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Delito de Opinião

Chávez explica queda de Sócrates

João Carvalho, 28.07.11

Hugo Chávez acabou de culpar o "capitalismo voraz" pela crise alimentar em África e recomendou aos venezuelanos que ponham bem os olhos na Europa, por achar que foi esse modelo europeu (!), sobretudo, que derrubou o anterior governo português.

O homem deve estar doente.

"A Europa está altamente endividada, não pode pagar a sua dívida e agora precisa de auxílio internacional. Em Portugal até caiu o governo" — insistiu Chávez. E acrescentou que foi por causa da «"crise espantosa" ocasionada pelo sistema capitalista».

O homem está doente.

A cirurgia que Chávez perdeu

João Carvalho, 11.06.11

 

O presidente da Venezuela foi operado ontem de urgência em Havana (Cuba) a um abcesso pélvico. Foi pena Hugo Chávez não ter vindo submeter-se à cirurgia a Valadares (Vila Nova de Gaia). Partindo do princípio de que um abcesso pélvico ou na virilha é praticamente a mesma coisa e que a suposta especialista Virgínia Evangelista ainda lhe teria feito uma bela epilação a uma perna inteira, Chávez teria ganho uma axila totalmente gratuita. E convenhamos que regressar a Caracas com três axilas iria deixar roídos de inveja tanto os seus inúmeros inimigos como o seu amigo Sócrates.

A sabedoria de Simón Bolívar

Pedro Correia, 03.03.09

 

 

"Nada é tão perigoso como deixar permanecer um homem muito tempo no poder."

Bolívar

 

Hugo Chávez fez aprovar em 1999 uma Constituição que lhe garantia um mandato presidencial de seis anos, prorrogável por outros seis. Não lhe bastou: em Dezembro de 2007, convocou um referendo para alterar a lei fundamental que ele próprio aprovara, desta vez para se fazer eleger sem limite de mandatos - algo inédito no continente americano, exceptuando em regimes ditatoriais. Perdeu esse referendo: pressionado pelas chefias militares, ao fim de alguns dias, garantiu que aceitaria o resultado e não voltaria a pensar no assunto. Mas afinal não pensou noutra coisa: 14 meses depois, faz convocar outro referendo que enfim ganhou, por nove pontos de vantagem (54%-45%). Poderá alterar a Constituição e manter-se no Palácio de Miraflores "até 2049", quando perfizer meio século de mandato presidencial, como já antecipou.

 

Alguns, à esquerda, ainda olham para Chávez como um modelo a seguir. Equivocam-se profundamente: o ex-tenente-coronel paraquedista é apenas um vulgar candidato a ditador cada vez mais autoritário, cada vez mais arrebatado pelo culto da sua própria personalidade, cada vez mais determinado a esmagar todos quantos lhe façam frente. Nesta campanha referendária, mandou a empresa de telefones móveis Movilnet, nacionalizada em 2007, distribuir mensagens com a sua voz num apelo ao voto 'Sim': os 11 milhões de utentes receberam a mensagem, sem terem acesso a um apelo equivalente do 'Não'. Por outro lado, a televisão pública venezuelana, durante o mês de campanha, apenas divulgou imagens de comícios pelo 'Sim' nos serviços «noticiosos», sem qualquer referência às acções promovidas pela oposição a Chávez. Agora, embalado por um poder que supõe absoluto, manda a tropa ocupar as empresas agro-alimentares e antecipa pela boca de um ministro a "expropriação" dessas empresas.

Assim vai o regime «socialista» decretado pelo Presidente venezuelano, que se diz permanentemente inspirado pelo pensamento de Simón Bolívar, o fundador do país. Mas Bolívar certamente se distanciaria do regime chavista, que mistura autoritarismo e populismo, ingredientes que se têm revelado letais na América do Sul. "Nada é tão perigoso como deixar permanecer um homem muito tempo no poder. O povo habitua-se a obedecer-lhe e ele habitua-se a mandar. Daqui nasce a usurpação e a tirania."

O autor destas palavras sábias? Precisamente Simón Bolívar. Aplicam-se como uma luva a Hugo Chávez, «bolivarista» que não segue os conselhos de Bolívar.

Venezuela: vitória amarga

Pedro Correia, 16.02.09

 

A vitória de Hugo Chávez no referendo de ontem na Venezuela não surpreende pelo 'Sim' dado ao Presidente que procura perpetuar-se no poder: surpreende por ter havido 45% de eleitores a votar 'Não'. Esta campanha, que decorreu com o Parlamento fechado durante um mês, foi tudo menos democrática. Como sublinhou o Tomás Vasques, os eleitores venezuelanos receberam diariamente nos telemóveis mensagens de voz gravadas com Chávez incentivando ao voto 'Sim'. Um brinde da operadora telefónica Movilnet - empresa nacionalizada em 2007, ao serviço do Duce venezuelano em vez de servir o povo. Ontem à noite, segundo noticia o El País, enquanto Chávez não terminou o seu discurso de vitória, que durou quase duas horas, os representantes da oposição não puderam prestar declarações aos jornalistas, pois o Presidente "ordenou que a sua festa fosse transmitida em cadeia nacional por todas as emissoras de televisão". Não admira: um estudo conjunto da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, revela que durante a campanha a televisão oficial da Venezuela dedicou 93% do espaço informativo ao 'Sim', sem um minuto sequer reservado ao 'Não'.

Algo só imaginável numa ditadura.

Por tudo isto, faço minhas as palavras da Joana Lopes: "Não foi a primeira vez, nem terá sido infelizmente a última, que uma tirania foi democraticamente ratificada - um preço a pagar, mas com sabor amargo, muito amargo."