Ela - Gostaste de ver a Greta em Lisboa?
Ele - Não. Esta Greta não tem garbo.
Ela - Ela é determinada e fofinha. Gosto muito dela. Miúda voluntariosa e bem intencionada. Luta por uma causa que devia ser de todos.
Ele - Eu vejo-a como uma ignorante que se destaca por faltar à escola.
Ela - Incomoda e mobiliza os outros jovens para uma causa justa.
Ele - Apela aos miúdos para fazerem greve às aulas a pretexto da defesa do clima. Assim é fácil ser popularíssima. Qual o miúdo que não sonha ser liderado e manipulado por alguém assim?
Ela - A Greta não sabe o que é ser falso ou dissimulado ou manipulador. Ela é genuína, autêntica.
Ele - O problema nem é ela, mas os oportunistas que a manipulam para se tornarem "celebridades". Como estes velejadores ricaços que lhe deram boleia durante semanas no Atlântico e deliram por terem "milhões de seguidores" nas redes sociais. E os políticos que se vergam à miúda porque assim ficam bem vistos nos meios de comunicação.
Ela - O que ela diz e faz só pode incomodar negacionistas como tu e quem se sente posto em causa como cidadão por não fazer nada ou quem é de direita e imagina que os activistas pró-ambiente são todos de esquerda. Ela é um exemplo para os da geração dela, que vivem alheios a tudo e todos, sempre ligados ao telemóvel.
Ele - Os alarmistas como tu podem achar muito gracinha, mas o lugar de uma miúda como ela é na escola, na universidade. Tem de aprender, estudar, investigar. Aos 16 anos ninguém dá lições ao mundo.
Ela - A geração dela é que levará em cheio com as consequências das alterações climáticas. Portanto tem toda a legitimidade para se manifestar pois quem está no poder não faz nada. Ou não faz o suficiente. Que moralidade tem alguém para criticar a causa destes miúdos? Em última análise estão a lutar pela vida.
Ele - Quem lutou e luta pela vida não é a Greta: é a Malala, que arriscou tudo na defesa do direito das miúdas paquistanesas em frequentar as escolas quando eram perseguidas ou até mortas por quererem instruir-se. Ela levou em 2015 o Governo a aprovar a primeira lei que reconhecia o direito universal à educação lá no país. Foi gravemente ferida, esteve quase à morte, mas não desistiu. Enquanto a Malala defende as meninas nas aulas, a Greta quer tirá-las de lá. Se admiro uma, não posso admirar a outra.
Ela - Que argumento mais manipulador e demagógico! Assim não dá para manter uma discussão com pés e cabeça.
Ele - Deixemos então de discutir. Queres vir ao cinema comigo? Apetecia-me ver O Irlandês.
Ela - Não está no cinema, só dá para ver na Netflix. Vai ser o meu programa para esta noite, mas sem ti. Passa bem.