Imundícies
“Não se consegue respirar, mãe”. Foi com estas palavras que a minha filha mais velha rematou o relato sobre o que se passou lá por casa. Ao que parece, o cano que transporta os resíduos das descargas dos WCs sociais das diversas fracções e que passa ao nível do tecto das garagens, rebentou pela junta mais frágil e pintou um Pollock no seu período de expressionismo abstracto, no acesso ao nível -1 do edifício. Rapidamente se pediu aos condóminos que não usassem o WC social, para evitar um resvalar ainda maior daquela situação complicada. Mas nem todos sabem ler, ou se sabem, não querem, ou se estão nas tintas para quem tem de patinar nos dejectos dos outros, ou interiorizam que é um problema que não lhes compete resolver. A firma encarregue do condomínio, sempre muito solícita e eficaz por telefone, demorou dois dias a encontrar um profissional habilitado àquela reparação. Demorou outros dois dias a contratar uma empresa que conseguisse limpar aquela quantidade de excrementos e outras porcarias que as pessoas descarregam nas sanitas porque querem lá saber.
Ao final do quarto dia, o cheiro era insuportável. É espantoso como nestas construções modernas os isolamentos são tão frágeis. Parece tudo muito bem e muito bonito mas é só fachada, e basta rebentar a conduta principal para a porcaria acumulada se espalhar e obrigar a derrapagens em catadupa, deixando no ar a irrespirável recendência há anos acumulada.
Na minha casa nunca aconteceram destas aventuras de esgoto, mas na conduta do lixo o processo de evacuação de dejectos domésticos não é melhor. Os moradores não fazem separações e meia volta está tudo entupido. Mesmo depois de confrontados com a realidade dos factos e com o nauseabundo cheiro a podre, continuam a botar mais do mesmo.
É tal e qual como no nosso país. A podridão é avassaladora, mas em calhando poder escolher, dá menos trabalho deixar o esgoto ir vertendo e botar mais do mesmo.
(Imagem Google)