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Delito de Opinião

Assim escrevia Vance em 2017

Pedro Correia, 09.04.25

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Há oito anos, J. D. Vance - muito antes de se imaginar como braço direito de Donald Trump em Washington - apregoava nas redes digitais o oposto do que hoje a administração norte-americana pratica, já com reflexos calamitosos na economia global.

«Nunca é de mais repetir: se estamos preocupados com a economia dos Estados Unidos, devemos concentrar-nos mais na automação e na educação do que no proteccionismo comercial.» Assim escrevia o Vance de 2017. Quando se afirmava «never Trumper» - precisamente durante o primeiro mandato presidencial de Trump, a quem chegou a chamar «idiota»

Nada trumpista então, mas de uma inquebrantável lealdade agora. Virou proteccionista, com duplo mortal à retaguarda. Vance devia precaver-se: isto pode causar sérios danos à coluna.

Contra a cobardia

Cristina Torrão, 01.03.25

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Ser pela Ucrânia é ser pela Europa.

E eu sou pela a Europa, contra os bullies. Contra quem gosta de humilhar e nunca enaltece ou defende direitos humanos. O discurso de Trump é profundamente misantropo, agressivo, humilhante, manipulador. Mente hoje e amanhã dá-lhe uma amnésia. "Disse isso, eu? Não me lembro". Não há honra, não há dignidade, não há palavra. E um homem sem palavra, não é um homem. É um rato. De esgoto.

Trump, Musk e Vance são ratos. São incapazes de empatia, ou de compaixão. São psicopatas.

Acredito que a partilha das dificuldades pode reforçar os laços e a identidade europeia. Num esforço de segurança comum. E é certo que também Trump tem muito a perder, sem a Europa do seu lado.

Por mim, o boicote à Casa Branca seria total. Nem mais um líder europeu de visita, por iniciativa própria, às ratazanas de esgoto! Chega de ir lá, dobrar a espinha! Deixemo-los a falar sozinhos, todos satisfeitos, na sua verborreia!

O mundo vai ficar mais perigoso? Para o bem e para o mal, estamos no meio do vulcão. Resta avançar de cabeça erguida. Sejamos gente!

Contra essa espécie de união entre comunistas e cheganos da pior espécie.

Contra os cobardes!

O cerco a Zelenski na Sala Oval

Pedro Correia, 01.03.25

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Donald Trump só fala em dólares: nunca em princípios nem valores.

A legalidade internacional está ausente da sua incessante verborreia nas redes digitais.

Nunca o ouvimos enaltecer ou defender direitos humanos. Prefere mencionar, sem rodeios, a exploração de recursos naturais noutros países.

Governa em nome de uma nação, mas só a pensar numa claque. A sua.

Parece um político saído das páginas de "Império", o romance de Gore Vidal centrado nas presidências de William McKinley e Theodore Roosevelt, que tomaram de assalto as últimas parcelas ultramarinas espanholas nas Antilhas e no Pacífico.

 

Ontem recebeu na Casa Branca o seu homólogo da Ucrânia, Volodímir Zelenski, como se dignasse avistar-se com um serviçal. Exibindo um comportamento inaceitável. Quase aos gritos, de forma insultuosa, depois de lhe ter chamado "ditador" (algo que jamais fez com Putin) e de ter dito que foi a Ucrânia a iniciar a guerra (jamais se atreveu a dizer coisa semelhante sobre a Rússia invasora). 

Houve cerco a Zelenski na Sala Oval, para gáudio dos jornalistas, como se aquilo fosse um freak show. Estavam também o secretário de Estado e o secretário da Defesa, entre outros elementos da administração norte-americana. Mas o mais vociferante foi o vice-presidente. J. D. Vance - a quem alguns portugueses dignos de respeito prestam vénia por motivos insondáveis - ia repetindo, em tom provocatório, a ladainha putinista sobre a «falta de homens e de munições» sentida pela Ucrânia. E ousou dar lições de etiqueta política ao convidado - logo ele, que há duas semanas, em Munique, interferiu grosseiramente no processo eleitoral alemão com apoio explícito à direita mais exteremista e pró-russa.

O mesmo Vance que, enquanto senador republicano do Ohio, há um ano tudo fez para travar o pacote de ajuda a Kiev no Congresso norte-americano.

 

Ontem, a meus olhos, Zelenski agigantou-se ainda mais ao enfrentar isolado aquela assembleia hostil, onde nem faltavam repórteres com questões provocatórias: um idiota chegou a perguntar-lhe porque não usa fato.

Mas receio por ele. Putin anda há três anos a tentar eliminá-lo. Agora que a cumplicidade entre a Casa Branca e o Kremlin se tornou indisfarçável, essa ameaça avoluma-se: os esbirros de Moscovo sentem-se mais encorajados a riscá-lo do mapa.

Quem imaginar o contrário mora no País das Maravilhas - muito longe deste mundo concreto e cada vez mais perigoso em que vivemos.

MAGA

José Meireles Graça, 18.02.25

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Make America Great Again foi a bandeira da campanha de Trump e se isso encontrou eco no eleitorado americano foi por haver a percepção de que “great” tinha deixado de ser.

Quer dizer que alguma coisa de profundo tinha de mudar na ordem interna para pôr a América a produzir (ainda que não seja possível) como nos tempos áureos da Guerra Fria, em vez de ter na China e no México as fábricas da sociedade de consumo que continua a ser, e regressar ao Estado que deixa fazer em vez do Estado que sufocantemente regula através de um polvo de agências intervencionistas, servidas por burocratas que tomaram o freio nos dentes, tudo em cima do medo palpável de uma imigração que pode descaracterizar os valores WASP sob os quais os EUA se tornaram “grandes”. Isso e a captura da comunicação social, das universidades e empresas pelas múltiplas engenharias sociais e comportamentais engendradas por grupos de pressão esquerdistas e identitários – o que se chama o movimento woke.

Na ordem externa abandonando as torrentes de dinheiro despejado ao abrigo do papel imperial de comandar os destinos do mundo e espalhar os valores democráticos e progressistas, e em vez disso enfrentando realisticamente as novas superpotências concorrentes, que são a China e a Índia.

A ordem velha ruiu com a queda do muro de Berlim. E o justificado regozijo na Europa com a débâcle soviética era na verdade um toque de finados da ordem de paz e sossego nascida da II Guerra Mundial. Porque o inimigo era a URSS e como esta tinha uma vocação universal de subversão das outras sociedades em nome do comunismo e era portanto o inimigo figadal dos EUA e das outras democracias, nasceu a NATO. Foi esta, um inimigo comum e a ameaça de retaliação atómica que garantiram a paz e a solidariedade euro-atlântica. Não a UE, à qual segundo a lenda devemos aquele meritório resultado.

A URSS já não existe, o que lhe tomou o lugar foi o velho poder czarista, que é ou talvez seja uma ameaça para os vizinhos, mas não para os EUA. Daí que Trump seja um catalisador de tendências inelutáveis, não o potencial autor de grandes desgraças; e daí que os europeus tivessem agora descoberto que têm de encostar a barriga militar ao balcão, adormecida e engordada pelo aliado rico no tempo em que precisava deles.

Acresce que o mecanismo europeu de decisões tomadas longe dos cidadãos por políticos ou burocratas que não respondem directamente perante eleitor algum; e a permeabilidade desses políticos e dessas burocracias às modas de pensamento em matéria ambiental, educativa, de imigração, de costumes e o mais que constitui o pensamento woke, num quadro de permanente tábua-rasa de nacionalidades e diferenças: vão alienando uma quantidade crescente de cidadãos, nuns sítios mais e noutros menos – os deploráveis, como não dizem mas pensam os magistrados da opinião tradicional, que são quase todos.

Mas vivemos em sociedades democráticas e portanto este descontentamento encontrou quem o cavalgue e quem – ó escândalo – ganhe eleições ou ameace ganhá-las em nome da extrema-direita. E o establishment, ofendido na sua tranquilidade e interesse, reage tentando fechar a boca à dissidência com controles sortidos em nome do combate à desinformação, defesa da democracia através do apoio à imprensa, censura às redes sociais em nome da repressão do discurso de ódio, criminalização da liberdade de expressão desalinhada, tudo embrulhado em grandiloquências e, em casos limite, dar os meios ao poder judicial para se envolver no jogo político, no caso de este se inclinar para contrariar tendências que o Poder considera inconvenientes, como sucedeu na Roménia.

Trump tem a elegância de um rinoceronte, o porte de um bully gordo e o discurso de um vendedor de feira, mas sabe sempre de que lado é que o pão tem a manteiga. Dele não se pode esperar que, tendo-se a Europa deixado afogar numa economia socialista, numa democracia de organizações opacas e cerimónias de fachada, numa deliquescência dos sentimentos nacionais, numa tibieza militar, numa opinião acarneirada e num tsunami de imigrantes dos quais uma parte é inassimilável, viesse a Munique para os salamaleques da praxe com mensagens subliminares para entendidos.

Não veio. E em vez disso veio o Vice-presidente e produziu um discurso que gelou a sala. Foi, antes de qualquer outra coisa, uma notável peça de oratória. E nela não se viram vestígios de diplomacia mas carradas de sinceridade, verberando sem pudor alguns dos males europeus, de cujos corifeus uma parte estava naquela sala.

Como concordei com quase tudo o que disse, e como sou sensível à eloquência, apreciei muitíssimo. Todavia, mais reflectidamente, parece-me que a sinceridade talvez não seja, em relações internacionais, um activo de grande utilidade.

Mas para acordar um texugo gordo é talvez preciso, às vezes, dar-lhe pontapés. Veio um Americano fazer o serviço? Reconheça-se que tem alguma autoridade: já cá veio, no século passado, por duas vezes, e para resolver uma guerra nas nossas fronteiras contava-se que tirasse, por nós, as castanhas do lume.

Não estão para isso.