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Delito de Opinião

O regresso da censura

Paulo Sousa, 02.07.20

A liberdade de expressão é um tema maior da nossa sociedade.

Por achar que este blog é, além de outras coisas, um pequeno nicho virtual no altar da liberdade de expressão, o tema que aqui trago não poderia passar em claro.

O recente anúncio por parte do governo de que vai monitorizar o discurso de ódio na internet, não é mais do que o pisar de uma linha que nunca tinha sido assumida pelos governantes do Portugal europeu.

Podíamos começar por lhes pedir uma definição do que é um discurso de ódio.

Estará o discurso de ódio contra o nazismo incluído no critério dos censores? E contra os pedófilos? E contra os traficantes de pessoas? E como ficamos em relação aos violadores?

Será que esta ferramenta de defesa da opinião pública também se poderá aplicar ao mundo do futebol?

E porquê apenas na internet? O discurso de ódio nos cafés não agride também a mesma opinião pública que o governo pretende defender e acha incapaz de avaliar por si o que vê e ouve?

O ódio é um capricho que, pela diminuição da capacidade de análise e pela perda de enfoque que causa, enfraquece quem o sente. Também por isso não é ódio que sinto pelos aspirantes a censores do governo do socialista António Costa, mas sim e apenas desprezo. Será que o discurso de desprezo ainda passa nas malhas dos autopromovidos avaliadores dos discursos de sentimentos dos outros?

 

Há depois ainda um outro detalhe que me faz rir desses bananas.

Hoje a plataforma das matrículas escolares bloqueou pelo excesso de tráfego, tal e qual como acontece com os servidores da AT nos dias de “entrega” das declarações de IRS, e tal e qual como aconteceu com o SIRESP no fatídico dia do incêndio do Pedrogão.

O aumento de capacidade de resposta para todos estes casos estava previsto nos planos do governo, mas certamente devido a alguma cativação, por esquecimento ou então porque não calhou, acabou por não ser feito.

Será esse exímio e frio rigor que os odiosos propagadores do ódio cá do burgo terão de enfrentar. No dia em que o programa de censura arrancar, o servidor vai estar empacado porque há um conflito no sistema operativo, no dia seguinte serão as licenças, e depois disso será uma placa gráfica que vai queimar e alguém vai ter de telefonar a um primo que, tipo, percebe bué disso. O técnico vai ter que usar o seu telemóvel pessoal porque ainda estão a começar e as comunicações ainda não estão a 100%. O tipo que sabe fazer ligações de fibra óptica está com febre e telefonou ao patrão que, depois de o mandar para casa, desinfectou o telemóvel e lavou as mãos.

E enquanto esta novela segue, os odiosos propagadores do ódio continuam a pulverizar ódio nas contas das redes sociais dos frágeis e indefesos portugueses, incapazes que são de avaliar a informação a que têm acesso.

Se a ministra conhecesse Portugal saberia bem que não nos levamos a sério e que por isso os contratempos serão muitos maiores do que estes - não fosse a ficção sempre ultrapassada pela realidade. Os resultados serão apenas mais uns empregos para uns voyeuristas encartados que, incapazes de purgar o ódio da natureza humana, ficarão para a história como a serôdia censura socialista do início do sec XXI.

Há vida para além das notícias

Pedro Correia, 29.10.19

Todos os dias, ao ligar o computador, recebo um "agregador de notícias" que pretende resumir-me o que de mais importante aconteceu nas horas precedentes à escala global.

Vale o que vale como fonte noticiosa: nada. Mas justifica atenção enquanto reflexo do ar do tempo. Como sintoma da espuma de irrelevância que invade o nosso quotidiano.

Esta manhã, foi este o flash noticioso que me chegou: «As saias do assessor de Joacine continuam a dar que falar, a fotografia do cão que Trump publicou e outras notícias.»

Só o anedótico, o irrisório e o descartável parecem importar na ditadura do algoritmo que condiciona os critérios editoriais. E, no entanto, a vida real continua a pulsar, indiferente aos mecanismos mediáticos que a ignoram.

A abundância e monocultura da informação

João André, 14.08.17

Quando surgiu a internet (ou, pelo menos, quando a World Wide Web se popularizou e expandiu), não faltou quem argumentasse que um novo iluminismo surgiria, sustentado pelo acesso livre à informação que o novo meio proporcionava. Pessoalmente não tinha opinião e estava na altura mais interessado nas possibilidades de trocas de ficheiros que se me abriam. No entanto sempre me pareceu que tais ideias eram excessivamente optimistas. Não o pensava porque tivesse uma visão do que iria (ou sequer poderia) suceder, mas porque sempre me pareceu que um meio não determina nada. É o uso que a população faz do mesmo que decide o futuro.

 

O que temos hoje é uma riqueza de informação inigualável na história humana. Não só inigualável mas inclusivamente inimaginável apenas há 20-30 anos. Há 100 anos este futuro não seria tanto de sonho mas de pesadelo para quem tinha acesso, mesmo que limitado, à informação. Mesmo os arautos desse e-iluminismo não sonhariam com a expansão que vimos, não imaginariam a existência de Google, Facebook, Twitter, YouTube ou tantos outros.

 

Só que tal acesso ao conhecimento vem com um problema: perante tanta informação, como escolher aquilo que se deseja aprender ou, uma vez feita essa escolha, como decidir qual a informação mais fiável. Em parte este dilema de escolha reflecte aquele o que o consumidor ocidental moderno enfrenta cada vez que entra num supermercado: há tanta escolha de produtos que se torna impossível saber qual a escolha certa. E isto apenas num espaço limitado onde a decisão e a justeza da escolha reflectem apenas e só preferência pessoais.

 

Na internet, quando procurando informação, a escolha torna-se mais complicada, uma vez que em múltiplos casos existe uma escolha correcta (no que á sua exactidão ou conclusões diz respeito), a qual não depende das nossas preferências ou convicções pessoais, por muito que delas estejamos... convictos.

 

Há actualmente dois tipos de situações que sofrem com isto: acontecimentos políticos e factos científicos. Um exemplo claro do primeiro é o fenómeno trump e clivagem esquerda/direita que se vê cada vez mais na sociedade (a dos EUA, como canário na mina de carvão, serve de aviso). A população, na presença de enormes quantidades de informação, vê-se na situação de ter de escolher qual aquela que usa. Nesta decisão cada vez mais vemos que a exactidão da mesma pouca importância tem. Nos EUA os partidários da direita preferem crer num tweet de Trump mais que nas reportagens de jornais e televisões com décadas de reputação de honestidade; enquanto que há muitos na esquerda que ignoram a realidade para crer que Bernie Sanders não só teria trucidado Trump como o fará novamente (ou Elizabeth Warren por ele) se receber a oportunidade.

 

Outros exemplos são as narrativas alternativas que vemos na Polónia, Hungria, Venezuela, Brasil, Portugal, Inglaterra, etc, etc, etc... dependendo de qual o meio de comunicação que seja usado. Para quem queira informação de qualidade, o dilema chega ao ponto de deixar de se acreditar no próprio meio preferido perante o bombardeamento de informação alternativa e contraditória.  Se eu ler o Washington Post estou de facto a ler notícias solidamente construídas e analisadas ou a ver propaganda anti-Trump e anti-GOP? De certa forma, mesmo estando eu contra os argumentos da direita estridente que domina parte dos media americanos, torna-se um caso em que deixo de saber se as minhas referências não começarão a optar pelas mesmas tácticas para combater os opositores. Não é uma mentira repetidas vezes o suficiente para se tornar verdade, mas nesta guerra basta provocar dúvida.

 

O mesmo vemos no segundo caso: factos científicos. Aqui o problema é a liberdade de opinião. A liberdade de opinião não é um direito, ao contrário do que se costuma afirmar. A liberdade de opinião, seja ela qual for e esteja ou não bem ou mal sustentada em factos, é absoluto facto para todos nós. Ninguém é privado da sua opinião, por muito repressiva que uma sociedade seja. Aquilo de que podemos ser privados é da liberdade de expressar essa opinião ou de a criar de forma livre. Há formas repressivas de reduzir o acesso à informação não desejada, mas há também a forma não repressiva: o bombardeamento da informação falsa. E não há campo onde isso seja mais visível que o da ciência.

 

Os cientistas, por treino, são pesosas altamente cépticas, não só do que os rodeia como dos próprios resultados. É quase impossível encontrar um cientista a afirmar que uma determinada teoria está correcta a 100%. Há sempre espaço para a dúvida, para casos especiais, para excepções causadas por variáveis não conhecidas. É por isso que a ciência avança: porque há sempre alguém que tem dúvida que a explicação existente seja suficiente.

 

No entanto a sociedade não funciona assim. A sociedade acredita na democratização da informação, no poder do contaditório. Isso faz com que se dê peso a mais às dúvidas, quais brechas no edifício teórico, e se dê mais tempo a quem expressa as suas ideias de forma categórica e convincente. É por isso que movimentos como o anti-vacinas ou anti-estatinas conseguem enorme destaque. Porque os seus proponentes pegam em pequenas excepções, em dúvidas ou faltas de convicção dos cientistas, bem como na ignorância científica da população e preconceitos da mesma, para fazer avançar as suas agendas motivadas exclusivamente pelo interesse pessoal.

 

O caso mais claro que existe deste problema do acesso à informação boa e má na internet é o da execrável Jenny McCarthy, que afirmou ter obtido o seu grau académico na "universidade do Google", demonstrando perfeitamente como é possível encontrar informação em favor das convicções pessoais, por mais que estejam demonstradas como erradas. O mesmo se poderia referir à mania da comida orgânica, anti-glúten, veganismo radical, anti isto e anti aquilo.

 

No fundo, e voltando ao meu ponto inicial, o problema torna-se o acesso à informação. Esta está democratizada e não hierarquizada em função da sua veracidade ou verificabilidade. A isto acresce a noção, errada, que toda a gente tem direito à sua opinião (confundido opiniões e factos) sem que tenha que a defender ou sustentar de alguma forma. A internet permite que todas as opiniões sejam tratadas da mesma forma, independentemente do seu valor. E, sendo um repositório de todas as opiniões do mundo, resulta que cada vez menos as teremos.

 

De certa forma, após o quase deserto de informação do passado, temos um jardim do Éden da informação a dar lugar a monoculturas da informação. E isto não é bom.

More or less

Pedro Correia, 27.03.17

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A falta de cultura exibida como flor na botoeira é uma das características dominantes nestes dias em que quase tudo se nivela forçosamente por baixo. O sábio e o burro vivem irmanados à mercê de um clique digital. Razão tem o pai da Internet, Tim Berners-Lee, em mostrar-se  preocupado com a desinformação galopante, potenciada pelo seu invento.

Lembrei-me disto ao ouvir há dias num canal televisivo o jovem curador da "primeira exposição-manifesto” no novíssimo Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia de Lisboa, intitulada Utopia/Distopia. Dizia ele que este evento se destina a "celebrar os 500 anos da Utopia de Thomas "Moore" (pronunciando "Múa"). E adulterou duas vezes o apelido de sir Thomas More para que ninguém ousasse duvidar da sua falta de conhecimentos na matéria.

"Estamos mais desinformados que nunca", reconhecia amargamente Berners-Lee na sua carta publicada há dias no blogue da Fundação World Wide Web. Tem motivos de sobra para concluir isto, quando a Utopia de More é atribuída por alguém com supostas responsabilidades culturais a um tal Moore. Presumivelmente da família do ex-007. Moore, Roger Moore.

São sinais dos tempos: verdade ou mentira, rigor ou imprecisão, More or less. Tanto faz. E siga a banda.

 

Os "factos" da internet, o espírito crítico e a falta de cultura científica

João André, 05.07.16

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 A fotografia acima foi retirada de um post no LinkedIn. A legenda conta a história:

«Wolf pack & strategy: The first 3 are the older or sick & they set the pace of the group. If it was on the contrary, they would be left behind and lost contact with the pack. In ambush case they would be sacrificed. The following are the 5 strongest. In the center follow the remaining members of the pack, & at the end of the group the other 5 stronger. Last, alone, follows the alpha wolf. It controls everything from the rear. That position can control the whole group, decide the direction to follow & anticipate the attacks of opponents. The pack follows the rhythm of the elders & the head of command that imposes the spirit of mutual help not leaving anyone behind.»

 

Infelizmente a história é falsa e completamente inventada. A fotografia foi tirada por outro fotógrafo (Chadden Hunter) que não o citado (Cesare Brai) e faz parte da série de David Attenborough Frozen Planet. Não vou explicar muito sobre a foto e a história em si. Para tal, mais detalhes aqui.

 

A foto pareceu-me desde o início excessivamente limpa, clara e perfeita para a explicação. Por isso investiguei se seria verdadeira. Depois de explicar a realidade no post, fui atacado por não perceber o valor simbólico da metáfora e foi-me dito, incrivelmente, que a exactidão da história não era importante.

 

Isto é para mim difícil de entender: como é possível que a exactidão, a veracidade de um relato não seja importante? Se queremos histórias inspiradoras e didácticas podemos refugiar-nos em parábolas ou fábulas. São criadas para tal e, apesar da falta de fotografias que se partlhem na net, estão habitualmente muito melhor escritas.

 

A minha dificuldade é que, perante a falta de compreensão da fotografia, e mesmo aceitando a descrição como real, eu poderia virar a história ao contrário: os mais velhos existem para ser sacrificados, o/a alfa (figura que na realidade não existe) merece que se morra por ele/a e pode e deve controlar tudo. Interpretando a história falsa de outra forma pintamos uma imagem bastante desagradável. Especialmente quando a realidade basta: o líder segue na frente, usando a sua força para abrir um caminho que os restantes - que não são subordinados - seguem.

 

A net é uma fonte de informação mas a maioria usa-a como fonte de desinformação. Uma forte parte do problema é a incapacidade de usar alguma medida de espírito crítico que permita questionar o que nos chega às mãos (ou olhos). Não é, na minha experiência, exclusivo de nenhuma sociedade ou cultura, mas tende a ser tanto mais pronunciada (de novo, de acordo com a minha experiência) quanto menor for a formação científica.

 

O método científico, com todas as suas falhas, ensina antes de mais a questionar observações e a formular hipóteses que devem ser testadas. Isto é válido para um laboratório e para o cientista que faz as suas culturas num disco de Petri, mas também para o leitor genérico que vê um post no Reddit ou LinkedIn ou Facebook. A ignorância nunca é um pecado nem um defeito (todos somos vastamente mais ignorantes que conhecedores), mas a falta de espírito crítico ou de vontade de pensar é um dos maiores males modernos.

 

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Só esta citação para terminar. Lincoln sabia da poda.

Traduções

José António Abreu, 27.04.15

Ao escrever o texto sobre Linda Fiorentino e The Last Seduction ponderei usar o termo «bitch» em português. Verifiquei traduções possíveis. Como seria de esperar, o Dictionary.com oferece várias hipóteses: a female dog; a malicious, unpleasant, selfish person, especially a woman; a person who is submissive or subservient to someone, usually in a humiliating way. Numa tradução directa para português, o Google escolhe «cadela». Já o Bing... bom, o Bing não está com meias-medidas. Ora façam o teste.

O andróide e a maçã

José António Abreu, 24.04.15

33°30'52.5"N 73°03'33.2"E

 

Façam o favor de introduzir as coordenadas acima no Google Maps. Mas depressa, antes que a Google reaja.

 

(Se encontraram tudo normal, o que se passava era isto.)

Adenda: a Google já resolveu a questão; uns brincalhões puseram nas coordenadas indicadas (algures no Paquistão) o símbolo do sistema operativo andróide a urinar numa maçã.

Taxar Pandora

João André, 24.08.14

Em tempos, os EUA criaram a internet. Pouco depois, Barners-Lee criou a World Wide Web. A meio da década de 90 do século XX, surgiu o Napster. Isto é semelhante a falar em criação do mundo, criação do Homem e abertura da caixa de Pandora. Não vejo de maneira nenhuma a troca de ficheiros na internet como "os males do mundo", mas a verdade é que como a caixa de Pandora, aquilo que saiu daquele momento já não pode ser desfeito. A partilha de ficheiros chegou para ficar e ainda bem que assim é.

 

Obviamente que, como em todas as revoluções tecnológicas, há sempre aqueles que tentam remar contra a maré por não se quererem adaptar. É um pouco como quem tem posições dominantes numa determinada indústria no seu país e tenta pedir barreiras tarifárias à importação do mesmo produto, mais barato e frequentemente melhor. É isto que se passa quando o país aprovar a nova lei da cópia privada.

 

A questão da pirataria é falsa. Não passa de um espantalho levantado por quem não quer procurar novas formas de fazer dinheiro e quer manter os seus "direitos adquiridos". A televisão é o melhor exemplo da possibilidade de fazer dinheiro na era da partilha de ficheiros. A pirataria e a troca de ficheiros não veio acabar com as indústrias musical e cinematográfica, mas certamente que as veio mudar.

 

Como tem sido óbvio desde há vários anos, os lobbies em Portugal não ligam a nada disso. São constituídos por pessoas sem qualquer criatividade, preguiçosas e sem qualquer noção do mundo real. É o mundo da gente que crê que pedir uns 20 a 25 euros por um CD de terceira categoria constitui o modelo de negócio ideal. É o mundo dos Tózé Martinho ou outros que tais que certamente julga que um CD se cria entre os buracos 7 e 8 algures na Quarteira.

 

Uma taxa sobre os dispositivos é uma solução preguiçosa, perigosa e estúpida. Preguiçosa pelas razões acima: numa altura que várias bandas portuguesas começam a revolucionar o panorama musical português, agarra-se aos modelos velhos, gastos e ultrapassados. Perigosa porque abre espaço à legalização da troca de ficheiros, sendo que qualquer pessoa se pode defender dizendo que já está a pagar a sua contribuição. É estúpida também porque qualquer pessoa pode simplesmente comprar os seus dispositivos noutros países (pela internet, por exemplo) sem que a taxa esteja incluída.

 

É, por fim, injusta. Injusta para quem tem aparelhos capazes de armazenamento e que nunca na vida irão trocar ficheiros, injusta para quem não quebra os direitos de autor e, por fim, injusta para os autores que nada ganham de especial com isto, com o dinheiro habitualmente a acabar nos bolsos dos intermediários.

 

Lendo esta notícia, o meu primeiro instinto é simples: dirigir-me ao mais próximo site de torrents e começar a sacar tudo o que consiga de autores ligados de alguma forma à SPA e ao Sr. Martinho. Começando pelas telenovelas dele. E a seguir partilhar. É que Pandora também não fechou a caixinha.

bla bla

Patrícia Reis, 17.07.14

 

I am what I hide ... a mulher leu a frase, era bom saber que quem criou o álbum no Pinterest o classificou como citações de merda, literalmente. Um consolo. No meio da merda encontram-se algumas verdades e a verdade, pensa a mulher, tem uma agenda reduzida.

Universidades digitais

João André, 02.07.14

 

Na Economist desta semana vem um trabalho especial sobre a influência que o mundo digital e a internet estão a ter sobre as universidades. No artigo faz-se referência aos MOOCs (Massive open online course) mas também às diferentes parcerias que vão sendo criadas (especialmente a da Starbucks com a Universidade do Estado do Arizona para oferecer cursos universitários aos seus empregados).

 

Confesso que torci o nariz a estas inovações à medida que iam surgindo. Vi-as essencialmente como uma técnica das universidades para ganhar mais dinheiro (agora que se começa a notar que o investimento num curso superior começa a ser cada vez menos rentável) e para se publicitarem. Vi durante muito tempo a importância do mundo digital para a universidade mais como uma forma de disponibilizar conteúdos aos estudantes e fornecer a oportunidade a não-estudantes de aceder a bases de dados que dificlmente estariam disponíveis de outra forma. Para mim, a ausência de uma sala de aula e, especialmente, contacto directo com o professor, seriam aspectos que tornariam estes cursos como pouco desejáveis.

 

Obviamente que esta visão sofria de miopia devido a dois aspectos:

 

1 - vi as necessidades de ensino como relacionadas com a actividade futura e neste aspecto concentrei-me na minha própria experiência. Como necessito de preparar relatórios, apresentá-los em público, discutir planos, projectos, etc, muitas vezes de froma presente - a interacção pessoal é muitas vezes subestimada - acabei por considerar que a vertente humana seria descurada.

Obviamente isto esquece que muitas profissões não necessitam dessa componente (mesmo que sejam enriquecidas por ela). Para muitas pessoas não fará muita diferença ter os dados a ser transmitidos oralmente por uma pessoa à nossa frente; num ecrã de computador ou simplesmente de forma escrita no tablet. Por outro lado, a maioria das gerações mais jovens que se sentirão à vontade neste ambiente de ensino digital também terá a capacidade para, usando simplesmente os dispositivos digitais actuais (ou futuros), criar laços de relação pessoal semelhantes àqueles que a minha geração cria apenas com interacções mais físicas.

 

2 - o mundo necessita de um repensar da universidade. Neste aspecto não falo do óbvio relativamente ao digital e online, mas antes perante a cada vez maior disseminação de graus académicos. Ao contrário do passado, há hoje tantas pessoas com estudos superiores que se torna difícil distinguir aqueles que têm uma formação de facto superior dos que simplesmente têm um diploma na parede. Isto não se refere apenas a diferenças entre bacharelatos, mestrados, doutoramentos e outros que tais. Entre dois doutoramentos as diferenças podem ser abissais.

Desta forma, os MOOC vêm preencher uma lacuna: a da criação de cursos e formações tão específicas quanto os estudantes as desejem. Será então possível criar um especialista em história da filosofia da biologia da mosca da fruta sem ser necessário criar um curso de 5 anos para tal. A famosa engenharia do sapato (ou hortofrutícola) que deu origem a tantos comentários no passado, poderia ser reintroduzida sem custos acrescidos e fornecer especialistas a uma indústria sem que, após um curso generalista, estes tivessem que passar mais um ano a aprender as especificidades do seu trabalho (e sem o risco que a seguir se fossem embora).

 

Ou seja, os MOOC podem então oferecer um outro tipo de ferramentas de ensino, especialmente indicadas para determinadas profissões e, ao mesmo tempo, reintroduzir uma certa distinção entre níveis de ensino sem que deixem de criar especialistas em determinadas áreas. obviamente que continuo a ter grandes reticências: como avaliar os estudantes? Em casa, correndo o risco que outra pessoa faça o exame por eles? Na universidade ou noutro local designado, sabendo que alguns estudantes poderão não ter a possibilidade de se deslocar? Como compensar para vertentes de trabalho em equipa, apresentações orais (é bem diferente apresentar em pessoa ou por videoconferência) ou outros aspectos que não estou agora a recordar? Como reproduzir um aspecto frequentemente esquecido ou menosprezado: a "ida ao quadro", com o que isso ensina sobre confrontar uma situação de stress?

 

Ainda faltará até que a destruição criativa dos MOOCs (e semelhantes) mude o panoramena do ensino superior, mas haverá certamente aspectos que só poderão melhorar o ensino - e, consequentemente, a sociedade.

Uma consequência inesperada do comércio online?

João André, 20.08.13

Estes dois artigos da Economist demonstram o potencial que as vendas online podem trazer ao comércio. No caso em concreto, mostram que a tendência de perda de rendimentos que a internet acarretou (o nosso João Campos tem alguns excelentes posts sobre o assunto, ler 1, 2, e 3) começam a ser compensados com os novos modelos de negócio e as oportunidades de ajustamento da oferta que a internet (e especialmente os dispositivos móveis) têm trazido.

 

A Economist fala no fecho de muitas das "brick and mortar shops", ou seja, as lojas tradicionais, com existência real, dentro de um edifício. Com o seu fecho e a sua substituição pelas amazons do nosso mundo online ou mesmo pelas versões online das cadeias tradicionais, há um aspecto que fica por tratar: o que acontece aos espaços deixados agora vazios? É que se as lojas estão a fechar, ficam a sobrar muitos metros quadrados em locais centrais e extremamente atraentes.

 

Isto já sucedeu no passado, claro, com a saída de indústrias do centro das cidades (ou com as cidades a deslocarem-se para onde as indústrias existiam) e a abertura desses espaços para o imobiliário ou o comércio. Depois, com o surgimento dos centros comerciais ou das grandes superfícies (megalojas, retalho, etc), muitas lojas pequenas foram fechando. Agora, até as grandes superfícies vão sendo ameaçadas. Que se faz ao espaço que for libertado?

 

Esta é uma questão essencialmente política. Poderá, por um lado, ser guardado para o comércio (haverá sempre necessidade de lojas com existência física, pelo menos no futuro próximo). Por outro é espaço que poderia ser usado pelos governos (locais, regionais ou estatais) para evitar um regresso à especulação imobiliária (em Portugal poderia ser usado para promover o mercado de arrendamento) ou para dinamizar certas partes da cidade (a exemplo do que foi feito em Nova Iorque com o Meatpacking District).

 

Claro que não tenho uma bola de cristal para adivinhar o futuro, mas sei que haverá sempre soluções para quaisquer mudanças de paradigma. Aquele que a internet causou no comércio começa a ser absorvido e as suas vantagens começam finalmente a sobrepor-se aos problemas. Só que mudanças de paradigma podem causar avalanches. Uma consequência potencial poderia ser uma mudança completa da paisagem urbana. Só o futuro o dirá.

Media: Olhar para trás antes de dar um passo em frente

João André, 19.08.13

Este post do Pedro fez-me voltar a esta notícia do Público e a reflectir sobre a qualidade da informação (não só portuguesa) e da influência que isso terá no declínio dos media tradicionais.

 

Veja-se o caso retratado pelo Pedro: uma televisão decidiu não exercer o contraditório assim subscrevendo a posição de um dos lados. Neste caso foi a TVI, mas no passado poderemos certamente encontrar outros exemplos semelhantes por parte de outras televisões. A sensação que me fica é que o exercício de contraditório é uma decisão do jornalista e não é verficado pela direcção/revisão.

 

Temos ainda o caso da entrevista de Judite de Sousa, que procurou enxovalhar em directo um convidado (não vou discutir a hipocrisia, não me parece condição necessária para um jornalista praticar seja lá o que for). Acaba por ter em público uma atitude que é vista como popularucha e que serve para atrair espectadores. Aquilo que ninguém parece questionar é o interesse jornalístico da entrevista.

 

Um outro caso aqui, no Público. Se querer menosprezar o sofrimento da família, pergunto-me qual a relevância nacional de um afogamento de uma criança. Infelizmente são acidentes que sucedem todos os anos, em rios e no mar. Tal como todos os dias haverá gente a morrer em acidentes de viação ou domésticos ou de outro tipo. Cada morte é uma tragédia, mas nem todas as tragédias são notícia.

 

Lembro-me de ter no passado jornais com secções muito bem definidas e critérios editoriais que não passavam por aspirar a ser novos Correios da Manhã. Lembro-me também de telejornais que duravam 30 minutos, começavam com a principal notícia do dia, passavam por notícias nacionais, internacionais, culturais e desportivas e onde os directos não serviam para o jornalista no local papaguear exactamente a mesma informação que o pivot deu uns momentos antes. Até me lembro de não precisar de ter uma aplicação de Adblock no navegador da internet para evitar ter 50% do meu ecrã preenchido por anúncios quando leio notícias online.

 

É verdade que a internet veio romper com o anterior modelo de negócio dos media. Só que, tal como noutros casos (música, televisão, cinema), a internet acaba por ser o bode expiatório de todos os fracassos. Se a internet permite satisfazer, a baixo custo, a sede de notícias e a uma velocidade que os media tradicionais não podem igualar, também não deixa de ser verdade que, enquanto quarto poder, os media não podem aceitar ser ultrapassados por simples blogues, facebook ou twitter.

 

É certo que qualquer evolução dos media embate na disponibilidade de pagar por conteúdo, mas se o conteúdo for de fraca qualidade, mal organizado e sem critério claro, é óbvio que essa disponibilidade se reduz. Num momento em que se olha em frente para procurar novos modelos de negócio (vide a compra do Washington Post por Bezos), talvez fosse uma boa ideia olhar para o passado em busca de inspiração.

Estantes

jpt, 10.07.13

 

Acabo de conhecer a Instapaper, logo me tornando utilizador. Uma aplicação - que podemos, caso o queiramos, ligar a contas em redes sociais. Muito eficiente para se guardar e arrumar os textos apetecíveis que se vão encontrando na internet. Assim ajudando à sua selecção, nisso a uma verdadeira utilização dos textos nesta imensa cacofonia actual. 

(Basta abrir conta, colocar o ícone no computador e arrastar os textos. Que economia ...).

O jornal de cada um

jpt, 10.07.13

 

A aplicação Paper.li é óptima. Permite a cada um fazer o seu próprio jornal (diário ou semanário, como se quiser). O esquema é simples, cria-se a conta, selecciona-se até 25 origens (jornais, revistas, agências, blogs, etc.) e os temas desejados (arte, beleza, caça, desporto, educação ... zoologia, um A-Z como se quiser). E todos os dias (ou semanas ou isso) se recebe o jornal no e-mail, algo à nossa medida. Os mais "articuláveis" podem agregá-lo às suas contas nas redes sociais. E pode-se também subscrever os jornais que outros constroem.

 

O meu jornal é diário e levou o nome de Courelas, basta clicar e ler. E subscrever, se gostarem da selecção. Mas acima de tudo esta é uma fantástica opção para nos organizarmos em tempos de tsunami informativo, há tanta coisa que nos perdemos. Faça o seu jornal ...

Perder a empatia

José António Abreu, 27.10.12

Afirma que as redes sociais e a Internet estão a mudar o cérebro dos adolescentes. Porquê?

É uma questão muito complexa. É como perguntar se um carro é bom ou mau. Tudo depende da forma como se conduz.

Mas é muito crítica em relação ao uso das novas tecnologias informáticas.

Nunca disse que os computadores são maus para o cérebro. O que disse foi que o cérebro humano se adapta ao ambiente que o rodeia, por isso somos uma espécie tão bem sucedida. E nos últimos anos houve mudanças enormes no ambiente e nos estímulos que rodeiam a mente humana, sobretudo devido ao aparecimento da Internet e de outras tecnologias informáticas. A situação actual é semelhante às alterações climáticas. Eu chamo-lhes alterações mentais. Há quem diga que estamos condenados, outros defendem que a ciência pode ajudar a resolver o problema.

Como?

Essa mudança mental tem a ver com a forma como o cérebro processa a informação. Alguns pais dizem que os filhos terão acesso às novas ferramentas informáticas quer queiram quer não. Mas eu defendo que devemos controlar esta área.

De que forma?

O acesso a alguns sites e às redes sociais influencia muito a forma como as crianças e os adolescentes se relacionam uns com os outros, assistimos a uma perda de empatia nas novas gerações. Muitos jovens têm problemas de identidade e de relacionamento com os colegas. Os videojogos são altamente viciantes, podem gerar distúrbios de atenção e agressividade. Os motores de busca estão a alterar a forma como processamos a memória e armazenamos os conhecimentos.

Os estudos mais recentes mostram que há mesmo alterações físicas no cérebro, por causa do uso frequente da Internet, dos videojogos e das redes sociais...

Exacto. Os dados mostram que há zonas do cérebro com anormalidades devido ao uso excessivo de videojogos e tecnologias informáticas. Uma das alterações é a forma como se liberta dopamina [a molécula produzida no cérebro responsável pelas sensações de prazer]. Verificou-se que as crianças que jogam videojogos começam a ter padrões cerebrais idênticos aos jogadores viciados em casinos.

[...]

No seu estudo encontrou casos dramáticos de dependência da Internet?

Sim, há casos de crianças que passam o tempo fechadas no quarto a brincar com o computador.

E que consequências tem isso?

Desligam-se dos amigos e têm muita dificuldade em interpretar os sentimentos de outras pessoas, não conseguem descodificar a linguagem corporal e o tom de voz em situações normais. Não conseguem distinguir se uma pessoa está triste ou alegre porque estão desligadas da realidade. As relações sociais precisam de muito treino, cara a cara, e há uma nova geração que só comunica por computador.

Isso pode explicar a falta de compreensão, os incidentes violentos, os tiroteios, por exemplo?

Se eu disser "O meu pai morreu" e a resposta for "Isso não me interessa nada", seria algo que me perturbaria muito. Ora este tipo de respostas está a aumentar. Este Verão, um atleta olímpico britânico, Tom Daley, cujo pai tinha morrido pouco tempo antes das provas, recebeu mensagens horríveis quando ganhou a medalha de bronze e não a de ouro, como se esperava. Eram coisas do género: "O seu pai teria vergonha da sua prestação." Esse tipo de atitude era impensável há alguns anos. As pessoas estão a perder a empatia.

 

(Da entrevista de Luís Silvestre a Susan Greenfield, cientista britânica, especialista em fisiologia do cérebro, professora de farmacologia sináptica na Universidade de Oxford, na revista Sábado desta semana.)

Podemos consultá-la descansados; a Wikipedia defende a credibilidade do seu conteúdo com unhas e dentes

José António Abreu, 11.09.12

Philip Roth detectou um erro na entrada da Wikipedia sobre o seu livro A Mancha Humana: na enciclopédia é referido que ele se inspirou na vida de uma determinada pessoa para escrever o livro quando na realidade se inspirou na vida de outra. Pediu a correcção do erro. A Wikipedia respondeu que ele não é uma fonte suficientemente credível e exige corroboração. Tudo numa carta aberta de Roth à Wikipedia.

Dos comentários a uma nova teoria do oásis

José António Abreu, 04.09.12

Em Dublinesca, de Enrique Vila-Matas, o editor que serve de personagem principal coloca um comentário agressivo no blogue de um barcelonês que não gostou do livro de Paul Auster que levou consigo numa viagem ao Japão. O editor apenas publicou um livro de Auster e não foi aquele (que nem leu) mas, apreciando Auster (sempre irónico, Vila-Matas não nos informa se o editor também aprecia a obra de Auster), sente-se pessoalmente incomodado. Por isso, ataca o blogger na caixa de comentários. Quando termina de o insultar sente-se mais descansado do que nunca. Ultimamente, anda tão susceptível e com a moral tão em baixo, que considera que, se tivesse deixado passar por alto esta injusta opinião sobre o livro de Auster, teria ficado ainda mais deprimido do que estava. (Da edição da Teorema, com tradução de Jorge Fallorca.) Devíamos lembrar-nos disto, ao ler as caixas de comentários de alguns blogues e, em particular, das edições online dos jornais. E depois devíamos ser magnânimos. Afinal, muitas pessoas nem conhecerão aquilo sobre que escrevem. Como o editor, nunca terão lido Brooklyn Follies, o tal livro de Auster. Mas precisam de desabafar. Se não o fizessem, ficariam ainda mais deprimidas. E convenhamos que já andamos todos demasiado deprimidos. Preparava-me assim para terminar este post com «Estejam à vontade: a caixa de comentários é vossa» quando me lembrei de que os comentadores do Delito são inusitadamente ponderados. Se calhar, ao contrário dos dos outros blogues – vá-se lá saber porquê: será o efeito Rui Rocha? –, não andam deprimidos.

Media wars

José Navarro de Andrade, 19.01.12

Christopher Wool, "Hole", 1992

 

Como Portugal é um arrepiante deserto na criação comercial de conteúdos e como boa parte dessa minúscula criação é financiada por concurso estatal, ou seja, independente das condições do mercado, aquilo que se passou ontem deixa-nos indiferentes.

E no entanto esteve em cena um conflito que pode mudar profundamente a nossa vida. Habituámo-nos a usufruir do acesso cómodo e a muito baixo custo de uma miríade de conteúdos criativos. Entre eles alguns que nos deviam estar vedados.

O que se passou? A Wikipedia esteve em blackout durante o dia de ontem, em sinal de protesto contra a aprovação, por parte do congresso dos EUA, de uma lei que reforça os direitos de autor e de propriedade criativa. Todo o Sillicon Valley alinha com esta posição, nomeadamente gigantes como o Google, o YouTube, etc.

Quem dinamiza esta lei? A indústria cinematográfica, numa palavra: Hollywood. De que se queixa ela? Do aumento exponencial da pirataria, ou seja do download gratuito de filmes em plena fase de exploração comercial a partir de plataformas informáticas. A indústria de cinema gasta milhões a produzir e a promover filmes, cuja rentabilidade é gravemente afectada ao serem usufruídos de graça.

Como é isto possível? Porque certos países como a Rússia e a China, são verdadeiros offshores informáticos, onde a lei dos direitos de autor não chega e onde a pirataria tem porto de abrigo.

Face a esta proposta legislativa, do lado dos distribuidores on line e, sobretudo, dos negócios que dependem do volume de circulação na internet (Google, Yahoo, You Tube, etc.) o alarme foi generalizado e compreensível: esta lei cerceia alguns modelos de negócio, desincentiva bastante a criação de novos negócios, e atira para cima deles o ónus do controle da circulação e acesso a conteúdos, com os tremendos custos de hardware, software e legais que implica tal tarefa. Além disso, diminui a base de clientes.

Uma guerra de milionários, portanto? Não só. A defesa dos direitos de autor e o combate à pirataria é a pedra basilar da actividade criativa. Imagine o leitor que compõe uma canção. Imagine que ela se torna um êxito tremendo no Youtube e nas plataformas de descarga gratuita de música. Toda a gente trauteia a sua canção e anda com ela no mp3 ou no ipod. Toda a indústria ligada à internet ganhou com a sua canção, só autor é que não viu um tostão da sua obra.

Aparentemente a lei proposta além de onerosa é inaplicável. No entanto é necessária. Mas o que temos em cena, debaixo do conveniente nome da liberdade de expressão, é uma guerra de titãs: entre o mega produtores e distribuidores de cinema e os mega operadores e distribuidores informáticos. O que temos, pois, é uma guerra entre duas indústrias, dois modelos de negócio, cujo resultado está a moldar e moldará o futuro da indústria de conteúdos. Precisamente o futuro do tal compositor.