Uma desgraça
- Durante três meses, é ou não verdade que houve pessoas em situação absolutamente desesperada, com uma quantidade de dinheiro por mês que é insuficiente, para dizer o mínimo?
- Houve muitas pessoas...
- Sente que falhou a essas pessoas?
- Ó... ó... vamos lá ver. O Estado, durante esse tempo, aprovou medidas muito importantes de apoio social...
- Claro. Como por exemplo o lay-off simplificado para as empresas...
- O lay-off simplificado...
- Sabe quanto tempo é que essa medida demorou a ser aprovada?
- Mas... oiça... vamos ver...
- Senhora ministra: sabe quanto tempo?
- Eu sei quanto tempo.
- Quanto?
- Eu sei quanto tempo.
- Quanto?
- Mas há uma coisa... há uma coisa que é preciso...
- Quanto tempo, senhora ministra?
- Há uma coisa que é preciso... há uma coisa que é preciso...
- Vou replicar a pergunta: sabe quanto tempo é que o lay-off simplificado demorou a ser aprovado?
- Sei. E há uma coisa que é preciso aqui realçar. É preciso realçar o seguinte: todos os dados...
- Eu vou deixá-la realçar o que entender, mas gostaria de insistir nesta questão. Porque aqui a questão do tempo de reacção é muito importante...
- Claro que é.
- ... e se o lay-off simplificado demorou uma semana a ser aprovado, o que permitiu ajudar milhares de famílias, a minha pergunta para a senhora ministra da Cultura é porque é que o seu ministério demorou três meses.
- Mas o meu ministério... vamos lá a ver... há aqui um ponto que é muito importante realçar: é que Portugal é um estado social, tem um sistema de segurança social de natureza universal, não há nenhuma razão... não há nenhuma razão... não há nenhuma razão para que as pessoas... todas as pessoas, inclusive as que trabalham na agricultura, não estejam abrangidas pelo sistema de apoio social universal.
Excerto de uma entrevista à ministra da Cultura, Graça Fonseca, conduzida pelo jornalista Bento Rodrigues, há pouco, no Primeiro Jornal da SIC