O neófito
Abeirou-se do menu que se encontrava exposto na rua levado pelas três acompanhantes A avaliar pela atenção distraída que dispensavam à ementa elas eram, certamente, habituées do restaurante. Ele, também não restavam dúvidas, um estreante.
Da minha mesa solitária pude ver o desconsolo estampar-se-lhe no rosto: beringelas panadas com arroz integral? Hamburgueres de ceitan? Com tantas cervejarias e restaurantes genuínos ali perto e ele no planeta alface, rodeado por três estranhas comedoras de sementes de sésamo.
Os homens, os nossos descendentes de marinheiros, são os que dão sustento à infinidade de pequenos restaurantes sem história, onde pratos afrancesados e misturas exóticas não entram.
Amantes de bifes à casa e escalopes com arroz e salada, quanto mais previsível é um cardápio mais depressa salivam. É vê-los, sempre em maioria, aos balcões das cervejarias onde o prato mais ousado é uma alheira com grelos, e aos magotes a atacar uma honesta travessa de costoletas à salsicheiro nas tascas do Zé, a tresandar a cebola frita, que enchem as ruas da cidade.
Se levam uma senhora a jantar, condescendem e escolhem locais com guardanapos de pano e alcatifa, mas trata-se já de uma opção social, nada que se compare à genuína degustação de carnes vermelhas a que se entregam quando estão sozinhos e o objectivo é comer bem.
Divertidas, elas chilreavam à sua volta, numa alegria primaveril, enquanto o viam debicar o prato, sem o menor entusiasmo. No vegetariano era o único menino.