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Delito de Opinião

O Museu da Inocência

Paulo Sousa, 05.01.24

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A partir de uma recomendação ouvida num podcast e no seguimento de alguma curiosidade anterior sobre o Nobel turco Orhan Pamuk, dei por mim com o “Museu da Inocência” nas mãos.

Confesso que logo após o arranque do livro me questionei se a história não se estaria a tornar demasiado obsessiva, melancólica e irremediável. No entanto o ritmo da narrativa e as descrições da classe rica, e menos rica, de Istambul dos anos 70, e também alguma curiosidade de como é que aquilo poderia terminar, levou a que insistisse na leitura.

Não quero estragar a boa surpresa de quem não conhece a obra e por isso serei económico nos detalhes, mas, como ocorre apenas depois da leitura de alguns livros, não pude deixar de ficar impressionado com o super-poder que alguns romancistas têm ao conseguirem criar um universo denso, cheio de detalhes tão credíveis que nos levam a acreditar que tudo aquilo poderia ser real. As particularidades que aproximam a história à realidade resultam da forma como o romancista transporta a sua vivência para dentro da sua obra, o que nesta caso acaba por acontecer de uma forma literal. Como quem faz um cozinhado, o autor mistura aquilo que já viu, viveu e sentiu, com ingredientes criados pela sua imaginação. É como se quem escreve fosse um alambique que destila a sua realidade, sendo que quem se dispõe a contar uma história o faz de uma forma única e irrepetível, moldando o produto final com se de uma impressão digital se tratasse.

Como já senti noutras vezes, terminei o livro com vontade de realizar uma viagem, desta vez a Istambul de onde tenho boas recordações, mas que numa próxima oportunidade me obrigará a circular pelo tradicional bairro de Çukurcuma e a visitar o chão pisado pela bela Füsum e pelo seu obsessivo amante Kemal Bey.

Recomendo a leitura.