Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Seria "racismo" ou só "crime de ódio"?

Pedro Correia, 15.06.23

coelho.jpg

Quando Pedro Passos Coelho era primeiro-ministro, chegou a ser recebido com edificantes e ternurentas imagens como esta, na selecta Faculdade de Direito de Lisboa. Prefigurando, com expressiva metáfora, a «morte ao Coelho».

Nessa altura - Fevereiro de 2013 - não havia divas do comentário a rasgar as vestes contra o «racismo», nem virgens à beira do desmaio perante «crimes de ódio». Nem sequer almas sensíveis a clamar contra o animalicídio, entre «vivas à liberdade» e palminhas pseudo-revolucionárias.

Valia tudo. Até sorrisos cúmplices perante estas "traquinices" da brava rapaziada anti-Passos.

Inqualificável

Pedro Correia, 22.11.19

21569543_7odY4[1].jpg

Bernardo Silva e Mendy, companheiros e amigos

 

O PS, indo a reboque do Bloco de Esquerda e da deputada do Livre, recusou exprimir solidariedade na Assembleia da República a um dos melhores jogadores portugueses da actualidade, titular absoluto da selecção nacional de futebol, alvo de uma infame acusação de racismo sem o menor fundamento.

Foi um acto de inqualificável cobardia política dos socialistas, talvez com receio de serem apontados a dedo pelos seus companheiros de estrada.

 

Como há dois meses assinalei aqui, Bernardo Silva - que alinha no Manchester City, acaba de ser eleito melhor médio ofensivo do mundo e tem lugar cativo no onze da equipa das quinas com presença garantida no Europeu de futebol - limitou-se a fazer uma piadola no Twitter com um colega de equipa, que é seu grande amigo. Acontece que este colega, o francês Mendy, tem um tom de pele mais escuro do que a do Bernardo: foi quanto bastou para se levantem clamores histéricos contra o internacional português, acusando-o de racismo.

Uma organização denominada Kick It Out apressou-se a exigir a adopção imediata de medidas punitivas contra o «comportamento ofensivo» do nosso compatriota, pressionando a Federação Inglesa de Futebol. E esta cedeu aos clamores da correcção política: Bernardo foi condenado a um jogo de suspensão, ao pagamento de uma multa de quase 60 mil euros e ao cumprimento de um programa comunitário de educação presencial para o descontaminar do putativo vírus racista.

Sublinhe-se que em momento algum Mendy se mostrou ofendido ou apresentou queixa contra o colega.

 

Hoje, no parlamento, PS, BE e Livre cerraram fileiras, recusando o voto de solidariedade com Bernardo proposto pelo CDS. Vários destes parlamentares - sobretudo os socialistas - adoram acotovelar-se nas tribunas dos estádios em aplausos frenéticos à selecção nacional e farão tudo para conseguirem ver in loco os jogos do Europeu, que se disputam em diversas capitais europeias. Alguns, imagine-se, até são comentadores de futebol na rádio e na televisão.

Felizmente para eles, a hipocrisia justifica reparos morais mas ainda não merece censura penal. Ficam assim dispensados de frequentar programas comunitários e de pagar qualquer multa, ao contrário do talentoso futebolista a quem acabam de negar o voto solidário que se impunha. Convicto como estou que nesta matéria pensam inteiramente como eu: é profundamente injusto e vergonhoso rotular Bernardo Silva de racista.

Festivais, petições e artistas parvos

João Pedro Pimenta, 17.05.19

Ao contrário do que se chegou a vaticinar por algum público prematuramente eufórico e por alguns músicos demasiado convencidos do seu poder intuitivo, Conan Osíris ficou pelo caminho na sua primeira actuação no festival da Eurovisão, em Telavive, e nem à final vai. Não era difícil imaginar que aqueles requebros com uma música que não destoaria dos saudosos Cebola Mol só por delírio poderia ganhar o certame, por muito freak que o espectáculo se tenha tornado (vide a vencedora do ano passado). Além de que os israelitas desconfiam dos egípcios, pelo que um concorrente com o nome "Osíris" não teria muitas facilidades. Mas passado o infortúnio (ou a salvação da honra da pátria, não sei), lembrei-me de um episódio recente que data da escolha do representante português no festival.

 

Imagem relacionada

 

Em carta aberta, quarenta "artistas portugueses" pediram a Conan Osíris que não fosse actuar em Israel porque isso seria "ignorar o cerco ilegal que Israel mantém em Gaza". Pelo meio, falavam de como Osiris "conseguiu deslumbrar Portugal com a sua música e honestidade".

Não sei o que é que era mais delirante na carta: se acharem que a música do vencedor do festival da canção "deslumbrou Portugal", se toda a inflamação contra Israel. Entre os subscritores encontrava-se um ou outro nome mais respeitável, como Afonso Cruz ou Pedro Lamares, que dificilmente se percebe o que faziam ali, mas outros, como Alexandra Lucas Coelho, eram tão previsíveis que só de se ler o conteúdo da missiva se imagina que tais pessoas tinham alguma coisa a ver com aquilo.

Não que o estado de Israel não tenha as suas responsabilidades na desgraça que é Gaza. Já não estamos exactamente nos anos cinquenta para referir sempre as ameaças externas ao estado judaico. O Egipto e a Jordânia têm relações diplomáticas com Israel, e a Síria tem bem mais com que se preocupar internamente. A norte, é certo, há sempre as preocupações com o Hezbollah, amparado pelo Irão, e também de Gaza constantemente voam rockets para território israelita. A política de colonatos, que serve sobretudo para atender ao crescente número de ortodoxos, não ajuda a apaziguar a situação. E a forma como muitas vezes os soldados tratam os palestinianos de Gaza, da Cisjordânia, a começar pela circulação entre territórios, não é digna de um país de cultura ocidental. A reeleição do oportunista e revisionista Bibi Netanyahu, que parece ter mais vidas que um Macabeu, entre acusações de corrupção, aliados desavindos e coligações adversárias potencialmente perigosas, agrava ainda mais as coisas.

O problema é que se Israel abusa da sua posição de força, os povos que os rodeiam conseguem fazer pior. Os palestinianos não têm grandes razões para elogiar o Hamas e a Fattah. Justamente há dias voltaram a lançar rockets contra povoações israelitas, provocando vítimas (a que as forças armadas de Israel responderam com ainda mais vítimas). E convém lembrar que entre 1948 e 1967 os judeus foram todos expulsos da Cidade Velha de Jerusalém e não se podiam aproximar sequer do Muro do Templo, o seu lugar mais sagrado. Os muçulmanos continuam a poder circular por toda a parte e não consta que a Cúpula do Rochedo e a Mesquita Al Aqsa lhes tenham sido vedadas.

Por isso, toda essa verborreia contra o festival em Israel não passou de um aproveitamento político mal disfarçado. Aliás, já antes um conjunto de associações tinha feito igual pedido, e entre elas figurava o patusco colectivo Panteras Rosa, um grupo que combate a "LesBigay transfobia", e que provavelmente ignora que Israel é o único país da zona que respeita os direitos LGBT (sim, há mesmo uma parada gay anual em Jerusalém). Mas tendo em conta que o porta-voz desse grupo é um dos 25 que abandonou recentemente o Bloco de Esquerda por considerá-lo "pouco radical", percebe-se um pouco melhor esta aparente esquizofrenia.

Pelo meio, uma voz um pouco mais conhecida e com uma velha e conhecida obsessão por Israel tinha entrado em cena: a de Roger Waters. O antigo Pink Floyd e autor de The Wall enviou uma carta ao "jovem e talentoso cantor português", cuja canção traduziu e achou "bastante profunda", pedindo-lhe para ser "o finalista que seria lembrado por se ter colocado do lado certo da história", o do "amor, paz verdadeira e justiça". Como se sabe, Osíris nem sequer chegou à final, pondo em causa a carreira de áugure de Waters, mas também lhe deu uma resposta evasiva, depois de dias sem lhe responder.

A verdade é que as escolhas políticas de Roger Waters são muito duvidosas. Por essa altura, reafirmou o seu entusiástico apoio ao regime da Venezuela, acusando a oposição de fazer parte da "agressão norte-americana, e surgiu num vídeo, elogiando "a experiência socialista bolivariana", com umas palavrinhas em espanhol, decerto para melhor demonstrar a sua fraternidade com Maduro, e uma guitarrada medíocre, terminando com um "viva la revolucion". E de onde falou, o intrépido artista? Da Suíça, esse farol de rebeldes e de defensores dos desvalidos. Apoiar o bolivarianismo sim, mas só nos intervalos dos desportos de Inverno, entre idas ao banco para inspeccionar as contas que aumentaram com a venda de dezenas de milhões de discos e digressões ciclópicas.

Lembrei-me que aqui há uns anos estive tentado a ir ver o concerto The Wall Live ao pavilhão Atlântico. Mas depois achei que o custo não valia o esforço e que aquilo era demasiado maçador. Depois de ouvir as opiniões políticas de Waters, e mesmo fazendo a destrinça entre o artista e a sua obra, concluo que foram os trinta euros (só do concerto) mais bem poupados da minha vida.

A geringonça da hipocrisia.

Luís Menezes Leitão, 27.07.18

37904315_10216972937899197_7291739615357042688_n.j

O que caracteriza a geringonça é de facto a sua refinada hipocrisia. Dizem que andam a tentar combater a especulação imobiliária, enquanto se dedicam a ela nos seus negócios privados. Depois de António Costa ter conseguido o enorme prodígio de ganhar 100% na venda de um imóvel no prazo de um ano, enquanto exerce as funções de primeiro-ministro, agora é este rapaz que ultrapassa todos os recordes, comprando um imóvel por 347 mil euros e a seguir pondo-o no mercado por 5,7 milhões. Isto por parte de quem andava a dizer à boca cheia, que Lisboa é uma cidade cada vez mais para ricos e menos para lisboetas. Ele lá saberá do que fala. Estranha-se é que não tenha apresentado o seu passado como investidor imobiliário quando se candidatou no programa do Bloco de Esquerda a Lisboa, onde seguramente teria tido um resultado eleitoral diferente. A hipocrisia e a fraude política estão de facto no coração da geringonça.

Consequências da época estival

Diogo Noivo, 25.05.18

Forças israelitas mataram cerca de 60 palestinianos alegadamente desarmados e o tonitruante coro de protestos não se fez esperar. Nem a representante de Israel na Eurovisão escapou à ira, tendo sido alvo de um boicote tão patético como ineficaz. Ontem, ficou demonstrado que a Rússia abateu um voo comercial malásio matando 298 passageiros - gente, de facto, desarmada. Ninguém saiu à rua. As redes sociais estão serenas e não há pedidos de boicote. Martins, Mortáguas e afins devem, certamente e apesar da chuva, ter entrado em fase estival.

A hipocrisia da esquerda.

Luís Menezes Leitão, 22.05.18

O que caracteriza certos políticos de esquerda é precisamente a sua refinada hipocrisia. Enchem-se de proclamações morais, quando eles próprios dão um péssimo exemplo no seu comportamento pessoal. Na Espanha em 2012 Pablo Iglésias publicou no twitter uma crítica ao Ministro da Economia do PP perguntando: "Entregarias a economia do país a quem gasta 600 mil euros num apartamento de luxo?". Agora foi ele próprio gastar 615.000 euros num apartamento de luxo.

 

Mas António Costa não lhe fica atrás. Em 7 de Maio, na sua moção ao Congresso, acusou o governo do PSD e do CDS de ter criado "uma lei das rendas injusta e desumana que nem os idosos poupa à especulação imobiliária". Agora ficou-se a saber que, não apenas anda a fazer negócios imobiliários enquanto exerce as funções de primeiro-ministro, como também comprou a um casal de idosos um apartamento na Rua do Sol ao Rato, que vendeu 10 meses depois pelo dobro do preço. Pelos vistos, quando fala em lesão de idosos pela especulação imobiliária, António Costa possui "um saber só de experiências feito". Aliás, por muito grande que seja a especulação imobiliária em Portugal, deve ser caso único um investidor ter obtido em dez meses uma mais-valia de 100% na venda de um imóvel. António  Costa merece seguramente ganhar o óscar da especulação imobiliária.

 

Aqui se vê bem como o discurso de certos políticos de esquerda entra sempre em total contradição com a sua prática. Como bem diz o povo, "bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz". Depois admiram-se do descrédito que atinge a classe política.