Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Observações ociosas sobre empresas

João André, 22.04.16

Só porque me apetece...

 

Trabalhar fora do nosso país e, além disso, andar a mudar de país e de empresa permite fazer considerações interessantes. Algumas delas:

  • Não existem muitas empresas verdadeiramente multinacionais. A maioria delas serão empresas de um país com presença internacional. Sem se saber razoavelmente (um)a língua desse país de origem, a progressão é difícil. A principal excepção são empresas resultantes de fusões e ainda assim o carácter das empresas originais acaba por se manter.
  • Quanto maior a empresa, maior a burocracia e esta cresce de forma exponencial em relação àquela. A partir de determinado tamanho, a máquina burocrática da empresa assemelha-se à da de um estado, por muito lean que seja a empresa.
  • Na maior parte dos casos, a nebulosa "cultura" da empresa pouco mias é que um branding para consumo externo. Nos casos em que funciona, é necessária uma política de endoutrinação a lembrar os sovietes.
  • Open office é interessante e promove informalidade e troca de ideias. No caso de profissões que exigem mais concentração, no entanto, este conceito pode ser um obstáculo ao desempenho de muitos profissionais.
  • É vantajoso tentarmos ser pessoas produtivas logo pela manhã e quanto mais cedo melhor. Se o nosso horário pessoal o permitir, estar cedo no escritório permite tratar de burocracias, responder a e-mails, escrever relatórios, etc, antes da confusão, barulho e reuniões chegarem. Também permite sair mais cedo.
  • Alemanha, Holanda e Bélgica são todas vizinhas. Há no entanto enormíssimas diferenças culturais e de hábitos entre si.
  • Ter um smartphone de serviço com ligação à internet e aos e-mails tem a vantagem de estarmos sempre disponíveis. Tem no entanto a desvantagem de estarmos sempre disponíveis.
  • Se gostamos do que fazemos, o conceito de work-life balance é inexistente. Se tivermos um smartphone de serviço com acesso à net também, independentemente do gosto pelo trabalho.
  • A partir de certo nível de experiência deixa de haver segredos para as empresas de recrutamento. Mesmo que não partilhemos detalhes nas redes sociais/profissionais.
  • Vida social-trabalho-descanso é um diagrama ternário. Sem binodais.
  • Os empregados de uma empresa vêem os serviços de IT como existindo para permitir o trabalho da empresa.
    Os funcionários de IT vêem a empresa como existindo para permitir o trabalho de IT.
  • Os Recursos Humanos são o departamento mais criativo e com maior capacidade de argumentação de qualquer grande empresa. Para justificarem a sua existência conseguem convencer a direcção agastar milhões a espaços regulares para promover novas reorganizações sem provas que a anterior tenha falhado.
  • A promoção agressiva da ambição e progressão de carreira é dos maiores erros que uma empresa pode promover. Se promove os seus melhores funcionários apenas acelera o avanço até ao nível de incompetência e remove da lista os seus melhores especialistas e guardiões de conhecimento.
  • Seja onde for, há sempre reuniões a mais.

Nada disto tem sentido

Sérgio de Almeida Correia, 09.11.15

ar2.jpg

Tudo o que tem vindo a acontecer desde a altura em que o Presidente da República marcou a data das eleições legislativas para 4 de Outubro revela o anacronismo do nosso sistema político. A falta de correspondência com a realidade raia o absurdo e é bem sintomática da ausência de sentido útil e de desfasamento da realidade em que os nossos actores políticos exercem as suas funções.

Um sistema eleitoral que vive longe dos eleitores, um modelo de representação que grosso modo representa apenas metade do país, partidos sem militantes, entregues às suas camarilhas, desligados dos simpatizantes e dos eleitores, querelas inexplicáveis entre órgãos institucionais, tudo numa dimensão e com uma coreografia que só é compreensível à luz da pequenez dos titulares dos cargos e da ausência de uma elite política que crescesse com a democracia.

Esta manhã li no Expresso que durante dois dias a digníssima Assembleia da República e os comissários dos partidos que por lá se encontram, mais conhecidos como deputados, irão discutir o programa de um Governo que nasceu morto. Durante dois dias e umas intermináveis horas, para gáudio dos jornais e televisões, cumprindo-se o formalismo necessário à sua anunciada rejeição pela maioria dos deputados.

É claro que em causa não está a legitimidade do órgão ou de qualquer solução de governo saída da Assembleia da República.

A legitimidade dos deputados eleitos é igual entre todos e qualquer solução que dali desponte será do ponto de vista político inatacável, por muito que isso custe aos apaniguados da coligação. Poder-se-á falar de ética, de moral, de "golpada política", de falta de seriedade, do que quiserem, tudo isso é discutível, mas jamais de falta de legitimidade.

Uma coisa é o que nós desejaríamos que acontecesse, outra a vontade dos decisores políticos, dos mandatários.

Os eleitores escolheram os seus representantes. Vivemos num sistema de representação proporcional, o que eles fizerem de bom ou de mal, usurpando o mandato, excedendo os limites do contrato que estabeleceram com o eleitorado, dando-lhe outro sentido, correndo riscos desnecessários, promovendo soluções que não foram eleitoralmente sufragadas, tudo isso será eventualmente criticável e deverá ser discutido à luz dos factos, mas por agora é irrelevante e só será sancionado na altura própria pelos eleitores quando ocorrer o próximo acto eleitoral.

Por agora, limito-me a verificar o quão distante tudo isto está da vida dos portugueses, dos seus anseios enquanto comunidade, do seu sentir enquanto pessoas e cidadãos que pagando impostos gostariam de poder viver num país melhor, mais decente, menos desequilibrado e mais civilizado.

O tempo que agora alguns irão perder num inconsequente exibicionismo parlamentar, enquanto o país aguarda que apareça quem governe e aprove um orçamento, é bem a imagem do nosso atraso, da distância que afasta a democracia dos eleitores e da importância de se terem elites a governar, em vez de funcionários subservientes, provincianos e dependentes de tenças políticas, de cronómetros e de calendários eleitorais.

Infelizmente, Portugal hoje é isto, e pouco mais do que isto.

Só agora?

Sérgio de Almeida Correia, 04.08.10

Dizer nesta altura que tem os poderes da Rainha de Inglaterra não abona nada a seu favor. Quando muito será mais uma evidência sobre a necessidade de extinção da corporação que dirige e da sua premente substituição por uma nova que exerça de facto e de direito os poderes que a dele se mostrou incapaz de cumprir nas últimas três décadas.

Um desastre que demonstra bem o distanciamento da realidade em que vivem os seus membros.

Depois de eu próprio no exercício da profissão ter sido rocambolescamente acusado pelo MP num processo em que tive o apoio da Ordem e acabei absolvido, tendo sido o próprio MP o primeiro a pedir a minha absolvição, perdi todas as ilusões que ainda poderia ter quanto ao papel que alguns dos seus membros desempenham.

Se depois se vem a confirmar que, na prática, não existe qualquer hierarquia, nem disciplina, nem autoridade que se imponha em tempo útil onde ela deve ser exercida, de maneira a que os critérios sejam efectivamente de legalidade estrita e objectiva, e que tudo se resume seraficamente aos poderes de Sua Majestade, então o melhor mesmo é declarar a sua extinção com efeitos imediatos. O país só teria a ganhar. Não há espectáculos eternos. 

O problema, olhando para Cunha Rodrigues, para o senhor que lhe sucedeu e cujo nome lamentavelmente não me ocorre, e para o actual titular do cargo, não é de homens. Não é de nomes. Todos eles são excelentes pessoas e magistrados qualificadíssimos. Mas olhe-se para o sindicato, para os seus sindicalistas militantes, analisem-se as suas declarações públicas (basta ir ao respectivo site) e perceber-se-á o resto da história. O porquê das declarações. O problema é apenas de estatuto, de organização e de mentalidade. Tão simples quanto isso.