Obrigado
(créditos: CM/Pedro Simões)
Choque pela notícia matutina. Choque pelas circunstâncias. Choque pela confrontação com a realidade.
A notícia caiu de chofre.
Figura de referência no estudo, investigação e ensino da moderna Ciência Política portuguesa, que ajudou a colocar no mapa internacional das escolas de referência, sempre disponível para com os seus alunos, rigoroso, aberto e amigo, o Professor André Freire partiu subitamente.
Sem aviso prévio e numa intervenção cirúrgica, tanto quanto me apercebi, corriqueira.
Os milhares de páginas que deixou escritas em livros e artigos científicos, que terão feito dele um dos mais citados politólogos nacionais, jamais servirão para colmatar a sua ausência na academia e no espaço público, nas televisões, em jornais, em múltiplos seminários e conferências, nas quais sempre participava com gosto e total disponibilidade.
Exemplo de integridade, de intervenção cívica desinteressada e oportuna, em especial nas cíclicas crises da política portuguesa, parte numa altura em que tinha ainda tanto para nos dar.
Os seus alunos ficarão órfãos. Os portugueses estão desde hoje imensamente mais pobres.
Fundamental no meu regresso ao universo académico, à orientação definitiva da agulha para a minha área de vocação e interesse, motivando-me para a investigação e a fixação de metas das quais, tanto ele como o saudoso Professor Farelo Lopes, nunca me deixaram desistir, dando-me sempre a sua opinião informada, a última sugestão de leitura e os incentivos para desenvolver, aperfeiçoar e depurar.
Concluído o doutoramento, que acompanhou com interesse e visível satisfação pelo cumprimento de todos os prazos e o interesse do tema que então investiguei, e sem cuja ajuda jamais teria concluído, lá íamos mantendo contacto virtual, sempre com uma palavra, da parte dele, de interesse sobre o que ia fazendo em terras longínquas, e de estímulo a um eventual regresso a Portugal, que sempre viu com bons olhos.
Uma vez por outra, quando passava por Lisboa, lá participava nas conferências de que me dava nota, visitando-o de caminho no gabinete do ISCTE que partilhava com a minha antiga orientadora, sua colega e amiga.
A sua voz continuará a ouvir-se, e a ser recordada, por mais anos que passem.
O vazio permanecerá de cada vez que ler uma página dos seus escritos ou o citar.
Tristeza maior por saber que já não terei o gosto de o ouvir comentar e criticar aquilo que for escrevendo.
Até sempre, Professor.
Até sempre, André, e obrigado.