Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Se eles o dizem...

Sérgio de Almeida Correia, 25.08.20

fotos-gp-styria-motogp-2020857524_7_1200x690.jpeg(créditos: Motociclismo)

"No fue solo una victoria merecida, fue más que eso. Fue el triunfo de la humildad, del trabajo, de la dedicación de un tipo que procede de un país sin tradición en las dos ruedas, que carga sobre sí mismo el peso de una bandera y que ha pasado por momentos realmente duros en su trayectoria." (Nacho González - SWINXY, in Miguel Oliveira y la justicia poética)

Um português imperial

Sérgio de Almeida Correia, 10.08.20

1227927773-kSGI-U3801041129623cWC-528x329@Gazzetta(Foto Gazzetta Motori)

 

A consagração de António Félix da Costa como campeão mundial de Fórmula-E, brilhantemente alcançada na pista do antigo Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, é o culminar de uma carreira construída a pulso, feita de muito esforço, muito trabalho e muita resiliência.

Sem nunca ter tido os apoios milionários que a maioria dos seus adversários usufruiu, com a instabilidade na carreira associada à falta de músculo financeiro que lhe permitiria ter outro impulso e aspirar chegar um dia à Fórmula 1, o jovem piloto de Cascais é hoje notícia nas televisões e jornais por esse mundo fora (Eurosport, BBC Sport, L’Équipe, AutoSprint, Mundo Deportivo, La Tercera, Redgol, The Sun, The Independent).

Depois de um início de carreira no karting e de ter vencido por duas vezes, em 2012 e 2016, o Grande Prémio de Macau, corrida onde só os melhores entre os melhores conseguem impor-se, conquistando a Taça do Mundo FIA de F3, e mostrando a quem tivesse dúvidas todo o seu talento e classe, aos 28 anos conquistou, finalmente, um título mundial de pista entrando para uma restrita galeria de pilotos.

E isso é tanto mais brilhante quanto foi conseguido de forma imperial e com uma condução irrepreensível a duas provas do final do campeonato. Apesar da paragem devido à Covid-19, tendo vencido no início do ano na prova de Marraquexe, Félix da Costa repetiu a vitória por mais duas vezes em Berlim, a que juntou um quarto lugar e, ontem, uma subida ao segundo lugar do pódio, colocando um ponto final na discussão do título deste ano.

Num país que vive de e para o futebol, e para as suas miseráveis discussões e negociatas de milhões, como se tudo o mais em matéria de desporto não existisse, em especial em modalidades onde temos conquistado o reconhecimento internacional e títulos olímpicos, europeus e mundiais (atletismo, judo e remo, por exemplo), sem que esses resultados obtenham a projecção merecida nos jornais, rádios e televisões, é reconfortante ver, e também sinal de esperança, António Félix da Costa cumprir o que prometeu e trazer para Portugal um título máximo da sua modalidade.

O que, aliás, acontece, convém referi-lo, no mesmo fim-de-semana em que Miguel Oliveira obteve a sua melhor classificação de sempre numa prova da categoria rainha do Mundial de Motociclismo, alcançado o sexto lugar no Grande Prémio da República Checa, e um outro piloto português, Filipe Albuquerque, tendo conquistado a pole position para a corrida, venceu de forma categórica as 4 horas de SPA-Francorchamps, segunda vitória consecutiva este ano numa prova a contar para o campeonato European Le Mans Series

Não será por falta de bons resultados e de exemplos vindos dos mais jovens, em modalidades tão competitivas a nível internacional, que os portugueses deixarão de ter o estímulo necessário para serem cada vez melhores e procurarem obter iguais resultados noutros planos da sua vida colectiva. Da política à economia, da educação à produtividade no trabalho. Basta serem capazes de a si próprios imporem alguma ética, disciplina, rigor e seriedade no que fazem. A superação e o reconhecimento virão por acréscimo.

Os meus heróis têm nome

Sérgio de Almeida Correia, 31.08.19

21543802_Ewj0n[1].jpg(LUSA/KIMIMASA MAYAMA)

 

Um homem com a história de vida de Jorge Fonseca merece todo o respeito do mundo. Um homem com a coragem, a perseverança e o talento de Jorge Fonseca é um campeão. Um campeão para o ser não precisa de medalhas. Jorge Fonseca não precisava de nenhuma medalha para ser um campeão. Mas depois de tudo por que passou, e de tudo o que fez, se ainda consegue ser campeão do mundo de judo no Japão, batendo um outro campeão na final, e arrecadando uma medalha de ouro, isso é a conquista do universo. E um homem que consegue conquistar o universo de uma forma tão simples e humilde como ele o fez, que é como quem diz, conquistar a admiração de todos nós, dentro e fora de portas, é um homem que nos emociona, e que tornando-nos ainda mais pequeninos do que já somos nos faz sentir enormes. Quem tem este condão pode ser tu-cá-tu-lá com todos nós. E como isto não se explica, o Jorge Fonseca tem todo o direito de ser recebido como quer, com toda a gente a dançar, até mesmo pelos pés-de-chumbo. E qualquer que seja o resultado que venha a obter nos Jogos Olímpicos de Tóquio, ele entrou para a galeria exclusiva dos meus heróis. Porque os meus heróis têm nome. Este chama-se Jorge Fonseca e a única coisa que posso dizer-lhe é, na minha língua, que é também a dele, obrigado. Ficar-lhe-ei a dever a vida toda, tal como a muitos outros, mas não me importo, e peço-lhe desculpa pela franqueza. Tão simples quanto isto.

Um fartote

Sérgio de Almeida Correia, 03.06.18

Com as asas que lhe deram, Miguel Oliveira "voou" do 11.º lugar para o 1.º, aos comandos da KTM, conquistando uma estupenda vitória em Mugello, no Grande Prémio de Itália, Campeonato do Mundo de Motociclismo, categoria de Moto2, depois de uma última volta de cortar a respiração. No Brasil, um locutor de televisão até repetia estrofes do nosso hino.

Entretanto, na Grécia, Bruno Magalhães vencia o mítico Rally da Acrópole, prova integrada no Campeonato da Europa.

E no Japão, nas 24 Horas de Fuji, André Couto conquistava o 3.º lugar com o carro 81 da Phoenix Racing.

À beira de mais um Dez de Junho, a rapaziada do futebol que dentro de dias viaja para a Rússia que vá pondo os olhos nestes. Nós cá estaremos para os apoiar, mas nada de pieguices.

Dias épicos

Sérgio de Almeida Correia, 20.11.16

20161119_134720.jpg

O modo como se tinham comportado nos treinos e como geriram as suas passagens pela pista faziam antever uma jornada competitiva e que deixava em aberto a possibilidade de no final surgirem nos lugares da frente. O que ninguém esperava é que dois dos melhores pilotos portugueses da actualidade fizessem um interregno nas suas corridas habituais para se proporem vencer em categorias onde habitualmente nem sequer competem duas das três principais provas do cartaz deste fim-de-semana da 64.ª edição do Grande Prémio de Macau.

15110509_10207602859293160_3107092737076365929_o.j

Depois de Tiago Monteiro se impor categoricamente na última prova do Campeonato do Mundo TCR, averbando o primeiro triunfo português numa corrida de carros de turismo na Guia, ao volante de um Honda, foi a vez de António Félix da Costa mostrar toda a sua classe e dizer a todo o mundo, em especial a muitos patrocinadores que continuam a apostar milhões em pilotos sem um décimo do seu talento, por que merece ter um volante na Fórmula 1. Félix da Costa, o “Formiga”, venceu sem apelo nem agravo as 15 voltas da Taça do Mundo de F3, a seguir a ter vencido ontem a corrida de classificação para a prova de hoje. As suas ultrapassagens ficarão por muitos anos na retina de quem as viu e são um verdadeiro manual da arte de bem conduzir.

Tiago Monteiro e Félix da Costa (este último inscrevendo pela segunda vez o seu nome entre os vencedores) foram absolutamente imperiais e bastava ouvir os comentários dos jornalistas britânicos ou italianos para se perceber o quanto haviam sido brilhantes. Hoje foram os canais televisivos de Hong Kong, da China e do Japão a darem a notícia. Amanhã, os jornais desportivos de todo o mundo assinalarão mais este feito que encheu de emoção, satisfação e contentamento os portugueses que estiveram por estes dias no mítico circuito e onde por duas vezes a bandeira nacional subiu no mastro mais alto em provas organizadas pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo).

15095044_10207604850702944_5508512536441682825_n.j

Deixo aqui também uma palavra especial para o André Pires, que com galhardia e muita coragem correu na prova comemorativa dos 50 anos do Grande Prémio de Motociclos, bem como para o André Couto, que correndo com um carro novo e que conduziu pela primeira vez em Macau, voltou a estar ao seu nível, levando um Lamborghini que “não andava” e com problemas de afinação nas suspensões até ao final da corrida da Taça do Mundo de GT, corrida prematura e inexplicavelmente terminada devido a uma decisão administrativa que ainda vai fazer correr muita tinta.

15025352_10207582440862712_2645457476191092518_o.j

2016 poderá não vir a ser o melhor ano de sempre do automobilismo nacional (Pedro Lamy, João Barbosa, Álvaro Parente, Filipe Albuquerque, Rui Águas, entre outros, também conseguiram resultados notáveis), mas vai ser recordado durante muitos anos como um ano de corridas inesquecíveis, com resultados tão espectaculares que desmentem os habituais cépticos. E que servem para dizer que com armas iguais às dos outros os portugueses, senhores do seu destino, até conseguem ser muito melhores do que a concorrência alemã, inglesa, francesa, holandesa, espanhola, sueca, finlandesa, russa ou italiana. É só darem-lhes uma oportunidade.

Homenagem a um bombeiro

Sérgio de Almeida Correia, 04.08.16

AR-160809788.jpg&MaxW=780&imageVersion=16by9&NCS_m

Da próxima vez que voltar a embarcar num avião da Emirates lembrar-me-ei dele. Porque mártir não é o estafermo que se faz explodir sem sentido, cobardemente ceifando vidas inocentes e tornando inútil toda e qualquer fé. Mártir é o que morre no cumprimento do dever, salvando vidas alheias, sem se preocupar com a sua e sem outra recompensa que não seja a expressão, através da sua atitude, de um sentimento de gratidão aos outros. Não há forma mais digna e honrosa de morrer do que esta. Pelo que ela ainda representa de esperança no futuro da Humanidade. Fico triste por saber que foi assim, mas satisfeito por ver que o seu sentido do dever e a sua crença no bem ao próximo não foram em vão. Curvo-me respeitosamente, pequenino e agradecido, perante a memória de Jassim Issa Al Balooshi. Porque é o exemplo e a coragem de homens como ele, nos dias difíceis que atravessamos, que nos ilumina e nos guia, que nos ajuda a suportar a dor e o sofrimento e dá dimensão e sentido aos nossos dias. Aos meus dias. 

Jonah Lomu

Sérgio de Almeida Correia, 18.11.15

Jonah-Lomus-Rugby-World-Cup-Try.jpg

Para quem não acompanha esse desporto de cavalheiros que se chama rugby, Jonah Lomu foi uma espécie de Cristiano Ronaldo da modalidade. Tinha nascido no Tonga, alinhava pelos All Blacks e aliava uma espantosa energia, um porte fantástico, a uma velocidade e uma técnica incríveis. Eram 119 kg para 1,96 m de altura. Um portento. Embora já andasse doente há algum tempo não se esperava este desfecho tão rápido e trágico. Aos 40 anos é sempre cedo para morrer, mesmo quando se atingiu o topo do mundo. Acabara de regressar de umas férias e o seu sonho era apenas viver uma vida normal com a família. Fica aqui a minha homenagem a um grande campeão, a um desportista de excepção, a um dos meus heróis com nome.

Miguel Oliveira

Sérgio de Almeida Correia, 31.05.15

18475216_JOeM1[1].jpg

 

Depois de muitas quedas, muitos azares e, em especial, muita persistência, os portugueses podem finalmente ter um piloto luso a vencer uma prova do Campeonato do Mundo de Motociclismo, categoria de Moto3. Foi hoje em Mugello, no Grande Prémio de Itália, e tratando-se de um feito extraordinário para as cores nacionais não poderia passar sem uma menção aqui no Delito de Opinião. Ao Miguel Oliveira e a quem o apoiou nesta caminhada ficam os parabéns e os votos de que esta seja a primeira de muitas vitórias para Portugal.

Nasceu uma estrela

Sérgio de Almeida Correia, 29.11.14

sitesabadoborlido2-0a14.jpg"Por 643 milésimos de segundo! Foi por esta margem que Bruno Borlido não conquistou o título de campeão do Mundo de Karting na categoria Senior Max. O promissor piloto de 17 anos colocou a bandeira portuguesa no lugar intermédio do pódio na 15ª edição das Rotax MAX Challenge Grand Finals – vulgo Finais Mundiais –, que decorreram desde terça-feira até hoje no Kartódromo Internacional Lucas Guerrero, em Chiva, a cerca de 30 quilómetros de Valência." - Autosport

Recordo apenas que Ayrton Senna da Silva foi vice-campeão do Mundo de Karting no Estoril, naquele campeonato que definitivamente o lançou antes de iniciar a sua fulgurante ascensão no automobilismo mundial.

Os meus heróis têm nome

Sérgio de Almeida Correia, 06.03.11

Se fosse pelos seus atletas e pelos dirigentes da Federação Portuguesa de Atletismo, este país seria um dos melhores do mundo. Aquilo que falta a Portugal não lhes tem faltado a eles. Essa gente não conhece limites. A adversidade é coisa que não existe no seu vocabulário. Estar na periferia não faz qualquer diferença. Ali só há trabalho, muita dedicação, talento puro, resistência à dor, às contrariedades, aos azares, à falta de subsídios, ao ostracismo a que durante a maior parte do ano a comunicação social os vota. Há décadas que é assim. E, não obstante as condições do país, as mudanças de governo e todas as dificuldades por que ciclicamente passam, são gente que quando cai se sabe levantar, caminhar sozinha, e, mais importante, apresentar resultados dando o exemplo. Fê-lo ainda há dias o presidente demissionário por causa de um erro de secretaria. Voltaram a fazê-lo este fim-de-semana os seus atletas nos Campeonatos Europeus de Atletismo de pista coberta. Da "infeliz" Sara Moreira, inscrita na prova errada, ao "dorminhoco" Marco Fortes ou ao "acabado" Rui Silva, todos eles prestigiaram as nossas cores em terras de França.
Se tudo isto não fosse uma evidência, aí estão Naide Gomes - medalha de prata no salto em comprimento - e Francis Obikwelu  - medalha de ouro nos 60 metros, com a marca de 6,53, batendo com toda a limpeza o inglês Chambers e o francês Lemaitre, principais favoritos à vitória -, a provarem uma vez mais a massa de que esta gente é feita. No caso de Francis com a particularidade de agora até treinar diariamente entre nós, no Jamor, com um treinador nacional, e de atingir o ouro, uma vez mais, aos 33 anos, numa altura em que já poucos, muito poucos a não ser ele o seu treinador, apostariam na possibilidade de ganhar uma medalha.
Seja numa perspectiva ética ou moral, ou simplesmente desportiva, os nossos políticos e a quase generalidade dos dirigentes do futebol nacional, a começar por um tal de Madaíl, deviam pôr os olhos no atletismo nacional e, se não for pedir-lhes muito, aprenderem alguma coisa com aqueles que defendem as nossas cores. Eles são hoje os meus heróis. E todos têm nome, embora muito poucos os conheçam.