Nunca digo que sou empresária. Acho a palavra frouxa e presunçosa, o que é um preconceito, claro, mas eu quero lá saber. Aliás, nesta fase (que já dura há uns tempos) não me importo com nada do que me possam dizer ou dizer sobre mim.
Tomei uma vacina de imunidade contra a maldade das pessoas que, às vezes, é eficaz; outras, nem por isso.
Uma coisa é certa. A minha empresa tem sete pessoas. Vai ter menos. Todas têm uma licenciatura com quatro anos de cadeiras completas e assistidas. Eu também e ando a trabalhar há 26 anos.
A única glória disto é chegar a casa, dar um curto texto a ler a um miúdo de 12 anos que remata dizendo:
Pois, mas o conto da Yourcenar é melhor.
E depois pensar:
Sim, sim, daqui a dois anos vais estar triste por não seres uma salsicha nobre como aconteceu ao teu irmão.
E o que é que uma coisa tem a ver com outra? Muito simples: larguei os jornais, as redacções, essas coisas estranhas, para ser mãe e decidi que levaria o meu papel com a seriedade de tribunal de contas digno de respeito. Na minha bolsa de valores, a empresa era apenas o pretexto para ir apanhar os miúdos às 16h20 ao portão da escola.
A empresa era uma forma de vida para suster uma outra forma de vida e, muitas vezes, fui acusada de me apagar para estar com os miúdos.
Tu não vais a festas, tu não estás, tu não apareces, quem não aparece, não existe.
Quero lá saber, pensava então e penso agora, sobretudo quando sei que o mais novo leu a Yourcenar, os Contos Orientais, acrescento, e que sabe a diferença entre os impressionantes e o extraordinários (trocadilho que lhe ficou e que se aplica bem à História de Arte), tendo uma fixação no Tolkien desde os 9 anos (há adultos incapazes de ler o Tolkien, mas adiante...).
Pouco me importa o que se diz ou se prevê porque o mais velho teve 20 a Literatura Portuguesa e tem um blogue que nos coloca todos a um canto (bay21.blogspot.com). Os miúdos que foram o meu chão, que estão a ir à vidinha. Crescem, não é? São um empréstimo e nós passamos a ser uma espécie de corrimão ao qual se encostam ou não.
Assim, a empresa tem de se tornar o meu caminho e o meu país, este país que adoro, onde me assumo europeia até ao mais pequeno osso, diz-me que agora não dá:
Tens de restruturar, procurar trabalho em Angola ou coisa que o valha, aparecer nos sítios para ser alguém, colocar um néon na cabeça a dizer Mind Me.
Como não tenho o tal feitio que deveria ter para ser empresária hoje vou escrever na folha de adesão a um programa comunitário que não ganharei: jornalista. Afinal de contas, não posso escrever mãe, pois não?