Helena Sacadura Cabral: «Os investimentos americanos na Irlanda já superam todos os que foram efectuados nos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). E até Bono, a estrela nacional e cantor dos U2 elogia em Davos, ao lado do primeiro-ministro, o milagre irlandês... E em Portugal, como seria, alguma vez, isto possível?! Jamais, claro, porque nós temos as nossas convicções, muito firmes, do modo como a Constituição garante que queremos caminhar para o socialismo. Está à vista!»
João André: «Há um par de meses fiz algo que há muito não fazia: fui ao teatro. Infelizmente há poucas oportunidades nas zonas onde tenho vivido para ir ao teatro e as poucas que têm existido têm-me, de uma forma ou de outra - frequentemente por culpa própria - escapado. Fui então ao teatro, dizia, ver O Misantropo, de Molière. Conhecia a história mas nunca tinha assistido a nada de Molière. A encenação pretendia-se moderna, com a acção a ter lugar nos nossos tempos e com adaptação das personagens aos estereótipos actuais. O grande senão da coisa (para mim): eu não falo a língua usada na peça.»
João Campos: «É impressão minha, ou entre os subscritores do célebre "manifesto dos 70" que propõe uma solução para o estado em que nos encontramos encontra-se muita gente com responsabilidades directas e indirectas para o estado a que isto chegou?»
José António Abreu: «Um destes dias a loucura (admitamos caritativamente que bem intencionada) ainda recupera o poder, deixando-os (e a nós, uma vez que entre eles se contam os bancos nacionais) a olhar para buracos nas contas que farão o do BPN parecer questão de trocos. Mas pelo menos a beleza de uma reestruturação ficará evidente para todas as partes envolvidas, já que pelos vistos não ficou quando a reestruturação da dívida grega não apenas não resolveu os problemas da Grécia como causou uns problemitas nos bancos cipriotas.»
Luís Menezes Leitão: «Toda a gente sabe que a dívida é impagável, mas não se pode falar da sua reestruturação. Os nossos credores podiam-se ofender e aí, como disse o outro, teríamos o caldo entornado. O país deixou de ser soberano e já não temos o governo do povo, pelo povo e para o povo, como proclamava Lincoln. O nosso governo é hoje o governo dos credores, pelos credores e para os credores. E até a liberdade de expressão em Portugal deixou de ser tolerada. Futuramente, em vez de se falar da reestruturação da dívida, falar-se-á da medida cujo nome não pode ser pronunciado. Resta saber por quanto tempo.»
Patrícia Reis: «A última vez que o entrevistei, há três anos, no patriarcado, Dom José fumou sete cigarros, explicou-me o que gostava de ver na internet e o alívio de não ter sido "escolhido" para Santo Pontífice, para ocupar o lugar de Pedro. Falámos de crianças, do aborto, de gays e direitos, rimos e demos tempo a Augusto Brázio para o fotografar devidamente. Hoje, Dom José foi ver a Deus, como dizemos, nós que somos cristãos.»
Sérgio de Almeida Correia: «Passos Coelho é presidente do PSD. Um partido que se reclama, diz ele, da social-democracia, embora isso não tenha qualquer correspondência na prática política. Mas se tivesse o mesmo discurso estando no PCP ou num qualquer partido da esquerda radical ninguém estranharia. Em 1975 havia quem quisesse afundar-nos a cantar o "venceremos". Em 2014 temos um primeiro-ministro que quer afundar-nos a cantar o "não reestruturamos".»
Teresa Ribeiro: «Se bem entendi para o governo e seguidores dizer que "a dívida é impagável" é uma irresponsabilidade. Pode até ser verdade, mas não se fala nisso, porque é tabu. Em contrapartida, sujeitar o país a abusos continuados para pagar uma dívida impagável faz todo o sentido. Governo e apoiantes argumentam que os devedores têm de sujeitar-se aos credores, caso contrário as consequências serão terríveis. Será a bancarrota, a hecatombe económica e social. Entre a morte lenta e a sumária concluem que é mais sensato escolher a primeira.»
Eu: «Não há nada como mostrar músculo para ganhar popularidade. Ainda há um mês, Vladimir Putin recebia críticas de vários quadrantes pelas suas detestáveis tendências autocráticas que o levaram a promulgar leis discriminatórias dos homossexuais, banindo-os dos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi -- os mais caros de sempre, orçados em 51 mil milhões de dólares (10 mil milhões acima das Olimpíadas de 2008 em Pequim). Bastou-lhe invadir um país soberano, à margem do direito internacional e das regras de convivência civilizada entre países soberanos, para calar certas vozes críticas. Por estes dias tenho reparado no silêncio de alguns: tão indignados com Putin há um mês, tão complacentes com Putin agora.»