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Delito de Opinião

A Rússia e África

jpt, 10.05.24

Putin espera "maior coordenação" com Moçambique no Conselho de Segurança da  ONU - SIC Notícias

Desde os meus tempos de petiz que foi evidente a minha inabilidade para as artes plásticas. A falta de talento terá também convocado a amargurada desmotivação. E tudo descambou, a ponto de no 8º ano ter chegado ao ponto - inusitado - de reprovar na disciplina de "Educação  Visual", notícia recebida pelos meus pais com notório desencanto. E devido a esse meu défice sempre me ficou vedada a opção de rematar debates com o sacrossanto posfácio "percebeste, ou queres que te faça um desenho?", tantas vezes necessário, principalmente quando se trata de explicar o óbvio, este para alguns tão difícil de apreender.

Sinto-o, recordo-o, agora, quando vários amigos - prenhes de verrina, até sádica (como já aqui lamentei) - me cutucam com a notícia de que a Iniciativa Liberal convocou o ministro dos Negócios Estrangeiros para que se apresente na Assembleia da República, explicando o que vai fazer face às negociações aproximadoras entre a Rússia e países africanos membros da CPLP. Enviam-me a notícia com comentários e invectivas, tipo "olha os teus amigos da IL", e imagino-lhes os sorrisos sarcásticos enquanto teclam. Sabem eles, e por isso me gozam, que louvei - enfaticamente - a intervenção parlamentar que há meses a IL fez relativamente às problemáticas eleições autárquicas em Moçambique (em 26.10.23 e em 30.10.23). Tal como, e já agora recordo-o porque  vem a propósito, muito louvei a intervenção no Parlamento Europeu que o agora ministro Paulo Rangel fez, relativamente aos conflitos no norte de Moçambique (18.9.20 e 3.10.20). 

Acontece que também sabem eles, esses meus amigos - e até eu o sei, caramba - que é pertinente uma intervenção parlamentar (em cenário nacional ou internacional), sonora, apelando à conjugação de esforços para obstar a situações de facto gravosas em contextos alheios, servindo isso para reforçar nossas iniciativas nacionais e tentando induzir posições alheias. E que é completamente diferente - impertinente, entenda-se - uma intervenção parlamentar, sonora (e querendo-se até tonitruante), convocando acções para afrontar as legítimas relações bilaterais e multilaterais de Estados soberanos, nossos aliados. (E permito-me recordar que sobre esta questão escrevi "A CPLP e a Ucrânia" em 4.3.22). 

Ou seja, face à crescente interacção entre a ditadura russa e os nossos aliados PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa) é desejável que a diplomacia portuguesa acompanhe o processo, tente contrabalançar um pouco a situação. Na surdina que lhe é virtuosa essência. Mas é descabido, pois até contraproducente, que isso sirva para a agit-prop cá no burgo.

Mas mais ainda: são consabidas as fortes relações, económicas e políticas, entre a Rússia e o nosso aliado PALOP (país americano de língua oficial portuguesa), traduzidas num relativo apoio do Brasil à investida de Moscovo na Ucrânia, tanto durante a presidência de Bolsonaro como na de Lula da Silva. Vai a IL chamar o MNE Rangel ao parlamento para que este avance o que irá fazer diante dessa situação? Não, como é óbvio.

Enfim, o que mostra isto? Que se pode tirar a criança do Império, mas não se tira o Império da criança. É certo, pode-se ser optimista, ansiar que a criança cresça, amadureça, se ilumine. E é por isso, por essa minha vontade episódica de optimismo (antropológico), que faço este pedido: dado o meu acima referido défice gráfico será que alguém dotado o suficiente poderá desenhar uma ilustração deste óbvio e enviá-la à sede da IL? A ver se amadurecem?

(Post-scriptum: nas próximas eleições europeias votarei na IL).

O melhor deputado

Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal

Pedro Correia, 15.02.24

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Há um mês, perguntei ao leitores do DELITO DE OPINIÃO quem consideravam ter sido o melhor deputado da legislatura que agora acaba. Foram recebidas várias respostas, cada um votou como quis. E podia ter até votado em mais do que um, como em diversos casos aconteceu.

O primeiro lugar foi para Carlos Guimarães Pinto, da Iniciativa Liberal. Recebeu cinco votos. Por mera coincidência, alguém que chegou a escrever neste blogue, como convidado especial, em Julho de 2017. E que teve a amabilidade de ajudar a promover o nosso livro, nesse mesmo ano, no Blasfémias.

Em Outubro de 2019, era ele presidente da IL, saudei-o por ter visto eleger o primeiro deputado deste jovem partido, Cotrim Figueiredo. Com estas palavras que voltaria a subscrever, naturalmente: «Portugal era até agora o único país europeu sem uma força assumidamente liberal no seu parlamento. Esta lacuna acaba de ser preenchida. Apesar de a IL ter sido ignorada pela generalidade dos órgãos de comunicação social durante a campanha - designadamente pelas televisões, que voltaram a mostrar-se incapazes de seguir novos trilhos informativos, apostando sempre e só nos consagrados.»

 

Aqui fica, por ordem decrescente, a lista dos restantes votados:

João Cotrim Figueiredo (IL): 4

Bernardo Blanco (IL): 3

Rita Matias (Chega): 3

André Ventura (Chega): 2

Carla Castro (IL): 2

Inês Sousa Real (PAN): 2

Bruno Dias (PCP): 1

Bruno Nunes (Chega): 1

Joaquim Miranda Sarmento (PSD): 1

Paula Santos (PCP): 1

Paulo Moniz (PSD): 1

Pedro Nuno Santos (PS): 1

 

Fica a promessa de que no final da próxima sessão legislativa voltarei a fazer a mesma pergunta a quem nos lê. Espero receber tantas ou mais respostas.

O Estado a que chegámos

Pedro Correia, 04.02.24

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A Comissão Nacional de Eleições tentou silenciar a livre opinião política procurando impor o absurdo "dia de reflexão" - que a Internet e o voto antecipado tornaram ainda mais anacrónico - à campanha já em curso para a Assembleia da República, a pretexto de que hoje se realizam eleições na Região Autónoma dos Açores. E entendeu divulgar tal decisão apenas dois dias antes do tal dia, que passou ontem.

Fez muito bem a Iniciativa Liberal em manter o evento que anunciara, em Lisboa, para a apresentação detalhada do seu programa eleitoral com a presença de candidatos de todo o País. Não foi um desrespeito pela lei: foi uma afirmação de liberdade, sem condicionamentos inaceitáveis, neste ano em que celebramos o 50.º aniversário do 25 de Abril. Era o que faltava suspender-se a política no país inteiro a pretexto de que nos Açores teria forçosamente de ser assim.

O mais extraordinário, nesta ridícula tentativa da CNE de impor 24 horas sem política em todo o território nacional cinco semanas antes das eleições legislativas, é que o mesmo órgão deliberativo havia emitido decisão oposta poucos dias antes, a 17 de Janeiro. Admitindo acções de propaganda eleitoral fora dos Açores na véspera e no dia das regionais no arquipélago.

É o Estado que temos. É o Estado a que chegámos.

Enquanto decorre a novela

Paulo Sousa, 18.05.23

A novela da CPI sobre a TAP vai batendo recordes de audiência. Mesmo quem não costuma acompanhar os assuntos políticos, anda pregado ao écran. Cá em casa, até já se sugere que se encomendem os serviços da Daenerys Targaryen, e de um dos seus dragões, para tratar deste governo.

Ao mesmo tempo, António Costa observa, silencioso e incógnito, os combates de vida e de morte entre diferentes membros do seu governo. O mote do mestre dos analgésicos é “doa a quem doer”, desde que não olhem para ele.

O ruído mediático é tanto, que facilmente passará despercebido os números divulgados sobre o SNS. O número de utentes sem médico de família aumentou 29% num ano.

A IL propôs uma alternativa ao colapso do actual SNS e os beneficiários da ADSE desataram-se a rir.

Imaginemos que as banais e frequentes análises ao sangue, realizadas por privados que competem entre si pelo serviço, dependiam também de um qualquer centro de saúde, ou hospital. Alguém acredita que receberia por email os resultados, meia-dúzia de horas depois da recolha de sangue? Agora imaginemos que o mesmo se aplicava a uma normal consulta médica.

O enquistamento ideológico das forças conservadoras não lhes permite imaginação para tal. Eles, os ditos humanistas, estão bem e os outros que se amanhem. Os números confirmam que Portugal é dos países onde a as despesas com saúde privada mais pesa no bolso das famílias, o que mostra como é deficiente o Serviço Nacional de Saúde e como se banalizou a lógica de que uma assistência médica eficaz depende da capacidade financeira.

Hoje, o walking dead Galamba vai ser ouvido na CPI sobre a TAP. Continua a novela e por isso esqueçamos as centenas de dias necessários para se conseguir uma consulta no SNS.

Aqui não há transgénero

Pedro Correia, 02.02.23

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Chantal Goya no filme Masculin Féminin, de Jean-Luc Godard (1966)

 

Oiço muitas vezes por aí chamar "o" Iniciativa Liberal ao quarto maior partido parlamentar português. No seu programa de domingo à noite, Ricardo Araújo Pereira pôs a ridículo este absurdo desnorte gramatical exibindo excertos de noticiários televisivos (incluindo da própria SIC) que mencionavam a IL, alternadamente, como pertencente aos géneros feminino e masculino. Chegando-se ao ponto de ouvir jornalistas diferentes, no mesmo telediário, usarem as duas fórmulas. Questiono-me se não haverá livros de estilo e editores que assegurem o controlo de qualidade nestes canais para impedir esta algaraviada sem senso algum.

A norma gramatical é clara: artigo e substantivo concordam em género e número. Aqui não há transgénero: masculino é masculino, feminino é feminino. Nem há transnúmero: singular é singular, plural é plural.

Assim, dizemos os Verdes ao aludirmos a um partido que integra a actual coligação governamental na Alemanha - no plural. E a UNITA ou a FRELIMO quando mencionamos estes partidos políticos, um em Angola (União para a Independência Total de Angola), outro em Moçambique (Frente de Libertação de Moçambique). 

A sigla IL só deve ser lida com artigo feminino - por a primeira letra ser abreviatura de Iniciativa. Ninguém diz "o FRELIMO" ou "o UNITA". Diferente é se disserem "o partido Iniciativa Liberal" - só aí o artigo é masculino. Mas faz pouco sentido usar 24 letras para aquilo que pode ser dito só com duas.

Enfim, regras que deviam ser fixadas desde as aulas da instrução primária, mas que jornalistas supostamente com formação universitária são incapazes de aplicar. O que diz muito sobre a qualidade do nosso ensino. E sobre a qualidade do nosso jornalismo.

Pois então que venha o Rui

Sérgio de Almeida Correia, 26.01.23

(créditos: Bruno Colaço/Sábado)

A Iniciativa Liberal terminou a sua Convenção Nacional e consagrou Rui Rocha como o seu novo líder. Vitória indiscutível.

Não é que a mudança de líder de um partido seja um acontecimento fora do normal, ou a que não estejamos todos habituados nos anos de democracia que levamos. De boa e de má democracia. Se a democracia é sempre boa em si, acredito, verdade que a nossa nem sempre foi boa nos frutos, e ultimamente até tem sido má em muito do que germina, mas nem por isso deverá deixar de ser sublinhada a mudança de direcção nesse partido ainda jovem que é a IL.

Há aspectos para os quais importa chamar aqui a atenção, até porque o Rui Rocha por aqui andou delituando durante alguns anos, o que a todos permitiu conhecê-lo melhor e às ideias que hoje transporta para a liderança da IL. Independentemente da simpatia pessoal que possa ter por ele, não obstante o mar ideológico que nos separa, enquanto estudioso interessado do sistema político, do regime e dos seus actores quero aqui dar-lhe os parabéns e deixar umas breves notas.

Importa realçar que pela primeira vez temos um partido perfeitamente integrado no sistema, ao contrário do Chega que sempre se assumiu como anti-sistema, que toma a posição de querer mudá-lo por dentro.

Bem ao invés de PS, PSD, PCP e do defunto CDS-PP, para já não falar no BE que se tornou numa muleta do status quo, a IL há muita que manifestou o seu descontentamento com o rumo tomado pelo regime, embora comungue dos valores e dos princípios básicos que enformam a nossa democracia. Uma coisa é querer reformar o sistema político-constitucional; outra bem diferente é querer destrui-lo na corrida para o poder, minando a democracia e os seus alicerces enquanto se cavalga a onda populista e se promove a ignorância. 

Um segundo ponto que merece nota é que o novo líder, tal como o anterior, tem um passado, um percurso académico e profissional antes de chegar a S. Bento e à liderança do partido, reconhecidamente íntegro e discreto. Basta olharmos para alguns figurões que fizeram carreira na política e nos negócios pós-vida política para se perceber a diferença entre este e outros que por aí circulam.

Depois, o novo líder da IL tem uma história de vida que não será muito diferente da de inúmeros cidadãos deste país. O que faz dele uma pessoa normal. Passou por África, sentiu na pele o drama dos refugiados, integrou-se, cresceu, tornou-se um cidadão de corpo e alma, ciente dos seus direitos e das suas obrigações, saído de uma cidade periférica num país dominado pela macrocefalia de Lisboa, do Porto e das suas regiões metropolitanas, que chega à política numa idade em que ainda pode fazer alguma coisa e sem o permanente cheirinho a cueiros daquela rapaziada que passou pelas jotas e chegou aos partidos, ao parlamento e ao governo sem nunca ter aprendido nada e feito na vida algo que se visse e os pudesse recomendar para alguma coisa.

Posto isto, talvez seja de os outros partidos do sistema começarem a arrumar a casa, se não quiserem saltar borda-fora.

Do atavismo do PCP e do BE já ninguém espera nada, a não ser os seus crentes. Tal como do PAN ou do Livre que pese embora algumas boas ideias jamais adquirirão dimensão para as poderem concretizar, salvo casos pontuais e marginais de intervenção política. Reformar os outros partidos duvido que seja possível enquanto estiverem enxameados pela tropa de Montenegro e de Coelho, de Santos e de Costa, por essa gente moluscular cujo único ideal é fazer carreira na política e resolver vitaliciamente, se possível com pouco ou nenhum esforço, os seus problemas de emprego e da família, tornando-se rentistas ou lobbyistas de qualquer coisa, seja do partido, de uma autarquia, de uma empresa pública, de uma construtora ou de um canal de televisão.

Se a meta de alcançar os 15% pode nesta altura parecer distante, o que acontecer nos próximos meses nos partidos e no Governo poderá torná-la facilmente alcançável, provocando a reestruturação e reconfiguração do actual sistema de partidos. Com o seu posicionamento e o discurso actual, a IL pode beber à direita e à esquerda, provocando problemas acrescidos a PSD e PS, seja por via de uma radicalização do discurso ou de serem empurrados mais para a direita e mais para a esquerda em virtude do espaço que a IL for capitalizando no eleitorado do centro para atingir o objectivo agora definido de romper com o bipartidarismo, o que não será seguramente fácil com o actual sistema eleitoral.

Finalmente, não obstante a pressa com que vem, convém que o novo líder tenha em atenção as pessoas de quem se vai rodear, posto que este tem sido um dos cancros das actuais lideranças. Será muito importante saber de onde chegam, para onde querem ir e como querem lá chegar aqueles que vão ajudar o líder a concretizar os objectivos definidos para o partido. Seria certamente muito mau que o partido se visse inundado de arrivistas e de pessoas sem convicções que num dia apoiam líderes autocráticos, o regime chinês, o russo ou o que estiver mais a jeito, e no outro se apresentam como "liberais" empenhados na mudança do país. O país e os seus potenciais eleitores não lhe perdoariam isso, nem o deslize para a ineficiência.

Que a IL e Rui Rocha, com o seu humor cáustico, preparação e inteligência contribuam para uma renovação do sistema partidário, das mentalidades e da democracia, tornando o país menos cinzento e menos carreirista, trazendo gente mais interessada, mais bem preparada, mais adulta e de convicções para a política são os meus votos.

As últimas sondagens são enganadoras, e podem não representar nada neste momento.

Eu cá estarei para dizer de minha justiça, tendo sempre presente a minha declaração de interesses. Que, aliás, é pública há muitos anos, conhecida dos leitores desta casa, e não muda ao sabor de ventos e marés.

CDS

José Meireles Graça, 27.10.22

Na IL conto não poucos amigos por proximidade ideológica, e destes alguns também pessoais. A Carlos Guimarães Pinto junto admiração porque cansou-se de, anos a fio, tecer considerações em blogues e redes sociais, tendo dado o salto (aliás com brilhantismo) para a política partidária, passo certamente mais difícil do que prosseguir uma carreira profissional que a actividade política não é ou, quando seja e não havendo corrupção, inçada de inconvenientes.

Quem vai para a política partidária abdica de uma parte da sua liberdade: os partidos são máquinas de conquista e manutenção de poder e isso não é compatível com dizer-se o tempo todo o que realmente se pensa porque se podem afastar uns eleitores sem cativar outros, criar fracturas irremediáveis dentro do próprio partido, ferir estratégias de alianças, e ainda porque com frequência se mostra necessário ceder e recuar no acessório para preservar o essencial.

Se o partido for um de poder (e que lá esteja ou pareça vir a estar) tem lugares para distribuir e isso coloca uma surdina na dissenção. Se não for, ela vem de divergências doutrinárias, que umas vezes agravam e outras simplesmente recobrem ambições de protagonismo, mais virulento se houver disputa de lugares elegíveis, por exemplo de deputado. E como raras são as pessoas, e por maioria de razão os políticos, que sejam tão boas como se julgam, fica aberta a porta a umas guerrilhas invariavelmente ácidas, e invariavelmente enjoativas.

É isso que se está a passar na IL, com contornos que ignoro (por exemplo, que diabo leva o líder a afastar-se, conservando todavia o seu lugar no Parlamento, o que é que realmente separa os candidatos a substituí-lo, e por que razão CGP não é candidato), e é um filme já visto in illo tempore no CDS.

In illo tempore, digo: Entre liberais e conservadores, ultramontanos e wokes, europeístas fanáticos e nacionalistas passadistas, sem esquecer detentores da marca registada da verdadeira democracia cristã, nunca houve falta de motivos para manobras e facadas. Faz parte e é por vezes espectáculo divertido ver egos insuflados, Mirabeaux de aldeia, ideólogos de mesa-de-café, oportunistas sortidos e aparelhistas incidentalmente com notórias dificuldades no domínio da gramática e do senso.

Ninguém acha que com esta convulsão a IL tem alguma coisa a ganhar, mas ela tem o selo da inevitabilidade: os partidos na orla do poder são lugares intranquilos. E de dissensões ideológicas é bom nem falar, que liberalismos há alguns, completos com o breviário de receituários diferentes e todos servidos de gurus citáveis, sendo que ficam de fora questões que não são predominantemente de ordem económica, onde a margem para divergências é ainda maior.

A IL pescou, pela sua natureza, sobretudo no CDS e no PSD, além de na abstenção (por ser novidade); e o outro partido de direita, o Chega!, recrutou no mesmo campo, além de no dos indignados virtuosos e sumários – quando houver dissensões sérias serão furibundas, que por lá doutrina e consistência não há muita mas a agressividade sobra.

Em suma: seria possível imaginar um país, que não é o nosso, em que o espectro partidário fosse do Chega! até ao PSD, as várias declinações de marxismos clássicos (como o PCP) ou reciclados em bandeiras de causas progressistas (como o BE), ou ainda o mastodonte do conúbio com o capitalismo dirigido (como o PS e, em parte, o próprio PSD) reduzidos à condição de seitas. O que temos, porém, é um país solidamente ancorado à esquerda, o que aliás explica que, não obstante a chuva de milhões sem precedente histórico salvo talvez o ouro do Brasil, o país esteja teimosamente na cauda do desenvolvimento – de onde os novos partidos o querem tirar, em particular a IL, que tem para esse efeito um programa mais consistente, que todavia retoma escopos já defendidos há muito e que frequentemente imagina inovadores.

Julgaram que fazer melhor do que o velho CDS era não apenas possível mas relativamente fácil e um partido novo, por o ser, ficava ao abrigo das vicissitudes que, aqui e em toda a parte, regem as vidas dos partidos.

A experiência está a mostrar que não é assim. Donde, a alegada morte do CDS talvez tenha sido uma declaração precipitada. Felicito-me por não andar a correr atrás das gajas novas no povoado e me conservar fiel a amores velhos – a experiência sobreleva-se bem a alguns atavios.

A extrema-direita liberal

jpt, 10.02.22

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Com a conquista eleitoral segue o PS viçoso, dir-se-ia que até rejuvenescido, nesta sua condição maioritária. Mas, avisado, nisso não facilita, desde já preparando a maratona dos 4 longos anos. Olha à sua esquerda e, algo clemente, poupa invectivas (e até já preparará a protocolar eulogia) ao exaurido PCP, agora cadáver (menos) adiado. Tal como ao "cadáver esquisito" Bloco de Esquerda, que deixa entregue às irregulares inconsequências que lhe são essência, até porque entretanto este segue entretido nas discussões públicas das suas catedráticas "eminências pardas". Olímpico é também o silêncio que dedica aos afinal inúteis PAN, já entregue à co-incineração que nos foi legada pela tutela do incansável José Sócrates, e LIVRE, o qual ruma atarefado na contratação de um ror de assessores que "não advêm do marxismo", decerto que forma de combater a precaridade que aflige os investigadores científicos.

Assim algo descansado - ainda que nunca relaxado - pois "nada se passa na frente esquerda", o PS observa atentamente as movimentações das forças regulares alojadas à sua direita. Estando o CDS entregue aos intensivistas, os quais mantêm "prognóstico reservado" sobre o paciente - ainda que conste terem estes já, em privado, desiludido a família próxima -, a situação clínica do PSD é encarada com plácida solidariedade humana. Na crença de que a convalescença, a ser bem sucedida - o que não se toma como garantido -, será bem longa, e exigirá duro e enfraquecedor tratamento. Quanto ao pós-neófito CHEGA a estratégia está já delineada: sobre ele cairá algum fogo regular, a hora certa, para manter aquela força irregular em estado de exaltação. O qual será propício à sua emissão de disparates, dada a profusão de locutores encartados que agora nela se impuseram, lestos que assim serão eles a demonstrar a horda irreflectida que constituem, desde vereadoras a traficarem lixo, senadores a clamarem dislates desproporcionados até a anacrónicos "intelectuais orgânicos" a louvaminharem o Estado Novo.

Resta assim, nesses invasores redutos da direita, a pequena força da Iniciativa Liberal. E para não amansar as tropas, nisso relaxando-as, foi este o alvo escolhido pelo PS para pequenas investidas cirúrgicas, por enquanto conduzidas por batedores, rudes e tarimbados, irregulares locutores excêntricos à hierarquia. Acções essas que assim, se violando as tréguas pós-eleitorais, serão ditas como alheias aos ditames da hierarquia. De facto, o intuito deste pequena e marginal campanha é o de manter mobilizada a população na retaguarda, nisso despertada e mui atenta na luta contra o fascismo, o desses hunos que não só cruzaram as fronteiras da república como, ao que consta, investem já contra a paliçada do regime.

De facto, as novas dessas incursões vão promovendo o júbilo entre o povo cristão, aquando congregado em bazares, adros e rossios. Nelas é proclamada a tal Iniciativa Liberal como a verdadeira extrema-direita, o mais perigoso dos arietes fascistas, o satânico inimigo do bem-estar comum, os adoradores do anti-cristo "social". Consta isso nas páginas do boletim "Expresso", partilhado nas homilias e nos pregões. Clamam-no, nos seus palanques, alguns vultos sábios, como Maria José Marques (que eu desconheço) ou a célebre mestra Estrela Serrano, dita a Socratista. E há agora novidades de uma nova investida, particularmente bem sucedida: pois, ainda que já jubilado da sua carreira profissional de sobrinho, o veterano Alfredo Barroso regressou às lides demonstrando ser a tal Iniciativa (Neo)Liberal a reencarnação lusa de Augusto Pinochet, assim augurando-nos - se nos distrairmos - o destino de sermos encerrados em campos de futebol, e neles exterminados, por desígnios do perverso Cotrim.

Mas o relevante é o efeito que estas iniciais investidas estão a ter nas escassas forças liberais. Com efeito, chegam notícias que estas procuram deslocar-se, intentando assentar arraiais no planalto central da frente da batalha. Presumo que nisso procurando camuflar-se, salvaguardando-se de um ataque global, que julgam iminente, às forças do CHEGA - sitas num promontório vizinho - pois temendo com elas serem confundidas.

Não deixo de sorrir, diante destas frustres manobras dos jovens capitães liberais. Lembrando-me que desde há 47 anos as forças do PSD e do PS têm acampamentos limítrofes, nisso se ladeando. E que ninguém os confunde por isso - a vox populi até lhes exagera as diferenças. Não haja dúvida, estes recém-chegados têm ainda muitos montes e vales (de lágrimas) para percorrer. E muita saraivada para receber.

O Professor Sem Medo

jpt, 02.02.22

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Na ressaca eleitoral, Boaventura Sousa Santos invoca-se húmus teórico do Bloco de Esquerda e sentencia a sua actual coordenadora, numa invectiva que se quer letal pois assumindo-se qual Professor Sem Medo face a uma afinal assim até salazarenta Catarina Martins - esta agora decerto que duplamente dorida, pela derrocada nas urnas e pela tonitruante reprimenda do Founding Father.

Mas o que me é relevante não são as querelas sucessórias ali decorrendo. E sim as interpretações sobre o acontecido. O dr. Ba, aclamado activista avesso ao "apartheid" português - como nos classifica um teórico do "racismo sistémico" (ou "estrutural") -, já elucidara algumas das mudanças no painel parlamentar, explicitando-as como a ascensão de uma "Nova Direita" qual a suspeitosa "alt-right" mais ou menos global. A qual, no seu elevado parecer, se traduz agora numa vintena de monos parlamentares fascistas, racistas e neoliberais. Esta interpretação não diverge muito da generalizada entre bem-pensantes, particularmente propensos à interjeição "neoliberal", esse apupo simplório que acalenta a demonização de tudo o que não seja arreigadamente estatista.

Aliás, algo a latere, recordo o que após a votação me disse uma queridíssima amiga ("que nariz, que nariz..."): "esses betos [IL, entenda-se] em quem votaste são uma distopia anunciada". Respondi-lhe, algo desabrido (mea  maxima culpa, piorada devido ao referido "que nariz..."), remetendo-a para a página do partido Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa, convocando-a a melhor reconhecer os traços da perfídia distópica, tão certeiramente denunciados pela Iluminista "esquerda" lusa. Mas recupero essa breve conversa porque me é exemplo de uma versão interpretativa sobre esta parcela da tal "alt-right", racista, fascista e neoliberal, portuguesa: a de que é um movimento de classe média alta, os tais "betos", assim nada desapossada mas apenas gulosa.

Ora o que agora é significante, e terá que ser integrado na análise sobre este movimento fascizante, é o contributo do Professor Sem Medo. O qual aparenta ter uma visão algo diversa. Pois Boaventura Sousa Santos enuncia as causas destes votos nos distópicos liberais. Para ele, estes não são votos ancorados em qualquer razão, numa avaliação mais ou menos ponderada da situação nacional e do seu enquadramento internacional, mesclando expectativas individuais com anseios para o país, num saudável patriotismo, mesmo que este erróneo ou até errático. Bem pelo contrário, os votos no tal partido distópico, são fruto da emoção, numa reacção irracional face à crise potenciada pela pandemia, sendo assim um fenómeno de "ressentimento" - um ressentimento de camadas sociais decerto que provocado por se encontrarem estas desapossadas, tanto em termos reais como de expectativas, presumo - que se reflecte num ressentimento invidual condutor das opções de voto, propiciador da adesão ao cruel culto do "darwinismo social".

Parece assim óbvio - e disso quero informar a minha queridíssima amiga, bem como alguns outros que com ela partilhem a interpretação do que vai acontecendo - que este distópico, fascista-racista-neoliberal, movimento de retórica liberal (a tal IL, recordo) não se limita aos tais privilegiados "betos". Ainda para mais se aceitarmos o óbvio, e tantas vezes repetido por sociólogos: isso de que Portugal continua a ser uma sociedade bastante estratificada, onde os privilégios de classe (os dos tais "betos") seguem impunes. Será, como o anuncia o Professor Sem Medo, um movimento irracional, desprovido de Razão, dos descamisados (ou, vá lá, "colarinhos brancos" puídos), ressentidos.

Há pois que actualizar, seguindo neste sentido, a interpretação do processo actual nacional. Pelos vistos é isto que a Sociologia nos ensina.

Luís Filipe Vieira na Assembleia da República

jpt, 11.05.21

(Cotrim de Figueiredo na audição de Luís Filipe Vieira na Assembleia da República)

Luís Filipe Vieira foi à AR falar sobre aquilo do BES. Começou por ler um texto, entre a justificação e a lamúria (à filme americano, qual Pacino by Coppola), invocando a sua condição de dirigente desportivo. O primeiro deputado que lhe fez perguntas - não sei quem nem de que partido, apenas retive que era jovem* - logo apartou as águas, explicitando que o Benfica não era para ali chamado. Chapeau!
 
À noite vejo vários "liberais", doutores da economia, da gestão, do direito, muitos com MBAs e até mais, partilharem ufanos esta saída do deputado IL, Figueiredo. Mandando a boca ao empresário sobre os resultados desportivos daquele clube, a piadinha para a câmera, misturando alhos e bugalhos. Avacalhando a coisa. Ainda mais, que isto já vai mal.
 
E votei eu nestes tipos! Imbecil jpt.
 
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A liberdade mantida em cativeiro

Paulo Sousa, 21.04.21

Nas notícias tornou-se assunto o impedimento de participação da Iniciativa Liberal no desfile do 25 de Abril.

A Associação 25 de Abril, que como o nome indica advoga-se dona desta data, não permite que este novo partido seja incluído no passeio pela avenida. A desculpa é a pandemia e as limitações que esta impõe. Além disso, justifica-se a referida Associação, o pedido da IL foi apresentado em cima da hora.

Assim a participação fica limitada às seguintes entidades:

 

  • Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRE!)
  • Associação Conquistas da Revolução (ACR)
  • Associação de Combate à Precariedade
  • Precários Inflexíveis (PI)
  • Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP 61-74)
  • Associação Iniciativa Jove
  • Associação Intervenção Democrática (ID)
  • Associação José Afonso (AJA)
  • Associação “Os Pioneiros de Portugal”
  • Associação Política de Renovação Comunista
  • Associação Portuguesa de Deficientes
  • Associação Portuguesa de Juristas Democratas
  • Associação Projecto Ruído
  • Bloco de Esquerda (BE)
  • Comissão Coordenadora das Comissões de Trabalhadores da Região de Lisboa (CIL)
  • Comissão da Juventude da UGT
  • Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN)
  • Confederação Nacional de Organizações das Pessoas com Deficiência (CNOD)
  • Confederação Nacional de Reformados
  • Pensionistas e Idosos (MURPI)
  • Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD)
  • Consciência Negra,Conselho Nacional da Juventude (CNJ)
  • Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC)
  • Ecolojovem “Os Verdes”
  • Frente Anti-Racista (FAR)
  • Interjovem-CGTP
  • Jovens do Bloco
  • Juventude Comunista Portuguesa (JCP)
  • Juventude Socialista (JS)
  • LIVRE
  • Manifesto em Defesa da Cultura,Movimento Cívico Liberdade e Democracia (MICLeD)
  • Movimento Cívico “Não Apaguem A Memória!” (NAM)
  • Movimento Democrático de Mulheres (MDM)
  • Movimento dos Utentes de Serviços Públicos (MUSP)
  • Movimento Pelos Direitos do Povo Palestino e Pela Paz no Médio-Oriente (MPPM)
  • Partido Comunista Português (PCP, Partido Ecologista “Os Verdes”(PEV)
  • Partido Operário de Unidade Socialista (POUS)
  • Partido Socialista (PS)
  • União Geral dos Trabalhadores (UGT)
  • União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP)

 

A existência de algumas destas entidades era por mim desconhecida até hoje, mas o facto de terem passado pelo filtro da Associação 25 de Abril, quando um partido com representação parlamentar não o conseguiu, é algo que não pode deixar de ter significado político.

A falta de senso, de sentido democrático e até de tolerância, que este impedimento de participação encerra, mostra bem a forma como estes senhores funcionam. Quando fomos governados por um governo que não era da cor deles, como quem nega a legitimidade da data fundadora do regime, recusaram-se eles mesmos a participar nas celebrações do 25 de Abril. Se a isso juntarmos o silêncio imposto à evocação, que fosse, do 25 de Novembro na AR, e às recorrentes declarações de Vasco Lourenço, é fácil de concluir que estes senhores são tão democratas como democrata era a RDA.

A liberdade em Portugal está refém da esquerda.

Não é sobre vacinas

Paulo Sousa, 30.01.21

Todos os casos que têm acontecido à volta da administração das vacinas são exemplificativos de um fenómeno mais alargado a que podemos classificar por pequena corrupção.

O maior motor da pequena corrupção é a escassez. Arrisco-me a afirmar que a grande corrupção terá outros motivos.

A maior parte dos tráficos ilegais desenrola-se e floresce à volta da pobreza. Neste caso tratam-se de vacinas que estão a chegar a uma velocidade inferior às necessidades e às expectativas criadas, mas podíamos estar a falar de um contrato que viabilizará uma empresa em dificuldades, ou de um emprego que estabilizará as finanças de uma família. É fácil que a necessidade fale mais alto do que outras questões morais ou legais. O pequeno favor vindo do chefe de secção, do encarregado pelas compras, do decisor do concurso público, do fiscal, ou de outra figura que tem um ascendente circunstancial, pode acabar por ser a solução para os problemas imediatos. Quem está nessa posição tem consciência disso e é fácil que aceite o jogo que afinal o coloca numa posição de poder.

Se não houver nada para dar em troca, e não me refiro apenas a bens materiais, então fica-se devedor de uma obrigação. No futuro uma outra pequena prevaricação entrará a crédito na respectiva conta-corrente. E essa é afinal a palavra que usamos para agradecer, fico-lhe obrigado.

Esta é a lógica que explica a pequena corrupção. A pobreza ancestral do nosso país, somada à falta de expectativas de crescimento económico (no século XX só houve crescimento económico efectivo nos anos 60 e na segunda metade dos anos 80 e 90) explica, e resulta, da colonização do estado por gente que quer fazer pela vida. As alternativas são escassas e a famosa mão invisível impele os indivíduos a maximizar o seu bem estar. A sobre-dimensão do estado, com a sua teia de esquemas de esquinas arredondadas, resulta e promove a estagnação. É um ciclo que se auto-alimenta.

O que está a acontecer devido à falta de vacinas é rigorosamente o mesmo que acontece com a riqueza do país. Como o bolo é pequeno, todos lutam por migalhas. Se o bolo fosse maior, todos poderiam ambicionar por mais. Daí a necessidade do crescimento económico que, já vimos, não se resolve por decreto, mas sim e apenas se houver condições para atrair investidores. Com a nossa estrutura etária, não será possível financiar um SNS sem crescimento económico. Também por isso, é necessária uma abordagem diferente.

Crescimento económico, acompanhado por uma educação ministrada pelo exemplo de quem exerce cargos públicos, levar-nos-ia a um patamar superior de salubridade social, mas para isso precisamos de uma mudança, não só de políticas, mas de pessoas. Fernão Lopes, nas suas crónicas da crise de 1383-85, refere-se ao levantar de uma “nova geração”. É disso que precisamos. É necessário atrair para a política gente da sociedade civil, desligada do pântano em que nos encontramos.

O regresso da ideologia

Paulo Sousa, 24.09.20

A chegada da IL ao hemiciclo permitiu o regresso do saudável e saudoso debate ideológico ao espaço público.

Durante demasiado tempo, sempre que dois políticos se encontravam à frente das câmaras de uma televisão discutiam apenas a espuma do dia. Fora disso, o melhor que conseguiam era garantir que conseguiriam vedar as sempre incontinentes contas públicas, o que nunca foi mais de que uma redonda mentira.

Como já foi aqui referido pelo nosso colega José Meireles Graça, há poucos dias na SIC Notícias debateu-se a proposta da IL para a adopção de uma taxa única de IRS. Além da proposta em si havia como pano de fundo as declarações proferidas pelo Dr. Anacleto no seu programa da SIC. O deputado da IL, João Cotrim Figueiredo, acusou-o nas redes sociais de ter mentido e deturpado o conteúdo da proposta de flat rate. Esse foi o tema de arranque do debate. No decorrer da troca de argumentos o deputado bloquista enredou-se nas suas fintas semânticas e, provavelmente sem dar por isso, confirmou a mentira do seu chefe. Nada de novo para um conselheiro do Estado Português.

Olhando com atenção, dá para apreciar ainda a forma como o jovem delfim de Louçã afirma que esta proposta não é esta proposta, porque 'eu é que sei bem o que lhe vai na alma'. Esta é uma técnica que consiste na recusa do debate e avança para o julgamento moral. É populismo mas do bom. Se fosse usado pela direita seria asqueroso.

Eu, que gosto de enquadramentos históricos, gostaria de lembrar ao mano mais novo do Daniel Oliveira (aquele que faz rir) que nesta conversa ele assumiu a defesa da situação, ou seja, a defesa de um sistema fiscal que lhe permita (sem óculos escuros ele não consegue esconder a chispa) acabar com os ricos, mas que na prática nos empobrece a todos.

Já aqui referi que os partidos da esquerda unidos à volta do OE, constituem as forças conservadoras da actualidade. O BE e o PCP, os acólitos do PS, são tão coerentes como um apenas um revolucionário conservador poderá ser. Admito que tenham consciência do ridiculo, mas não conseguem resistir a uns biscoitos de reforço positivo.

Os irrecuperáveis vinte anos de estagnação económica, que marcarão estes anos da nossa vida, estão ligados a este modo de esmifrar a riqueza produzida pelos portugueses.

Li não sei onde que o debate político deverá trazer sempre à liça o passado, o presente e o futuro. Estes três diferentes tempos não deverão ter sempre o mesmo peso nas decisões, mas nenhum deverá ser humilhado. Os socialistas que há décadas nos governam são uns amantes obsessivos do presente. Eles desprezam o passado e odeiam o futuro. De facto, eles são os inimigos do futuro. Para os socialistas, em troca do poder imediato não existe nenhuma questão de princípio que não seja negociável. Manter o poder é a sua ideologia. É o seu alfa e o omega. Por ele, tudo.

O debate

José Meireles Graça, 22.09.20

O deputado da Iniciativa Liberal debateu na SicN sobre a taxa única de IRS com um ex-deputado do Bloco, um expatriado  que se juntou aos portugueses que, com trânsfugas de outras nacionalidades, fingem que deputam no Parlamento Europeu.

O assunto não tem nem de longe tanto interesse como as mamas de Cristina Ferreira, que ultimamente têm uma preocupante tendência para crescer, nem muito menos a mais recente tolice de um governo qualquer, ou do nosso, para fechar a porta à Covid, o fantasma que não vai matar quase ninguém, enquanto os residentes que não morrem de doenças sérias não tratadas, fome ou exaustão, criam dívidas que julgam que não vão pagar.

Mas um partido político tem de ter bandeiras. E esta, a da taxa única, não tem nenhuma hipótese de ser desfraldada no alto de uma colina de preconceitos, o que não quer dizer que não valha a pena agitá-la – todas as bandeiras vencedoras hoje já foram vencidas no passado.

O tal ex-deputado do Bloco, de nome Gusmão, recita a vulgata da seita, que no caso consiste em dizer que muitos poupam 50 euros (esqueceu-se com admirável manha de esclarecer que seria por mês) enquanto uns poucos, os ricos, guardam milhares que não lhes fazem falta; que isto criaria um buraco nas contas públicas que só poderia ser tapado com cortes no SNS e no ensino público; e que nos países mais desenvolvidos (começou por dizer com aquela lata mentirosa de que os adeptos de Frei Anacleto Louçã e Soror Mariana detêm o segredo que era em todos os da UE, depois centrou-se na Holanda como o farol que, nesta matéria, deveríamos seguir) havia várias taxas de IRS, a mais gravosa sempre altíssima.

Cotrim Figueiredo, com serenidade, rebateu as indignações daquele pai dos pobres. Não disse tudo o que poderia ter dito (por exemplo, ficou por referir que a comparação de taxas sem referir os montantes a partir dos quais se aplicam significa que em Portugal se considera rico, para o efeito de o acabrunhar com impostos, quem é apenas remediado) mas nem houve tempo nem é possível dizer tudo sobre uma matéria complexa, e um debate velho, onde a cada argumento de um lado cabe um argumento do outro, quase sempre ficando de fora os pressupostos de cada trincheira.

Que pressupostos são esses? Do lado do indignado, são a superioridade moral (ele defende os pobres, o opositor os ricos), que é recorrente na esquerda em geral e aparece no Bloco dobrada em raiva virtuosa; a concepção da economia como um jogo de soma nula, isto é, em que as perdas de uns são os ganhos de outros; a ideia de que o investimento, e a gestão, públicos, são equivalentes no desempenho ao investimento e gestão privados; e a opinião de que a igualdade material entre os cidadãos é um bem em si, que não carece de demonstração por ser uma verdade axiomática.

Claro que não há qualquer superioridade moral da esquerda em geral, muito menos de um moço de aspecto piolhoso com os olhos coruscantes de ódio aos ricos, debitando argumentos serventuários de uma trombeteada generosidade e uma oculta inveja; na economia que cresce pouco ou nada, como foi o caso durante a maior parte da história da humanidade, os ganhos de uns eram efectivamente as perdas de outros, mas deixou de ser necessariamente assim desde fins do séc. XVIII; se a gestão privada fosse igual à pública, a nacionalização dos meios de produção não teria produzido, como invariavelmente produziu, sociedades de generalizada carência; e é preciso uma grande dose de cegueira para não ver que os países que nos vêm ultrapassando na hierarquia dos rendimentos por cabeça têm muitas coisas que nos faltam, uma delas sendo a competitividade e a simplicidade fiscais – a igualdade, ou melhor, a obsessão igualitarista, não faz parte desse lote.

Gusmão, estás por fora, meu chapa, a única coisa que contigo pode progredir é o retrocesso. Que poderias ter dito ao teu opositor que enriquecesse o debate? Algumas reflexões, dentro dos pressupostos dele que, já se vê, tem paciência, são os bons: que a fiscalidade simples e modesta, em vez de complicada e rapace, é adjuvante do crescimento, mas que há um tempo de espera que não é seguro que as nossas calamitosas contas públicas possam suportar. Pelo que começar pela reforma do IRC talvez fosse mais judicioso; que o nosso Estado gordo é uma mochila demasiado pesada para um viajante que quer andar mais depressa do que os outros, pelo que a reforma de que toda a gente fala ou implica extinções de serviços espúrios ou não é reforma; e que o Estado de Direito é para valer em todos os domínios, e que portanto a inversão do ónus da prova em matéria fiscal, os poderes inquisitoriais de uma casta de funcionários inimputáveis pagos com prémios pelos seus abusos são perversões a eliminar como condição prévia a qualquer reforma fiscal.

Isto e muitas outras coisas. Que talvez vejam a luz do dia quando houver uma quarta falência, ou o eleitorado descobrir que já só tem atrás de si a Albânia, ou, ou.

Até lá, alguém tem de manter acesa a chama do senso, do realismo e da esperança. Foi só por um quarto de hora? Ora, na Venezuela que Gusmão estima nem isso têm.

Oiçam este tipo

Paulo Sousa, 11.03.20

Ao ouvir esta excelente intervenção do Carlos Guimarães Pinto no âmbito das Convenções do Movimento Europa e Liberdade, lembrei-me da Escola da Minha Terra, de que já aqui vos falei, e das voltas que foram dadas até ser necessário o seu alargamento.
O caso que ele relata é de maior gravidade e por isso deveria causar mais vergonha aos nossos governantes. Mas isso só seria possível se a tivessem.
Recomendo que oiçam todo o discurso, mas este é o excerto em que CGP fala da escola da terra dele.

 

A importância dos pequenos partidos.

Catarina Duarte, 09.12.19

Julgo que falo por todos, quando digo que estamos cansados do mesmo poder político de sempre, aquele que gira sempre entre as mesmas duas grandes forças, que faz deambular sempre os mesmos rabos que circulam sempre entre as mesmas cadeiras, sempre vestidos nos mesmos fatos cinzentos, sempre o mesmo cinzento, sempre os mesmos.

Parece-me que posso arriscar mais um pouco e dizer que estamos todos fartos das mesmas políticas e politiquices, dos cargos que se criam para dar lugar a mais um tio, das inaugurações que se fazem quando a obra ainda não começou e dos impostos que se baixam para aumentar outros, aqueles mais escondidos, aqueles que nos criam a ilusão de estarmos com mais dinheiro no bolso quando, na verdade, estamos apenas perante uma das maiores cargas fiscais de sempre.

Ora ligeiramente mais para a direita, ora mais a cair para a esquerda, a verdade é que está tudo minado de jogos e jogatanas feitos por quem está dentro do circuito há muitos, muitos anos, e tem a habilidade de tornar sempre tudo meio transparente aos olhos daqueles que pagam e não piam e que, em óptimo rigor, somos todos nós.

Ainda muito antes de ler este texto, cuja leitura recomendo, já era da opinião que hoje partilho: é muito bom haver outros partidos com assento parlamentar. À esquerda, à direita, ao centro, não interessa onde. Quanto mais diversificada for a bancada, melhor: mais conversa e mais debate. O que interessa é que estes partidos vêm mexer no sistema, agitar as águas, levantar as lebres e, talvez mais importante, enervar os mesmos de sempre, os que estão completamente acomodados ao cargo, com a cadeira já completamente moldada ao formato do rabo que nela se senta.

Vêm, finalmente, fazer uma oposição diferente, que toca na ferida e que deixa, os partidos de poder, desconfortáveis. Sempre soube qual era a razão pela qual as contribuições sociais pagas pela empresa não aparecem nos recibos de vencimento mas agora está lá alguém a perguntar, a questionar e a deixar todos meio incomodados com uma pergunta tão simples. Porque, na verdade, não há uma boa razão para não constar esta informação nos recibos.

Ideologias à parte, devíamos ser todos pelo dever da informação e da transparência e isto que a Iniciativa Liberal propõe, não é mais do que deixar preto no branco uma parte do que as empresas pagam por terem trabalhadores (porque faltam outras).

Podemos até não ter votado Iniciativa Liberal, Chega ou Livre mas não podemos acreditar que, com a entrada deles, vai ficar tudo na mesma. Porque não vai. E ainda bem.

Gato escondido

José Meireles Graça, 04.12.19

A contribuição obrigatória das entidades patronais para a Segurança Social é de 23,75% sobre a parte dos salários dos trabalhadores que conta para efeitos de reforma (o subsídio de alimentação, por exemplo, não conta). Toda a gente não sabe isto.

E como não sabe a Iniciativa Liberal quer que saiba, tornando obrigatória a menção do valor do encargo no recibo de vencimento.

Repare-se: não há qualquer alteração de direitos ou deveres, nem de valores; apenas a informação que o recibo disponibiliza clarifica um pouco mais o custo do trabalhador para a empresa.

Um pouco mais, não tudo. Porque seguros contra acidentes de trabalho, ou encargos com a medicina de trabalho, ou formação profissional, por exemplo, ou em certos casos transporte do e para o local de trabalho, também não constam.

Tenho visto reacções extraordinárias a esta iniciativa: que não vale a pena porque os trabalhadores já sabem isto, e quando não sabem pouco lhes interessa, o que conta é o salário líquido e o resto é treta; que não se percebe bem em que lugar no recibo vai figurar o encargo, dado que, se figurar na coluna de descontos, não poderá ser somado, e nem ser aliás verdadeiramente um desconto; que as empresas já podem, se quiserem, fazer constar essa informação. Não o fazem porque são preguiçosas ou nisso não vêem utilidade; e que a alteração vai originar custos escusados.

Por partes:

Não há inquéritos sobre o que os trabalhadores sabem ou deixam de saber na matéria. O que há são palpites, e ofereço o meu, baseado numa longa experiência a lidar com trabalhadores: a maioria esmagadora NÃO SABE quanto custa à empresa. Não é provável que, de posse dessa informação, surja uma substancial modificação de atitudes. Mas é provável que a ignorância sirva algum interesse inconfessado – senão, não teria defensores;

O lugar em que no recibo figurará a informação não tem importância, desde que lá esteja o valor e explicação do que quer dizer. Tenho a minha ideia sobre o arranjo gráfico, que não explico porque já percebi que até esta insignificância é controversa;

As empresas não fazem essa modificação porque compram pacotes de software certificado pela AT, que é o único que podem, se tiverem juízo, usar. E não exigem a alteração porque as autoridades, tanto tributárias como de condições de trabalho, estão inçadas de esquerdistas e burocratas empedernidos, uns e outros protegidos pela inimputabilidade. Se levantarem um auto abusivo, os custos para demonstrar a sem-razão são incomportáveis. Um empresário faz, entre outras coisas, avaliações de custo/benefício: desafiar o Estado, o mais das vezes, não compensa, e o serviço público ofendido pode desencadear uma vendetta.

Quanto aos custos, a alteração implica-os, mesmo sendo, como é, simples. Para os evitar, basta remeter para actualizações de software que todos os anos são necessárias porque todos os Orçamentos do Estado implicam alterações. Logo, trata-se de um não-problema. Claro que num país normal o regime fiscal, as obrigações declarativas e as normas contabilísticas seriam estáveis. Mas não vivemos num país normal, há demasiados serviços do Estado que interferem na vida das empresas, demasiada gente que ganha o pão a infernizar-lhes a vida, e demasiado eleitor que julga que nunca fundou, ou dirige, empresas, porque o destino não lhe deu oportunidade de pôr em prática os inegáveis méritos com que a Providência o dotou. Daí que não poucas pessoas, e em particular os especialistas em economia e gestão, saibam perfeitamente o que seria o patrão e gestor ideal, em vez dos que existem: eles próprios, se se desse o caso justíssimo de não serem trabalhadores por conta de outrem, professores ou funcionários.

Pergunta-se: É útil que o trabalhador saiba quanto custa realmente ao patrão? E é precisa uma lei da Assembleia da República para alterar o modelo de um papel? A resposta às duas perguntas é sim, porquanto:

A cultura de esquerda que existe há mais de quarenta anos no país faz com que haja a generalizada suspeita de que o empresário é inculto, inepto, desorganizado, evasor fiscal salvo prova em contrário, avesso à inovação e criatividade, e voraz na distribuição dos resultados, dos quais se apropria leoninamente. Provas: a sua formação académica é no geral inferior à mediana dos trabalhadores que emprega, os salários são mais baixos até mesmo que os da Espanha, que está aqui ao lado, são raras as indústrias de grande dimensão e mais ainda as de ponta, e todo o especialista em gestão, todo o consultor, todo o economista, todo o banqueiro (bancário, na realidade, que banqueiros já não há), e até mesmo todo o magistrado da opinião, incluindo os de direita, concorda: para o país ter o nível da Dinamarca seria preciso trocar os empresários portugueses por dinamarqueses. Este discurso é simplesmente cretino, mas não é aqui o lugar nem o momento para o desmontar. O que importa reter é isto: os gestores e economistas, dos quais as universidades despejam centenas no mercado todos os anos, bem deviam melhorar, pelo exemplo do empreendedorismo e sucesso, a qualidade do empresariado analfabeto; e o trabalhador não fica seguramente pior por estar mais bem informado.

A Iniciativa Liberal, ao propor uma lei para regular um detalhe de um papel, está a suprir uma falha da Autoridade Tributária: um dos sucessivos socialistas que tem passado  pela secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais (não menos socialistas quando foram do PSD ou do CDS) bem poderia ter resolvido o assunto por despacho, ou fazê-lo passar de contrabando numa qualquer lei do Orçamento. Não o fizeram porquê?

Porque pode o trabalhador, no futuro, perguntar a si mesmo: porra, 34,75% do salário é para garantir a merda da reforma, a merda do subsídio de desemprego, e a baixa por doença. E ao raio do patrão, já que paga e não bufa, tanto faz pagar ao Estado como a mim. Ora, eu bem poderia, se tivesse uma palavra a dizer, alocar esse dinheiro de outra forma.

Trabalhadores a reflectir é coisa que os socialistas nunca quiseram: é muito mais fácil designar-lhes um inimigo, que é o patrão.

Daí que a proposta da IL vá, creio, ser derrotada: terá o apoio do Chega! até ao PSD; e poderia talvez ter também do PS se este não precisasse de agradar à comunistada – a maioria dos socialistas achará provavelmente que papel assim ou assado é tudo igual ao litro. Mas não vale a pena ofender aqueles de quem precisa para se manter.

E os trabalhadores, como é que ficam? Ficam como estavam: interessados na carreira de Jorge Jesus.

Já andam nisto

Pedro Correia, 25.11.19

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Os novos partidos apareceram em colisão declarada com a "velha política" posta em prática pelos partidos antigos. Prometendo fazer diferente.

O que fazem eles para aproximar os cidadãos das instituições? Mais do mesmo: andam entretidos em tricas intestinas, em microscópicos duelos por migalhas do poder interno, esquecidos dos cidadãos em nome dos quais ainda falam.

 

A Iniciativa Liberal, fundada há menos de dois anos, já vai a caminho do terceiro presidente. O primeiro, Miguel Ferreira da Silva, demitiu-se em Agosto de 2018 por causa de uma micropolémica endogâmica a que mais ninguém deu a menor importância: permaneceu seis meses em funções. O segundo, Carlos Guimarães Pinto, esteve à frente da IL durante cerca de um ano: celebrou a eleição de um deputado (que não era ele) e logo a seguir bateu com a porta, alegando o «enorme custo pessoal» que a política implica, como se isso constituísse novidade.

 

O Livre, que tem um fundador que não lidera e uma «direcção colegial de quinze pessoas» que ninguém conhece, anda já mergulhado em guerra civil, menos de dois meses após ter eleito a primeira - e única - deputada. Isto a propósito de alguma questão premente em Portugal? Não: andam por lá todos às turras devido a um voto de protesto «contra a nova agressão israelita a Gaza». A deputada, fazendo jus ao nome do partido, solta o grito do Ipiranga: «Fui eu que ganhei as eleições sozinha». E prepara-se para mandar os controleiros internos às urtigas, estragando a festa do sexto aniversário da infantil agremiação.

 

Já andam nisto, uns e outros. Tudo novo, mas tudo tão velho afinal...

A abstenção eleitoral - e o Iniciativa Liberal

jpt, 22.10.19

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Um meu antigo colega de turma, que cumpriu relevantes funções políticas, referia ontem, no seu mural de FB, a enorme e continuada redução de votantes nas eleições destes últimos 20 anos, apelando a um estudo sociológico do fenómeno - algo que vá para além do mero opinar. Logo alguns dos seus comentadores referiram a falta de atenção mediática sobre a política (o que é factualmente falso) ou a escassez da "oferta" de alternativas políticas (algo rebatível pela proliferação de partidos).

Eu não tenho quaisquer contributos interpretativos que vão para além da minha "história de vida", a de alguém medianamente informado e algo democrata. Avanço-a: um tipo tenta escolher e participar, votando nas propostas que não se afastem do seu quadro intelectual. Às vezes vota nos grandes partidos (antes ditos "arco do poder"), ainda que estafado com as suas derivas patrimonialistas e mesmo cleptocráticas, portanto anti-institucionalistas (e assim anti-democráticas): a "bpnização" do PSD; a "socratização" agora "litiozação" do PS; a impunidade autárquica (lembrai-vos dos cerca de 50 mortos numa enxurrada no desvairado Funchal jardinesco, das décadas do 2M de Braga, por exemplos?).

Outras vezes um tipo irrita-se com o "fartar vilanagem", por isso é dito "populista" pelos amigos mais dados às redes sociais, ou "ressentido"/"ressabiado"/"invejoso" pelos actuais cultores do pensamento bolchevique (que entendeu o "dissidente" como psicótico). E vai à procura, entre a tal "oferta", de alternativas. Se dado a ecologias, e mesmo que encolhendo os ombros, é capaz de botar PAN, mas depois percebe o só que aquilo é. Mas a vida corre e mais tarde vê estes novos liberais, com alguma pertinência discursiva, e bota IL, e gosta de uma nova linha eleita.

Depois, logo logo depois, vê este LP optar por começar a exposição pública da sua nova condição parlamentar no puro entretenimento, até clamando amores pela "namorada de Portugal" (de facto "divorcée de Portugal"). E resmunga, se é para isto antes venha uma "caldeirada de peixe", com mais ou menos galambas no tempero. Amaldiçoa o voto que deu à tal Iniciativa Liberal, que com isto mostra já o "poucochinho" a que vem, afinal apenas mais do mesmo, só um "aparelhista" bem-posto. Nada de novo sob este (medíocre) Sol.

E com este cardápio, mais tarde ou mais cedo, mais cedo do que mais tarde, abstém-se. Depois haverá quem o faça objecto de estudo, membro do "universo abstencionista" ...