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Delito de Opinião

Deus ex Google

Maria Dulce Fernandes, 21.08.19

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As pessoas são chatas e convencidas. Nasceram assim ou fizeram-se deste modo, nesta sociedade do audiovisual e das redes sociais?
Em mais uma das minhas fases anuais de morcego, descobri um novo tipo de animal humano, que prima pela omnisciência que adquire tipo mousse Alsa: basta juntar água.

Refiro-me ao Homogooglens, o tudólogo do Google.

O nível de conhecimento que o Google confere a estas pessoas, que proliferam como mosquitos ao redor da luz que emana da partícula de Deus que carregam permanentemente consigo como se do fogo primordial se tratasse, é excepcional, elevadíssimo e sempre correcto.

Como pode um comum mortal de provecta idade competir com um homogooglens de brilhante telefone na mão, a debitar impropérios acerca da incompetência das pessoas que não cumprem o que está escarrapachado no Google com todas as letras, mapas e imagens?

Isto merece uma crítica negativa no Facebook, no Instagram ou no Twitter.

Tal inépcia mimoseia-nos com entrada directa para a candidatura a desqualificado de primeiro grau, pela incapacidade de ler e fazer cumprir o que diz o Google ali, logo na primeira página, após uma pesquisa que devolve mais de cinco mil entradas.

Tentar explicar ao homogooglens que em Montain View os Senhores não gerem as páginas particulares de cada um, limitam-se a ser um motor de busca no geral, por sinal bastante competente, mas cujas actualizações deixam bastante a desejar, não é tarefa fácil, é tarefa impossível. É que está ali, ALI, na sua mão, vê? Vejo, mas está errado. Provecta, estúpida e iletrada, que nem ler sabe...

Imprimo um printscreen da página oficial e mostro-o ao homogooglens... papel e tinta para deitar para o lixo, claro... isso é de onde? Não está no Google! Está, se procurar e não se ficar pela fachada...

Já experimentou googlar o seu nome? Então faça-o e veja quantos são e qual deles é o Senhor.


Deixo-os no vício, entretidos a descobrir-se na internet e ao êxtase que lhes proporciona o imenso saber que lhes oferece.
Está quase na hora de sair para o escuro e tentar encontrar no silêncio da noite a absolvição para os meus pecados, que devem ser muitos e copiosos, porque ninguém merece tão insensata expiação.

O seu a seu dono, pois claro

João Campos, 19.01.13

Balsemão quer que o Governo ponha os "piratas" e os "motores de busca" na ordem. A coisa parece-me sinistra - e não é só por o patrão do grupo Impresa achar que um motor de pesquisa faz "pirataria". Mas percebo a ideia: é muito mais fácil atacar o modelo de negócio de outros do que pensarmos naquilo que está errado no nosso. E, diga-se de passagem, os órgãos de comunicação do Grupo Impresa deixam muito a desejar hoje em dia. Talvez fosse boa ideia Balsemão, antes que querer extorquir dinheiro à Google (é disso que se trata), preocupar-se antes com a qualidade do jornalismo dos seus meios de comunicação social. É que no meio de Artures Baptistas da Silva, colunistas que pelo tom e pela ortografia não teriam lugar em qualquer publicação decente, biqueiradas constantes no Português (pré ou pós-Acordo) e layouts muito pouco funcionais, o jornalismo "de referência" há muito que abandonou os meios do Grupo Impresa - Expresso incluído - e rumou a parte incerta. 


A alternativa mais interessante seria a Google, perante esta polémica, retirar os meios queixosos dos resultados de pesquisa. Talvez um trambolhão em termos de pageviews diárias e de trolls a infestar as caixas de comentários fizesse Balsemão perceber como funciona a Internet.