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Delito de Opinião

Quando 1960 parece ser mais distante que 64 anos

João André, 29.08.24

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Mulheres a participar na competição de Tiro com Arco nos Jogos Olímpicos de St. Louis em 1904.

Não me saiu bem o post e fartei-me do que li nos comentários. Quem quiser o post (não sei para quê), pode pedir-mo por mail que está guardado. Quem quiser comentar, que o faça, está a caixa ali em baixo, disponível. A minha sanidade mental faz-me apagar o texto do post. Obrigado pela atenção.

Do histerismo

Cristina Torrão, 03.08.24

Bastaram três horas para que Rita Matias, deputada do Chega, partilhasse, ontem durante a tarde, na sua conta na rede social X quatro teorias falsas e desinformadas sobre uma atleta olímpica.

As mulheres também produzem testosterona naturalmente, já que esta não é uma hormona exclusiva dos homens. Uma mulher pode ter, inclusive, níveis altos de testosterona, uma condição conhecida como hiperandrogenismo que pode ser provocada pela síndrome do ovário policístico, sem que isso afecte o seu sistema reprodutor, algo que Rita Matias considera essencial para definir alguém como mulher. E com que Khelif nasceu.

Grace Huckins, doutoranda em neurociências na Universidade de Stanford, argumenta: “Porque é que a baixa produção de ácido láctico de Michael Phelps (que ajuda a evitar a fadiga muscular) ou a altura incomum do falecido jogador da NBA Manute Bol devem ser recompensadas, enquanto que o nível um pouco mais alto de testosterona numa mulher basta para a desqualificar?”

Esta gente nunca viu minhotas de bigode, com filhos a tiracolo? Hoje em dia, as mulheres depilam-se e esmeram-se nos seus cuidados de beleza, caso contrário, continuaríamos a ver muitas de bigode, barba, sobrancelhas unidas e pernas peludas (muitas delas, superando as dos homens). Em criança, tive uma vizinha, em Vila Nova de Gaia, com um bigode mais farto do que o do meu pai. Era casada e nunca ninguém a impediu de exercer a sua profissão de "mulher a dias" (como se dizia antigamente). Muita gente até lhe confiava a sua roupa para passar a ferro, imaginem! Se fosse hoje, a pobre da mulher bem ficava sem o seu pé-de-meia.

E depois as feministas é que são histéricas...

Je vais, je vais et je viens

Pedro Correia, 02.08.24

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A imagem deste beijo da fogosa ministra francesa do Desporto ao Presidente Emmanuel Macron, a pretexto de uma proeza qualquer nas Olimpíadas, está a dar a volta ao mundo desde ontem. Deixando algo desconfortável o primeiro-ministro Gabriel Attal, que virou rapidamente os olhos noutra direcção.

Questiono-me o que aconteceria se a iniciativa tivesse partido do inquilino do Palácio do Eliseu. Estaríamos perante um repelente atentado à dignidade feminina? Assédio intergovernamental? Abuso de posição dominante? Demonstração de heteropatriarcado tóxico? Agressão sexual?

Um país de papas

Cristina Torrão, 30.07.24

Censuram-se os muçulmanos por serem muito sensíveis, no que respeita à sua religião. Não se pode brincar, não se pode criticar, etc. e tal.

Mas, em Portugal, caiu o Carmo e a Trindade, em relação a uma cena incluída na abertura dos Jogos Olímpicos, em Paris.

Francisco, benza-o Deus, não se deu ao trabalho de se sentir ofendido. Mas, já se sabe, no nosso país, somos mais papistas do que o papa. Somos um país de papas. Açordas. Por vezes, mais valia ser na língua.

A Abertura dos Jogos Olímpicos

jpt, 29.07.24

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Não acompanhei o festival de abertura dos Jogos Olímpicos, dei-lhe alguns soslaios durante o fim de tarde no café. Notei que chovia imenso, o grande Zidane e o grande Nadal, e nem etc. e tal. Alguém me disse, meio surpreso meio escandalizado, que o músico Snoop Doog carregara a tocha olímpica - na senda de Olivia Newton-John que também o fizera in illo tempore, tal como mais alguns outros músicos esquecíveis e esquecidos. Surpreendi-me mesmo, pois nunca ouvira falar desse artista.

Depois li que a organização se desculpou, devido aos imensos protestos com um trecho, aquilo de terem posto uns mariolas transformados em mulheres histriónicas a glosarem os apóstolos da "A Última Ceia". O encenador Jolly, atrapalhado, veio afiançar que não se tratava disso, remetendo a influência para um qualquer "olimpismo", clássico. Está-se mesmo a ver que não foi o caso, é evidente que Jolly e sua equipa se grisaram imenso a meter @s drago@s ao barulho naqueles preparos.

Um tipo pode lembrar que os JO são (isso sim, desde os tais clássicos) um período de suspensão, tréguas. E que assim Jolly e Cia podiam ter dado tréguas aos católicos. Como deram aos judeus - dos quais há tanta tradição em França que até os vêm perseguindo, não só em célebre "affaire" como até também ajudando os primos alemães a levá-los para leste do Hexágono (assunto que não foi abordado no festival, ao que me parece, que foi mais atento aos nobres guilhotinados). E como deram aos islâmicos, que também os há em França, ao que consta.

Mas estas indignações por cardápio também têm muito que se lhes diga. Os tipos da "Charlie Hebdo" foram massacrados por este tipo de "ofensas", implacáveis que eram (e são). E muita gente se esquece que em democracia não há o direito de não se ser ofendido. Pode-se é dizer, como o Diácono Remédios dirá, "não havia necessidade...".

A liberdade melhora a performance desportiva das nações

Sérgio de Almeida Correia, 21.02.22

(créditos: Helsinki Times)

Marcados pelas medidas extremas relacionadas com a pandemia, pela falta de neve natural, um boicote político por parte de alguns países, a ausência de público, as más condições oferecidas a alguns, uma comida que ficou a desejar, a subserviência do COI aos interesses económicos, o impedimento e a criação de obstáculos ao livre acesso dos participantes à informação e à Internet, e uma intensa máquina de propaganda, os Jogos Olímpicos de Inverno chegaram ao fim.

Tal como em edições anteriores, não faltaram momentos de alegria e de drama, os recorrentes casos de doping, muitas lágrimas e sorrisos. E também choveram medalhas.

Se no tempo da Guerra Fria era por via dessa contabilidade medalhística que os blocos de então se procuravam afirmar para justificarem a superioridade dos modelos políticos e sociais que representavam, não menos verdade será que nos dias de hoje e com o reavivar de tensões à escala global se volte de novo a esse padrão.

É por isso inevitável, perante as bandeiras que foram agitadas e as acusações mútuas de politização dos Jogos, agora que as competições chegaram ao fim, que se volte a olhar para os quadros. Muitos balanços e análises poderão ser feitas, embora seja previsível que se termine sempre a olhar para as medalhas.

E quanto a estas há sempre duas maneiras de olhar para elas. Há quem privilegie o número total. Há quem prefira colocar a tónica apenas nas medalhas de ouro.

Olhando apenas para o total verifica-se que a Noruega sai a ganhar com 37, logo seguida da Rússia, com 32 – dizer que a Rússia não pode participar e que quem participa é o Comité Olímpico Russo é uma falácia do COI para enganar os tolos –, da Alemanha com 27, do Canadá com 26, dos EUA com 25, da Suécia e da Áustria ex aequo com 18, e dos Países Baixos e da Itália, ambos com 9. 

Pela contabilidade dos ouros, a Noruega volta a vencer com 16 medalhas, seguida da Alemanha com 12, da China com 9, dos EUA, Suécia e Países Baixos todos com 8, da Áustria e da Suíça com 7, da Rússia com 6 e da França com 5.

Não deixa de ser curioso que países com uma população reduzida, e alguns também de pequenas dimensões, consigam estar à frente de outros muito maiores e mais poderosos que sentem uma necessidade quase permanente de vincarem o seu nacionalismo e patriotismo. A Noruega tem apenas 5,379 milhões de nacionais, a Suécia, a Suíça e a Áustria têm menos de 10 milhões, os Países Baixos menos de 18 milhões, enquanto a China tem 1,4 mil milhões, a Rússia 144 milhões, os EUA 329 milhões. 

E se estabelecermos o paralelo com os Jogos Olímpico de Verão, em Tóquio, verificamos que aqui os EUA ficaram à frente tanto em medalhas de ouro (39) como no total (113), com a China em segundo lugar (38 ouro, 88 no total), surgindo logo a seguir o Japão (27 de ouro, 58 no total), a Grã-Bretanha (22 de ouro, 65 no total), a Rússia (20 de ouro, 71 no total), a Austrália (17 de ouro, 46 no total), os Países Baixos (10 de ouro, 36 no total) e a França (10 de ouro e 33 no total). 

Há, todavia, uma contabilidade que nestes tempos conturbados que atravessamos também não pode deixar de ser feita. Porque se a Guerra Fria ficou lá atrás, se não faz muito sentido ver estes números em termos de blocos e alianças, há, todavia, uma comparação que se torna inevitável, posto que é essa que já no presente define as nossas escolhas e estará cada vez mais presente no futuro.

Trata-se da contabilidade entre os resultados obtidos por países democráticos e não-democráticos ou autocráticos. Por mais que nos tentem atirar areia para os olhos, ditaduras e totalitarismos não são conceitos diferentes de democracia. Não é possível falar de liberdade onde os nossos passos são permanentemente vigiados, seguidos e controlados, o acesso à informação é limitado, a liberdade de imprensa não existe, onde não é permitido o livre exercício de direitos básicos fundamentais consagrados internacionalmente, o número de filhos é controlado pelo Estado, onde é impossível afastar os incompetentes que exercem o mando e criticar o partido no poder ou o seu líder é um crime contra a segurança nacional e dá direito a prisão.

E quanto à contabilidade medalhística entre as democracias e autocracias, a verdade é que as primeiras dão uma cabazada às segundas. Até para proporcionarem condições de treino. O que só prova que também no desporto é necessária a liberdade para se garantir a prevalência de bons resultados. Por mais bandeirinhas que se agitem, por mais esmagadora que seja a propaganda, ou por todos os dólares que selem a "amizade" com os responsáveis do COI.

Um salto que chegou de Lisboa a Tóquio

Patrícia Mamona

Pedro Correia, 11.08.21

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Não lhe basta ser medalhada na pista: também merece medalha pelo exemplo cívico que nos deu após ter subido ao pódio em Tóquio. Patrícia Mbengani Bravo Mamona, nascida há 32 anos no bairro lisboeta de Arroios, filha de pais angolanos, remou contra a maré com palavras simples e genuínas. Falando sem o menor complexo sobre a alegria que sente em ser portuguesa. Afirmando-se crente no trabalho metódico, na disciplina física e mental, no saudável espírito de competição capaz de ultrapassar obstáculos e derrotar inibições.

Tudo isto no rescaldo imediato do magnífico salto que a fez transpor a marca dos 15 metros no triplo salto. Só 24 outras mulheres alcançaram tal proeza no desporto mundial. Ela lutou durante anos para atingir este patamar. Já era a melhor de Portugal desde 2009, quando saltou 13,83m. Faltava-lhe a consagração olímpica, agora alcançada em Tóquio.

«É um orgulho para mim representar esta nação. Quero deixar o meu agradecimento a Portugal. Somos pequenos, mas somos grandes», afirmou a atleta do Sporting. Tinha motivos para isso: acabara de saltar 15,01m, sagrando-se vice-campeã olímpica e superando duas vezes o recorde nacional.

No seu português vibrante e límpido, com palavras que todos entendemos, disse o que por estes dias não escutamos a nenhum político – muito menos ao ministro da Educação, avesso a provas, exames, patamares competitivos. Politicamente incorrecta, Patrícia enalteceu o esforço, destacou a importância de fixar metas, garantiu que sem tenacidade nada se consegue. Exibindo brio patriótico, promovendo a cultura do mérito, dizendo que devemos ver-nos não como país pequeno mas como povo grande.

 

Não podia ser maior o contraste entre a refrescante mensagem de Patrícia e a rancorosa oratória daqueles que, como Joacine Katar Moreira e Mamadou Ba, jamais falam para o cidadão comum mas para claques tribais, num estendal de vitimização e ressentimento. Incapazes de abraçar a bandeira que tem a esfera armilar no centro, ao contrário do que fez a recordista nacional do triplo salto.

Foi um momento de redobrada alegria para quantos a vimos à distância nas primeiras Olimpíadas sem público da história, com bancadas vazias a pretexto do coronavírus, símbolo de uma civilização que troca o real pelo virtual e vive cercada de interdições. Num certame desportivo que se proclama de 2020 quando ocorre em 2021, como se o planeta tivesse ficado congelado no ano em que começou a pandemia.

O salto largo de Patrícia teve o condão de nos devolver um fragmento do mundo real. E a mensagem que nos transmitiu após ter concretizado o sonho foi mais inspiradora do que qualquer cartilha contaminada de ranço ideológico ou da nova tendência em curso que presta tributo à desistência. «Só queria dizer que todos são capazes. Pode demorar um bocadinho, mas pode acontecer», disse-nos ela.

Tão simples como isto.

 

Texto publicado no semanário Novo

Pequeninos, felizes e eternamente adiados

Sérgio de Almeida Correia, 10.08.21

Uma das características do regime anterior era o culto da pequenez, do isolamento, do orgulhosamente sós. Passados quase 50 anos sobre o golpe militar que permitiu a instauração da democracia verifica-se que nos nossos dirigentes a mentalidade não mudou. E tanto faz ser o veterano Presidente da República como o novato verborreico da Secretaria de Estado do Desporto.

Com excepção do Presidente do Comité Olímpico, que foi bem mais comedido e realista nas suas palavras, certamente tendo presente que as metas estabelecidas eram pouco ambiciosas — quanto mais modestos forem os objectivos mais fácil será transformar os mínimos alcançados num êxito retumbante —, todos aqueles que ouvi embandeiraram em arco com os resultados obtidos.

Não está em causa o esforço individual de cada um dos atletas, já que à sua medida cada um deles procurou exceder-se, dignificar a camisola do país que representa, e que a todos nos representa, e alcançar o sucesso pessoal que permitisse elevar o espírito e engrandecer o esforço colectivo.

Exultei com os resultados desportivos, e não só com os dos medalhados, mas esses resultados são acima de tudo uma consequência do esforço individual de cada um dos atletas, e do trabalho dos clubes, já que o investimento do país no desporto continua a ser sofrível.

Como sofrível é o resultado colectivo alcançado quando olho para os nossos resultados e os comparo com os dos Países Baixos (10 medalhas de ouro, 12 de prata, 14 de bronze), da Nova Zelândia (7 de ouro, 6 de prata, 7 de bronze), da Hungria (6 de ouro, 7 de prata, 7 de bronze), da Suíça (3 de ouro, 4 de prata, 6 de bronze), da Dinamarca (3 de ouro, 4 de prata, 4 de bronze), da Suécia (3 de ouro, 6 de prata), da Noruega (4 de ouro, 2 de prata, 2 de bronze),ou até da Croácia (3 de ouro, 3 de prata, 2 de bronze) ou da Bulgária (3 de ouro, 1 de prata, 3 de bronze). É evidente que ninguém de bom senso pode ficar “orgulhoso” com a nossa prestação colectiva.

E é escusado, como fez o Presidente da República, vir dizer que "[o] adiamento dos jogos, a sua realização numa cidade tão distante e com um clima tão diferente do nosso, foram dificuldades adicionais a uma preparação já de si longa e muito exigente", pois que essas dificuldades adicionais foram iguais para todos (pelo menos para os europeus).

Pior, ainda, está alguma comunicação social que num exercício de estupidificação colectiva se dedica a comparar os resultados de Portugal com os dos Estados Unidos da América ou da China para concluir que os nossos são melhores.

Enquanto entre nós a mentalidade dominante for a de nos contentarmos com os mínimos, procurando transformar num sucesso aquilo que colectivamente não passa da mediania, quando não raro do sofrível, num exercício de auto-convencimento institucional da excepcionalidade, dificilmente obteremos melhores resultados.

Mudou-se a Constituição, consolidou-se a democracia, mas a mentalidade pequenina e tacanha, de vistas curtas e à medida dos umbigos nacionais, continua a ser a mesma.

E o que é ainda mais triste de ver é que essa mentalidade não só não muda como se transmite às novas gerações e se perpetua em governantes como o secretário de Estado do Desporto.

Fosse a mentalidade do Jorge Fonseca, da Patrícia, do Pichardo, do Pimenta ou da Telma, por exemplo, como antes foi a do Lopes ou da Mota, igual à deles e continuaríamos na casa da partida à espera de melhores dias. Esses são exemplos de transcendência individual que não nos podem permitir esquecer os nossos insucessos colectivos.  

Naturalmente que o nosso atraso desportivo (e não falo do futebol ou dos desportos motorizados), como sempre, acompanha o atraso das nossas elites e o pouco aproveitamento que fizemos de todas as potencialidades da integração na União Europeia, muito em especial quando vemos o que outros que entraram muito depois de nós conseguiram.

Continuamos a puxar muito pouco por nós. A exigirmos pouco a nós próprios em termos colectivos. E ainda menos às nossas elites políticas. Só somos capazes de nos superar individualmente, seja no desporto ou na ciência. Colectivamente continuamos adiados. Eternamente adiados. E apesar de tudo felizes, e todos medalhados e contentinhos na nossa singela mediania.

Quase cinco décadas volvidas sobre Abril de 1974, é o culto da pequenez e da mediocridade que se voltam a revelar e a imperar em todo o seu esplendor nas palavras dos nossos dirigentes políticos. Um país de comendadores e conselheiros.

Que fado estuporado é o nosso.

A representação olímpica portuguesa

jpt, 07.08.21

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Vai uma resmunguice com a nossa representação olímpica nacional, ainda que os resultados até sejam algo melhores do que o habitual. Pois a alguns custa-lhes a origem dos atletas. A vitória do luso-cubano Pichardo é desprezada pelos comunistas do PCP: o seu ex-eurodeputado Miguel Viegas, e agora candidato a Aveiro, insulta-o de "paraquedista" e na RTP (o serviço público), já pós-medalha de ouro, um qualquer castrista ali funcionário insultou-o de "desertor". Entre os apoiantes de "Fidel" (PCs e tantos outros geringoncicos) ninguém se ergue no agora tão habitual "denuncionismo" - se alguém disser em público que Patrícia Mamona é lindíssima logo será apupado como "sexista", dada esta mentalidade da "esquerda" actual. Mas que um comunista da RTP chame "desertor" a um atleta passa incólume.
 
Mas o patrioteirismo racista não está só nessa gente "roja", pois entre o "povo comum" (a velha "maioria silenciosa", aquela do "a minha política é o trabalho") também muito se vai resmungando contra a composição da equipa olímpica. Entre esses Bessone Bastos, lenda do desporto português, antigo olímpico, e Prémio Stromp do Sporting - e isso é agora insustentável para o clube, que terá de se pronunciar -, afirma que a nossa única medalha é a do branco (Fernando Pimenta). E este lixo anda por aí.
 
Entre os (espero que muitos) que se abespinham com estes dislates também não vinga grande clareza. Vejo gente que afixa, com boas intenções (demoníacas, como bem se sabe), as caras dos medalhados negros intitulando-os "portugueses de bem", querendo pontapear a tal "maioria silenciosa", os fascistas do prof. Ventura. Ora, de facto, isso é o contrário do que deve ser dito: "portugueses" somos todos, os por ascendência, por sítio de nascimento ou por "naturalização" (de facto, por nacionalização). Não é preciso ser campeão, excelente. Alguém que vem de fora e que se "nacionaliza", dentro da lei, tem todo o direito a ser medíocre, incompetente, até mariola, mediano e, excepcionalmente, excepcional, como todos nós, os outros que já cá estávamos. Porque esses racistas ao ouvirem isso dos "campeões serem de bem" dirão que "esses sim, agora os outros" (a tralha tal qual todos somos) "é que não os queremos".
 

Quando há cinco anos o luso-guineense Eder marcou este golo toda a gente se atirou ao ar, mas não por causa das suas origens ou fenotipo. E termos sido campeões europeus tendo como melhor jogador (de todo o torneio, já agora) o luso-brasileiro Pepe - que para cá imigrou no final da adolescência -, também não chocou ninguém. Bem pelo contrário. E é isso relevante porque, dada a futebolização do país, a selecção convoca mais paixão identitária do que os judocas, nadadores ou afins olímpicos. Mas também antes ninguém se erguera contra os triunfos do luso-nigeriano Obikwelu ou do luso-cabo-verdiano Nelson Évora.
 
Isto bem demonstra que as estratégias confrontacionais dos demagogos de extrema-esquerda (a inefável Moreira com meia primeira página de hoje do boletim "Público" bem o sublinha) e dos de extrema-direita está a surtir efeitos, crispando a sociedade, reinventando velhas imbecilidades.
 
Ainda assim é agora o momento de criticar as federações desportivas pelas formas como se querem representar. Uma coisa é incluir ex-imigrantes, formados ou maturados no país, nas representações desportivas nacionais. Outra coisa, completamente diferente, é incluir atletas olímpicos dos seus países de origem, transferidos para as nossas selecções. Os casos de Lorène Bazolo (luso-congolesa) e Auriol Dongmo (luso-camaronense) são óbvios. Tudo isto é fluido, e as senhoras que se naturalizaram portuguesas têm todos os direitos de cidadania. Mas também os têm nos seus países de origem, e podem continuar a representar aquelas selecções. Mas o que o nosso Comité Olímpico e as nossas Federações fazem é aproveitar as contratações dos nossos clubes (Benfica, Sporting, etc.) para "enriquecer" a nossa representação olímpica. E isso é outra coisa, pois para esse tipo de competição internacional existem os clubes.
 
Sabe destes processos de contratação para as selecções nacionais, tornadas veros clubes, quem acompanha o futebol (desde que os países do Golfo começaram a nacionalizar em barda jogadores estrangeiros), o raguebi (com o abastardamento do estilo de jogo da França, por exemplo), ou no atletismo (com os africanos convocados pelos tais países do Golfo). E esta é uma preocupação que nada tem a ver com "raça" (esse vil mito que continuam para aí a guinchar, uns e outros) nem com patrioteirismos bacocos. Nem com o castrismo.
 
Quais são os limites da integração de ex-estrangeiros nas nossas equipas nacionais? Não sei bem, decerto que serão fluidos. Mas contratar atletas das outras selecções não é a via. Nem nacionalizar uns tipos porque nos dão jeito para aquela posição/especialidade. Para quem perceba de futebol: não é convocar o Liedson e o Dyogo Sousa. Independentemente de onde vêm e de que cor têm.

O salto de Pichardo para a liberdade

Pedro Correia, 06.08.21

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Pedro Pichardo tornou-se ontem no quinto português a conquistar uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. Mas este é um português especial, nascido em 1993 em Santiago de Cuba e naturalizado em Dezembro de 2017. Porque, como tem acontecido com tantos desportistas do seu país de origem, decidiu dar um salto sem retorno para a liberdade. Fugindo do opressor regime cubano, que transformou a ilha num gigantesco cárcere.

 

O principal noticiário da RTP chamou-lhe ontem "desertor", adoptando a linguagem militar da ditadura em Havana, onde o Partido Comunista exerce o poder total desde 1959 - sem imprensa livre, sem sindicatos livres, sem eleições livres - o que já conduziu ao exílio mais de dois milhões de cubanos desde a instauração do actual regime.

Pichardo é apenas mais um entre tantos. O seu exemplo foi seguido no mês passado por Jordan Díaz: este jovem de 20 anos, um dos mais promissores talentos do atletismo cubano, abandonou o estágio em Espanha, pedindo asilo político. Foi um rude golpe para a ditadura, que transforma cada proeza desportiva em peça de propaganda. Jordan tem a melhor marca mundial no triplo salto para menores de 18 anos.

Aconteceu o mesmo com o basquetebolista Raudelis Guerra, que em Junho aproveitou uma escala da selecção cubana da modalidade no aeroporto de Barajas, em Madrid, para solicitar também asilo às autoridades espanholas. 

No mesmo mês, três elementos da selecção cubana de basebol que fazia uma digressão nos EUA decidiram permanecer lá, recusando regressar a Havana: César Prieto, Lázaro Blanco e Andy Rodríguez.

 

Trocam honrarias e medalhas pelo maior dos bens: a liberdade. Num país oprimido há 62 anos pelos tentáculos do partido único, cada vez mais militarizado e entrincheirado num obsoleto e demencial slogan político: o hiper-nacionalista "Pátria ou morte". Como se este disjuntivo fosse a coisa mais normal do mundo.

A juventude rebelde em Cuba responde com uma canção que se tornou num hino da novíssima geração: "Pátria e vida". Algo que faz muito mais sentido. Sobretudo num país com «hospitais em colapso, centros de acolhimento em péssimas condições, recordes diários de casos activos de covid-19, escassez de medicamentos», como relata um despacho da agência EFE, desmentindo a propaganda oficial que exalta as conquistas do regime em matéria sanitária. 

«Com 1.441 casos por cada cem mil habitantes, Cuba é actualmente o país com maior incidência de covid-19 no continente americano e um dos primeiros do mundo», lê-se nesta peça da prestigiada agência noticiosa espanhola. «Nas localidades mais afectadas do país surgem imagens de hospitais superlotados pelo elevado número de doentes, uma situação agravada pela escassez de medicamentos e produtos básicos.» Num país onde há nove meses o salário mínimo mensal era equivalente a 13 euros e um médico recebe, em média, 30 euros por mês.

Reflexos óbvios de uma economia descapitalizada e de um modelo estatal centralizado totalmente ineficaz. Que asfixia a sociedade e condena ao desterro muitos dos seus melhores filhos. Outros estão na prisão. «As autoridades continuam a reprimir todas as formas de dissidência, incluindo a detenção de artistas independentes, jornalistas e opositores políticos», sublinha o mais recente relatório da Amnistia Internacional.

Por tudo isto se entende o gigantesco salto de Pichardo para a liberdade. Um salto de campeão, que merece a maior de todas as medalhas: a de um homem que não se verga perante a tirania. Orgulho-me de que seja nosso compatriota, com ouro ou sem ele.

 

ADENDA: Inqualificável, o ex-eurodeputado comunista Miguel Viegas, ao afirmar que a medalha de ouro a Pichardo «não é 100% portuguesa». Mesmo gerada pelo mais rasteiro sectarismo político, não deixa de ser uma expressão xenófoba e contaminada de racismo. O Chega certamente aplaude.

Jogos Olímpicos

jpt, 29.07.21

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Nada tenho ligado a estes excêntricos Jogos Olímpicos, nem sabia a data da sua inauguração. Não há dúvida, longe me vão os tempos do fervor de Montreal e Los Angeles. Agora mesmo à simpática notícia da medalha de bronze apenas me ocorreu um nada mórbido "quantas mais olimpíadas viverei?" - e também revivi o sarcasmo de bloguista que já se me assomara no recente Mundial de judo num "este Fonseca, mais o Évora e a Mamona [que nariz!, que nariz!] serviriam para um postalito sobre académicos de ademanes, o dr. Ba e aquela deputada algo esquecida", tivesse eu paciência neste Verão.
 
Enfim, o relevante que tenho entrevisto nos cabeçalhos sobre estes JO nem tem sido sobre resultados. Pois parece que neste mundinho ignaro de ecran shopping e de locutores de "boas causas" anda tudo centrado em que há levantadoras de peso ex-homens, e até atletas homossexuais, imagine-se a novidade, como se a telenovela global não tivesse aquele decatlonista de Montreal que entretanto se amputou em mulher. E, já para nem falar de outras coisas, não tivessemos crescido com todos aqueles patinadores e todas as tanques de Leste. E, surpresa das surpresas, consta que há atletas que padecem, coitadinhos deles, de distúrbios, segundo dizem os espectadores, solidários e até chorosos...
 
E lembro-me do meu campeão favorito, o grande Mamede, esse que tinha a grandeza do falhanço. Raios partam estes patetinhas, os da imprensa e os que a consomem. Burguesotes e ignorantes, a descobrirem a paróquia todos os dias, como se não tivesse havido ontem.

Eterno retorno - 4

Paulo Sousa, 23.07.21

Série "Eterno Retorno"

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Selo comemorativo das Olimpíadas de 1968 no México
Emitido pelo Emirado de Ajman, que após 1971 passou a pertencer aos E.A.U.
O carimbo visível no canto superior esquerdo é de 1972.

Estando a esta hora a iniciar-se a cerimónia de abertura das Olimpíadas de 2020, com um ano de atraso devido à pandemia, publicarei alguns selos alusivos a este evento. Este faz parte de uma serie de três, e são os mais antigos selos alusivos a olimpíadas que tenho.

A falta que fazem os Jogos

Cristina Torrão, 25.07.20

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Não fosse a pandemia e ter-se-ia realizado ontem a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio. E dei comigo a pensar que o cancelamento e/ou adiamento de eventos deste tipo podem ser bem mais prejudiciais do que pensamos.

No início do confinamento, ainda houve quem pensasse (eu incluída) que a Humanidade saísse reforçada desta crise. Seríamos levados a reflectir sobre os nossos hábitos e sobre aquilo que realmente queremos para o nosso mundo. Mera ilusão. A falta de contacto social e de convívio, o desespero e a insegurança, têm o efeito contrário, ou seja, a polarização e o radicalismo. Não mudámos nada desde a Idade Média, continuamos a acreditar naqueles que nos prometem fórmulas milagrosas. E continuamos a procurar bodes expiatórios, crendo em teorias da conspiração, como antigamente se acreditou que os judeus eram os culpados pela Peste Negra, pois teriam envenenado as fontes.

Eventos como os Jogos Olímpicos não deixam de ser polémicos, seja por implicarem custos astronómicos, seja por transmitirem uma harmonia mundial fictícia, seja pelos escândalos de doping. Penso, porém, que são responsáveis por um importante efeito psicológico. Em que outra cerimónia vemos quase todos os países do mundo a festejarem juntos? As imagens que nos chegam mostram pessoas de todas as nacionalidades e etnias em celebração e convívio. E nós, os do outro lado do ecrã, também vibramos, quanto mais não seja, quando o nosso próprio país entra no estádio, cheios de expectativa pelos resultados, mal podemos esperar pelas competições. Onde há aqui lugar para pensamentos negativos?

Os vencedores dão a volta ao estádio com a sua bandeira pelas costas e os espectadores seus compatriotas acham-se os melhores do mundo. Mas é uma alegria saudável, até porque é comum os detentores do pódio abraçarem-se, confraternizarem, juntando bandeiras das mais diversas origens. Assim como se vêem vencedores a consolar perdedores. E quantas vezes o estádio vibra com algum/a atleta, seja de que nacionalidade for, perante uma performance desportiva de excepção?

Penso que imagens dessas são importantes, não duvido que têm um efeito psicológico positivo. Certo, os racistas não deixam de o ser. Mas dão menos importância a essa sua característica, até a escondem, porque no fundo, sabem que está errada. É essa a mensagem dos Jogos. A pandemia, por outro lado, faz sobressair o ódio por aquilo que é diferente. Temos medo, queremos distância, centramo-nos na desgraça do nosso país sem ligar aos outros, procuramos bodes expiatórios, veneramos quem confirma certos comportamentos e tendências, que em situação normal, se desaprovam. A vergonha cai.

Também o adiamento do Campeonato Europeu de Futebol masculino para 2021 pode ser mais grave do que pensamos. Mau grado toda a corrupção existente no futebol, este é igualmente um evento que cria uma atmosfera muito especial, apesar das rivalidades. Quem não se lembra do ambiente de excepção (no bom sentido) gerado no nosso país, em 2004? Claro, há hooligans e cenas menos bonitas nos estádios. Também as existem nos Jogos Olímpicos (incluindo um grave atentado em Munique). No cômputo geral, porém, o resultado é francamente positivo. As imagens de eventos desportivos que juntam nações são uma espécie de pausa nos ódios e nos rancores. E pausas dessas fazem muita falta.

 

P.S. O próprio Festival da Eurovisão, odiado por tantos,  é bem mais benéfico para a saúde mental de milhões de pessoas do que se pensa.

Expectativas olímpicas, resultados (apenas) muito bons

João André, 19.08.16

E o tempo de Jogos Olímpicos e já tenho andado a ver nas redes sociais e nos jornais os comentários habituais às prestações de atletas portugueses. Em resumo, que é uma vergonha, que andamos a pagar para eles fazerem isto (seja lá o que "isto" for), que não trazem medalhas, que se é para baterem recordes nacionais também o podem fazer em casa (li em tempos um comentário do género salvo erro a Eduardo Pitta), etc e tal. Alguns dos comentários mais recentes debruçaram-se sobre o quinto lugar de João Pereira que não chegou a ser uma medalha, nos resultados dos canoístas que não chegaram lá e nos nossos triplistas em que pelo menos Nélson Évora é desculpado porque no passado já foi ouro.

 

Uma das respostas padrão passa por perguntar quem mais pode dizer que é dos oito melhores do mundo ou sequer o melhor português naquilo que faz. Outra passa por dizer que quem questiona não sabe do que fala (que será verdade na maioria das situações). Eu prefiro uma outra opção: respeite-se antes de mais o esforço de quem chegou àquele nível (passando por muitos sacrifícios pessoais ou não) e de quem estava a cumprir a sua função. É o mesmo respeito que é devido a um empregado de balcão, a um médico, a um varredor de ruas, a um padre, a um operário, a um ministro ou a um polícia. É o respeito devido a quem faz o seu trabalho.

 

Há no entanto a necessidade de dissecarmos as prestações por duas perspectivas: a) em comparação com as expectativas e, b) como resultado de um investimento no atleta. Farei isso abaixo.

 

 

A ginasta e o ditador

Alexandre Guerra, 08.08.16

Excelente e oportuno documentário que ontem à noite passou na RTP2 sobre a ginasta romena Nadia Comaneci, que, com apenas 14 anos, ficou imortalizada pelo "perfect ten" obtido na qualificação da competição das paralelas assimétricas dos Jogos Olímpicos de Montreal em 1976. O documentário Nadia Comaneci: A Ginasta e o Ditador (2016) começa precisamente com essa prestação perfeita, aliando uma graciosidade divina nos movimentos a uma impressionante capacidade técnica, quase sobre-humana. O mundo rendeu-se perante algo que nunca tinha visto. Nessas Olimpíadas, Comaneci viria a repetir mais alguns "perfect ten", quer nas paralelas assimétricas, quer na prova da trave. Apesar de a Roménia ter ficado em segundo lugar atrás da União Soviética, era a primeira vez que um pequeno e pobre país para lá da Cortina de Ferro se intrometia no combate pela disputa do ranking das medalhas na modalidade da ginástica entre as duas super-potências da Guerra Fria. Nadia regressa a Bucareste já na condição de heroína romena, com a aura de mito e, sobretudo, como um símbolo daquilo que o regime de Nicolaeu Ceausescu poderia "produzir" ao nível da excelência física e estética. O ditador comunista condecorou-a com a mais alta distinção do Estado e a partir dessa altura Comaneci passou a ser o mais importante recurso político para a estratégia propagandística de Ceausescu.

 

E é precisamente essa relação entre Comaneci e o superior interesse do Estado romeno, personalizado no "camarada" Ceausescu, que faz do documentário de Pola Rapaport um registo tão cruel, mas ao mesmo tempo tão comovente. Nadia Comaneci era idolatrada no mundo, era a personificação da virtuosidade da máquina "comunista", mas, para lá da glória das medalhas, nada tinha, sobretudo não tinha a liberdade. Quando nos anos 80 a Roménia entrou uma espiral de crise que culminou mais tarde com as mortes brutais de Nicolae e da sua não menos sanguinária mulher, Elena Ceausecu, Comaneci chegou a depender de um amigo para ter pães para comer. Passou fome e era apenas mais uma entre um povo sofredor e faminto. Mas nem isso ela era, porque, como admite um agente reformado da antiga Securitate (serviços secretos romenos), Nadia Comaneci teve sempre os seus movimentos vigiados pelo Estado, tinha a sua liberdade completamente cerceada.

 

Nadia Comaneci nunca se ria, nem mesmo quando era mais nova. Houve jornalistas que lhe chegaram a perguntar por que é que nunca se ria e o seu treinador lá vinha prontamente responder que era porque ela estava concentrada nos exercícios. Talvez, até porque ela era uma perfeccionista, uma atleta obcecada com a técnica e com a busca constante do impossível. Mas, a verdade é que quando ela deserta para os Estados Unidos em 1989, e na primeira conferência de imprensa que dá, vimos uma Comaneci diferente, sorridente, alguém que parece ter renascido. Se calhar, Nadia nunca sorria porque não tinha liberdade. Não a liberdade de voar, porque isso ela sempre teve, mas a liberdade de viver. E foi essa liberdade que Comaneci terá encontrado quando deixou para trás a Cortina de Ferro.

 

 

De volta à rotina ou welcome back, Rui Santos

José António Abreu, 12.08.12

E agora, durante quatro anos, dezenas de modalidades desportivas ficam novamente remetidas à obscuridade. Sendo que se alguma coisa os Jogos Olímpicos demonstram é que, em termos de espectacularidade, o futebol está longe de justificar a hegemonia de que goza na maior parte do planeta. Como os norte-americanos costumam referir, trata-se de uma modalidade em que nada acontece durante a maior parte do tempo e é também das poucas onde se pode verdadeiramente jogar para o empate – com frequência, a zero.