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Delito de Opinião

Janeiro, o mês de Ianus ou Janus

Maria Dulce Fernandes, 05.01.24

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"Como podemos verificar, os antigos romanos tinham um deus específico que detinha a chave, por assim dizer, das portas ou portais metafóricos entre o que foi e o que está por vir – o espaço liminar de transição de um período de tempo para algo novo.

Na mitologia romana, Janus era o deus das portas, portões e transições. Janus representou o meio termo entre dualidades concretas e abstratas, como vida/morte, começo/fim, juventude/idade adulta, rural/urbano, guerra/paz e barbárie/civilização.

Janus era conhecido como o iniciador da vida humana, das transformações entre as fases da vida e das mudanças de uma época histórica para outra. Os antigos romanos acreditavam que Janus governava também os eventos da vida, como casamentos, nascimentos e mortes,  supervisionando eventos sazonais, como plantio, colheitas, mudanças sazonais e o ano novo.

Segundo a mitologia romana, Janus esteve presente no início do mundo. Como deus dos portões, Janus guardava os portões do céu e tinha acesso ao céu e a outros deuses. Por esta razão, Janus era frequentemente o primeiro a ser invocado nas antigas cerimónias religiosas romanas e durante os sacrifícios públicos, as oferendas eram dadas a Janus antes de qualquer outra divindade. Na verdade, há evidências de que Janus era adorado muito antes de muitos outros deuses romanos datando da época de Rómulo."

O que é incomum no deus Janus é sua imagem icónica. Como o deus das transições e dualidades, Janus é retratado com duas faces – uma voltada para o passado e outra voltada para o futuro. Também segura uma chave na mão direita, que simboliza a proteção de portas, portões, soleiras e outras separações ou aberturas entre limites espaciais. Na Roma antiga, o símbolo da chave também significava que um viajante veio para encontrar um porto seguro ou comercializar mercadorias em paz.

O primeiro mês do ano, Janeiro, foi assim consagrado ao deus Janus, para que possa trazer novos e auspiciosos começos.  Portas fechadas, reais ou metafóricas, podem ser obstáculos intransponíveis. 

(Imagem Google)

Presidenciais (16)

Pedro Correia, 24.01.21

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NO PIOR MOMENTO

Para que não restem dúvidas, a minha objecção a este insensato calendário eleitoral da corrida ao Palácio de Belém - com ou sem pandemia - já há dez anos me levava a escrever isto:

«É absurdo as eleições presidenciais continuarem a realizar-se em meados de Janeiro, o mês mais frio. Sei do que falo: andei na estrada em Janeiro de 2006, acompanhando como jornalista a caravana eleitoral de Manuel Alegre, que se viu impedida de se deslocar a certas regiões - a Bragança, por exemplo - devido a fortes nevões. Um deles deixou-nos bloqueados no Marão: lá tivemos de regressar imprevistamente ao Porto às tantas da noite, com a agenda por cumprir.

São absurdas estas corridas presidenciais com as festas de Natal e de Ano Novo de permeio. Que dispersam as atenções e distanciam os eleitores dos candidatos, fomentando a abstenção. O primeiro calendário eleitoral, em Junho de 1976, fazia bastante mais sentido. E até o segundo, no início de Dezembro, em 1980. Janeiro é que não faz sentido algum.»

 

Palavras publicadas no DELITO DE OPINIÃO a 13 de Janeiro de 2011

O que fizeram os decisores políticos perante este problema, que ultrapassa largamente uma simples questão formal? Nada.

Como de costume em Portugal, a inércia apodera-se do processo de decisão, neutralizando-o. Medidas que noutros quadrantes são resolvidas com rapidez, tendo em vista o combate à abstenção e a aproximação entre eleitos e eleitores, por cá são empurradas com a barriga. Durante anos. E o maior especialista em adiar soluções, como temos visto ao longo destes meses, chama-se António Costa.

 

Chegou mais um processo eleitoral, anunciado com cinco anos de antecedência. O País vive desde Março debaixo de sucessivos estados de emergência, agrilhoado pelo coronavírus que matou mais de mil pessoas só na semana passada. O Governo, como barata tonta, manda-nos ficar em casa em nome do cumprimento dum dever cívico e manda-nos sair de casa em nome do cumprimento doutro dever cívico. Tudo ao mesmo tempo.

Como nada quiseram alterar, mantendo a rigidez do calendário com o fervor de Moisés agarrado às Tábuas da Lei, vivem hoje horas angustiantes. Se a abstenção atingir níveis nunca vistos em Portugal, isto representa o maior descrédito das instituições políticas precisamente quando Costa exerce por inerência as funções de presidente do Conselho da União Europeia. E enfraquece ipso facto a legitimidade do próximo mandato do inquilino de Belém. No pior momento.

Já falta pouco para sabermos. Mas não auguro nada de bom.

Janeiro negro: retrato do País em opiniões no "Expresso"

Pedro Correia, 17.01.21

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«É provavelmente a maior operação de branqueamento na política a que já assistimos. Quiseram "salvar o Natal" e agora morrem 150 pessoas a cada 24 horas... É como se um avião caísse todos os dias. Salvou-se o Natal e perdeu-se Janeiro, perdeu-se Fevereiro e não sabemos o que esperar de Março... Perderam-se vidas humanas, mortes que podiam ter sido evitadas. (...) A 14 de Janeiro somos o quinto país em todo o mundo com mais mortes por milhão de habitantes. Atingimos o tenebroso recorde de 156 vítimas diárias e há seis dias consecutivos que estamos acima das cem mortes.»

João Vieira Pereira

 

«Quando 10 mil portugueses morreram a mais no ano passado de outras doenças porque o SNS não conseguiu tratá-los, quando as enfermarias e as UCI estão à beira do colapso e quando é facil antecipar que os centros de saúde não terão capacidade para administrar vacinas a todos quando elas estiverem disponíveis em quantidade, insistir em recusar a utilização "a preço justo" da capacidade instalada do sector social e do sector privado é mais do que obsessão ideológica, é um atentado contra a vida dos portugueses.»

Miguel Sousa Tavares

 

«Os dois melhores retratos dos nossos erros são a app StayAway Covid e a absurda batalha "ideológica" sobre público e privado numa pandemia. A primeira, porque explica que é inútil criar tecnologia quando ninguém a alimenta (a percentagem de casos inseridos é ridícula); a segunda, porque mostra o vazio das nossas discussões políticas, que se arrastaram para os debates das presidenciais. Em vez de se montarem sistemas de resposta robustos, fazem-se guerras ideológicas. Depois, a realidade bate-nos à porta.»

Ricardo Costa

 

«Na frente sanitária, o que começou por ser apresentado como um milagre ("o milagre português") transformou-se nos dias de hoje num dos piores resultados do mundo, no que se refere ao ritmo de progressão das infecções, a que se seguirá o aumento do número de ambulâncias com doentes à espera de vaga nos hospitais superlotados e o aumento do número de mortos. Por muito que relevem, e relevam, razões exteriores, e objectivas, que talvez nada nem ninguém conseguiria superar, estão à vista de toda a gente os resultados da imprevidência, da falta de planeamento, da infantilização de um povo inteiro, que se quis deixar ser tratado como uma criança, para celebrar o Natal.»

Daniel Bessa

A montanha mágica

Maria Dulce Fernandes, 06.01.20

O peso dos anos e o peso das ancas, quando unidos, conseguem seguramente desmoralizar um monge tibetano. Nada que não pudesse ter sido evitado, portanto, mas tirando um bom livro ou uma viagem sonhada, que outros prazeres mundanos e reconfortantes nos restam?
As festas deixaram de ser as festas como as conhecíamos, à medida que os presentes à mesa se foram fazendo representar por uma ausência doída. É verdade que a alegria das crianças é contagiante e balsâmica, mas também sublima a saudade e agiganta o apartamento.

 

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Encontrar o caminho para o lenitivo espiritual através do estômago é a fórmula milenar mais básica e mais cliché que existe, mas também a mais praticada. E já que a carne é fraca, coma-se em dobro.
Janeiro é o mês da montanha mágica, aquele excesso acumulado na cintura de muitos hidratos de carbono, açúcares, lípidos e imoderações proteicas. O nosso Castorp interior transforma num ápice três semanas em sete anos ou numa eternidade, porque a nossa montanha desafia o tempo e a vontade.
O peso da corpulência está em proporção directa ao peso da consciência e inversamente ao da tendência feita carência, derrotando em toda a linha a paciência.
A solução é simples acrescida de um tremendo grau de dificuldade, e é aí que nos agarramos ao tempo, porque o tempo das pessoas não interessa para nada e é bem quantificado ao mês.
Em assim sendo, respiramos fundo e assentamos todos os meses voltar à montanha mágica no mês seguinte, subindo e descendo as assomadas em frequentes oscilações alimentares.

Janeiro de 2018: os meus votos

Pedro Correia, 05.02.18

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Figura nacional do mês

À terceira foi de vez: Rui Rio, que em Outubro anunciou a candidatura à presidência do PSD que os seus apoiantes há muito lhe exigiam, venceu a eleição interna para a liderança social-democrata, preparando-se para substituir Pedro Passos Coelho. Contabilizados os votos, a 13 de Janeiro, o ex-presidente da Câmara do Porto obteve 54,37%, derrotando Pedro Santana Lopes, que obteve 45,63%

 

 

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Figura internacional do mês

Os mecanismos da justiça vão cercando Lula da Silva. O ex-Presidente brasileiro, que ambiciona regressar ao Palácio do Planalto, viu a 24 de Janeiro o Tribunal da Relação confirmar a sentença da primeira instância no âmbito dos processos Lava Jato, agravando-a - por decisão unânime - para 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Já tem o passaporte apreendido. Mas o PT, seu partido, continua a indicá-lo como candidato à eleição de Outubro.

 

 

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Facto nacional do mês

Dois juízes do Tribunal da Relação de Lisboa - um deles, Rui Rangel, ex-candidato à presidência do Benfica - foram constituídos arguidos, a 30 de Janeiro, no âmbito da Operação Lex, desencadeada pela Polícia Judiciária no combate aos crimes de corrupção, recebimento indevido de vantagem, branqueamento, tráfico de influências e fraude fiscal qualificada. Entre os arguidos figuram Luís Filipe Vieira e Fernando Tavares, presidente e vice-presidente benfiquistas.

 

 

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Facto internacional do mês

A 20 de Janeiro, completou-se um ano de presidência Trump. Um ano em que se extremaram os campos: é cada vez mais coesa a coligação que o levou à Casa Branca, são cada vez mais aguerridos os seus adversários em todas as frentes. O fracasso da reforma sanitária e o sucesso da reforma fiscal marcaram este ano político nos EUA. Donald Trump fomentou tensões na Coreia e na Palestina, enquanto a economia americana emitia sinais de prosperidade: crescimento de 3% do PIB, desemprego a cair para 4,1% e 2,1 milhões de empregos criados em 2017.

 

 

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Frase nacional do mês 

«O PSD deve vender a alma ao diabo para pôr a esquerda na rua.» Declaração de Manuela Ferreira Leite, ex-presidente do PSD e apoiante de Rui Rio, em entrevista concedida à TSF a 15 de Janeiro, no rescaldo imediato do escrutínio interno que levou à liderança o ex-autarca do Porto. A antiga ministra das Finanças procurou, com esta frase, validar a estratégia de Rio, que assume desde já ser parceiro dos socialistas num futuro Governo em alternativa à actual frente de esquerda.

 

 

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Frase internacional do mês 

«Quero que todas as meninas saibam que um novo dia está no horizonte.» Uma frase emotiva da apresentadora televisiva Oprah Winfrey, a 7 de Janeiro, na cerimónia de entrega dos Globos de Ouro, durante um discurso de nove minutos contra os "homens brutais e poderosos" que agrediram sexualmente mulheres, durante décadas, no mundo do espectáculo. Esta intervenção deu alento ao movimento Me Too [eu também] e durante dias Oprah foi mencionada como possível candidata à Casa Branca em 2020. Um cenário que ela própria desmentiu a 25 de Janeiro.

 

Janeiro de 2017: os meus votos

Pedro Correia, 01.02.17

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Figura nacional do mês

Os troféus são tantos que quase parecem banalizar-se. Mas continuam a justificar destaque. Desde logo por mérito absoluto do homenageado. Cristiano Ronaldo foi galardoado com o título de melhor jogador do mundo na Gala da FIFA, realizada em Zurique, a 9 de Janeiro. O que sucede pela quarta vez.

 

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Figura internacional do mês

Surpreendendo muitos, até no seu partido, Benoit Hamon venceu a 29 de Janeiro o ex-primeiro-ministro Manuel Valls na segunda volta das  primárias destinadas a escolher o candidato socialista às presidenciais em França. O ex-ministro da Educação, oriundo da ala esquerda do PSF, está já a ser alvo de forte contestação interna.

 

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Facto nacional do mês

Portugal despediu-se daquele que muitos consideram o pai do nosso regime constitucional: Mário Soares morreu a 7 de Janeiro, aos 92 anos. O  funeral do homem que fundou o PS em 1973, foi três vezes primeiro-ministro e cumpriu dois mandatos como Presidente da República realizou-se com solenes honras de Estado três dias depois.

 

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Facto internacional do mês

O mais polémico Presidente americano das últimas décadas tomou posse a 20 de Janeiro: Donald Trump prestou juramento numa cerimónia no balcão do Capitólio a que assistiram os seus dois antecessores imediatos na Casa Branca, George W. Bush e Barack Obama, num dia marcado por ruidosos protestos nas ruas.

 

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Frase nacional do mês 

«O PS nunca mais vai precisar da direita para governar.» Frase proferida por Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e responsável pela coordenação entre o Governo e os partidos que o apoiam na Assembleia da República. Cinco dias antes do chumbo no Parlamento da redução da TSU para as empresas.

 

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Frase internacional do mês 

«A tortura funciona.» Esta foi a declaração mais controversa de Trump desde que tomou posse. Na primeira entrevista que concedeu como Presidente - à televisão ABC, a 25 de Janeiro - o novo inquilino da Casa Branca admitiu a prática da tortura contra suspeitos de terrorismo, o que lhe valeu críticas dos mais diversos sectores.

Janeiro de 2015: os meus votos

Pedro Correia, 31.01.15

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Figura nacional do mês

Cristiano Ronaldo, galardoado com a terceira Bola de Ouro

 

Figura internacional do mês

Alexis Tsipras, vencedor das eleições legislativas na Grécia

 

Factos nacionais do mês

Venda da Portugal Telecom aos franceses da Altice e Alberto João Jardim abandona Governo Regional da Madeira

 

Facto internacional do mês

Os atentados do dia 7 em Paris que provocaram 17 mortos

 

Frase nacional do mês

«Não há justiça em Portugal» (Mário Soares)

 

Frase internacional do mês

«Je suis Charlie» (frase entoada por milhões de pessoas em todo o mundo)