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Em Julho questionei-me aqui sobre qual dos grandes projectos deste governo, o do lítio ou o do hidrogénio, iria ser o primeiro a estar envolvido em suspeitas de corrupção.
Quem apostou no hidrogénio acertou.
Segundo o secretário de estado João Galamba, que anda arredado dos títulos dos jornais há tempo suficiente para deixar qualquer português preocupado, a fábrica de hidrogénio que está a ser projectada para Sines “será o maior projecto industrial em Portugal desde o 25 de Abril”.
Não há muito tempo também foi notícia a atribuição de uma concessão para a exploração de lítio a uma empresa com capital social de 50 mil euros.
A relação entre o PS e os negócios estruturantes para o país, que mais tarde se revelam escândalos, ao ponto de escandalosamente banalizarem a palavra escândalo, já é antiga.
Se tivesse de apostar qual destes dois grandes investimentos irá ser o próximo grande escândalo da temporada teria dúvidas em escolher. Mas é garantido que qualquer um destes projectos tem grande potencial. Se houvesse um totobola para estas coisas o melhor era apostar numa tripla.
Serei só eu a achar que fazia sentido que o agora secretário de Estado João Galamba, um dos delfins de José Socrates, merecia uma escolta preventiva do Ministério Público?
Sua Excelência, no aconchego da viatura oficial, fumega o cigarro electrónico contemplando os cidadãos humildes que se encontram no exterior com a superioridade olímpica de quem passou anos a passar atestados de inferioridade moral e comportamental ao comum dos mortais e não necessita de prestar contas à plebe. Pose que constitui privilégio dos iluminados.
Podia ter tomado a iniciativa de sair uns instantes do veículo e dialogar com aquela população humilde das terras do Barroso que desconfia da anunciada exploração de lítio, transmitindo aos transmontanos sempre tão esquecidos pelo Terreiro do Paço a bondade dos argumentos oficiais. Mas isso seria incompatível com a soberba de quem adora falar em povo sem jamais se misturar com ele.
Tudo bate certo nesta imagem, afinal.
O PS, reunido a partir de hoje em congresso na Batalha (António Costa nunca descura os pormenores), deixará de contar com João Galamba nas funções de porta-voz - ou de trombeteiro, como se diz em linguagem popular.
Ainda mal refeito do choque, não consigo imaginar como conseguirá resistir o partido a tão grande perda.
João Galamba diz que Sócrates "envergonha qualquer socialista".
De entre estas, as daqueles que passam o tempo à espera que aconteçam tragédias nos fogos da Califórnia ou em qualquer outro local para justificar ou desvalorizar o que se passou em Portugal em 2017 são particularmente miseráveis.
O deputado Galamba, que ainda ontem nos explicava com circunspecção que o governo não tem qualquer responsabilidade na evolução dos juros da dívida pública, anuncia-nos hoje no seu mural do Facebook, com mal contida satisfação, que esse mesmo governo é o exclusivo responsável pelos dados do desemprego e outras extraordinárias realizações ao nível do défice e do PIB e mais o camandro. Temos, portanto, contributos frescos para a compreensão da doutrina Galamba. Pegando na feliz expressão do próprio deputado, é como se este afirmasse que a homessexualidade e as drogas não desencadeiam tempestades mas que, em contrapartida, a ganza e a atracção por pessoas do mesmo género são efectivamente responsáveis pela previsão daquilo que, voluntarioso, entende serem boas abertas.
Manuel Acácio: «Acha bem as pensões mais reduzidas não serem aumentadas?»
João Galamba: «É preciso ver que existe o complemento solidário para idosos.»
Manuel Acácio: «Mas o acesso ao complemento tem vários problemas...»
João Galamba: «Admito que sim, mas essa é outra questão; agora estamos a discutir o orçamento.»
Na resolução do BES o Estado meteu 3,5 mil milhões de euros, que "emprestou" ao Fundo de Resolução, confiando em que o nosso pujante sistema bancário devolveria o dinheiro. Não só não devolveu nada, como agora o Novo Banco precisa de reforçar o capital em mais 1,4 mil milhões de euros. Como se isto não bastasse, surgiu entretanto a necessidade de resolução do BANIF que custou 3 mil milhões de euros. A isto há que acrescentar as necessidades de recapitalização da CGD que serão no mínimo de 5 mil milhões de euros.
Perante este cenário claro, Schäuble fez uma declaração, que eu até acho simpática, a dizer que Portugal precisa de um novo resgate e que estaria em condições de o ter. A seguir lá lhe puxaram as orelhas, e voltou atrás dizendo que Portugal não vai precisar de qualquer resgate se cumprir as regras europeias que obrigam à consolidação orçamental e à redução do défice. Eu traduzo: Portugal não precisará de resgate se tiver condições para ter um orçamento equilibrado, o que manifestamente não vai ter.
Mas entretanto lá surgiu o inevitável João Galamba, a acusar Schäuble de ser incendiário, já que Portugal não precisaria de resgate algum. Só falta agora explicar onde é que vai o país buscar o dinheiro para recapitalizar os bancos. Vai continuar a endividar-se no mercado? Com a dívida que já temos, é a garantia que a breve trecho os mercados se fecham. Vai ligar as rotativas? Enquanto estiver no euro, isso não é possível. É por isso manifesto que o segundo resgate é a única solução. Por isso fariam melhor em ouvir Schäuble, em vez de continuar a viver num mundo de ilusão. Schäuble não pega fogo às finanças da Alemanha, que estão fortes e pujantes. O mesmo já não posso dizer do actual governo português.
Roubado n'O Insurgente.
Alguém poderá avisar o PSD de que pôr o Marco António Costa a questionar a credibilidade do esboço orçamental é, mal comparado, o mesmo que pôr o "doutor" Artur Baptista da Silva a afiançar a argúcia do Nicolau Santos? Ou, se quiserem, dito de outra forma: alguém poderá avisar o PSD de que pôr o Marco António Costa a questionar a credibilidade do esboço orçamental é, mal comparado, o mesmo que pôr o João Galamba a afiançar-lhe essa mesma credibilidade? Grato.
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