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Ana Margarida Craveiro: «Sobre as declarações do primeiro-ministro sobre desemprego, só me ocorre uma coisa: nem tudo o que se pensa, por mais verdadeiro que seja, se pode dizer em voz alta. Porque não somos todos bestinhas insensíveis, embriagados com powerpoints de empreendorismos e afins. Há desemprego, e desemprego. E se estas declarações podem ser verdade para alguns (admitindo que "mudar de vida" para um rapaz ou rapariga de 25/30 anos não é o fim do mundo), são uma ofensa para muitos outros, que aos 55 anos vêem o local de trabalho de uma vida inteira fechar, sendo que as oportunidades a mais de meio da vida tendem a não ser abundantes. Nem tudo o que se pensa pode ser dito, repito.»
Ana Vidal: «Numa experiência inédita para aproximar a monarquia inglesa do povo, o príncipe Carlos de Inglaterra apresentou a meteorologia na BBC. Seguiu-se-lhe Camila, com mais nervos e menos graça. Nada de novo para nós, afinal. Sir Passos Coelho e master Gaspar passam a vida a anunciar-nos raios e coriscos, e lady Cristas até vai mais longe: não só nos fala do tempo como tenta dominá-lo com orações.»
André Couto: «Os piegas, aqueles que não vivem na bolha dos Gabinetes e das Assessorias, nem viveram sempre para a Jota, ficariam imensamente felizes, não fosse a precariedade que os coloca em situações delicadas quando são despedidos, sem direitos nem protecção. Para além disto são ainda os afogamentos violentos em impostos e as barreiras insuperáveis ao empreendedorismo. Oportunidade? Onde? Como? É uma visão fofinha do desemprego, não fosse ser a do País das Maravilhas, não a do nosso.»
João Carvalho: «A Justiça pode, uma vez mais, limpar as mãos à parede, ao confirmar o que já toda a gente sabia que ia acontecer.»
José António Abreu: «O moralista disléxico chamava-se Erasmo Coina de Carvalho e não conseguia evitar enganar-se ao dizer ou escrever o nome.»
Leonor Barros: «Devia ser proibido morrer-se jovem.»
Patrícia Reis: «Ao almoço, uma mulher pontificou sobre sexo. Ao jantar, um homem, numa situação diferente, mais formal, terminou a fazer o mesmo. Separa-os qualquer coisa como 15 ou 20 anos, não sei ao certo. Para a mulher, o sexo é uma necessidade, precisa de quem lhe toque. Para o homem, a poligamia é o que faz mais sentido. Tudo explicado com muitos pormenores, o número de amantes, as fantasias, as frustrações. As pessoas não falam abertamente sobre a sua sexualidade. A maioria tem receio ou pudor. Aqueles dois são, decerto, mais felizez. Ou talvez não.»
Rui Rocha: «Enquanto o Príncipe herdeiro do trono do Reino Unido apresenta o boletim meteorológico, limitando-se a explicar as consequências da Low Pressure situada sobre as ilhas britânicas, a Ministra da Agricultura da República Portuguesa, também conhecida por "Cristas de Baixas Pressões", manda chover. Penso que estamos conversados quanto à eficácia de uns e de outros.»
Eu: «Ainda há poucos dias, no velório de Miguel Portas, comentava com um amigo comum: "Este ano está a ser mais doloroso do que qualquer um de nós previa." Como nos versos que Pedro Tamen tão bem soube colar à dilacerante melodia de Carlos Paredes. «Era o segredo / sem ninguém para ouvir / era o engano / e era o medo / a morte a rir / dos nossos verdes anos.» Uma espécie de hino nacional ao contrário. Sem heróis do mar nem egrégios avós.»