 01.05.13

A frase é de José Mourinho. E retoma uma linha de argumentação muito comum de gente do futebol que exerce a sua profissão em Espanha. Trata-se de afirmar que ali têm um preconceito contra jogadores e treinadores portugueses. Que é muito difícil ser português em Espanha. Ora ananases. Com o dinheiro e o poder que esta gente tem? O que é fodido é ser português em Portugal. Com desemprego, precariedade, salários miseráveis, pobreza para dois ou três milhões de habitantes, presente de angústia e futuro de miséria. 

As raízes do fracasso

Pedro Correia, 22.03.13

 

Verdes Anos, uma excelente reportagem exibida ontem pela RTP - com assinatura de Alexandre Santos, Tiago Passos e Pedro Pessoa - demonstra bem as raízes do fracasso no Sporting: Inácio, que acabara de conduzir a equipa ao título após 18 anos de jejum, foi corrido pela direcção leonina, sob pressão de meia-dúzia de energúmenos. A mesma direcção, insegura e timorata, que cedeu perante o berreiro de três ou quatro basbaques filmados em directo pelas televisões aos gritos "Mourinho nunca!" Segundo o mesmo documentário, aquele que muitos consideram o melhor treinador do mundo terá estado duas horas ao leme da equipa leonina - o que talvez mereça figurar num recorde do livro Guinness.

Despedido no mesmo dia em que foi recrutado para Alvalade, e rumando de imediato a outros destinos onde souberam reconhecer-lhe valor, também José Mourinho experimentou na pele o desgoverno errante da barca sportinguista. Não sei se escreva banca em vez de barca, mas o resultado é o mesmo: quase década e meia de pesadelo. Pela cupidez danosa de alguns, pela incompetente gestão de muitos e pela confrangedora mediocridade de quase todos quantos ascenderam ao poder no clube ao longo deste período negro. Mas também pela cegueira de tantos adeptos, pelo fanatismo inepto da chamada "voz da rua", bem simbolizada naqueles gritos estridentes "Mourinho nunca!"

Quem berrava assim naquela conferência de imprensa tristemente memorável, espumando de ódio contra o mérito alheio perante o embaraço frustre de Luís Duque, dizia afinal pretender um Sporting para sempre arredado dos títulos e das glórias passadas, condenando à presente irrelevância competitiva e ao descalabro financeiro o clube português que ainda mais triunfa no campeonato do ecletismo e da formação de atletas.

Verdes Anos é um retrato fidedigno da realidade leonina - e, por extrapolação, da própria realidade nacional, onde impera uma espécie de alergia ao sucesso que Mourinho personifica. Um retrato que todos os sportinguistas devem ver e rever. Para evitarmos repetir hoje os graves erros de ontem, tão bem documentados neste filme que funciona como um murro no estômago de qualquer de nós.

 

Também aqui

A pátria.

Luís M. Jorge, 12.01.11

Numa década e meia Portugal elevou dois homens a heróis — Saramago e Mourinho, o escritor e o treinador — mas só um dominou a sua autoridade simbólica, e fascina-me que não tenha sido o escritor. Saramago manteve com a pátria uma ligação azeda, quezilenta, despeitosa, repleta de amuos e sublevações de porteira.  Mourinho reconciliou-a com três patacoadas em língua portuguesa.

Bravo Mourinho!

Rui Rocha, 11.01.11

Escrevi ontem, antes de conhecido o vencedor, que Mourinho era o dono legítimo da Bola de Ouro 2010. Regresso ao tema para salientar alguns aspectos que considero justo destacar na atitude de Mourinho durante e depois da cerimónia de entrega do prémio:

a) falou em português, assumindo o orgulho que tem em ser um cidadão do mundo com origem e nacionalidade portuguesas. Que diferença relativamente a quem teima em exprimir-se em portunhol, em espanholês ou em inglês técnico;

b) valorizou os jogadores presentes que trabalharam com ele, cumprimentando-os um a um antes de receber o prémio, e incluindo os restantes nas suas palavras;

c) referiu-se expressamente àqueles que o amam, atribuindo-lhes importância decisiva nas suas conquistas;

d) valorizou o trabalho como aspecto indispensável do sucesso.

e) após a cerimónia, reiterou o seu orgulho em ser português, deixando bem claro que a utilização do português não foi um acaso ou um pretexto.

Estes momentos valem o que valem e têm sempre o seu quê de circunstância e encenação. Mas, a atitude de Mourinho merece ser elogiada. Num momento de consagração, propenso à exploração do umbigo, afirmou as suas origens, partilhou o sucesso com os que o ajudaram, valorizou os afectos e salientou o esforço e a dedicação. Apresentou-se como homem integral que não confunde o ponto de chegada, efémero por natureza, com a permanência do caminho. Pelo prémio, pela atitude e pelo exemplo que esta constitui, com a mesma franqueza que utilizo quando o critico, digo Bravo Mourinho!

A Bola de Ouro é para Mourinho!

Rui Rocha, 10.01.11

O futebol joga-se em vários campos. Aquele que prefiro é o que se joga num rectângulo relvado, limitado em cada um dos topos por um projecto de vida a que chamam balizas. Diz-se do futebol jogado que não tem lógica. Seria esta a razão última da paixão que desperta e que o faz extravasar, de formas tantas vezes incontidas, para todos os outros campos. Na verdade, o apelo do futebol está no facto de este se reger pela lógica da contingência. Aquela que nos diz que não existem, à partida, proposições necessariamente falsas ou verdadeiras. Se virmos bem, é essa a lógica mais próxima da própria vida. Pelo que, bem poderá ser que a atracção do futebol resulte, tão só, de existir uma lógica de continuidade entre o que se passa no relvado e factos, melhor se diria contingências, como o despedimento do António pela Groundforce ou a nomeação do Valter Lemos como Secretário de Estado. Ou de a sua sogra, leitor, se arrogar o papel de árbitro caseiro para se meter na escolha do parque de campismo onde tenciona passar as próximas férias. Leva-nos isto ao futebol praticado pelo Barcelona. Ou pela selecção de Espanha. Que passa por ser a mesma coisa, com o enxerto de Xabi Alonso. Trata-se, diria, de um futebol sincrético. Que diabo, o Barcelona perde de vez em quando! E aí temos a prova ontológica da contingência futebolística. Mas, não se opondo à raiz profunda do ludopédio, o certo é que cada jogada de Messi não é já contingência, mas a mais pura verdade de tudo o que se pode fazer com uma bola no pé. E o mesmo se passa com os passes, triangulações e figuras trapezóides em que Xavi e Iniesta fazem assentar o futebol do Barcelona. Guardiola, esse não propõe uma táctica, porque essa é dependente da circunstância e do momento e o futebol do Barcelona apela ao absoluto. Representa uma proposição radicalmente verdadeira que se soma à contingência da vida dentro de campo. Para nos dar um festim de emoções, racionalidade e imprevisto. Todavia, quando o futebol é jogado no campo dos prémios e distinções, situamo-nos já no domínio em que não aceitamos outra coisa que não seja justiça. A Bola de Ouro para o melhor treinador é um prémio individual. José Mourinho é homem de muitos defeitos e tem um lado negro bem evidente. Ao indiscutível talento de treinador capaz de levar aos píncaros equipas improváveis (aí estão o Porto e o Inter a demonstrá-lo) associa a teatralidade mais arrogante e a manipulação despudorada. Para entender Mourinho, é útil repescar a distinção entre pirata e corsário. O pirata rouba para si mesmo. O corsário está ao serviço de um Estado, de uma causa. Mourinho é um pirata. Que persegue, apenas e sempre, o seu próprio interesse. Mas, a Bola de Ouro não premeia o perfil mais próximo do bom samaritano. Distingue aquele que ganhou mais. E ganhar implica derrotar. Em 2010, ninguém derrotou os outros mais que Mourinho. Se virmos bem, a atribuição da Bola de Ouro a Mourinho é a forma de colocar as coisas no seu devido lugar. A Guardiola e ao Barcelona espera-os um lugar na história colectiva por apresentarem um futebol superlativo e inesquecível. Del Bosque tem já o título de campeão do mundo. Não merece mais, nem menos. A Bola de Ouro para Mourinho é o prémio adequado para a sua inesgotável capacidade de derrotar, traduzida em resultados concretos. E se por acaso acontecesse que não lha dessem, o pirata que é Mourinho teria toda a legitimidade para a ir roubar. Porque ela é dele. E só dele.

 

*reedição do post publicado hoje de manhã (o momento é de Mourinho). 

A aula de Mourinho

André Couto, 30.11.10

A conferência de imprensa de José Mourinho no fim do Barcelona-Real Madrid desta noite foi uma aula, uma lição de como levar cinco olés na casa do maior rival, virar a situação e terminar como se fosse o grande vencedor da noite. Sem nunca se exaltar, sem nunca cair nas escorregadias perguntas dos jornalistas sedentos de sangue, ainda terminou a refrescar os rostos frustrados com o recente Barcelona-Inter de Milão.

Se dúvidas houvesse e mesmo na noite em que levou cinco em Barcelona, Mou mostrou porque é Mou, um dos grandes treinadores da história do futebol mundial. Quanto à La Liga não tenham ilusões, podiam ter sido 10, o Real Madrid está lá na corrida para dar e durar.

 

 

PS. Nota lamentável fica na posse de Nuno Luz (jornalista da SIC) que, quando teve o privilégio de fazer uma pergunta, pediu para Mourinho traduzir para português a resposta que tinha dado à primeira pergunta. Quem assistiu, ouviu Mourinho falar um "portunhol" básico e não resistiu a vilipendiar o jornalista. Não hão-de os espanhóis gozar avidamente connosco...

Mourinho

Pedro Correia, 22.05.10