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Delito de Opinião

50 Anos, 50 Vultos

jpt, 27.02.23

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"50 anos, 50 vultos" (de portugueses), é uma iniciativa comemorativa do cinquentenário do mais-do-que-nunca lisboeta jornal "Expresso" (Medina e Moedas são dois dos escolhidos, haverá maior lisboetice do que esta?). Os critérios são sempre subjectivos, e a direcção do Expresso é soberana nesta selecção - até porque não prejudica nada nem ninguém neste seu rol, pois dele não vem mal ao mundo.
 
Eu é que, hiper-sensível, me acabrunho um pouco mais. Pois não é que os jornalistas escolheram um punhado de vultos do desporto, devido aos seus cometimentos e aos seus impactos na sociedade. Mas estes dois não estão. Das duas uma: ou a malta do "Expresso" não percebe nada daquilo a que se propôs. Ou eu estou muito velho. Ou, pior ainda, "ambas as duas...".

Os "príncipes dos povos"

jpt, 16.01.23

Um príncipe decidiu ("deu-lhe para...") reencarnar um seu pouco fiável antepassado e nisso casou com uma actriz estrangeira de terceira ordem, uma "corista de Paris" teria dito no seu tempo o velho Eduardo VII, o do nosso Parque, que sabia bem desse assunto... O "contexto" é quase tudo, os tempos mudam, as (muitas) décadas passam, e nisso as consciências e as barreiras sociais - mas ainda assim não é só isso que aparta este caso de um já nada recente casamento entre um obscuro príncipe de um minúsculo grão-ducado, mero paraíso fiscal feito recanto de veraneio e casinos, com a estrela de aspecto mais angélico de Hollywood, oriunda de família abonada e conservadora... E os locais, o tal "contexto", não são todos iguais, e como tal isto não tem o mesmo impacto simbólico de uma matrona viúva de uma silenciosa monarquia burguesa escandinava se casar agora com um gabiru norte-americano, de profissão xamã e o qual se diz reencarnação de príncipes africanos seus antepassados, um típico vetusto delírio new age...

Pois tudo isto se passou na monarquia europeia mais hierática - apesar do seu "compromisso histórico" com a pujante imprensa mundana, gerido com sábio, ainda que por vezes falho, músculo -, onde reinava a monarca mais prestigiada e porventura, até independentemente dos seus méritos pessoais, a chefe de Estado mais reverenciada do mundo. Tudo isto onde se amontoam os restos, até algo putrefactos, do maior império do mundo. Ou seja, não haveria melhor contexto para a sofreguidão mediática, ansiosa da (re)emergência de uns "príncipes dos povos", ainda por cima condimentados pelo picante "multicultural"...

A rota que seguiriam era óbvia - até para um desatento republicano meridional. O gemebundo casal encetou o destrunfar alheio com a ansiada "Carta Racial", valiosíssima nos tempos que correm, e nisso teve imediato sucesso - tanto que até lá da Casa Branca Biden fez constar o seu apoio por "tamanha coragem"... Os britânicos, e sua realeza, metidos na armada Brexit e na esperança de serem o mais dilecto aliado (ou mesmo qual o 51º membro), aguentaram o despautério do pós-Trump, assim em afronta alheada das relações internacionais.

Entretanto o jogo suspendeu-se um pouco, dada a morte da célebre avó das vítimas. Agora, para gáudio mundial, reiniciou-se o cartear. Em momento a solo o candidato a "príncipe do povo mundial" enceta a jogatana anunciando-se "caçador de afegãos", movimento algo paradoxal que até aos activistas apoiantes confundiu. Ao qual se segue uma panóplia de apostas cujos cabeçalhos fazem os referidos apoiantes duvidar da sua pertinência estratégica. Nem mesmo Biden lhe acorre. E em torno da mesa de jogo sussurra-se "mais valia ter insistido na carta racial", um "valor seguro"...

Enfim, qual será o próximo, e terceiro, passo? Na sala já correm as apostas...

Catar: Portugal-Suíça, o fim de uma era

jpt, 06.12.22

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O fim de uma era e o atavismo da imprensa prisioneira do entretenimento: enquanto tocava o hino, os fotógrafos cercavam o banco e Ronaldo.

Quanto ao jogo, e a esta campanha desta selecção no Mundial, já alcançados os quartos-de-final? Repito o que disse durante o último Europeu: "Como é óbvio contestei com vigor e sageza veterana o pendor conservador do nosso engenheiro seleccionador, antevendo uma deslustrada campanha sob tal "motorista". E elogiei a extrema capacidade do nosso engenheiro seleccionador - sempre avesso à fugaz embriaguês do espectáculo - montando uma equipa tacticamente irrepreensível, delineada para enfrentar os gigantes que se sucederão, e clarividente nas letais e oportunas alterações que decidiu, mostrando que iremos longe sob tal "motorista"."*

* Durante o Europeu-21 Fernando Santos definiu o seu papel como de "motorista" da selecção.

Um país esquizofrénico

Pedro Correia, 06.12.22

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A primeira página do Expresso da semana passada propicia-nos a imagem de um país esquizofrénico. Este, o nosso. Em que o «preço das casas tira 76 mil pessoas de Lisboa e Porto», em que «só 7% das empresas sobem salários ao nível da inflação», em que o «cabaz de alimentos nunca esteve tão caro» e em que até o presidente do grupo Jerónimo Martins reconhece que «muitos já não têm com que comprar» nesta doce nação agora no oitavo ano consecutivo sob a batuta de António Costa.

Isto por um lado. Por outro, com títulos colados a estes, celebra-se o «turismo em alta no Natal e no Ano Novo» e divulgam-se «126 ideias de sugestões e prendas». Uma dessas sugestões do Expresso pode adquirir-se pela módica quantia de 1420 euros - muito acima do salário médio de um português. É um elegante "cadeirão Harold", com «estofo aveludado em verde, com pés em nogueira e acabamento em mate». A perfeita prenda natalícia.

País esquizofrénico. Imprensa esquizofrénica também.

A imprensa e o "Terceiro Mundo"

jpt, 01.10.22

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Há dias houve (mais) dois episódios bem denotativos do ambiente, muito induzido, vigente nos espectáculos desportivos, que vai passando incólume diante da opinião pública  - que continua a considerar muito normal a "oposição" entre adeptos - e do Estado, apesar dos sucessivos governos produzirem declarações de boas intenções e, até, criarem "organismos" destinados à vigilância e pacificação desses espectáculos. Agora as coisas vieram mais para os escaparates dado que havia crianças envolvidas nos dislates, primeiro em Famalicão, depois no Estoril (como a fotografia ilustra). 
 
A ausência de repressão sobre a ralé clubista é notória, bem como o seu acarinhar, tanto pelas "instituições de utilidade pública" que são os clubes desportivos como pela imprensa, que se desdobra em mesuras e atenções para os "dirigentes" e actividades dessas faunas. E nisso há uma inculta incompreensão sobre as características (repito, muito induzidas) destes processos. 
 
Por isso tanto me chamou a atenção um postal do escritor moçambicano Luís José Loforte), que resume bem a ignorância da imprensa portuguesa que aflora o assunto. Pois há dias disse Loforte: "Nos jogos [de futebol] em Moçambique tenho notado que cada um vai com a camiseta do clube da sua predilecção e senta onde bem lhe apetece, ou onde a sua carteira lhe permitir, sem problemas e onde quer que seja. Foi pungente a imagem do menino português, adepto do Benfica, obrigado a assistir o jogo de tronco nu apenas porque estava entre adeptos do Famalicão. Mais triste ainda foi um jornalista [televisivo] a dizer: "Até parece um país do terceiro mundo!". E quando li tamanha burrice, conclui: como Moçambique, por exemplo!"
 
Não haja dúvida, uma imprensa do "Terceiro Mundo". E uma tutela estatal sobre o desporto que é do "Terceiro Mundo". Isto para se falar de forma a que esta ignorante gente perceba...

O Prémio Pessoa

jpt, 28.07.22

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Não deixa de me provocar um sorriso, isto do jornal "Expresso" (imprensa dita "de referência") e do banco público Caixa Geral de Depósitos, patrocinarem um prémio - dito como destinado a personalidades de grande relevo artístico, cultural ou científico - atribuível a um tipo que não só clama pela necessidade de mais exorcistas como protege pedófilos.

Isto, em termos empresariais, seria uma catástrofe. Se não fosse em Portugal.

500 anos de colonialismo

jpt, 12.07.22

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Eu não assino os jornais (nada tenho contra eles, é apenas devido à escassez do vil metal...). Assim, do que não está em acesso livre, vejo os títulos, cabeçalhos e - por vezes, quando são disponibilizadas - as introduções dos artigos. É deste modo que agora - via um cabeçalho do "Público" - vou ao "Expresso" (a imprensa de "referência") onde um afamado colunista, representante da "esquerda", bota o seu juízo sobre o ex-PR angolano Santos. Ancorando as suas práticas nos efeitos de "500 anos de colonialismo"...
 
Ora perorar sobre "500 anos de colonialismo" é, pura e simplesmente, uma indigência intelectual. Ou ignorância alarve ou aldrabice alarve, em plena "imprensa de referência". Mas o que é verdadeiramente pungente nem são as décadas que os jornais passam a acolher esta tralha. São as décadas que os leitores, energúmenos, passam a ler isto.

O dialecto bantu

jpt, 28.05.22

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Leio o "Público", o que me é raríssimo (por hábito limito-me a ler as colunas semanais de Ana Cristina Leonardo e de António Guerreiro). Mas a edição de hoje dá um enorme destaque a Paulina Chiziane, com entrevista. Por isso acorro ao papel, a ver o que diz a Paulina. E deparo-me com a introdução do jornal, enquadrando-a, nisso dizendo-a falante "do dialecto bantu". Em 2022!!!! E logo no boletim da demagogia "póscolonial"....!!!
 
Diante disto logo clamo, em monólogo altissonante, citando Milhazes!!!
 
E depois atirei o jornal para longe, entre outras imprecações. Lá para domingo ter-me-á passado a irritação e irei ler, curioso do que disse a Paulina. Em dialecto latino, presumo...
 
Adenda: em contributo para a agenda de "reparação da História", tão cara à célula neo-comunista do "Público", deixo a certeira boutade divulgada por Max Weinrich, "A língua é um dialecto com exército e marinha".

Liberdade de Imprensa

jpt, 22.05.22

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A organização "Repórteres Sem Fronteiras" organiza um anual Relatório de Liberdade de Imprensa Mundial. Este ano coloca Portugal no 7º lugar em termos de liberdade de imprensa, num universo de 180 países. É muito bom (e sobre isto será de ler um texto de António Barreto, num contentamento sem triunfalismos).
 
Não quero deixar de referir o quanto esta avaliação sublinha a hipocrisia e a desonestidade intelectual (ou seja, pessoal) da amálgama de intelectuais (académicos, quadros, jornalistas, colunistas) comunistas ("brejnevistas" e "esquerdistas") que vêm reclamando serem "perseguidos" e "criminalizados" devido à sua adesão ao imperialismo russo. Pois, como isto comprova - se tal fosse necessário - publicam as suas "teses" onde e quando querem. E seguem desprovidos de pingo de vergonha que seja...

Hoje é dia de

Maria Dulce Fernandes, 03.05.22

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Celebramos neste dia 3 de Maio O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.

 

"O objectivo deste dia é sensibilizar os líderes políticos e os cidadãos em geral para a defesa da liberdade de imprensa - elemento essencial para o desenvolvimento de uma sociedade. Também se presta homenagem aos profissionais do sector da imprensa que morreram enquanto desempenhavam as suas funções.

Este dia foi criado na 26.ª Sessão da Conferência Geral da UNESCO, em Paris, que ocorreu em Outubro e Novembro de 1991."

 

"Se pudesse decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último."

( Thomas Jefferson)

 

O melhor indicador de uma democracia saudável é a sua imprensa. O jornalismo de investigação é seguramente a pedra de toque de toda a informação. A isenção, o rigor, a competência para avaliar e reflectir, e sobretudo a perspectiva de aproximação e divulgação da notícia, são os braços da  balança da democracia.

Ocorrências que chegam ao conhecimento do público do outro lado do mundo, por exemplo, em directo ou diferido em minutos, não seriam possíveis num regime totalitário onde a imprensa é controlada pelo estado, cujo crivo azula os acontecimentos à medida dos seus interesses.

Nunca me esquecerei daquele dia 17 de Janeiro de 1991, quando Peter Arnett, da varanda do seu hotel em Bagdad, transmitiu pela primeira vez para o mundo, através da CNN, a guerra em directo.

Sem grilhões e com fé no futuro, a informação continuará a espraiar conteúdos com justeza e exactidão.

 

(Foto do Google)

Azeredo Lopes

jpt, 02.03.22

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Abaixo referi esta tendência de colocar os políticos a fazer comentários nas televisões, com evidentes efeitos de incompetência analítica e de subordinação da informação às agendas político-partidárias. Encontro agora no Twitter uma nota que sublinha esta situação absurda: o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, aceitou muito recentemente ser absolvido de um processo judicial dado que o juiz o considerou intelectualmente incapaz para compreender um mero documento sobre um crime decorrido na sua tutela. 

Ainda assim, apesar de ele não ter instaurado um recurso refutando a consideração exarada pelo tribunal daquela sua menoridade intelectual, é convidado pela TVI para comentar uma questão militar com a complexidade da guerra entre Rússia e Ucrânia.  

Isto é absolutamente ridículo e mostra bem a perversão desta colonização da informação pelo pessoal político.

Retrato do país em sete títulos de jornal

Pedro Correia, 28.01.22

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               Expresso, 17 de Setembro                                             i, 16 de Dezembro

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           Público, 17 de Dezembro                                         Público, 18 de Dezembro   

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                     Expresso, 23 de Dezembro

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               Público, 24 de Dezembro

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                 Jornal de Notícias, 19 de Janeiro

O "Expresso" e os ataques ao jornalismo

jpt, 07.01.22

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Passado o Dia de Reis estamos livres das benevolências próprias às dos "adoradores da Páscoa". Ou seja, podemos ser nós próprios. Usando os nossos pecadilhos. E, acima de tudo, assumindo os nossos pecados. Acima de tudo o da Ira..., quantas vezes desmesurada, o verdadeiro frémito assassino.
 
Vem-me este pois nos últimos 27 anos o PS esteve 20 anos sozinho no poder. E o jornal "de referência" Expresso, a três semanas das eleições, enceta o ano com esta capa servil. E ainda clama contra "ataques ao jornalismo". A classe média funcionária compra. E aprova...

Rio Vs Ventura

jpt, 03.01.22

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Li que há colunistas na imprensa de "referência" (aos quais muitos chamam "jornalistas", talvez por escreverem em jornais, mas não posso afiançar que seja essa a razão) que andam a "dar notas" aos políticos que vão aos debates televisivos desta (pré-)campanha... Terão, presumo, a frustração de não serem professores, terão ambicionado ser pedagogos, da "Nação" pelo menos, e mimetizam o que  julgam ser constitutivo dessa actividade. (Desconhecerão que avaliar alunos é, de longe, a parte menos interessante e frutífera da docência). E, mariolas que são, já agora adianto, dão melhores notas aos "alunos" que preferem, um verdadeiro pecado venial...
 
Estive agora a ver o embate entre o dr. Rio e o prof. Ventura. Como é óbvio não classificarei os "alunos", fui professor o tempo suficiente para sossegar essa minha ambição. Mas também eu tenho as minhas frustrações, algumas das quais já anunciei, e outras terei deixado subentender. Entre elas segue vigorosa, e até dolorosa, a minha ambição de ser comentadeiro da bola.
 
E por isso sobre este embate ajuizarei: Aconteceu Taça!

FP-25

jpt, 29.12.21

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Enquanto alguns intelectuais e vários jornalistas se afadigam para "refazer" a História, tornando-a "exacta", querendo afrontar o que dizem "silenciamento" e "falsificação" do passado, e nisso considerando que as formas como entendemos o real e nele actuamos são simples reflexos das maldosas mundivisões de Bartolomeu Perestrelo, Gomes Eanes de Zurara e coevos facínoras, em 2021 assistiu-se a um curioso esforço colectivo de "desenvendamento", de "reescrita da História", com o evidente propósito de nos desalienar, de nos tornar mais capazes de interpretar o real, de entender os ideais vigentes e as categorias intelectuais que comandam as práticas dos agentes sociais na actualidade. Curiosamente nenhum desses intelectuais e jornalistas avessos aos aparentes proto-sorelianos Duarte Barbosa, João dos Santos ou João de Barros, se associou a este movimento de esclarecimento histórico.
 
Falo da publicação de vários textos dedicados às FP-25, dirigidas pelo entretanto falecido Otelo Saraiva de Carvalho, e aos múltiplos ecos que esses textos tiveram. O que terá servido, espero eu, para derrubar o esforço falsificacionista de uma certa intelectualidade da esquerda - alheia ao PCP - que sempre usou a glorificação desse indivíduo para reclamar o monopólio do ideal democrático entre aqueles que adeptos da insurreição armada avessa à democracia liberal. Nisso falsificando a História recente de Portugal, procurando apagar a realidade do terrorismo assassino de que aquele Carvalho foi líder.
 
Claro que há renitentes em enfrentar tal situação. À minha pequena escala também o assisti: entre outros textos dedicados ao falecido terrorista, botei sobre um académico do CES de Coimbra que continua o esforço de falsificação histórica, elidindo o terrorismo de Carvalho e reduzindo os que nisso atentam a adversários da democracia, e notei o total silêncio dos pares de Coimbra (e da comunidade universitária nacional) diante de tal dislate. E a esse propósito logo tive aqui [no meu mural de FB] um lusomoçambicano, antigo (se é que há "antigo" nestas coisas) agente da SNASP (a polícia política da I República moçambicana) a chamar-me "fascista", no que foi secundado por gente com algumas similitudes biográficas, entre as quais antigas (mas não futuras) visitas de minha casa. Num verdadeiro caso de admiração pelo terrorismo que bem mostra que "les beaux esprits se rencontrent"...
 
Esta longa introdução "desabafante" vem a propósito de um belo texto agora publicado pelo "Observador" dedicado à história das FP-25: "FP-25 de Abril: As Bombas, as Balas, e os "Inimigos a Abater". Trata-se de um bom trabalho de investigação, que não deixa campo para os que insistem na elisão da dimensão daquele processo, e ainda nos mostra como alguns desses terroristas continuam na actualidade vinculados aos mesmos ideais de insurreição armada - sabendo nós também que alguns deles ocupam postos nas listas eleitorais do BE e cargos de relevância universitária.
 
Deixo ligação para o excelente artigo de leitura recomendável - para não cair no sempre irritante imperativo do "leitura obrigatória". Chamo a atenção para que tem um belíssimo grafismo, o qual torna ainda mais apetitosa a leitura. E, muito relevante, é de acesso livre. Ou seja, serviço público. Em prol da democracia. E nisso avesso aos intelectuais e jornalistas aldrabões, carpideiros do "otelismo". E, também, decerto, avesso aos agentes da SNASP e seus apoiantes.

CNN Portugal

jpt, 28.12.21

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Há algumas semanas uma estação televisiva portuguesa - há pouco adquirida por um colectivo polarizado por um industrial dos transportes com propaladas ligações ao poder político - atribuiu um dos seus canais ao molde de negócios "franchising", alocando-o ao rótulo CNN. Fê-lo com alarido, a pompa e a cerimónia da gala pirosa, e o vasto apregoar de Doutores comentadores apresentados como "vozes livres e independentes". E logo continuou o seu rumo noticioso que, dizem-me amigos atentos, segue afável para com os poderes incumbentes.
 
Aquando da "abertura" do canal - de facto, um mero "face-lifting" - muita gente, até minha amiga, jornalista e não só, reparou no assunto e saudou a chegada do que se aventou como uma diferente forma de jornalismo televisivo, mais intensa e abrangente, mais problematizadora, se se quiser, ecoando alguma competência e o perfil da estação-mãe, a já velha CNN americana.
 
Hoje o popular SLB mudou de treinador. O tal canal-franchising esteve (pelo menos) entre as 13.45 e as 14.45 a falar do assunto (julgo que antes já estaria, e que terá continuado, apenas refiro o período em que a minha tv esteve ligada), focando a sala de imprensa do Benfica, vazia, enquanto um vasto painel de comentadores dissertava sobre o assunto, tudo emoldurado por um banda sonora repetitiva, um instrumental potenciador de ansiedade. Após as "importantes" declarações, ainda que curtas, do presidente e do treinador de futebol, o painel perorou durante alguns minutos sobre o verdadeiro conteúdo do abraço que ambos haviam trocado.
 
Ou seja, e goste-se ou não da CNN original, em termos de "franchising" isto é o mesmo do que um tipo ir a um Burger King português e comer bacalhau à Brás ou rojões à moda do Minho. Ou, para me centrar no "franchising" na imprensa portuguesa, comprar a National Geographic portuguesa e encontrar uma revista de tipas nuas ou o Le Monde Diplomatique português e receber uma revista de culinária. Por outras palavras, este canal da TVI é uma pura fraude. E são fraudulentos todos os tais Doutores comentadores que ali são colaboradores avençados (de facto sendo colaboracionistas em tamanha fraude).
 
Mas isso ainda é o menos... O que realmente me irrita é a patetice desses que eu conheço que ainda atentaram, saudaram e até aventaram sucessos, a esta tralha mais-do-que-anunciada. Como saberão os que por aqui passam, elementos femininos da minha família vedam-me o uso público do vernáculo. E não será em plena quadra festiva, ainda a 10 dias do libertador Dia de Reis, que vou agredir essa vontade das que me são tão queridas. Por isso fico-me com esta invectiva, dedicada a esses amigos ainda apatetados: ide comer filhoses!! E interpretem-na, à invectiva, como deve ser, pois ida de mim.

Júlio Isidro e Paulo Dentinho

jpt, 04.12.21

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O Paulo Dentinho é um jornalista da RTP que, entre inúmeras outras tarefas, foi correspondente em Moçambique entre 1997 e 2000, papel no qual se muito se notabilizou. Foi então que nos conhecemos. E, decerto que pelo gosto nas memórias dessa época, de vez em quando tem a paciência de me aturar à mesa, local onde peroramos sobre os bens e os males do mundo.

O Dente é um grande repórter - o que se nota ainda mais num país onde escasseia esse tipo de profissional. E é um gajo porreiro, algo que em alguns segmentos da vida também escasseia. Enfim, há alguns anos um governo dito de "centro direita" - e o qual ele zurzia sistematicamente, algo "gauchiste" que segue - convidou-o para chefiar a informação do canal estatal, coisa inusitada no país que somos. Funções que exerceu durante alguns anos, seguindo com evidente sucesso a sua deontologia de "jornalista não amestrado". Passados alguns anos um outro governo, dito de "esquerda", substituiu-o, o que é normal dado não serem eternos os cargos. E por ser conhecido o apreço possidente pelos "amestrados", funcionários ou avençados. E a RTP emprateleirou-o, o que já não me parece assim tão normal. Ainda que seja, sabe-se, habitual.

Assim vai ele fazendo um belo programa sobre as actualidades do mundo, debatendo-as com um painel de jornalistas estrangeiros - e sem esses "comentadores" de agenda feita, tudólogos que abundam alhures. O programa passa num horário esconso num canal quase incógnito, claro! E entretanto escreveu um belo livro, as suas memórias de 30 anos de reportagens internacionais, nas quais habita uma reflexão sobre o actual estado do jornalismo luso: é o "Sair da Estrada" (aqui botei um postal sobre o livro). 

E agora mesmo, até porque é um jovem sexagenário (e, repito, emprateleirado pelas chefias, assim algo disponível para registos coloquiais mais distendidos) deu uma interessante "entrevista de vida" ao programa "Inesquecível" de Júlio Isidro na RTP.... Memória. É uma belo momento, com uma hora de duração, percorrendo a sua longa carreira e com o bónus da produção do programa ter feito uma vasta selecção de imagens de arquivo das suas reportagens. Sons e imagens de outras décadas... 

Fica aqui a ligação à entrevista, para quem tiver interesse e tempo.

No limbo

jpt, 02.12.21

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Interrompo-me, bebo um chá escaldante enquanto enrolo o Amber Leaf e o fumo. Ligara a tv a ver como segue o mundo. A Deutsche Welle repete uma entrevista de ontem do antigo Primeiro-Ministro belga e actual deputado europeu Guy Verhofstadt - que alguns dos meus "amigos-FB"/leitores de blog rugirão como um "tipo da direita" e outros clamarão como um pérfido "eurocrata federalista". Fala ele, de modo que eu direi veemente e evidente, sobre impasses e necessidades da União Europeia, sobre possíveis reformulações na prática e na arquitectura institucional e nas políticas (de migração, de defesa, de reforço dos "Estados de Direito", etc.). Fala com uma acutilância e pertinência que nunca ouvimos em qualquer político português, eurodeputado ou outro... Deixo a ligação (25 minutos riquíssimos) para quem tenha interesse bem para além dos obscurantistas epítetos em que os doutores lusos são useiros e vezeiros.
 
Termina esse programa "Conflict Zone" e segue-se o noticiário das 9 horas. Abre com a notícia de que na Alemanha o governo determina fortes restrições devido ao Covid-19 enquanto centenas de cientistas pedem o confinamento total. Apago o segundo Amber Leaf (já chega, a esta hora) e - sarcasmo mudo - vou ver o que se passa naquela "nova" estação televisiva portuguesa, onde pululam "vozes livres e independentes". Ali o noticiário também abre com o Covid-19... pois o capitão Coates acusou positivo e há que dissecar os efeitos disso no Benfica-Sporting de amanhã.
 
Sorrio, nem entristecido. Pois são já décadas de constatação deste mediocridade. E sigo até ao 107 (Stingray Classic) e está "How to get out of the Cage - a year with John Cage", algo que exige atenção exclusiva. Gravo, para quando voltar aqui. Sigo ao 112 (um dos Mezzo) e deixo estar.
 
E venho aqui apenas para botar: o ataque ao pluralismo opinativo necessário à democracia liberal - que não é aquilo que os neo-comunistas identitaristas e os democratas clientelistas querem - não está nas redes sociais (ou no Algoritmo do FB, como o próprio Verhofstadt clama). Está na estuporização estuporizadora da imprensa, nesse Algoritmo que são as direcções de informação e seus mandantes. E nos políticos que nesse limbo elegemos.