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Delito de Opinião

Dez anos sem o João

Pedro Correia, 14.01.23

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«A imortalidade é esse dom que os deuses depositam na memória dos amigos.»

Manuel Vicent

 

Já passaram dez anos. Cumprem-se hoje. Uma data dolorosa neste blogue, para todos quanto o conheceram. Para mim, sobretudo. O nosso João Carvalho despediu-se da vida, rumo à eternidade, a 14 de Janeiro de 2013.

Foi demasiado cedo, tinha apenas 60 anos. Com ele, apagou-se parte da força vital que tornou o DELITO DE OPINIÃO numa referência na blogosfera, onde centenas de pessoas já escreveram - gente anónima, gente célebre, gente das mais diversas tendências. Um blogue plural, participativo, atento aos outros, dialogante com os leitores, com um olhar crítico e mordaz sobre figuras e factos sem perder a elegância.

Muito à semelhança, no fundo, do que ele próprio era. Foi assim que o conheci, bem longe de Portugal: alegre, sociável, capaz de fazer amigos com imensa facilidade, desassombrado mas tolerante. Uma vez disse-lhe: «Não és engenheiro, mas sabes construir pontes.» Assim era, de facto, o João Manuel Machado de Castro Carvalho, um dos edificadores deste projecto que teima em permanecer, uma década depois de ele nos deixar de forma não inesperada mas prematura.

Nos primeiros quatro anos de existência do DELITO, deixou aqui centenas de textos. Com uma transbordante capacidade de contagiar os colegas e estabelecer diálogo com os leitores. Desde o momento inicial: era um dos pilares desta equipa que se foi renovando e transfigurando (e envelhecendo, conforme a inelutável lei da vida).

 

Devo-lhe muito. Era padrinho da minha filha, quase como um irmão. Costumo dizer que fazemos um grande amigo por cada década de existência. Sucedeu-me isso: as verdadeiras relações de amizade deixam um rasto que perdura da infância à velhice. Mas os desencontros da vida vão esmorecendo alguns laços. Com o João isso nunca aconteceu - e nem sequer a distância geográfica diminuiu a nossa calorosa e fraterna camaradagem. Desde aquela tarde em que ele me bateu à porta na pousada de Mong-Há, onde eu então vivia, e me convidou para «tomar um copo» com um amigo comum para nos conhecermos. Escrevíamos os três em jornais de Macau sem que, até àquele dia, nos tivéssemos encontrado pessoalmente.

Nasceu aí uma amizade de um quarto de século que havia de perdurar até ao dia em que ele nos disse "até sempre" e me despedi dele, a 15 de Janeiro de 2013, na comovente cerimónia fúnebre no Porto, sua cidade natal. Com a Igreja do Foco cheia de gente amiga, ainda incrédula com aquela partida tão precoce. 

 

Tanto tempo depois, ainda por vezes me questiono o que diria o João deste ou daquele acontecimento. Ou, quando leio algum erro gramatical mais estapafúrdio, me interrogo como reagiria ele com um sentido pedagógico que cultivava como poucos. Foi um dos melhores copy-desks que conheci no meu longo trajecto profissional. Rigoroso como poucos a escrever - com os outros, sim, mas também com ele próprio. 

Os textos aí estão, no nosso arquivo, testemunhos vivos de um percurso demasiado curto mas suficientemente rico para construir um precioso legado em sua memória. Não apenas na página principal do blogue: também nas caixas de comentários, onde nunca deixava um leitor sem resposta - quase sempre amável, por vezes contundente, sem nunca baixar o nível. 

Pertencia a uma espécie rara: era um perfeccionista, abominava a vulgaridade, só se contentava com o melhor. No estilo, no grafismo, no respeito pelo idioma que é património de todos. E era imbatível no sentido de humor, atributo que o acompanhou até ao fim. Ainda detectei nele esse traço distintivo na última vez em que falámos, por telefone, três semanas antes da sua morte.

Como escrevi no próprio dia em que o perdemos, a um amigo nunca se diz adeus. Cá estou, no lugar do costume, a sublinhar o mesmo. Entre os ruídos do quotidiano, recolho-me uns minutos em sentida evocação da sua memória. Convicto, mais do que nunca, desta evidência: a amizade é um posto. O João faz falta, à família e aos amigos. O que é mau e bom ao mesmo tempo. Sinal inequívoco de uma vida que não decorreu em vão.

Carta ao João

Pedro Correia, 14.01.14

 

Fazes cá falta, João.

Deixei de receber os teus telefonemas para trocarmos ideias, entre múltiplas piadas -- novas ideias alternando com velhas histórias de que sempre ríamos, em espiral contínua -- e pistas para valorizar o blogue, este projecto em comum que lançámos e alimentámos com textos de todo o género. Um blogue que concebemos como ponte e não como trincheira. Um dos problemas deste país é haver trincheiras em excesso, aos mais diversos níveis. Convergíamos nessa opinião, como em quase tudo o resto.

As pontes unem, as trincheiras separam -- e tu tinhas o condão de saber unir. Palavras, ideias, pessoas.

Fazes cá falta, João.

Nunca mais recebi as tuas mensagens dando nota de atentas patrulhas à caça das mais inconcebíveis gralhas. O DELITO DE OPINIÃO -- e orgulhavas-te justamente disso -- foi, em grande parte graças a ti, um blogue bem editado desde o início. Porque estavas convencido, e com toda a razão, de que só ficaremos à altura de receber os melhores leitores se soubermos proporcionar-lhes os melhores textos. Limpos de erros.

 

Tocava tantas vezes o telefone e eras tu: "Não achas que aquele título está mal partido?"; "nem todos aprenderam ainda a justificar os textos para evitar que uma das colunas fique desalinhada"; "as etiquetas só funcionam enquanto servirem para agregar posts, por isso terão de ser em número limitado"; "demasiadas linhas de intervalo ou fotos gigantescas tornam o blogue feio".

Pertencias a uma espécie rara: eras um perfeccionista, abominavas a vulgaridade, só te contentavas com o melhor. No estilo, no grafismo, no respeito pelo idioma que é património de todos. Nunca conheci um copy desk tão eficaz como tu -- e este blogue deve-te muito também por isso, desde a primeira hora.

Mas deve-te mais. Deve-te o sentido de humor, a frase inspirada e inspiradora, a capacidade de mobilizar até pessoas que nem chegaste a conhecer. Não regateavas uma palavra amiga, não deixavas um texto sem comentários, não toleravas que alguém desconsiderasse "as nossas meninas", não esquecias um aniversário (o teu último texto por cá, sintomaticamente, foi um postal de aniversário).

Lembro-me daquela vez que vieste de propósito dos Açores, para um jantar de blogue, trazendo pequenas lembranças que foste distribuindo pelos colegas. Vieste outra vez, para um animado jantar pré-natalício que funcionou como primeiro ponto de encontro para vários de nós, e era espantoso testemunhar a tua capacidade de fazer novos amigos a partir da mais simples troca de palavras.

 

Pensei em ti há dias quando aqui escrevi que devíamos "adquirir o talento de unir o que vemos fragmentado, de congregar o que está disperso". Esse era um dom que tinhas -- um entre vários outros.

E até por isso foi ainda maior o vazio que sentimos quando partiste, há precisamente um ano.

E é também por isso que fazes cá imensa falta.

De blogue em blogue

Pedro Correia, 26.01.13

1. Um novo blogue, que merece visita: Coração Independente.

 

2. Outro blogue recém-nascido: Iniciação ao Tédio.

 

3. Seis estudantes juntaram-se para um projecto raro: um blogue desportivo plural. A Culpa é do Hassan.

 

4. Obrigado ao Ricardo António Alves, da Abencerragem. Por ter votado em nós.

 

5. 5 Dias com novo endereço.

 

6. Agradeço a todos os colegas da blogosfera que fizeram uma referência à partida do nosso João Carvalho. Um abraço especial à Alice Alfazema, à Ana Gabriela Fernandes, ao Carlos Azevedo, à Joana Carvalho Dias, ao João José Cardoso, ao João Severino e ao Manuel Brás.

Em jeito de abraço

Fernando Sousa, 16.01.13

Era culto sem espalhafato, ladino e mordaz, e, a par disso, um ser leal e atento e um homem sem vergonha da doçura. Daí termos ficado cúmplices sem saber de quê. A sua ironia às vezes incomodava-me mas o seu humor repunha a qualidade das tantas conversas que tivemos, olhos nos olhos, dos Açores a Gaia, que era como gostava de olhar para o mundo e as pessoas. Ofereceu-me das melhores gargalhadas que já dei quando, uma vez, a meio da doença, o acompanhei a mudar um penso, e, à pergunta da recepcionista da clínica sobre o nome, respondeu prontamente e com o ar mais sério do mundo: “Júlio Machado Vaz.” Não me aguentei. “É que às vezes nos confundem.” E ele a seguir, que também gostava de rir, gargalhou também. Gostava de falar, mas ouvia como vivia: com a alma toda. Firme nos seus motivos, sabia ainda perder - "Touché". Ele era assim, o João, um amigo cheio, de quem me recuso a despedir. Até porque tínhamos combinado, há poucas semanas, um café para um dia destes...

Modo de Vida (33)

Adolfo Mesquita Nunes, 15.01.13

Lembro-me que quis calar a cidade e suspender os movimentos, fazer de tudo uma estátua. Havia um céu enorme, desmanchado em luz, que quis desligar. E não consegui esquecer os eléctricos que passavam, levando e trazendo pessoas com destino. Aparentemente o Mundo convivia bem com o mais trágico dos acontecimentos, abrindo a ferida, para usar um eufemismo. E fiquei a pensar na cobardia do Mundo perante a morte. Volto aqui sempre que me morre alguém e dou comigo a pedir desculpa por, também eu, participar dessa cobardia. À família e aos amigos do João, um enorme abraço. 

 

    

Até sempre, João

Ana Vidal, 15.01.13

Começámos mal: pegámo-nos, num blogue onde eu me estreava e ele era comentador habitual com o nick J.C. (ver os comentários ao post). Mas logo aí se percebeu que as nossas divergências seriam civilizadas e saudáveis, coisa de gente que se respeita. Depois, com o tempo e muitas trocas de ideias em caixas de comentários, veio a amizade virtual. Implacável na defesa das suas teses (era muito mais conservador do que eu), o João era sempre de uma elegância irrepreensível e tinha uma ironia fina, subtil, que me divertia e me vergava. Era mestre no trocadilho. Tivemos despiques memoráveis, de que ficará o registo aqui no Delito e a saudade na minha memória. Um dia, a amizade passou de virtual a real, carne e osso a confirmar a empatia e a confiança. Foi um anfitrião insuperável nas suas ilhas de adopção, territórios mágicos a que me rendi sem retorno desde o primeiro olhar, e a que voltei e voltarei sempre que a vida mo permitir. A última vez que o vi foi no Porto, já em tratamento e consciente do seu estado grave. Tomámos um café, conversámos e rimos como se tudo estivesse bem, e não pude deixar de reparar no estoicismo de quem tudo fazia para manter o prumo e não dar o flanco à doença. Quando me despedi, apesar dos meus protestos fez questão de me acompanhar ao carro e abrir-me a porta, galante como sempre. Sorridente, espicaçou-me com o seu tema preferido pela última vez: "O que é que pensas, que eu sou um desses mouros que não sabem comportar-se com uma senhora? Aqui no Porto ainda há cavalheiros, ora essa!".

 

Era um homem de coragem e provou-o até ao fim. Vai fazer falta, tanto ao DO - onde será insubstituível - como aos amigos. A vida continua, como sempre. Mas continua mais pobre.

A um amigo nunca se diz adeus

Pedro Correia, 14.01.13

À Xanda e à Dai

 

O que dizer a um amigo que sabemos contaminado pela doença fatal e condenado à morte em poucos dias? O que dizer a esse amigo com quem partilhámos tantas gargalhadas, tantas confidências, tantas horas de alegre convívio em dois continentes ao longo de um quarto de século?

Telefonei-lhe na véspera de Natal. Já não falávamos há várias semanas. Sabia-o já dependente de uma botija de oxigénio na maior parte do tempo. Mesmo assim, reconheci de imediato aquela voz para mim tão familiar, do outro lado da linha: com um pouco menos de fôlego mas ainda com um rasto bem audível da jovialidade de sempre.

"Então compadre, como vai isso?", perguntei ao padrinho da minha filha e parceiro de tantas horas de trabalho, de tantas tertúlias risonhas e tantos projectos felizmente concretizados.

Ele falou-me da luta tenaz que travava contra a doença. Os tratamentos mais recentes tinham-no feito perder todo o cabelo e grande parte da massa muscular. Mas mantinha intacta aquela agilidade mental que eu bem lhe conhecia e era um dos traços mais marcantes da sua personalidade, a par de um inesgotável sentido de humor. Nascido num mês de Junho - era Gémeos, como eu - tinha sabedoria suficiente para nunca se levar demasiado a sério, o que dizem ser uma das características mais indeléveis deste signo.

 

O que dizer a um amigo que sabemos estar a despedir-se da vida?

Dizemos o que nos dita o coração.

Desejei-lhe toda a força do mundo e a continuação da coragem sempre revelada durante quase dois anos de intenso combate à doença - insidiosa e traiçoeira, feita de recuos estratégicos e avanços fulminantes, em contínuos ziguezagues. "O que interessa o cabelo, João? Interessa é dar luta a isso."

A conversa suspendeu-se enfim. Estávamos ambos comovidos, estaríamos porventura ambos cientes de que não voltaríamos a dialogar.

 

 

E ao desligar o telefone vieram-me à memória, em espiral caleidoscópica, uma infinidade de bons momentos que foram pontuando uma relação de amizade sem qualquer sombra. Fragmentos de almoços à mesa do Afonso, no centro histórico de Macau, ou de jantares no Fernando, na praia de Hac Sá, em Coloane. Ou irrepetíveis serões de boémia, rematados no Lok Un, na ilha da Taipa - espécie de cabaré chinês dos anos 50 transposto para a década de 80 daquela inimitável noite macaense. Expedições de fim de semana a Hong Kong, com paragem obrigatória nas ilhas de Lamma e Cheung Chau. Ambos a escrevermos copiosos artigos satíricos, em vetustas máquinas de escrever, num velho semanário macaense que ajudámos a revitalizar. Trabalhávamos imenso - tarde adiante, noite fora - mas divertíamos-nos em idêntica proporção. Quando reuni uma equipa de colaboradores para fundar um novo semanário por terras do Oriente, foi nele que logo pensei em primeiro lugar - e prestou sempre um precioso contributo a vários títulos, designadamente como copy desk, tarefa em que foi um dos melhores profissionais que conheci.

 

Lembrei-me de muito mais. Do apoio que me deu quando estive desempregado e que eu viria a ter oportunidade de lhe retribuir quando ficou ele sem trabalho. Dos dias que passei no belo apartamento dele, em São Miguel, e da paciência que teve para ser meu cicerone nos deslumbrantes circuitos da ilha, onde esteve radicado na última década. Dos encontros frequentes, em minha casa, nos anos em que viveu em Lisboa ou das minhas esporádicas deslocações ao Porto. De uma vez em que nos fizemos à estrada, debaixo de chuva, para um almoço prolongado quase a meio caminho entre as duas cidades - no Pedro dos Leitões - só para pormos a conversa em dia. E desta bela aventura que concretizámos, com um novo grupo de amigos, ao fundarmos o DELITO DE OPINIÃO, há quatro anos: o João foi desde o início um dos maiores entusiastas do projecto.

Aqui deixou centenas de textos que permanecerão à fácil disposição de quem queira revisitá-los porque o nome dele não se apagará da ficha técnica deste blogue, onde tinha paciência para ler todos os textos, responder a todos os comentários e ser um caça-gralhas a tempo inteiro: considerava, justificadamente, que os leitores nos merecem a consideração de lhes proporcionarmos textos isentos de erros.

E o João Carvalho, o meu amigo que hoje partiu, foi uma das pessoas mais atenciosas que conheci. Nunca se esquecia de assinalar os aniversários dos colegas, mesmo daqueles que não chegou a conhecer pessoalmente dada a sua localização geográfica - alternadamente nos Açores ou no Porto - o impedir de participar, em regra, nos nossos regulares jantares de convívio. Chegou no entanto a deslocar-se propositadamente de Ponta Delgada a Lisboa para não falhar um animado repasto natalício desta tribo, convicto - e cheio de razão - que os laços de amizade são um dos nossos bens mais preciosos. E poucas pessoas sabiam fazer amigos como ele.

Sintomaticamente, a última marca que aqui deixou foi um postal de parabéns a uma colega de blogue. Já muito doente, mas ainda fiel a um mandamento que sempre cultivou: a amizade é um posto, há que honrá-la a cada momento.

 

Como dizer-lhe adeus?

Não consigo. A um amigo como o João diz-se até sempre ou até já.

 

FOTO: o João Carvalho (à direita) em Macau, num cenário que lhe era familiar, com o João Severino, nosso amigo comum

Até já, João *

Laura Ramos, 14.01.13

LA COGIDA Y LA MUERTE A las cinco de la tarde. Eran las cinco en punto de la tarde. Un niño trajo la blanca sábana a las cinco de la tarde. Una espuerta de cal ya prevenida a las cinco de la tarde. Lo demás era muerte y sólo muerte a las cinco de la tarde. El viento se llevó los algodones a las cinco de la tarde. Y el óxido sembró cristal y níquel a las cinco de la tarde. Ya luchan la paloma y el leopardo a las cinco de la tarde. Y un muslo con un asta desolada a las cinco de la tarde. Comenzaron los sones de bordón a las cinco de la tarde. Las campanas de arsénico y el humo a las cinco de la tarde. En las esquinas grupos de silencio a las cinco de la tarde. ¡Y el toro solo corazón arriba! a las cinco de la tarde. Cuando el sudor de nieve fue llegando a las cinco de la tarde cuando la plaza se cubrió de yodo a las cinco de la tarde, la muerte puso huevos en la herida a las cinco de la tarde. A las cinco de la tarde. A las cinco en Punto de la tarde. Un ataúd con ruedas es la cama a las cinco de la tarde. Huesos y flautas suenan en su oído a las cinco de la tarde. El toro ya mugía por su frente a las cinco de la tarde. El cuarto se irisaba de agonía a las cinco de la tarde. A lo lejos ya viene la gangrena a las cinco de la tarde. Trompa de lirio por las verdes ingles a las cinco de la tarde. Las heridas quemaban como soles a las cinco de la tarde, y el gentío rompía las ventanas a las cinco de la tarde. A las cinco de la tarde. ¡Ay, qué terribles cinco de la tarde! ¡Eran las cinco en todos los relojes! ¡Eran las cinco en sombra de la tarde! * Ao João Carvalho