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Delito de Opinião

A desfaçatez da moamba

jpt, 13.06.23

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Razão tem a ex-deputada Katar Moreira, os portugueses são o cúmulo da desfaçatez. Urge cancelá-los! Ainda bem que ela não verá esta minha publicação, que decerto lhe despertaria (ainda mais) ira. Pois aqui se retrata o jantar de um português, “branco” ainda por cima - e por isso um dos tais da desfaçatez -, lisboeta em véspera de Santo António: uma (magnífica) moamba com funge (caracata, se se quiser, xima de mandioca para facilitar), que lhe foi ofertada pelo autor. Sendo este um outro “branco”, português, que nem nunca viveu em África. E ainda pior, tudo isto acontece em festa de Santo Padroeiro. Malvados colonos colonialistas, gulosos na sua tal desfaçatez. Enfim, brancos!

(no Nenhures)

Ter só um martelo como ferramenta

João Sousa, 08.12.21

Recentemente, o Bloco de Esquerda decidiu colocar nas estradas e terras de Portugal este novo cartaz:

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Joacine Katar Moreira, a propósito dele, tuitou a pérola que se segue:

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Prisioneiros das suas fúrias, ódios e fundamentalismos, muitos activistas transformam-se nisto: sátiras de si próprios.

Ou... será que temos estado enganados desde o início? Será que esta Joacine Katar Moreira, incensada por alguns, não passa afinal de uma versão ainda mais rebuscada da Titania McGrath, personagem satírica criada pelo humorista Andrew Boyle?

O Crime no Aeroporto da Portela

jpt, 13.12.20

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Durante estes longos meses nem o presidente Sousa - no seu histrionismo "camp", sempre ávido de roçagar cidadãos e assuntos - abordou o assassinato estatal de Ihor Homeniuk, apesar do seu hábito em comentar investigações judiciais em curso. Ou fez mera menção solidária junto da família vitimada, ele que tão lesto é em abraços e beijos, e mesmo não se coíbe em telefonemas saudando estreias de programas televisivos, nisso abrindo (publicitárias) excepções.

O MNE Silva diz que contactou a embaixada ucraniana, do modo "habitual nestes casos", como se haja "habitual" para uma situação destas. O ministro Cabrita - cujo presença no governo, e na Administração Interna ainda por cima, é, e muito para além deste caso, o sinal da total amoralidade do actual poder - diz de si próprio que é exemplar (e o ministro Silva sublinha-o). A Assembleia da República leva nove meses a convocá-lo para que fale sobre um horror destes. Nove!, decerto que com desculpas formalistas - pois diante de um escândalo destes o inenarrável Rodrigues não se importa de andar mascarado de formalista. Entretanto, a directora do SEF, Gatões, esteve oito meses calada e a primeira vez que falou - sobre um assassínio cometido em grupo pelos seus funcionários no aeroporto da Portela - usou máscara diante das cameras dos jornalistas, demonstrando total insensibilidade, até simbólica (E parece que segue para quadro diplomático bem pago, isto é um ultraje ...). E é agora demitida, nem sequer teve a dignidade de se demitir, nove meses após este horror ...

Foi então noticiado que um médico acompanhou as sevícias cometidas, na própria sala de médicos: a Ordem dos Médicos pronunciou-se? Nada, que eu saiba .... A família pagou o retorno à Ucrânia do assassinado - nem uma igreja, católica ou outra, nem uma ong, nem uma organização assistencialista, nem um filantropo, nem uma dessas "fundações" das grandes empresas ou dos grandes escritórios de advogados-comentadores televisivos, se disponibilizou para colmatar a imoralidade estatal. Mas agora, de repente, pois "investigação terminada", "botão de pânico" proposto, muitos uivam e bramem. E leio mesmo que, também, os esquerdalhos do costume invectivam o silêncio, o do "governo" (desfeita que vai a geringonça) e o da "direita". Este desgraçado caso mostra o descalabro generalizado em que seguimos.

Em início de Junho 2020 muito me irritei com a pantomina histérica, desonesta e demagógica, que correu em Portugal devido à morte de um americano em Minnesota. Abjecto desatino geral, esse de andarem por aí aos guinchos, abanando os rabos e as mamas, por causa da morte americana enquanto nada se dizia sobre o que se passara na Portela de Sacavém. Que gentalha, servos dos sôfregos demagogos socratistas, de vestes "sociais-democratas", no gargarejo da "causa" racialista. É certo que Moreira levantara o assunto em Abril. Mas sem a ênfase nem a indignação que lhe é constante aquando cheira a "raça".

Muito me irritou tudo isso e por isso escrevi sobre Ihor Homeniuk - ou seja, também o fiz apenas de modo reactivo, e como tal não sigo cidadão eticamente incólume com tudo isto. Então googlei em busca da grafia correcta do nome do assassinado. E tirando textos noticiosos daquele Março/Abril quase nada mais se encontrava. De tal forma isso me surpreendeu que fui até à página 3 da "busca google", para sedimentar a apreensão do silêncio social. Depois de eu blogar (no meu Nenhures e no colectivo Delito de Opinião) surgiram outros textos, um pouco na mesma linha (reactiva) de reflexão - um dos quais de Zita Seabra (publicado no mesmo dia), de outros autores não me recordo.  Não me venho armar em "influencer" ou em precursor ou "consciência". Sou só um bloguista desconhecido - um bocadinho lido porque publico no Delito de Opinião que ainda tem audiências. Não estou a dizer que tive qualquer primazia. O que quero assinalar é que tendo escrito no 1 de Junho um texto sobre esta situação encontrei, reflectido na internet (imprensa/redes sociais), um generalizado silêncio, quase universal, sobre este inenarrável assassinato.

Ou seja, é o ministro Cabrita execrável? É! O ministro Silva é melífluo? É! O presidente Sousa é o presidente Sousa, agora em crassa mentira? Ui, se o é! O SEF será irrecuperável? Sim. O silencioso médico que tudo testemunhou deveria ser empalado? Sim. A dra. Gatões deve ir para a prateleira e não para Londres? Óbvio. 

Mas, e sem qualquer dúvida, precisamos do agora célebre "botão de pânico". Não por causa dos tipos do SEF. Mas para nos defendermos de nós-próprios. Que gente somos!

Inaceitável

Pedro Correia, 23.04.20

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Amarga ironia: a única deputada independente do parlamento português é impedida de falar na sessão solene alusiva ao Dia da Liberdade.

Por mais que discorde do que Joacine Katar Moreira possa dizer, defenderei sempre o seu direito a falar no hemiciclo. Sobretudo num dia como este.

Se ela continuar impedida de subir à tribuna parlamentar no 25 de Abril, Ferro Rodrigues volta a cobrir-se de vergonha. Com máscara ou sem máscara.

Ou não sabe ou sabe e cala

Pedro Correia, 03.02.20

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Joacine Katar Moreira, deputada portuguesa sem inscrição partidária natural da Guiné-Bissau, está preocupada com o seu país natal.

Nada mais compreensível.

O balanço de 45 anos de independência é calamitoso.

Golpes de estado, presidentes assassinados, líderes militares abatidos em ajustes de contas, uma dilacerante guerra civil.

A Guiné-Bissau figura hoje no topo das listas de várias organizações internacionais pelos piores motivos. Desde logo pela permanente ameaça às liberdades políticas e civis no seu território.

Segundo a Liga Guineense dos Direitos Humanos, o sistema nacional de saúde do país está doente. Por incúria, rapina, corrupção. Os doentes são forçados a comprar até fios de sutura.

Faltam hospitais, escolas, tribunais. As aulas são interrompidas a qualquer momento, o sistema judicial está minado por práticas corruptas.

Segundo a Transparência Internacional, ocupa o 168.º lugar entre 176 nações no índice mundial de percepções de corrupção.

Figura entre os 20 países mais pobres do mundo, com um PIB per capita de apenas 646 euros anuais. Cerca de 70% da população vive abaixo do limiar da pobreza.

As crianças, em diversas zonas do país, estão sujeitas à mendicidade forçada, a castigos físicos e a abusos sexuais.

A excisão genital continua a fazer parte do quotidiano.

Esperança de vida à nascença, para as mulheres: apenas 50,6 anos. Para os homens, ainda pior: 48,6 anos.

Há quem não hesite em usar a expressão "estado falhado" , referindo-se à Guiné-Bissau. O Nobel da Paz José Ramos-Horta, por exemplo.

Na imprensa de referência, a ex-colónia portuguesa é hoje mencionada como o "primeiro narco-estado" do planeta. Onde quem manda são os barões internacionais da droga.

 

Mas a preocupação da senhora deputada, guineense de nascimento, não se centra em nada disto: a prioridade dela é que algumas obras de arte (não especificadas) oriundas da Guiné-Bissau estejam em museus ou outras instituições públicas de Portugal.

Eu esperaria dela que abordasse sem temor os factos chocantes que menciono nos parágrafos iniciais. Denunciá-los, torná-los públicos, partilhar com todos os portugueses a imensa dor do comum cidadão guineense. Afinal, com uma chocante indiferença pelos problemas concretos da Guiné-Bissau, a deputada Katar Moreira prefere exigir a criação em Portugal de uma «comissão multidisciplinar composta por museólogos, curadores, investigadores científicos e activistas anti-racistas» com a missão de «descolonizar a cultura».

Demonstrando assim até que ponto está divorciada da situação real do seu país de origem.

Ou não sabe, o que é incompreensível. Ou sabe e cala, o que é intolerável.

Intercâmbio colonial

Paulo Sousa, 31.01.20

Já aqui falei da simetria do Livre, agora da Joacine, e do Chega.

Perante a inação dos partidos moderados, que têm responsabilidades de moderação, estes dois partidos comportam-se como adolescentes. Regularmente geram cabeçalhos, aspergindo o espaço público com fricções que agitam o instinto gregário da natureza humana e a que não reagimos uniformemente. 

Pela ocupação do espaço público, Joacine e Ventura acreditam que terão benefícios de curto prazo, o que até pode ser verdade mas, como já aqui defendi, dificilmente os dois serão beneficiados na mesma proporção.

A relação de Portugal com os territórios que, mal e bem, colonizou, foi sempre biunívoca. Muito se trouxe mas também muito se deu e muito de nós lá ficou.

É uma repetição habitual dizer-se, e é um facto, que se não fossem os portugueses teriam sido outros a ocupar aqueles espaços. Uns geriram melhor que nós e outros muito pior. Nisto, como em quase tudo na nossa história, raramente fomos excelentes, e poucas vezes fomos péssimos.

Nesses territórios, agora países, deixámos um legado que será certamente preservado e refiro-me, por exemplo, às respectivas fronteiras. Milhares de portugueses daqui partiram, por lá viveram, combateram e morreram, para ajudar a definir os traçados dos territórios que agora são o chão pátrio destes países com que estaremos sempre irmanados. Pontualmente, os territórios poderão não coincidir com as divisões étnico-geográficas que facilitariam a criação de uma identidade própria imediata de um estado-nação nos moldes actuais, mas tendo sido a respectiva independência posterior à definição da unidade geográfica, podemos legitimamente assumir este legado.

Além disso, a língua de Camões é uma ferramenta de comunicação válida e efectiva no mundo global, com a espessura técnica e científica que nenhum dialecto regional ou tribal poderia proporcionar. Também pela língua que partilhamos, sempre estaremos irmanados.

Especificamente sobre devolução das obras de arte gostaria de questionar Joacine se acha que a arquitectura, enquanto abordagem artística sobre as circunstâncias, pode ser incluída na sua proposta.

Nesse sentido proponho-me a criar aqui uma pequena rúbrica com sugestões para a troca que Joacine sugere.

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Ponte pensil sobre o Rio Tete - Moçambique

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Ponte Samora Machel sobre o Rio Tete - Moçambique

Obra assinada pelo Prof. Edgar Cardoso

Será racismo? Será misoginia?

Pedro Correia, 31.01.20

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O Livre, que foi uma das grandes novidades eleitorais a 6 de Outubro de 2019, aliás celebrada com incontáveis expressões de exultação e júbilo, acaba de perder a sua única deputada na Assembleia da República: Joacine Katar Moreira manterá o lugar no hemiciclo, para o qual foi eleita com toda a legitimidade, mas já sem representar o partido.

A decisão foi tomada por 34 dos 41 membros do chamado Grupo de Contacto - o órgão directivo do Livre - e produz, como consequência imediata, o fim da representação parlamentar do partido, que abdica da deputada, eleita por Lisboa. Um sério revés para o primeiro agrupamento político português que adoptara a introdução de «quotas étnico-raciais» em listas eleitorais.

Subsistem legítimas dúvidas sobre a bondade desta decisão, não faltando quem considere que terá sido meticulosamente orquestrada por gente que recebeu mal a inesperada popularidade de uma deputada capaz de «introduzir diversidade» no Parlamento.

Pertencendo a doutora Katar Moreira, enquanto «presidenta», ao núcleo duro do Instituto da Mulher Negra em Portugal, assumida «entidade anti-racista e feminista interseccional» apostada no combate a quem ouse «retirar ao sujeito negro o lugar de multiplicidade», mais se enraíza em muita gente a convicção de que na origem deste expurgo estarão motivações de índole racista e sexista.

Não será indiferente a tais suspeitas o facto de o fundador do Livre ser homem, caucasiano e agora docente em Harvard - selecto viveiro da classe dominante norte-americana, reduto das elites capitalistas. Já dizia o outro: isto anda tudo ligado.

O "affaire Katar Moreira"

jpt, 18.01.20

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"Grupelhos" é uma bela expressão, em desuso, em tempos utilizado dentro do "Partido" para descrever a tralha de múltiplos "m-l"s que por aí andavam. Os "radicais pequeno-burgueses de fachada identitarista", julgo que foi assim que Cunhal os intitulou. Nesse universo as pantominas de então foram muitas e devem ter sido "sanguinolentas". Mas não havia o mediatismo de agora, em que tudo é mostrado, sumarento ou bolorento que seja, e pouca memória ficou. [Estará quase tudo nos arquivos do geringôncico Pacheco Pereira, presumo].

As declarações de hoje de Katar Moreira são bem ilustrativas desse meio actual. Atacada no seu partido por aqueles a quem um deputado socratista, agora seu apoiante, reduz a "bovinos de ganadaria", defende-se dizendo que é vítima daqueles que usam "ódio". E avança que a candidataram por ser "negra" ["racializada", no castelhano actual] e "gaga", para ganhar votos por isso - ela é ainda mais radical na crítica, diz que queriam a "subvenção", o vil metal . Quando há meses os oponentes desta linha política racialista apontámos a demagogia de haver uma candidata obviamente por ser "negra" e "gaga", os adeptos do(s) grupelho(s) ofenderam-se. Afinal é a própria candidata-objecto que agora o afirma ...

Mais do que o tétrico folclore das reuniões, escrutinado pelo feixe de "tv, rádio e cassete pirata", seria importante colocar um assunto à frente do "affaire Katar Moreira": na semana agora terminada uma série de acontecimentos, provocados pelo terrível assassinato de um estudante cabo-verdiano, mostrou à exaustão a total demagogia deste racialismo esquerdista, e a profunda desonestidade intelectual dos seus locutores "gramscianos". E isso é muito mais relevante do que se será o Ricardo Sá Fernandes ou a Joacine Katar Moreira a ter mais votos lá na reunião do grupelho.

Espero bem que alguns filhos de amigos e uma (ou outra) tão viçosa amiga possam compreender isto. Por outras palavras, a la western: que não se cavalga com bandoleiros sem se ser bandoleiro.

Racista eu? Dez vezes uma Katar ou um Ba do que a tropa toda dos Sá Fernandes e Tavares. E dos "gramscianos" socratistas.

Livre condiciona a liberdade

Pedro Correia, 14.01.20

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Foto Expresso

 

Paradoxos da política portuguesa: um partido chamado Livre faz tudo para condicionar a liberdade de expressão e de actuação do único representante que tem no Parlamento. Que é mulher e afrodescendente.

Este partido intitula-se feminista e anti-racista. E livre, como a sua sigla proclama. Mas vem praticando um inaceitável assédio moral à sua deputada. Começou por afastá-la da extensa lista de 68 membros dos órgãos nacionais, que serão eleitos no congresso a realizar este fim de semana. E prepara-se para votar uma moção que pretende forçá-la a renunciar ao lugar para que foi eleita por sufrágio universal apenas há três meses.

Caso para perguntar se o núcleo duro que gere o Livre agiria da mesma forma se ela fosse ele. E se tivesse menos melanina a colorir-lhe a pele.

Daqui presto, portanto, a minha solidariedade a Joacine Katar Moreira.

Como se os crimes tivessem cor

Pedro Correia, 08.01.20

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Dois jovens foram assassinados no «quarto país mais seguro do mundo» (António Costa dixit). Com cinco dias de intervalo, em duas cidades diferentes. Um em Bragança, outro em Lisboa.

O primeiro foi morto por espancamento, o outro por esfaqueamento.

Um chamava-se Luís, o outro chamava-se Pedro.

Eram ambos estudantes. Um tinha 21 anos, outro 24.

 

Um está a suscitar marchas e vigílias de homenagem póstuma a nível nacional. O outro, não.

«Barbaramente assassinado», proclama o Esquerda.net - órgão nacional do Bloco de Esquerda - perante um destes revoltantes crimes.

Sobre o outro, nem uma linha.

A deputada Joacine Katar Moreira expressou «consternação e repúdio» sobre um destes homicídios.

Sobre o outro, nada.

 

Há muitas formas de racismo. Distinguir os cadáveres de dois jovens em função da pigmentação da pele é uma delas.

Instrumentalizando um deles, de modo obsceno, com fins políticos.

Eu Sou o Desconforto!

jpt, 30.11.19

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"Eu sou o desconforto" (falta ao título jornalístico o óbvio ponto de exclamação) não é apenas o catasfioresco trinado "rio-me de me ver tão bela neste espelho". É mesmo uma proclamação bíblica, a sublinhar uma desmesurada autopercepção.

Desde Bruno de Carvalho que o país não tinha uma personagem destas. A imprensa delira, as redes sociais fervilham. Alguns demagogos (ainda) rejubilam. Vem aí o Natal. Depois o delírio continuará. Até (nos) cansar.

 

Injustiças

Diogo Noivo, 27.11.19

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Apresentou-se aos eleitores como “mulher, afrodescendente e gaga”. O partido pelo qual se candidatou confirmou que, de facto, era “mulher, afrodescendente e gaga”. E, para dissipar qualquer dúvida que pudesse existir, a comunicação social atestou repetidamente que a candidata era “mulher, afrodescendente e gaga”. Estas três características foram o alfa e o ómega do projecto político em apreço, com todos – candidata, partido, e órgãos de comunicação social – a resumir a mensagem ao sexo, à melanina e às dificuldades de fala.

Por isso, as críticas lançadas a Joacine Katar Moreira e ao partido LIVRE são manifestamente injustas. Eleita, a deputada é escrupulosa no cumprimento do seu programa eleitoral: é mulher, afrodescendente e gaga. Nunca um/uma candidat@ foi tão rigoros@ no cumprimento do que afirmou em campanha – julgo que esta é a forma correcta de escrever a frase na novilíngua vigente.

Ninguém quis falar de política, de ideias, de convicções. A definição de interesse público e a forma de o defender estiveram em parte incerta durante toda a contenda eleitoral. A comunicação política foi propositadamente centrada em aspectos inócuos, já que a síntese “mulher, afrodescendente e gaga” nada nos diz sobre a experiência, a competência e o discernimento da pessoa para o exercício de funções públicas. Por isso, exigir à deputada e ao partido coisa diferente é injusto.