Há quem concorde, há quem discorde. Entre os que discordam, destacam-se aqueles que apontam para a escolha deste dia concreto, de óbvio vazio governativo. É sempre mais fácil - e muito menos eficaz - paralisar o trabalho em tempo de impasse, quando o Executivo ainda em funções já não manda nada e o que há-de vir ainda não está indigitado. Nem se sabe com estrito rigor qual será a sua cor política, a identidade dos seus futuros elementos ou a data da tomada de posse.
De qualquer modo, espero que a greve funcione como alerta para aqueles que lamentam a proliferação desenfreada de aldrabices nas redes e o enfraquecimento dos jornais e do jornalismo, mas não dão um avo para pagar aquilo que consomem de borla pelos dispositivos electrónicos. Condenando assim centenas de jornalistas à penúria e ao desemprego. E contribuindo, no limite, para o fim do jornalismo.
Podiam ajudar? Claro que sim. Numa espécie de militância cívica. Cada vez mais premente, cada vez mais inadiável.
Basta assinar um jornal ou uma revista informativa. Um só, entre tantos títulos disponíveis. Em papel ou digital. E recusar receber versões pirateadas desses títulos que abundam por aí, em clippings organizados - às vezes até oriundos de chancelas oficiais - que vão contribuindo para conduzir tantas empresas jornalísticas à falência. Começando pelas empresas de âmbito local ou regional.
O salário médio dos 5300 jornalistas oficialmente credenciados - 80% dos quais com formação superior - não ultrapassa 1225 euros mensais. Abundam jovens em início de carreira a receber menos do que o salário mínimo. Muitos profissionais veteranos e conceituados levam para casa menos de 1500 euros ao fim do mês.
Todos trabalham muito mais horas do que a lei estipula e do que as mais elementares normas de prevenção de saúde física e mental recomendam.
O trabalho dos jornalistas deve ser recompensado, o esforço financeiro dos investidores deve ter retorno.
Se cada um de nós subscrever um periódico à nossa escolha já faz muita diferença. Para melhor.
É o que faço. Sou incapaz de recomendar aos outros aquilo que não pratico.
Quando deixar de haver jornais, quando o jornalismo chegar ao fim, esses mesmos que em nada contribuem para a qualidade da informação, pagando-a, passarão a receber apenas memes idiotas, muitos vídeos com gatinhos e uma brutal enxurrada de lixo desinformativo através dos mesmos dispositivos electrónicos.
Então protestarão: vão querer de volta o rigor informativo.
Mas aí já será demasiado tarde.
Não há almoços grátis. E o que é barato sai caro. A qualidade paga-se. Ou desaparece de vez.
Na Universidade Católica as suas associações dos alunos de Estudos Políticos e de Direito promovem um ciclo mal intitulado "Conversas Parlamentares" - porventura alçando-se a constituírem elas próprias um parlamento, através da elisão de um simples "com...". Enfim, petulâncias juvenis que fazem parte do crescimento.
Esta semana convidaram o parlamentar André Ventura, o qual acedeu a participar. Como basto noticia a imprensa, um jornalista do Expresso foi trabalhar a essa actividade. Alguns estudantes - decerto que com alguma participação na organização - decidiram expulsar o jornalista. Apenas o "removeram", afirmam, com desfaçatez sob caraça de candura. Ou seja, agrediram-no: impediram-no de fazer um legítimo ofício, agarraram-no e puseram-no fora da sala.
A tentação de acusar o inflamado orador Ventura logo vingou na imprensa. Acusam-no de não ter evitado a situação - o que não lhe competiria, pois ali convidado, ainda que pudesse ter matizado os ânimos estudantis se deles tenha tido percepção, até dado o seu estatuto professoral para além de político. Acusam-no também de ter um segurança que mandou uma "boca" ao jornalista. E acusam-no até de antes ter escrito no actual "X" que é preciso meter na ordem os jornalistas - associando-se nessa vertigem ordenadora ao seu presidente parlamentar, Santos Silva, que antes apelou a que pusesse na ordem os do Ministério Público. E esse desígnio de Ventura nada inova entre os seus pares, pois é consabida a tradicional vontade dos incumbentes em impedirem as "perguntas do Correio da Manhã...".
Julgo que neste caso o afã condenatório sobre Ventura - como se não houvesse outras suas diatribes passíveis de serem apontadas - não vinga. Não só por ter sido um seu assessor que "safou" o jornalista, isto para além de ter sido o próprio partido a divulgar/convidar a imprensa para acompanhar a actividade. Mas porque o relevante aqui é a atitude intelectual dos estudantes.
A Universidade Católica tem fama de ser uma instituição de excelência. Como tal é deveras surpreendente que os seus alunos - ainda para mais participantes nas organizações das suas associações de estudantes, o que não implicando serem dos "melhores alunos" os indicia como empenhados e atentos - de Ciência Política estejam imbuídos de tamanha aversão pela democraticidade da sociedade, que tem como item fundamental a liberdade de informação. Demonstrada não só no episódio até rocambolesco da "remoção" do jornalista em causa, mas mais ainda no atrevido propalado propósito de organizar sessões com políticos fechadas à imprensa. É este tipo de gente que a Universidade Católica licencia em Ciência Política, é este o ambiente intelectual que os currículos e a docência de Ciência Política na Universidade Católica promove? Mais ainda, é este tipo de organizações públicas fechadas à comunicação social que o Instituto de Estudos Políticos induz e acolhe? Quase o mesmo se poderá dizer quanto aos estudantes de Direito - ainda que o vínculo das Ciências Jurídicas com a democraticidade não seja tão linear como o é o da Ciência Política vigente em regime democrático. Mas neste caso há outra dimensão, pois o que se assiste é que os estudantes de Direito da Universidade Católica se dedicam, sem pruridos, a violar a lei nas instalações da sua universidade. E não se trata de ilegalidadades do foro privado, meros deslizes pessoais, aquilo dos "vícios privados, públicas virtudes". Pois estamos diante de "vícios públicos", crimes públicos, isto de um "arreda" ao jornalista, de o "sacudir". Dá a sensação de que algo de podre está naquelas docências, a promoverem estas consciências...
Quanto ao resto, notei uma minudência a caminho de majordência: foi noticiado que um dos rapazolas mais vigorosos na sacudidela do jornalista é militante da... IL. Talvez conviesse apurar a veracidade disso. E caso seja verdade que alguém pondere se tais actos são ... liberais.
Grande entrada de Moçambique no CAN, com vitória (2-1) ao favorito Egipto de Salah (que tem como seleccionador Rui Vitória...). Avante Mambas!
(Aqui fala-se muito do estado económico da imprensa, da falta de audiências a arrombar os jornais e revistas. Há três diários desportivos, com "sites" sempre em busca de "novidades". Nenhum tem o mínimo destaque ao CAN, nenhum informa sobre este jogo em cima do momento. Apesar de Rui Vitória e de vários jogadores que actuam em Portugal. Apesar de tudo o resto... Depois queixam-se, mas nunca da inércia própria)
Adenda: mal deixo o postal avisam-me que já em descontos longos os malvados egípcios acabaram por empatar o jogo. Já pensava ter acabado o jogo, que acompanhara via publicações de amigos no FB... Mas serve para sublinhar a molenguice dos jornais desportivos (entretidos a darem notícias sobre o futebol grego ou hipotéticas transferências de jogadores desconhecidos entre clubes distantes...)
Aqui reproduzo o "lamento" do "jornal de referência" Público - ontem emitido numa rubrica curiosamente chamada "coluna do provedor" - por não ter noticiado o assassínio de João Chamusse, jornalista moçambicano, acontecido no passado 14 de Dezembro. A razão (desculpabilizadora) apontada remete para que o único jornalista daquela empresa que atenta sobre "África" estava de folga e a LUSA não ter noticiado o facto.
Retiro algumas conclusões: 1) na própria madrugada do acontecido recebi a notícia por WhatsApp. Compungido, de imediato lamentei o facto no Delito de Opinião. Assim disto retiro a primeira ideia, até mais privada: no Público não lêem blogs (e porventura também se isentam das "redes sociais"), decerto que por serem vis locais de "fake news" e populismos (que não os identitaristas); 2) naquela casa um assassínio de um jornalista se este africano é um assunto de "África", decerto que ao invés do que se for americano, asiático, oceânico ou europeu, porventura devido às tais questões de "identitarismo", dir-se-á racial neste caso; 3) os serviços em português da DW e da RFI logo noticiaram o assassínio, o que mostra que no Público não se lê a imprensa gratuita internacional; 4) no mesmo dia o "popular" e "populista" Correio da Manhã noticiou o facto ecoando a nota da LUSA, o que demonstra que no Público não só não se lêem os outros jornais portugueses como se indevidamente apontam falhas a agências noticiosas conterrâneas (e colegas) para se desculparem, bem a posteriori, desinteresses próprios.
Este é o estado do jornalismo de "referência". Do seu exercício e da sua provedoria.
New York Times foi reproduzindo propaganda do Hamas, em versões diferentes, na sua manchete digital
A 17 de Outubro, o New York Times engoliu a propaganda do Hamas - via Al-Jazeera - dando nota de que Israel tinha "bombardeado" um hospital na Faixa de Gaza e provocado ali "mais de 500 mortos". Número redondo, para ter ainda mais impacto, e que lamentavelmente alguma imprensa de referência reproduziu de imediato, em cascata, a partir daí. Acriticamente, sem nada questionar, como se estivesse perante uma fonte credível, independente e desinteressada.
Nem faltou, logo a seguir, uma "conferência de imprensa" debitada pelo «Ministério da Saúde de Gaza" (totalmente controlado pelo Hamas) com médicos envergando imaculadas batas brancas, munidos de um púlpito e bem iluminados por luzes de projectores e holofotes (aparentemente sem o menor receio de voltarem a ser "bombardeados", com toda aquela sinalização luminosa a meio da noite).
Tresandava a aldrabice. Fake news, como se diz agora. Mas os papagaios de turno repetiram-na até à exaustão. Procurando derrotar Israel na guerra da propaganda, em benefício dos terroristas do Hamas, que têm inscrito na sua carta de princípios o mandamento de que é preciso «matar judeus» seja onde for e quando for.
Ontem, num inequívoco gesto de honestidade intelectual, o mais influente diário norte-americano reconheceu ter errado. Numa nota editorial sobre o assunto, que passo a citar na íntegra até pelo seu valor documental:
«On Oct. 17, The New York Times published news of an explosion at a hospital in Gaza City, leading its coverage with claims by Hamas government officials that an Israeli airstrike was the cause and that hundreds of people were dead or injured. The report included a large headline at the top of The Times’s website.
Israel subsequently denied being at fault and blamed an errant rocket launch by the Palestinian faction group Islamic Jihad, which has in turn denied responsibility. American and other international officials have said their evidence indicates that the rocket came from Palestinian fighter positions.
The Times’s initial accounts attributed the claim of Israeli responsibility to Palestinian officials, and noted that the Israeli military said it was investigating the blast. However, the early versions of the coverage — and the prominence it received in a headline, news alert and social media channels — relied too heavily on claims by Hamas, and did not make clear that those claims could not immediately be verified. The report left readers with an incorrect impression about what was known and how credible the account was.
The Times continued to update its coverage as more information became available, reporting the disputed claims of responsibility and noting that the death toll might be lower than initially reported. Within two hours, the headline and other text at the top of the website reflected the scope of the explosion and the dispute over responsibility.
Given the sensitive nature of the news during a widening conflict, and the prominent promotion it received, Timeseditors should have taken more care with the initial presentation, and been more explicit about what information could be verified. Newsroom leaders continue to examine procedures around the biggest breaking news events — including for the use of the largest headlines in the digital report — to determine what additional safeguards may be warranted.»
Traduzo a frase sublinhada:
«Os editores deveriam ter sido mais cuidadosos na divulgação inicial e mais explícitos sobre o tipo de informação realmente confirmada.»
Rectificar quando se erra é um imperativo deontológico, ético e moral. Que o New York Times cumpriu, embora com vários dias de atraso.
Falta agora que a líder do Bloco de Esquerda faça o mesmo.
Convém recordar aquilo que Mariana Mortágua se apressou a verter na rede social X, ecoando - também ela - as trombetas da propaganda do Hamas:
Quando há mais de um quarto de século fui viver para Moçambique a RTP-África emitia há pouco tempo. Durante os primeiros anos várias vezes falei - até profissionalmente - sobre o seu conteúdo. Não sobre a dimensão dos seus recursos e a forma como eram patentes no conteúdo, nem sobre a competência dos seus quadros. A questão sempre me foi a pertinência do olhar, da programação. Pois então sempre me pareceu uma RTP-I - esta vocacionada para os emigrantes (como então se chamava à agora dita "diáspora") portugueses, polvilhada com alguns núcleos "para africano ver"... Ou seja, não uma questão de falta de recursos mas sim de alguma preguiça conceptual. Os anos passaram, deixei de ver. Depois voltei a Portugal, nem atentei ao seu estado.
Anteontem houve eleições municipais em Moçambique. Não tenho acompanhado a política do país, não atentei neste processo eleitoral. Mas ontem - numa rápida incursão no FB - li notícias e opiniões que algo me surpreenderam. Os partidos da oposição - que eu julgava em crise - clamam vitória em algumas das grandes cidades do Centro e do Norte, em várias das quais já tinham o poder autárquico (Beira, Nampula, Quelimane), o que não é surpreendente - mas muito o é a notícia da detenção do presidente de Quelimane, entretanto já libertado, algo que faz temer desatinos pós-eleitorais. Tal como não será de estranhar a vitória do Frelimo no Chimoio, ao que consta ancorado na excelência do seu candidato, presidente em exercício. Mas o verdadeiramente surpreendente é que o Renamo reclama vitórias, até expressivas, no Maputo e na Matola. O que, a acontecer, seria uma tremor de terra político.
Assim sendo, a curiosidade venceu-me. Ao levantar-me vim procurar notícias. A imprensa portuguesa privada, dita de "referência" (dn, publico, expresso, observador) nada diz sobre a matéria - apesar de todos esses de quando em vez albergarem uns doutores, proto-Milhazes africanistas, a perorarem sobre a grandeza da lusofonia, as "valências" da CPLP, as relações privilegiadas, etc...
Avancei então para um café diante da televisão. Desiludo-me ao perceber que o moçambicano STV desapareceu do meu painel de canais. E vou até ao serviço estatal, a RTP-África,. Entre as 7 e as 10 horas daqui - a alvorada nos diferentes fusos horários em África, a hora em que as pessoas ouvem notícias, a rádiotelevisão - a RTP-África emite o programa "Bom Dia, Portugal". Ouço notícias sobre um documentário sobre Messi, outra sobre Emerson Fittipaldi, e uns incêndios em Portugal. Recuo a emissão e o teor é similar.
Enfim, quase 30 anos de emissões dedicadas aos... países africanos de língua oficial portuguesa. E a RTP-África continua isto, uma desadequação. Modorrenta, descalibrada. Às custas do dinheiro dos impostos, não esquecer.
Bebo o café, volto ao computador. E vou ao privado Facebook, do magnata capitalista Zuckerberg, tão menos virtuoso do que o Estado português. E avanço para as páginas de informação moçambicanas que lá estão alojadas.
A fachada frontal da Assembleia da República iluminou-se, esta quarta-feira, com as cores azul e branca da bandeira de Israel. O acto, proposto pelo Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Israel, foi aprovado por PS, PSD, Chega e Iniciativa Liberal. O PCP e o BE votaram contra. Pelo que li, interpreto que o PAN e o Livre se tenham abstido.
Se observarmos a distribuição dos deputados, podemos concluir que de entre os 230 deputados da AR, esta proposta foi votada favoravelmente por 217 (94,3%) e contra por 11 (4,7%).
No actual Portugal não há qualquer razão para desvairos regicidas, simbólicos que sejam, ou matafradismos. Somos uma república sossegada, num Estado suficientemente laico, que integra uma simpática e tradicional família Bragança, esta necessariamente algo conservadora e decentemente benfazeja. E um casamento nas suas hostes é algo a acolher com apreço, num bem hajam todos, noivos, familiares e amigos.
Já outra coisa são os sonsos acompanhamentos mediáticos, numa descarada propaganda política e ideológica, feita de ignorância e atrevimento. A imprensa - desde a histriónica TVI, a do "Manel Luís....", ao nada liberal jornal "Observador", passando por vários outros "órgãos" - regurgita de notícias sobre o "casamento real". Repito, bem hajam os noivos, suas famílias e amigos, bem como aqueles alguns que hoje acorreram ao adro do "Calhau". Mas não é um "casamento real" e cada jornalista que o escreve, bem como cada um dos directores que aprovam esses títulos, são meros energúmenos aldrabões. "Energumenice" que é assim partilhável, dada a arreigada conivência, por todos os seus colaboradores (desde os ufanos gratuitos nos nada liberais jornais - pois não pagam as "colaborações", avessos que são às leis do "Mercado" laboral - até aos doutores comentadores que acorrem aos "paineis comentatórios" televisivos). Sobre essa reles propaganda política - e os descarados louvores à "causa monárquica" papagueados em plena televisão - nem vale a pena dizer mais...
E há ainda a mais perversa, abjecta até, propaganda ideológica, a "santificar-se" na água benta clerical e no encanto da celebração do amor conjugal. Ao que diz ele vindo de Óbidos, na TVI - e enquanto comenta o cerimonial - um padre muito afectado, vogando no típico sotaque pose do invertido burguesote, apelida as "costureiras" como "povo simples".
É preciso argumentar sobre isto? Convocam-se patriarcas, cardeais, bispos, presidentes e primeiros-ministros, condecorados avulsos, embrulham-nos num monumento "património", e mete-se a televisão a tratar os cidadãos telespectadores como "povo simples"?
Não sou nenhum Buíça, para mim um tipo quase tão repugnante como o asqueroso Otelo, ainda que mais corajoso - passe o anacronismo. Mas impõe-se um bom palavrão nas fuças do padreca adamado. E, já agora, outro nas dos jornalistas que ecoam este tipo de mundividência a propósito do matrimónio dos simpáticos jovens cidadãos que hoje casaram em Mafra. Recém-casados "simples", concidadãos de todos nós, costureiras que somos.
O Portomosense assinalou há poucas semanas a sua milésima edição. O que para uma publicação de amplitude nacional seria um facto merecedor de registo, é neste caso um feito de extraordinária dimensão.
Escrevo estas linhas num tempo em que a imprensa livre vive ameaçada. A digitalização da informação banalizou o acesso a conteúdos aparentemente noticiosos e aparentemente gratuitos. Na palma da mão recebemos as últimas novidades e acontecimentos e, juntamente com elas, a ilusão de que estamos bem informados. Quando a intenção de quem produz a notícia, é simplesmente angariar muitas visualizações, a verificação dos factos descritos perde a importância. Para isso, usam-se títulos contundentes, mostram-se fotos chocantes, exploram-se as tragédias e, se isso for necessário, amolga-se a verdade. Vale tudo para conseguir audiência. Pelo meio das notícias, segue publicidade em barda e, sem dar por isso, o leitor deixou de ser o freguês e passou a ser o produto.
A imprensa livre precisa de leitores dispostos a pagar por informação relevante e credível, e essa é a única forma de se assegurar a independência dos jornalistas. Só assim poderá atingir o seu fim último, bem lembrado pelo Director Luís Vieira Cruz na milésima edição, e que é o de ser o maior inimigo das ditaduras.
A imprensa local vive sob essas mesmas ameaças, mas tem também a responsabilidade de fazer das suas páginas um registo do que mais relevante acontece na nossa terra e que, a partir delas, ficará disponível para memória futura.
É encantador folhear jornais locais publicados há cinquenta ou cem anos atrás. Graças aos arquivos digitais acessíveis em linha, é fácil fazê-lo. Com os pés assentes no Outono de 2023, e conhecedores das datas e do processo que levou ao fim do regime anterior, é interessante lermos o que sobre ele diziam os seus contemporâneos.
Quando, daqui a cem ou mais anos, os que cá estiverem, folhearem a 1006ª edição de O Portomosense, o que pensarão de nós? Acredito que para eles, seremos apenas gente que viveu nesse sítio distante chamado passado, e nas suas considerações seremos vizinhos de personagens históricas muito anteriores a nós, e de outras que ainda não nasceram. Facilmente confundirão António Costa com Afonso Costa e Marcelo Caetano com Marcelo Rebelo de Sousa, não tivessem sido todos eles gente do tempo da República.
É por isso que o que mais aprecio ler nas páginas deste nosso quinzenário são as entrevistas feitas aos nossos mais velhos. Nem todos se exprimem com a mesma clareza e desenvoltura, mas cada um à sua maneira, tem algo para nos dizer, tem algo que deve ficar registado para o futuro. Usar o jornal para dar voz às nossas gentes, associar um nome à imagem de um rosto, a um discurso e a uma memória, é sublinhar aquilo que somos e fintar o esquecimento. Quando isso acontece, cumpre-se a natureza do jornal local.
Por isso, e fingindo que o jornal só foi fundado umas semanas mais tarde, não posso deixar de aproveitar esta milésima edição, para dar os parabéns ao nosso quinzenário O Portomosense. Todos os que o imaginaram e lhe dão forma merecem o nosso apreço e reconhecimento. E que venham mais mil edições!
O iraniano Taremi, avançado do Futebol Clube do Porto, é um bom avançado. E é manhoso, perito naquela consagrada tarefa de "cavar penalties" - e os mais-velhos lembrar-se-ão do sempre entusiástico Paulo Futre, então ainda jogador, a declarar qualquer coisa como "fui para a área para cavar o penalti". Nisto das grandes penalidades a nossa percepção, opinião, convicção, muito depende das marés que os trazem. Nos finais de 1983 o grande Chalana mergulhou para a grande área do (literalmente seu) estádio da Luz, o herói Rui Manuel Trindade Jordão converteu o justíssimo penalti, a malvada União Soviética foi assim arrasada, perestroikada / glasnostada avant la lettre, e a Pátria seguiu à bela campanha do Euro-84, 18 anos após a primeira (e então única) qualificação para um torneio de selecções. Já em 2000 um falsário árbitro inventou um penalti aos 119 minutos da meia-final do campeonato da Europa, afirmando ser mão a óbvia coxa de Abel Xavier e assim possibilitando que as potências do pérfido Eixo discutissem o triunfo final.
São apenas exemplos maiores do que acontece todos os fins-de-semana - aliás, todos os dias, nesta era digital, em que é preciso encher de bola os milhares de canais televisivos globalizados. E todos os adeptos, sem excepção, tendem a "puxar a brasa à sua equipa". Uns mais descaradamente, outros menos. Mas, repito, todos... Ainda assim nas últimas décadas algo vem mudando: primeiro com mudanças nos regulamentos disciplinares, com punições aos saltimbancos menos talentosos. E depois através da disseminação das ajudas tecnológicas às arbitragens, associada à tal globalização da televisão digitalizada, o que tornou as escandaleiras muito mais... escandalosas. Ou seja, a aldrabice dentro de campo passou a ser mais punida, menos produtiva e - exactamente por estas razões - menos respeitada.
Neste âmbito e nesta época Taremi será um dos "últimos moicanos", até um item de património cultural intangível, pois um lídimo representante de eras passadas. Pois atira-se para o chão sem rebuço e colhe lucros com a risonha desfaçatez com o que o faz. O que lhe será facilitado pelo seu enquadramento laboral, protegido que está pelo truculento e histriónico falso azedume regionalista do seu patrão e das massas a este congregadas.
É óbvio que os adeptos do seu clube sobre ele pensam, sentem e opinam de modo diferente - por questões da mera bola mas também "animados" pela propalada "alma" regional, essa que nos campos de futebol se imagina gritando até à exaustão "São Jorge!" contra os "mouros" ditatoriais, totalitários, cleptocratas, os centralistas que colonizam e esmagam o sacro Portucale. Por isso as quedas de Taremi são-lhes sempre naturais, legitimamente causas de castigos à Besta Alheia, pois efeitos de intencionais acções dos demónios coloniais, essas energias eólicas, hídricas, fósseis, animais, mesmo metafísicas. E, por vezes, até humanas.
Mas, de facto, o homem vem exagerando nas suas coreografias. Como aqui narrei há algumas semanas, fartei-me de rir ao vê-lo num Porto-Arouca, jogo que ficou celebrizado pelos 20 e tal minutos de descontos dados, a ver se o Porto não perderia o jogo, tamanha a desfaçatez com que ia fingindo ser alvo de incorrecções alheias. Seria até ridículo se os árbitros, sempre temendo as influências portistas e o crivo crítico do batalhão portista de comentadores radiotelevisivos e da imprensa escrita, não tendessem a aceitar as evidentes pantominas. Assim, pura e simplesmente, falsificando... as apostas desportivas, acção que julgo punível por lei extra-futebolística.
Leio agora que Carlos Xavier - antigo excelente jogador do Sporting e agora comentador do canal televisivo desse clube - "passou-se" com as constantes trapaças taremianas. E disse na televisão o que os adeptos dizem quando entre amigos. Qualquer coisa como o sacaninha deste estrangeiro veio para cá e agora é um fartar vilanagem.... Mas em vez de estrangeiro chamou-lhe "muçulmano", no que foi um verdadeiro autogolo. Cai o Carmo e a Trindade, hoje em dia entidades ecuménicas... E logo se conhecem invectivas de instituições consagradas na abjecta ditadura iraniana, que apresentam queixas de "racismo". Os mariolas regionalistas (de retórica secessionista) do FC Porto associam-se a esta inadmissível intervenção. Em vez de matizarem, como seria curial, a situação, para melhor entendimento estrangeiro do mero "fait-divers"...
Entretanto o agora comentador Carlos Xavier retractou-se (e não "retratou-se", como escrevem os patetas do AO 90, pois isso trata-se de outra coisa completamente diferente). Ainda assim a Federação Portuguesa de Futebol - essa instituição tutelada pelo Estado e que deste vem recebendo inúmeros apoios, o que não a impede de tentar descaradamente tornear o regime fiscal quando contrata trabalhadores - tem o atrevimento, decerto que inconstitucional, de instaurar um processo contra o canal televisivo do Sporting por causa do que um comentador disse. Estamos em 2023, nas vésperas do 50º aniversário do 25 de Abril. E a FPF instaura um processo destes. E o Dr. Fernando Gomes, seu presidente, não só não é rispidamente chamado à atenção por parte dos eleitos para os órgãos de soberania máximos da República, como decerto é e continuará a ser anfitrião e visita, muito cumprimentável, do PR, do PM, do PAR, de ministros, deputados, juízes, procuradores e etc. Se assim é para quê comemorar os 50 anos do regime? Para que irão gastar bons dinheiros em exposições, livros, conferências dos professores Fernando Rosas, José Pacheco Pereira e outros, sobre censura, e etc.
E entretanto uma tal de Entidade Reguladora para a Comunicação Social - sobre a qual apenas sei o que era a Alta Autoridade para a Comunicação Social, coisas risonhamente contadas pelo meu grande amigo Aventino Teixeira, que a essa pertenceu durante anos - tem também o desplante de anunciar que está "a analisar" as declarações de Carlos Xavier. Sobre o clima de guerra no comentariado futebolístico que grassa há tantos anos, e sua influência nas mundivisões mas também nas acções violentas do público dos espectáculos desportivos, nada diz a tal de ERC. Sobre o aldrabismo militante do jornalismo futebolístico, tantas vezes obviamente encomendado pelos agentes económicos envolvidos, nada diz a tal de ERC. Sobre o ataque à liberdade de imprensa efectivado pelo inaceitável processo instaurado pela FPF - como se esta fosse um Estado (ditatorial, censório) dentro do nosso Estado - nada diz a ERC. Está sim a analisar uma "gaffe" deselegante, inapropriada, excitada, do bom e íntegro Carlos Xavier.
Isto não é uma Entidade Reguladora para a Comunicação Social filiada ao actual "wokismo". É apenas a sua sonolência. A sonolência dos pequenos mandarins avençados, ali instalados pelos poderes...
Deixemo-nos de coisas. Taremi é um sacaninha, um jogador estrangeiro que no nosso país constantemente aldraba o jogo - mas em outros não o faria, pois seria constantemente castigado se fizesse coisas destas. Quer ele continuar assim, quer o seu patrão que continue assim? Ok, então faça-se isso sem queixumes, invectivas ao "racismo" e "xenofobia" alheia... Façam-no com elegância, até humor... Há trinta anos o grande avançado Jurgen Klinsmann tinha a fama (e o proveito) de se atirar para o chão nas grande-áreas adversárias, de "mergulhar". Foi contratado pelo Tottenham para a então ainda inicial, mas já milionária, Premier League. Logo se estreou a marcar. E introduziu este "mergulho" comemorativo - esse que ainda tanto se vê, mundo afora... Nessa festiva ironia mostrando que em nada se restringia à mera aldrabice, abjecta.
Nem à tal sonolência bem-remunerada dos pequenos mandarins.
Li há uns dias que o jornal "A Bola" fora vendido a um grupo internacional (dizem-no "suíço", mas presumo que seja uma bandeira de conveniência), especializado no comércio noticioso digital. É, evidentemente, a "crónica de uma morte anunciada". As primeiras informações sobre o processo são... as habituais: à "aquisição" (o jargão "científico" para "compra") seguiu-se o despedimento de uma percentagem (muito) elevada dos trabalhadores. Ou, para falar como agora, a "descolaboração" com os "colaboradores". Dá-me a sensação, leigo na Economia, que é o primado do misticismo na referida ciência económica: o que interessa é a "marca" (entidade metafísica) e não o "produto" (a mezinha).
Enfim, parece-me evidente que pouco mais durará o já velho periódico, fundado em 1945 pelo mítico Cândido Oliveira (também seleccionador de futebol), Ribeiro dos Reis e Vicente de Melo, um trio sempre invocado.
Ainda que com alguma mescla de sentimentos, pois o jornal estava muito fraco, lamento tudo isto. Lembro-me que há pouco mais de uma década o "A Bola" lançou uma edição moçambicana. A Maputo deslocou-se o então ministro Miguel Relvas e saudando essa iniciativa disse "aprendi a ler no "A Bola"". Cairam-lhe as críticas furibundas em cima, da intelectualidade subsidiada/avençada pelo PS e do magma trotskista-maoísta agregado no BE, invectivando-o de "inculto" para baixo. Eu então sorri, desdenhando a mole socratista e a tropa esquerdista. Pois, ainda que não gostando de Relvas com ele partilhava esse dado biográfico. Eu aprendi a ler com "A Bola". Vindo de Hergé, Goscinny, Martin, estúdios Disney, Enid Blyton, dos colectivos que produziam as colecções "Apache" ou "Falcão", o Major Alvega, Karl May, Verne, Salgari, Féval, etc os primeiros textos adultos que li, ainda na primária, foram os célebres apontamentos de reportagem "Hoje jogo eu" que o jornal desportivo tinha... De facto, tal como Relvas, e decerto que muitos outros da minha geração, também eu aprendi a ler no "A Bola".
Depois, décadas depois, o jornal - que agora entra em cuidados paliativos - muito degenerou. Por isso aqui recupero, para quem tenha interesse, um postal antigo - que guardara no meu Nenhures - as minhas memórias com "A Bola".
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O meu pai António nunca leu um jornal desportivo – lá em casa lia-se o “Século” de manhã e o “Diário de Lisboa” à tarde, e as coisas da bola eram-lhe indiferentes, até incomodativas. Nas férias, em São Martinho do Porto, eu ia-lhe buscar os jornais à papelaria na “rua dos cafés” e ele dava-me dinheiro para que eu também comprasse “A Bola”, que saía 3 vezes por semana. Ele achava piada (ou seja, bem) que eu lesse jornais, eu queria-os pelos nomes do ciclismo, do “Tour” e também da “Vuelta”, com os quais decorávamos as caricas para os “grandes prémios” nas pistas de praia, e também pelas notícias de Deus Nosso Senhor Vítor Damas, do Yazalde, do Nelson, do Marinho e Manaca, do Dinis e Bastos e Alhinho, e depois do Fraguito (sempre) de meias-caídas, também do Carlos Lopes, Fernando Mamede, Aniceto Simões, Nelson Albuquerque, da belíssima Conceição Alves, Jorge Theriaga, Manuel Brito, Ramalhete, Rendeiro, Sobrinho, Xana e Livramento e tantos outros.
Assim cresci, desde a escola primária, a ler “A Bola” daquela ínclita geração de jornalistas, aqueles que também animavam a memorável coluna “hoje jogo eu”, em que botavam o olhar sobre o mundo, deriva então tão escassa: o director Carlos Miranda, das epopeias do ciclismo, o jovem Santos Neves dos automóveis, o entrevistador Rebelo Carvalheira que veio a morrer assassinado nuns quaisquer meandros, o intelectual da bola Victor Santos, o genial benfiquista-comunista irónico-mor Carlos Pinhão, o direitista estorilista Alfredo Farinha, o sisudo camarada Homero Serpa, o analista Aurélio Márcio, vários tantos outros, e punhados de correspondentes, locais ou de “lá fora”, como então se chamava ao estrangeiro (José Augusto na malvada URSS, Renato Caldeira no longínquo e inatingível Moçambique, Bruno Santos em Paris de França, Duda Guennes, que falava em Lisboa do Brasil, sei lá quantos mais). “A Bola” era um bocado, até bastante, vermelha (o que lhe dava bastante crédito junto do meu pai, comunista encartado) e imensamente encarnada. E era um belíssimo jornal.
As décadas passaram. Ali nos finais de 80s, já nas mudanças geracionais, para lá entraram camaradas olivalenses, o Afonso de Melo, que fora meu adversário de subbuteo, o João Matias, meu vizinho de rua, amigo e colega de turma de liceu e faculdade. O encanto desvanecera-se, talvez porque o jornal já diário, sem largar tinta nos dedos de quem o folheava, e nem aquele lençol sempre esvoaçante, ou até porque eu crescera. Mas era jornal. Ainda.
Depois foi decaindo. Imenso, imensamente. Há décadas que não o compro, apenas folheio, nos cafés. E nele clico, espreitando até com fastio, após ler o “Record”, jornal com o qual tenho relação utilitária. Mas com “A Bola” tenho esta relação, a da enorme primeira paixão feita amor desavindo. Mas ainda ciumento. E a sua degenerescência dói-me.
Nos últimos dias vem noticiando (sublinho, noticiando) a transferência de um treinador (Jesus) para o estrangeiro. Não aventa a hipótese. Não ecoa rumores. Não explicita vontades. Nem afirma cenários. Coisas que cabem no jornalismo. Mas não faz isso. Anuncia, ou seja, noticia o processo em curso. Um processo que, dizem de Paris de França, é “ridículo”, desadequado à realidade. Há quem diga que “não há fumo sem fogo”. Mas o certo é que há, e qualquer leitor o poderá dizer, quem ateie … fumos. O velho “A Bola” hoje em dia é isto, tipos a atearem fumos. Mentiras. E há muito tempo que o é. Ou seja, apenas um jornal que encena “factos” para se vender. A autoridade para a comunicação, a ordem dos jornalistas (ou sindicato ou lá o que é) nada dizem. Os tribunais também nada … Se algum jornal/jornalista mente sobre cultura (saiu um livro, um filme, abriu uma exposição, que, afinal, não existe) é rebaixado. Se sobre clima, falhando escandalosamente o boletim meteorológico, é gozado. Se sobre política é desacreditado. Se sobre economia pode até ser processado. Mas se mente sobre a bola, se “A Bola” mente sobre o futebol – e os clubes estão na bolsa, as mentiras sobre os plantéis têm influência na bolsa – isso passa incólume. Ninguém protesta. Nem, e isso é uma vergonha, os colegas da corporação. Nem o Estado que deveria ser regulador. Pois é só bola (mas depois vão-se abanicar nos triunfos patrióticos).
A minha “A Bola”, o meu primeiro amor, tornou-se uma velha prostituta. De esquina, barata. E eu tenho imensa pena. E, envergonho-me até disso, nojo.
Volta e meia leio algo publicado no "Público" - o "boletim da SONAE", como digo em dias mais mal-humorados, nos quais me interrogo, sem me dar resposta, sobre que interesse(s) terá aquele grupo económico para estas décadas de financiamento a um jornal com tamanho, e progressivo, viés político. O apoio aos "poderes fácticos" (o PS, entenda-se) - sob o sempre reclamado cognome "jornalismo de referência" - é compreensível economicamente. E o acolitar do bloquismo terá tido causas também sociológicas, dada a atrapalhada adesão à coalizão m-l de feixes de uma geração letrada lisboeta pequeno-burguesa. Mas o mais recente coito dado aos constantes dislates do marxismo racializado, ecoando esta incessante tralha "decolonial" avessa à "branquitude" e papagueada entre nichos académicos desnorteados (sem Norte e nisso julgando-se pró-"Sul"), sitos nos eixos Campo Grande-Campolide e "do Choupal até à Lapa", será menos compreensível, advirá mesmo de causas internas à empresa, de um enquistamento ideológico na sua redacção.
Muitos, crentes nessa tal entidade benfazeja "jornalismo de referência", negam tal viés. E escudam-se no pluralismo presente no jornal, lembrando ocasionais investidas sobre derivas mais esconsas nos poderes instalados e, acima de tudo, a presença recorrente de colunistas menos geringôncicos, dos quais o exemplo mais referido é João Miguel Tavares. Nisso não faltam à verdade, aquele ramalhete opinativo é orlado desse e de alguns outros nomes, constantes ou episódicos. Mas isso não obsta ao frenesim esquerdista encapsulado pela agenda socialista que comanda o jornal.
Enfim, avante. O viés do "Público" é notório e não justifica o tal epíteto "de referência". Não porque uma linha editorial política não se possa articular com qualidade. Mas porque o estratégico servilismo face ao poder político é o avesso dessa propalada valorização. Exemplo radical dessa agenda político-ideológica é o noticiar do processo grego. É certo que os directores do jornal vão mudando. E é também certo que há alguma diferença entre o contexto actual neste 2023 e o vigente em 2015, então ressaca da crise do final da década transacta e das políticas de austeridade que provocou. Ainda assim, muito se denota a essência do "Público" na comparação entre o relevo dado aos resultados das eleições legislativas gregas do passado domingo - enorme vitória do centro-direita - e o atribuído aos resultados de 2015. Quando o Syriza ganhou, Tsipras foi para o poder (cumprir as políticas europeias...), António Costa rejubilou, Varoufakis se catapultou como sex-symbol académico e best-seller e best-speaker.
Para quem ache que eu estou a exagerar deixo as capas dos dias subsequentes às duas eleições. E nem faço análise aos conteúdos do que o "Público" foi noticiando sobre os dois processos eleitorais. Pois bastam estas duas imagens para demarcar mesmo o que é o tal "boletim da SONAE".