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Delito de Opinião

Para avivar algumas memórias

Pedro Correia, 08.06.24

Marcelo Rebelo de Sousa, actual Presidente da República, tinha 26 anos quando foi eleito deputado à Assembleia Constituinte.

Jerónimo de Sousa, que foi secretário-geral do PCP entre 2002 e 2022, tinha 27 anos quando foi eleito deputado à Assembleia Constituinte.

Jaime Gama, que foi presidente da Assembleia da República entre 2005 e 2011, tinha 27 anos quando foi eleito deputado à Assembleia Constituinte.

Helena Roseta, arquitecta e deputada em várias legislaturas da Assembleia da República, tinha 27 anos quando foi eleita deputada à Assembleia Constituinte.

Manuel Gusmão, poeta, ensaísta e professor da Faculdade de Letras, tinha 29 anos quando foi eleito deputado à Assembleia Constituinte.

Vital Moreira, um dos constitucionalistas de referência em Portugal, tinha 29 anos quando foi eleito deputado à Assembleia Constituinte.

No more Miss Barbie Girl

Maria Dulce Fernandes, 19.08.22

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Para além do cientificamente explicado, falar sobre a nossa idade não é fácil, porque para o ser humano existe um sem número de sub-idades em que se subdividem as quatro idades biológicas principais, como por exemplo a Idade Cronológica, a Idade que Aparenta, a Idade do Corpo, a Idade do Espírito, etc. que normalmente não se conjugam bem entre si. É frequente ouvir interjeições de exclamação quando uma senhora desvenda a sua Idade Cronológica, imediatamente explicadas pela Idade que Aparenta, ou comentar a notícia de que uma avozinha octogenária encarquilhada saltou de pára-quedas, denotando a sua juventude de espírito.
Para a maior parte das pessoas, envelhecer é uma tragédia: acarreta um catálogo de maleitas, tira-nos cor, acrescenta-nos peso e amarrota-nos o corpo.
A sigla PDI é a explicação para os esquecimentos, as dores, o embaciamento da visão, o cansaço, enfim, o stress.

Tempus Fugit... não há como travá-lo. O tempo é implacável  no seu percurso e resta-nos aceitá-lo com elegância e fair play, umas vezes sem batota, mas muitas outras haverá em que a trapaça é flagrante, começa no hidratante, passa pelo anti-rugas, pelo botox e termina sob o bisturi de uma qualquer celebridade plastificadora.

É fundamental que, aparências à parte,  o cérebro, mesmo estando acondicionado na carroçaria  dum Fiat 600 saído dum salvado de ferro-velho, tenha o motor dum Fórmula 1 para que o espírito se mantenha jovem e turbulento e assim podermos afrontar as idades e sub-idades bem de frente e encará-las como estados de espírito.
 
Os humanos são estranhos e curiosamente contraditórios: quando são jovens, anseiam crescer rapidamente e ser mais velhos; quando velhos, o que não dariam para poder retroceder uma decadazinha?
A palavra velho passa a fazer parte do nosso dia a dia, porque passamos a ser os "velhos" de alguém, mas curiosamente as senhoras são muito mais predispostas a assumir a situação do que os homens. Metrossexuais à parte, os homens usam menos artificialismos, é um facto, mas são muito mais renitentes em aceitar a velhice como uma  realidade.
Será que importa ser uma Forever Barbie? Ou será que o que importa verdadeiramente é ser um dinossauro, quando a pegada que deixamos é a da sabedoria de todas as idades?
Olhem que não. A idade não importa quando o espírito é jovem e dinamizador. Não importa nem um poucochinho.

(Imagem Google)
 

O único ponto de vista

Maria Dulce Fernandes, 22.05.20

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Por volta dos meus 35 anos, tinha o cabelo mais branco do que a minha mãe e era senhora para “uns quarenta e tal", de acordo com a opinião geral das pessoas que comigo privavam, mesmo que fosse por alguns minutos. Tenho ideia de uma reportagem da BBC que produziu os respectivos agradecimentos, e em que elogiavam a Dulce como “a smashing old girl". Tinha 40 anos. Nesse mesmo ano, a minha filha entrou para a Faculdade de Letras e pediu-me um presente para comemorar o acontecimento. Pediu-me que pintasse o cabelo. Gostei de pintar com madeixas. Ficou bem. Deixou-me mais leve, talvez com menos 5 anos em cada perna, mas também apreensiva por ter sido influenciada por opiniões alheias, porque nunca fez muito o meu género. De um momento passei de parecer dez anos mais velha a parecer 10 anos mais nova. Isto requeria muita atenção, não me fosse tornar na segunda D. Maria Alpalhão, que parou nos 50 anos, de tal modo que o próprio filho chegou ao ponto de lhe ganhar por quase seis anos em idade.
Durante 16 anos fui escrava da tinta. É que não tinha volta a dar à maldita raiz! Ou pintava, ou ficava com uma bandolete branca que ao longe dava a ideia de uma cabeça partida e enfaixada. Era feio, dava a ideia de desmazelo, de relaxo, de enxovalho. Um dia o cabeleireiro ia tendo um chilique quando lhe disse que cortasse até a tinta sair toda. Tinha três dedos de cabelo branco. Esteve meia hora a convencer-me que para ficar com corte ficava à pente 4, o que seguramente iria odiar depois. Talvez tivesse razão, mas ficou a promessa de que o faria quando nascesse a minha neta. Foi doloroso de ver, mas pronto. Acabou-se a tinta. Cabelo curto, bob, sei lá, mas sem outra cor que não a própria.
Sempre fui uma pessoa aberta a ideias, ideais, opiniões, debato mas aceito os pontos de vista dos outros, porque Deus nos livre da mentalidade de carneirada. Mas no que toca a colorações capilares, era finca-pé aquela conversa troca-tintas e manter o único ponto de vista válido, assertivo e exacto, o meu.
Ao fim ao cabo, com tinta ou sem tinta, a idade acaba sempre por nos apanhar.

Questão de idade?

Helena Sacadura Cabral, 04.03.15

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Se um homem mais velho casar com uma mulher mais nova, toda a gente considera normal. Se, ao invés, uma mulher mais velha casar com um homem mais novo, muita gente ainda fica surpreendida. E, até, nalguns casos, chocada. Porquê? O que é que justifica a reacção negativa?

Em certos países esta opção é já bastante comum entre as chamadas “famosas”, que não costumam preocupar-se muito com a diferença etária, dado o estatuto especial de que gozam. Todavia, longe dos holofotes, muitas mulheres não hesitam e namoram rapazes mais novos. São elas que conhecem as vantagens e os inconvenientes que a diferença de idade pode trazer a um relacionamento. 

Do ponto de vista sexual, na cama, a diferença de idade não importa muito, dizem os clínicos. Quem já passou por isso, limita-se a afirmar que “que basta ambos quererem e tudo será muito bom”.

O problema pode surgir no dia a dia em que as coisas não são assim tão simples". Hoje já muitas mulheres de 40 anos preferem homens que tenham, no máximo, a mesma idade delas.  Porque são independentes e entendem que não têm por missão ficar em casa a aturar as vicissitudes de um marido mais velho.

Ora é aqui que reside o cerne da questão. Antigamente o homem mais velho era o garante da sobrevivência da mulher. Para muitas, para cada vez mais isso já não é válido. Ora se assim é, que justificação pode haver para censurar uma relação em que o homem seja mais novo que a mulher?

Acresce que se a menopausa pode trazer ao sexo feminino problemas clinicamente solúveis, eles não são, nos dias que correm, menores nem maiores do que aqueles que surgem no sexo masculino da mesma idade...

O sexo e a idade

Helena Sacadura Cabral, 27.10.14

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O Supremo Tribunal Administrativo reduziu o valor da indemnização que a Maternidade Alfredo da Costa terá de pagar a uma mulher que ficou impedida de voltar a ter relações sexuais com normalidade depois de ali ter sido operada há já 19 anos. Um dos argumentos invocados pelos juízes, com idades entre os 56 e os 64 anos, foi o de que a doente “já tinha 50 anos e dois filhos”, isto é, “uma idade em que a sexualidade não tem a importância que assume em idades mais jovens, importância essa que vai diminuindo à medida que a idade avança”. 

Abstenho-me das considerações clínicas que negam esta realidade. Vou directa ao que estava em discussão : a perda de um direito de personalidade. E relativamente a estes - nos quais a sexualidade se integra - nenhuma destas considerações tem qualquer relevância. 
A idade da lesada e a referência ao facto de ser mãe de dois filhos poderiam ser importantes se o que estivesse em causa fosse uma indemnização por perda da capacidade de reprodução. Não era manifestamente o caso. Nem tão pouco faz qualquer sentido, no século XXI, associar a maternidade à sexualidade. 
Curiosamente um dos magistrados pertence ao sexo feminino e, confesso, não sei o que terá sentido ao ver este retrato. Quanto aos homens e a atendendo às suas idades, sinto um calafrio só de pensar no que esta “avaliação” poderá dizer das suas próprias vidas...

A idade não perdoa

Teresa Ribeiro, 18.02.14

André Jordan, que há dias deu uma grande entrevista ao Expresso, é um empreendedor como eles gostam. Soube, ao longo dos 43 anos que gere a Quinta do Lago, interpretar a tempo as tendências do mercado, como eles gostam. E é por isso que continua a ser um caso de sucesso, criando postos de trabalho, que é o que interessa para fazer a economia funcionar. Exactamente como eles gostam.

Seria um exemplo a seguir não fosse o caso de já estar velho e de pensar como um velho. Alegando conhecer bem o país, diz que "acabar com o Estado social é um erro brutal até por causa da economia". "Se transformarmos as pessoas apoiadas em pobres oficiais, isso vai afectar negativamente a economia", explica. "Também não podemos", adverte, "dar poder a pessoas que têm a desumanidade de defender isso e acham que ser ultraliberal é chique".

E vai por aí fora, a falar como um socialista subsídio-dependente. Como é possível ser-se um empreendedor, mais do que um empreendedor, um visionário, conhecer bem o país, dizer que o ama, alcançar o sucesso e não ter um pensamento liberal?! Afirmar que "o Estado social é a maior conquista da civilização europeia" e que acabar com ele "seria um retrocesso civilizacional irreparável" é, num homem com o seu perfil, verdadeiramente patético.

Mas enfim, temos que lhe dar o desconto. Isto é da idade.

O prazer dos "enta"

Helena Sacadura Cabral, 21.08.13
Nestas férias tenho relembrado, a títulos vários, coisas do meu passado. Talvez porque ando a rasgar o que não quero que cá fique depois de eu partir. 
Hoje dei com uma carta que o meu filho Miguel me escreveu, por ocasião dos seus 50 anos, depois de uma festa de aniversário que juntou só duzentos amigos. Os que ele considerou terem sido as pessoas mais importantes desse seu meio século de vida, pais e  irmãos incluídos, e Tito Paris a cantar as suas maravilhosas canções.
Infelizmente, ele não viveu o tempo suficiente para dizer, como eu digo, que "o mais importante da minha vida - à excepção dos filhos - me aconteceu depois dos cinquenta". Nada, mas absolutamente nada do que foram as duas décadas anteriores valerá, alguma vez, o que me trouxeram as duas décadas que se lhe seguiram.
Talvez eu seja caso único, mas nem a peso de ouro voltaria aos trinta ou aos quarenta. Nesses anos só aprendi. Depois dos cinquenta, vivi!

O meu reino por um par de óculos

Leonor Barros, 18.08.11
A idade tudo traz. Além dos despencanços que diariamente observo nos parcos minutos em que me relaciono com esse objecto que me mostra o que não quero ver, o meu odiado espelho, fui acometida de algo que não poderei negar durante muito mais tempo: incapacidade de ler ao perto. Presbiopia, dizem os entendidos. Por mais que estique os abraços e afaste os objectos de mim está a chegar aquela altura em que os braços me são curtos e os objectos permanecem um borrão ilegível. Terá sido por isto que ontem, quando o transformador do meu computador portátil entregou a alma ao criador e rumei a uma loja na esperança de o substituir, pedi ao empregado que me dissesse qual a potência do dito. Cordata e de transformador em punho, solicitei que me visse e sugerisse um transformador marca branca que me trouxesse à vida o computador moribundo por falta de alimento. A resposta foi lesta, ignorado por completo o meu primeiro pedido. Foi dito sem reservas que teria de comprar um de 90W. O empregado adiantou ainda que já tinha discutido com um cliente porque lhe sugeriu aquele mesmo de 90W. Ora à minha frente tinha um de 70W com as indicações compatíveis com o meu bicho moribundo e nada mas nada me convenceu naquela breve conversa. Uma vez que estava num centro comercial decidi ir dar uma volta e esperar que o turno mudasse. Quando regressei, uma boa meia hora depois, o empregado era outro e, como esperava, a resposta foi outra. Que não, que não era o de 90W, era um de 65W que não havia. Sugeriu que fosse a uma loja especializada de computadores, conselho que segui obediente para me ser dito coisa nenhuma de importante mas que percebi pelas entrelinhas que sim, o de 70W seria adequado. E entrei de fininho na loja, arrebanhei o de 70W e regressei lampeira ao meu notebook ressuscitado. Comprar uns óculos teria sido bem mais fácil, isto se não me saltasse ao caminho um oculista passado que me sugeriu que experimentasse umas lentes de contacto para verificar se eram mesmo aquelas que tinha encomendado. Gente competente não se arranja?