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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 22.05.25

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Luís Menezes Leitão: «Se calhar também já estou afectado pelos discursos de Sampaio da Nóvoa, pois só recordo a propósito uma citação do poema de Casimiro de Abreu, As Primaveras, de 1859: "Oh! que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!/ Que amor, que sonhos, que flores/ Naquelas tardes fagueiras/ À sombra das bananeiras/ Debaixo dos laranjais!" Mas o problema é que Sampaio de Nóvoa também defende a não assinatura do Acordo de Parceria Transatlântica para o Comércio, um referendo aos tratados europeus e a renegociação da dívida até ao limite do possível. Parece-me por isso que ele e os seus apoiantes vão ter um duro choque com a realidade.»

 

Patrícia Reis: «Sim, a mulher concordou, a vida é só isso. A personagem do filme interrogava-se e ela nem por isso, o filme era uma treta, a vida era o que era. Só isso? Pois, só isso. A ignorância era uma bênção, tinham-lhe garantido. O "só isso" era uma forma assertiva de manter a ignorância. A ver se a dor se afasta.»

 

Eu: «Desporto e política não se misturam? Isso é paleio de quem recusa encarar a realidade. O próprio Luís Figo demonstra o contrário: a carreira política dele começou aliás num fotografadíssimo pequeno-almoço num hotel à beira-Tejo, a dois dias das legislativas de 2009. Apareceu ao lado de José Sócrates nesse evento, que terá custado uma pequena fortuna aos cofres socialistas. Pelo menos da fama de pesetero o craque não se livrou...»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 21.05.25

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Joana Nave: «Passam séculos, décadas, anos, semestres, meses, dias, horas, minutos, segundos... O tempo passa por nós e é como areia que se desvanece entre os dedos. Toca-nos ao de leve e escapa-se logo de seguida. Não temos tempo para uma série de coisas e, principalmente, para as que nos fazem mais felizes. A correria desenfreada em que nos movemos cansa-nos, agasta-nos, corrói-nos e envelhece. É pois mais do que natural que haja cada vez mais pessoas deprimidas e infelizes, pois passam mais de metade das suas vidas a desempenhar tarefas que não lhes trazem qualquer sentimento de prazer.»

 

Luís Menezes Leitão: «Sempre calculei que uma vitória de António Costa no PS implicasse uma viragem desse partido à esquerda. Nunca pensei é que essa viragem fosse tão radical. Começou com o apoio à candidatura presidencial de Sampaio da Nóvoa, um candidato claramente na extrema esquerda do espectro político. Agora o caminho prossegue com a apresentação das políticas do PS.»

 

Patrícia Reis: «O casal de turistas chegara a Lisboa para ver se se mantinham como casal, se sobreviviam ao desgaste de dez anos de relação, de equívocos, de imensos silêncios. Na Baixa Pombalina, cada um em seu passeio, viram as montras, compraram algumas recordações sem importância. Olharam o rio e o arco da Rua Augusta e passaram o dia inteiro a passear sem trocar uma palavra digna desse nome. Quando voltaram ao seu país, elogiaram Portugal, a comida, o vinho e recordaram uma viagem idílica que nunca existiu. Mostraram as fotografias e garantiram, via twitter, via facebook, que a viagem foi uma lua-de-mel. Francamente, Lisboa merecia um casal melhor.»

 

Eu: «António José de Almeida, um dos políticos mais conceituados dos anos iniciais do regime republicano, exerceu o jornalismo - a tal ponto que em 1911 chegou a fundar o vespertino República, jornal que atravessou todo o período da ditadura como o principal órgão da oposição ao salazarismo e viria a morrer, por amarga ironia, em tempos de liberdade ainda precária. O sequestro pela extrema-esquerda, em 1975, apressou-lhe o fim. E confirmou o seu último director, Raul Rêgo, como um intransigente lutador contra os extremismos de todas as cores - ele que também foi um jornalista seduzido pela política, ao ponto de ter sido ministro da Comunicação Social do I Governo Provisório, logo após o 25 de Abril, e deputado do PS durante longos anos.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 20.05.25

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João André: «Neste tempo o país continua de coração cinzento, tal como muitas fardas, mas os carros oficiais preferem o preto. Sotainas são olhadas de soslaio e o preto e branco é do domínio dos pseudo-intelectuais. Muita gente emigra e regressa no Verão, para recuperarem o falar da meninice. Continuam a trazer mulheres loiras mas agora dizem que aqui é que é bom, que não há sítio como a terrinha com o seu sol e praia e café na esplanada. Por aqui ouve-se ainda algum fado e vê-se muito futebol, mesmo que não seja daqui.»

 

Patrícia Reis: «O relógio mostra e garante o massacre do tempo, a impossibilidade de gerir melhor a vidinha, os horários, as obrigações, por isso, perto das dez da manhã, o homem pensou que já tinha subido o Everest. A saber: acordou os filhos, deu-lhes pequeno-almoço, levou-os à escola, foi ao dentista e rumou ao emprego com a cara ainda dormente. Em surdina, só para si, olhando para o relógio castigador, lamentou a estupidez de não conseguir paralisar os segundos. Ele? Estava anestesiado, só não conseguia parar de pensar que estava atrasado. Estúpido, concluía.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Não sei quantas outras comunidades portuguesas tiveram igual privilégio, mas tirando o facto de falar, almoçar e jantar sempre com os mesmos, seria interessante saber, agora que se deixou de ouvir falar nos "vistos gold", quais os resultados, em termos práticos, que tem conseguido. Isto é, o deve e o haver das suas deslocações, não das dos outros membros do Governo.»

 

Eu: «João Proença, nativo do signo Touro nascido há 67 anos no concelho de Belmonte, está habituado a dividir águas - mesmo dentro da área política a que pertence. Filiado no PS, foi deputado deste partido e seu dirigente nacional antes de ascender à liderança da segunda maior central sindical portuguesa, onde permaneceu como secretário-geral entre 1995 e 2013. E à frente da União Geral de Trabalhadores assinou acordos de concertação social com governos de esquerda e de direita. O mais recente valeu-lhe  críticas do fundador da UGT, Torres Couto, porventura já esquecido do precedente que ele próprio abrira em 1992, quando brindou com o primeiro-ministro Cavaco Silva ao acordo sobre política de rendimentos e preços, selado com festivos cálices de Vinho do Porto.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 19.05.25

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Luís Naves: «Naquele tempo, o mundo era diferente. As pessoas vestiam-se de outra maneira, não existia internet e ninguém usava telefones portáteis, só havia linhas fixas e as ligações tornavam-se difíceis quando muitas pessoas telefonavam ao mesmo tempo. Era criança, mas lembro-me. As cidades tinham crescido demasiado depressa e, por vezes, nos novos subúrbios não havia água ou faltava a electricidade. O metropolitano possuía uma linha única e era um luxo, vinham pessoas de fora só para ver aquela maravilha. A auto-estrada acabava logo, prolongava-se por 30 quilómetros apenas; e, tirando pequenas ilhas de modernidade, o país continuava tão atrasado como sempre fora; os comboios pareciam velhas carcaças que se arrastavam por ferrovias antiquadas, entre estações onde a História parecia ter parado.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «A violência gera mais violência. A desconfiança gera mais desconfiança. Os cidadãos têm de confiar na sua polícia. Eu quero confiar na polícia do meu país. E tenho o direito e o dever de exigi-lo. A polícia de um Estado de direito democrático não pode ser confundida com a bandidagem fardada dos estados policiais.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 18.05.25

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Patrícia Reis: «Todas as manhãs a mesma sensação. A portada aberta, a cruz ortodoxa lá no topo e o sol tímido, ainda tímido no mês de Maio, e uma vontade imensa de ter um sinal divino que assegure que a semana será tranquila. Dois minutos sem pensamento. Nenhum sinal. Deus está sempre calado.»

 

Eu: «Num país onde tantos se pronunciam a meia-voz, ele destaca-se por dizer aquilo que realmente pensa. Falando do alto do seu império familiar, que dá cartas no sector da distribuição, Alexandre Soares dos Santos vai lançando anátemas sobre políticos da vida real à hora a que metade dos portugueses se entretêm a ver telenovelas. Já livre de responsabilidades directas na administração do grupo Jerónimo Martins, agora liderado pelo seu filho Pedro, poderia sentir-se impelido a exercer "magistratura de influência" num palácio cor-de-rosa à beira-Tejo onde alguns inquilinos se limitaram até hoje a ver passar navios. Não seria certamente o caso deste empresário nascido há 80 anos sob o signo Balança. Soares dos Santos gosta de chamar as coisas pelos seus nomes, sem vender gato por lebre. Por vezes as suas palavras podem até conter um Pingo Doce, mas deixam um travo amargo ao Estado a que isto chegou.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 17.05.25

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Luís Naves: «Em 2011, não havia dinheiro para pagar salários e pensões. Durante três anos de programa de ajustamento, desmentindo o medo da espiral recessiva e evitando o segundo resgate ou a tentação da renegociação da dívida, este governo cumpriu as condições impostas pelo memorando (e nunca foi além da troika, pelo contrário) tendo a partir de 2014 conseguido financiar-se sozinho nos mercados. Era isto ou a Grécia.»

 

Teresa Ribeiro: «Neste espaço de originalidade e bom gosto, criado por Ana Marques Pereira, aprende-se muito sobre história da gastronomia e de todos os elementos que a compõem e enquadram, desde ingredientes a faqueiros e baixelas de prata. Tem a vantagem de nos levar para longe, muito longe da política, das notícias, dos ruídos do quotidiano. E que bem que sabe de vez em quando variar de ementa e dar umas Garfadas online para desenjoar.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 16.05.25

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Luís Naves: «Nenhuma actividade que envolva ecrãs de computador poderá escapar à ascensão das máquinas, que parece inevitável nos próximos 30 anos. As tarefas rotineiras serão executadas por robôs incansáveis e baratos, mas não é difícil imaginar que nos hospitais ou escolas de província possa haver modelos mecânicos um pouco mais caros baseados em cirurgiões e professores de competência mundial, capazes de diagnósticos precisos e ensino sofisticado. Os transportes, a limpeza, a vigilância, as finanças e a indústria podem ser mecanizados, talvez também a hotelaria, a administração, a educação e a saúde. As implicações para o emprego serão devastadoras e teremos proporções quase inimagináveis de gente sem trabalho.»

 

Teresa Ribeiro: «Quantos filmes vi eu sobre o nazismo? Entre séries, documentários e fitas de fundo foram muitos! O tema é inesgotável e ainda bem, porque pulula por aí gente que se aplica em negar esse passado que é de todos, não apenas de judeus e alemães. Phoenix, de Christian Petzold, levou-me mais uma vez à Berlim devastada do pós-guerra. Ainda há poucos dias tinha lá passado, pela mão de Rossellini, em Alemanha, Ano Zero, uma coincidência que torna impossível não relacionar os dois filmes. Ambos contra a corrente, revelando a realidade não sob o ponto de vista dos vencedores da guerra, mas dos derrotados. Em se tratando deste tema não estamos habituados à perspectiva dos culpados, destroços humanos sem direito à autocomiseração, muito menos à compaixão dos outros.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 15.05.25

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Sérgio de Almeida Correia: «Já não poderá rever The life of Riley, mas estou certo de que lá em cima não lhe negarão o direito de repousar ao som dos blues. As lendas são eternas. Nós é que temos de lhe agradecer e de nos curvarmos perante a sua obra.»

 

Eu: «Seria este benfiquista de signo Leão, hoje com 74 anos, um possível Reagan português capaz de transformar Belém num palco à medida dos seus dotes histriónicos? Pioneiro nas telenovelas portuguesas, como co-autor e intérprete do camionista João Godunha em Vila Faia, poderia ser um pioneiro também nisto. Porque se cada político é actor, também um actor tem todo o direito de ser político.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 14.05.25

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Eu: «Olha-se hoje para Manuel Monteiro e conclui-se que o tempo passa mesmo muito depressa. O rapaz magrizela de 29 anos que sucedeu ao histórico Adriano Moreira como dirigente máximo dos democratas-cristãos já é cinquentão e fala com a pose senatorial que criticava nos veteranos de outros tempos. (...) Manuel é nome muito presidenciável: já houve três inquilinos em Belém com este nome (Manuel de Arriaga, Manuel Teixeira Gomes e Manuel Gomes da Costa). Permanece um espaço por preencher à direita, que não se revê na actual coligação e poderia ser desviado da abstenção com a sua candidatura. Paulo Portas, irrevogavelmente, não votaria nele.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 13.05.25

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João Campos: «Há anos que ouço falar na crise dos cinemas, na falta de público, na fraca bilheteira para praticamente todos os filmes que não sejam as grandes produções norte-americanas, e nos mais variados bodes expiatórios (a pirataria costuma ser o mais frequente, e é com igual frequência um tiro ao lado). Vai na volta, e o preço dos bilhetes até tem alguma coisa que ver com o caso.»

 

José António Abreu: «A minha prima Cristina confidenciou-me que a mãe, recusando embora admiti-lo para não dar o braço a torcer perante a irmã, já percorreu a pé os trinta e tal quilómetros até Fátima mais duas vezes. Para que a Deus não restem dúvidas acerca do seu empenho. Prometi a Cristina manter o segredo mas, a cada nova reunião de família, pergunto-me se não seria mais caridoso - mais cristão, até - deixar escapar a verdade.»

 

Luís Menezes Leitão: «Parece que hoje é o dia em que tencionam tornar obrigatória a utilização do inenarrável "acordês", que um grupo de ignorantes, que se julgam iluminados, quis impor à força aos portugueses. Pela minha parte tenciono exercer o meu direito de resistência e continuarei a escrever até à morte no português que os meus saudosos professores me ensinaram desde criança. Porque o resultado desta imbecilidade está à vista neste anúncio. O grupo Optivisão agora acha-se "o maior grupo ótico português". Talvez o referido "grupo ótico" devesse saber que, em português, "ótico", como qualquer dicionário lhe pode informar, é respeitante ao ouvido. Se se quiser falar da visão, diz-se antes "óptico".»

 

Sérgio de Almeida Correia: «A fé não se descreve. A fé não se vê. E, no entanto, ela ali está. Em silêncio, entre aquela mole compacta e serena que vê os séculos passarem. Ou serão os séculos que os vêem passar e os vão acolhendo? (...) Sinto-os aconchegados. Vejo os seus rostos, a sua serenidade. A fé deve ser isto. E eu ali, para ali, transportando o tempo comigo, em silêncio, como se nada daquilo fosse possível. Como se nada existisse a não ser aquilo. Aquele silêncio, aqueles cânticos, aquela paz. Aquela luz. Que me traz e que me leva, quando quer, quantas vezes sem eu saber. Silenciosamente. Como se eu não fosse também daqui. Como se eu não fosse também um dos deles. Como se eu não tivesse fé.»

 

Teresa Ribeiro: «A publicidade ao "peixe fresco" das grandes superfícies, diga-se em abono da verdade, é rigorosa. Lá fresquinho é todo ele. Os termómetros não mentem. Quanto à sua frescura, é uma questão de sorte. Se acertou em peixe com pouco tempo de casa, não terá razão de queixa, embora mesmo nestes casos do cheiro a hipermercado não se livra. Cheiro a mar, ou mesmo a peixe, só no mercado ou  na lota. Será que a ASAE anda em cima disto?»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 12.05.25

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João André: «- Boa tarde senhor doutor.

- Sim? Em que posso ajudar?

- Sou filho daquele senhor que o doutor andou a tratar do excesso de peso.

- E então, como vão as coisas?

- Malzinho doutor, malzinho. O meu pai morreu...

- Morreu? Mas como?

- De malnutrição. De dores. De úlcera. Enfim, da cura.

- E qual era o peso?

- XX quilos.

- Está a ver como até perdeu peso? Se quer que lhe diga, o mal foi não ter levado a cura longe o suficiente.»

 

Eu: «Há sempre alguém que diz não. Mas muitos militantes socialistas, e até eleitores que nem costumam votar no PS, gostariam que Manuel Alegre dissesse sim. Alguns notáveis que lhe viraram as costas noutras ocasiões (...) consideram que o autor da Senhora das Tempestades merece uma terceira oportunidade, após ter sido derrotado duas vezes nas urnas por Cavaco Silva, em 2006 e 2011. Agora que Cavaco não pode recandidatar-se e nenhuma figura da esquerda se impõe naturalmente na próxima contenda presidencial, por que não uma terceira oportunidade a quem escreveu A Terceira Rosa? Aos 79 anos, que festeja hoje, este benfiquista nativo de Touro - signo de gente determinada e persistente - parece ter-se desinteressado de corridas.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 11.05.25

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Helena Sacadura Cabral: «Os cinco anos que o meu blogue Fio de Prumo tem de existência fizeram-me pensar seriamente que há muita forma de intervir na sociedade em que vivemos, independentemente dos partidos. Com efeito, sob o manto diáfano da democracia partidária, tenta-se mostrar aos portugueses que só através daqueles é que se pode fazer intervenção cívica. Não é verdade. A sociedade civil pode e deve fazê-lo, através dos meios ao seu alcance.»

 

Luís Menezes Leitão: «Há muito que acho que o combate ao Estado islâmico é para levar a sério. Tão a sério que nem preciso de acrescentar eufemisticamente o "autoproclamado", como se todos os Estados não fossem autoproclamados até outro país os reconhecer. Trata-se de um Estado terrorista, que demonstra uma crueldade monstruosa contra os desgraçados que têm o azar de cair nas suas garras. Mas o mais grave é que tem um forte potencial para funcionar como elemento agregador do terrorismo islâmico a nível mundial, como se viu na Nigéria, onde o Boko Haram já lhes prestou vassalagem. O Ocidente deveria estar por isso a preparar uma coligação de ataque a esse novo Estado terrorista antes que ele se torne ainda mais forte do que já é.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Convém ao PS não ter ilusões e apostar num discurso claro, objectivo, que seja ideológica e eticamente capaz de fazer a separação de águas. Em relação aos adversários políticos, mas em especial no que se refere a práticas anteriores de alguns membros da "família". E isso ver-se-á, desde logo, pela constituição das listas de deputados e pelos "apoios" que até às eleições forem surgindo de braço dado com a direcção do partido.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 31.03.25

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Bandeira: «Exemplos do rigor científico de The Devil’s Dictionary são as definições de "egoísta” (uma pessoa de mau gosto, mais interessada nela do que em mim), “rezar” (pedir que as leis do universo sejam revogadas em favor de um único peticionário, confessadamente indigno do benefício) e “dicionário” (um dispositivo literário malévolo para entravar o crescimento da língua e torná-la difícil e inelástica, sendo o dicionário de Bierce a óbvia excepção).»

 

José António Abreu: «Só uma mulher podia considerar que quaisquer seres humanos - machos, fêmeas, hermafroditas - se definem por factores externos ao cérebro.»

 

Eu: «Em vez de uma bomba ou uma AK-47, o tal tipo amável optou antes por um Airbus 320 como instrumento do massacre. “Descontrolou-se”, repete alguém. Como já sucedera com aquele assassino norueguês, um monstro de sorriso gélido que em 2011 matou a sangue-frio 77 adolescentes num acampamento de Verão. Também ele contou com a benevolência de psiquiatras que logo o consideraram "inimputável" – como se o mal não estivesse inscrito desde os confins dos tempos na condição humana. Também ele teve o nome e o rosto impressos por toda a parte. Um e outro, celebridades instantâneas à escala planetária. Neste mesmo mundo em que tantos benfeitores permanecem anónimos e jamais serão procurados para notícia de telejornal.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 30.03.25

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Bandeira: «Se dúvidas houvesse quanto às perturbações que o funcionamento irregular de um sistema judicial pode causar no espírito de um indivíduo são, uma leitura de Hesíodo seria o suficiente para as dissipar. Um agricultor humilde perde, por subversão da Justiça, uma causa; e no momento seguinte está a descrever as origens do universo em hexâmetros dactílicos. Assisti a internamentos forçados por bem menos do que isso.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Pesado, diria mesmo doloroso, foi o resultado eleitoral do PS. No final do ciclo do jardinismo, numa altura em que as críticas foram mais do que muitas aos desvarios gastadores de Jardim, e depois de um período de grande aperto, à semelhança do que aconteceu com os restantes portugueses, esperava-se outro resultado do PS/Madeira. O que aconteceu foi um desastre que retira voz e protagonismo ao partido a nível regional.»

 

Eu: «Estivesse ainda Seguro ao leme do PS nacional, acossado por um batalhão de bitaiteiros televisivos dispostos a "fazer-lhe a folha", e não faltaria o coro das carpideiras a bramar contra a "frouxa" liderança no Largo do Rato. Como Seguro já não está, resta o silêncio.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.03.25

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José Navarro de Andrade: «No passado dia 2 de Dezembro a Fundação Francisco Manuel dos Santos lançou o meu livrinho "Terra Firme", uma reportagem com laivos de ensaio, ou vice-versa, sobre uma herdade alentejana. (...) A dimensão da coisa ganhou foros de susto quando mencionaram a magna figura convidada para comentar o livro - e que tinha aceite... Vai ser bom para a minha vaidade, pensei, prestigiar-me com a sua presença nesta cerimónia, decerto protocolar. Pois sim... Em vez das triviais generalidades simpáticas do costume, o cavalheiro, que não me conhecia de lado nenhum e a quem eu fora apresentado à entrada, sacou de um exemplar de "Terra Firme" ouriçado de Post-Its e durante uma hora analisou e dissertou em pormenor, com uma acuidade fulminante e uma desvelada gentileza. Disseram-me depois que Sevinate Pinto era sempre assim.»

 

Luís Naves: «Sempre achei que a blogosfera era um meio ideal para publicar textos literários, opiniões e crónicas. É um meio ideal de aproximação aos leitores e serve para experimentar coisas novas, enfim, para a oficina do artesão.»

 

Maurício Barra: «A corrupção das elites é um tema eleitoral incontornável em 2015. E, ao contrário do que algum mainstream gostaria, não vai ser uma agenda minoritária de grupúsculos políticos. Vai ser a agenda principal dos eleitorados de centro-esquerda e centro-direita.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Não conheço Henrique Neto de lado nenhum. E não faço à partida tenção de apoiá-lo porque aos setenta e oito anos já não se devia eleger ninguém para cargos tão exigentes como uma Presidência da República (...). Mas tenho pena que não apareça por aí um outro Henrique Neto, republicano, com menos quinze anos, socialista e de uma seriedade à prova de bala, e podem ter a certeza que eu votaria nele. Com ou sem a bênção do partido.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 28.03.25

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José António Abreu: «Wild River (Quando  Rio se Enfurece) é um Kazan ligeiramente menos teatral do que as suas obras da primeira metade da década de 50 (Um Eléctrico Chamado DesejoHá Lodo no CaisA Leste do Paraíso). Pode até ser visto como uma primeira versão do filme seguinte, Esplendor na Relva. Inclui, porém, quase todas as suas marcas registadas: method acting, luta entre forças desiguais, preocupações sociais (neste caso, ligadas à questão racial), desejos reprimidos, paixões que se confundem com amor e são sobretudo desejo de escapar à realidade em que se vive.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Quando um povo convive habitualmente com o lixo acaba por se habituar ao cheiro. O céu azul e o sol nos olhos cegou-o. Desde que o lixo não lhe tape o sol, a gente não se importa porque mesmo cega tem sol, mar e quem lhe dê música. Se um dia lhes tirarem o lixo ainda irão estranhar. Com medo que o sol que os faz assim lhes falte.»

 

Teresa Ribeiro: «Também por cá não nos faltam recursos linguísticos para humilhar o próximo. A diferença que por enquanto existe entre uma sociedade como a americana e a nossa é que ainda não é compulsiva, mecânica e massiva a utilização do insucesso como arma de arremesso. Mas tudo indica que estamos quase lá. Há dias, no cinema, um anúncio a uma aplicação para telemóvel rematava com o icónico vocábulo. "Loser", assim mesmo, sem tradução. Para que o conceito passe com toda a sua força expressiva e fique.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 27.03.25

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Bandeira: «As técnicas de sedução de A Arte de Amar levariam hoje o pretendente a várias condenações por assédio, tentativa de violação, stalking e outros crimes para os quais não encontro definição legal adequada. Também quando Ovídio sugere às mulheres que controlem o mau génio e não arranhem nem piquem as servas com alfinetes quando estas as penteiam, não vão elas derramar-lhes lágrimas nos cabelos e votar às divindades infernais a cabeça cujas mãos seguram, as coisas ficam um bocadinho sinistras.»

 

José António Abreu: «Churchill (inconveniente, irónico, fumador, gordo)  nunca seria eleito nos dias que correm. Em contrapartida, Hitler ou Estaline (convictos, sem pinga de humor inconveniente - quase um pleonasmo -, tão indignados quanto a generalidade da população) poderiam muito bem ganhar eleições.»

 

Eu: «Consta que o PCP anda à procura de um candidato presidencial. Talvez não encontre melhor, no capítulo da notoriedade, do que Mário Nogueira: sozinho, o secretário-geral da Fenprof parece um habitué mais regular nas televisões do que qualquer dirigente da oposição parlamentar.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 26.03.25

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Sérgio de Almeida Correia: «Tenho asco a quem politicamente é estruturalmente indecente. A gente politicamente desonesta. A gente que se alimenta do padrão para sobreviver e singrar. A gente que é ética e moralmente desestruturada (na minha perspectiva, é claro). À direita, à esquerda, em cima e em baixo.»

 

Eu: «Carlos Monjardino está habituado a lidar com milhões, mas sempre foi um homem de esquerda. É um socialista sem partido, como costuma dizer de si próprio este capricorniano de 72 anos. Uma espécie de Manuel Alegre sem poesia. Com a vantagem de poder contar com o apoio aberto e entusiástico de Soares, ao contrário do que sucedeu com Alegre em 2006.»

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 25.03.25

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Bandeira: «Conheço outros exemplos de obras que não chegam ao fim, desde a 16.ª sátira que Juvenal inconseguiu (ou cujo final, admitamo-lo, se perdeu) ao desfibrilado O Castelo, de Kafka; mas essas sempre terminam com frases completas. Espere, espere, assim de repente vem-me à memória outro caso de um volume que termina a meio de uma frase. Falo de Finnegans Wake – reparou que lhe chamei “volume” e não “livro”? A isso dá-se o nome de “prudência” –, de James Joyce, cujas últimas palavras são: “A way a lone a last a loved a long the” »

 

José António Abreu: «Alastram, são cada vez mais assumidas, tornam-se moda. Quem, há vinte ou trinta anos, ouvira falar da intolerância à lactose ou ao glúten?»

 

Eu: «Há quem sonhe com um justiceiro em Belém. E ninguém merece mais este rótulo do que o vice-presidente da associação cívica Transparência e Integridade, Paulo de Morais, que em 2001 Rui Rio arrancou a uma pacata existência como docente de Estatística e Matemática ao torná-lo seu efémero braço direito na Câmara Municipal do Porto, com os pelouros da habitação e urbanismo. Este minhoto de 51 anos, signo Capricórnio, não tardou a trocar a Avenida dos Aliados pelos ecrãs televisivos e pelas colunas dos jornais, onde vai expressando o seu imenso nojo por quase tudo quanto mexe na política. É um discurso muito sintonizado com o ar do tempo. Ajuda a captar audiências e agrada a muita gente disposta a "pôr fim a esta bandalheira" - seja lá o que isso for.»