Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Só falta o Magalhães.
Poema de Natal
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
publicado aqui num Natal passado
A Christmas poem
At Christmas little children sing and merry bells jingle,
The cold winter air makes our hands and faces tingle
And happy families go to Church and cheerly they mingle
And the whole business is unbelievable dreadful, if you’re single
Wendy Cope, (2008), Two Cures for Love, London, Faber and Faber
Está por apurar se vai ficar ao lado da Virgem, em vez do Menino, a namorar a vaca ou a piscar o olho ao ouro dos Reis Magos, certo é que vai figurar nos presépios italianos. Dêem graças por ninguém se lembrar de agredir Sócrates com uma réplica do Cristo-Rei
Deve ser Natal. Não são só os Pais-Natal enforcados nas varandas e os meninos Jesus em cascata nas janelas. Não são os bolos-rei, azevias e sonhos que invadiram as pastelarias e se espraiam em tabuleiros oferecidos. Não são só as lojas permanentemente cheias, as filas para pagar, embrulhar presentes, pedir talões e cheques-brinde. Não são só as notícias dos sem-abrigo de quem ninguém se lembra nos restantes dias do ano, as acções de solidariedade mais profícuas que coelhos em Primavera, comos somos solidários e caridosos. Não são só as canções de Natal ad nauseam em tudo o que é canto. Não são só as iluminações nos monumentos e as árvores cintilantes nas rotundas. Não são só as notícias da crise nos bolsos dos portugueses e os queixumes dos comerciantes, não há Natal sem eles. Não é só tudo isto. É isto, isto e isto também. Demos Graças que é Natal. Este ano começou logo a 28 de Setembro. O Pai Natal bem pode ir engrossar as filas do desemprego.
Bloody Christmas, here again,
Let us raise a loving cup,
Peace on earth, goodwill to men,
And make them do the washing up
Wendy Cope
Sim, é verdade, não sou particularmente católica – podem implicar à vontade com o particularmente, já se sabe que ou se é ou não se é - sim, não sou muito dada a tradições, sim, implico ferozmente com tudo o que são obrigações, sim, detesto fretes e imposições, presentes de Natal embrulhados na hipocrisia do dever cumprido e mensagens sms formatadas, iguais para todos os felizardos da lista telefónicae para gáudio das operadoras, odeio o cheiro a fritos que se me agarra ao cabelo sempre que me atiro aos afazeres de dona-de-casa prendada na véspera de Natal, sim, tenho uma saudade dilacerante do sorriso do meu pai por estes dias, sim, a música de Natal pelas superfícies comerciais tem o condão de me produzir uma raivinha miúda em crescendo como se fosse acometida pela proverbial e conveniente tpm os dias todos que antecedem o tal dia. E apesar de tudo, é Natal. E como não lhe posso fugir, e sim, até lhe acho alguma piada, daqui até dia 25 postarei sobre a quadra festiva. E será o que me apetecer: fotografias – e quantas- e textos.