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Delito de Opinião

Vitaminas para o autoproclamado quarto pastorinho

Paulo Sousa, 30.05.23

Depois de, por afirmações de João Galamba (ministro que merece toda a confiança do PM), termos ficado a saber que o mesmo contactou o secretário de estado adjunto do PM para solicitar a intervenção do SIS, continuamos a aguardar pela confirmação disso mesmo por parte de António Costa ou por Mendonça Mendes. Esta dupla de governantes recusa-se ferreamente a qualquer declaração sobre este assunto.

Eu gostava de lhes perguntar o seguinte:

- Têm V.exas. consciência de que, ao optarem por não prestar explicações sobre a vossa actuação no já tão debatido episódio da intervenção do SIS estão a alimentar o desapontamento de quem quer acreditar nas instituições, de quem quer acreditar na responsabilidade política e na lisura de procedimentos, e dessa forma estão a promover as abordagens mais radicais que ameaçam a saúde da democracia?

Em quem acreditar

João Sousa, 18.05.23

Devo começar por fazer uma declaração prévia de interesses: Frederico Pinheiro convivia alegremente com aquela gente desde 2017, logo não o considero nenhum anjinho caído agora do céu aos trambolhões. Dito isto, vejo muita gente dizer que entre as versões de Frederico Pinheiro e de Eugénia Correia, estamos limitados à palavra de um contra a palavra do outro. Não: Eugénia Correia mente, e é possível provar que ela mentiu. Em determinado momento, ela testemunhou que viu "o ministro a falar tranquilamente com Frederico Pinheiro". Ora isto é claramente uma mentira: nunca na vida João Galamba falou tranquilamente com alguém.

(E quão conveniente é a câmara do piso onde Eugénia Correia afirmou terem ocorrido as agressões estar avariada?)

Galamba

José Meireles Graça, 03.05.23

Não gosto de pipocas e portanto o que me acompanha enquanto vejo o filme pornográfico governamental são cigarros.

Receio que vá fumar muito, a julgar pela amostra de ontem. Já ouvi Helena Matos, Sérgio Sousa Pinto, Sebastião Bugalho, José Miguel Júdice, quase tudo de um debate (na realidade um massacre de Costa) entre Mariana Mortágua e Bernardo Blanco; e ainda alguns outros em parte, salvo os representantes dos partidos em que me fiquei pelo quase nada porque, juntamente com o tabaco, a demasia poderia ter efeitos deletérios numa saúde que estimo. Além do que, com aqueles referidos a princípio, já me considero ilustrado.

Uma vaga gratidão nutro por Costa, Galamba, Medina e as outras personagens do elenco. Porque me tenho aliviado de uma quantidade prodigiosa de piadas foleiras no Facebook e a mera informação de que tinha apostado 5 € em que Galamba não seria demitido foi acolhida com bastante curiosidade. Amanhã haverá mais e nos dias, senão semanas, seguintes conto com emocionantes episódios.

Ontem por ontem descrevi a coisa, como a vejo, assim:

Cheque ao rei: Andas para aí a rosnar que dissolves e não sei quê, a ver se te colas ao descontentamento que anda no ar e recuperas a tua popularidade que já foi maior? Ora pega, ou dissolves e eu tenho hipóteses de ganhar as eleições ou não dissolves e ficas corresponsável por tudo o que corra mal. E se na Comissão de Inquérito o Galamba ficar ainda mais queimado do que já está, tens mesmo de dissolver e eu vou chorar lágrimas de sangue a dizer que a direita e o seu Presidente me impediram de prosseguir a esforçada e bem sucedida tarefa de governar.

Bem jogado por Costa. Tão bem que não é impossível que saia vencedor desta contenda. E é isso que dói, porque a vitória dele será a derrota do país. Do que dizem os comentadores maiores deduzimos a história, e tiramos as nossas conclusões consoante a simpatia que temos por uns e outros – é o papel deles.

Eu e muitos gostamos disto. Mas não somos desempregados em fim de subsídio, nem estamos à espera de uma consulta ou operação no SNS ou decisão de uma pendência em tribunal, nem constatamos que o orçamento disponível pouco passa de meados do mês, nem vamos de malas aviadas para pôr o curso a render num sítio em que somos imigrantes, nem, nem, nem.

Uns lunáticos passam a vida a dizer que estamos a ficar para trás numa União Europeia que pesa cada vez menos no mundo, mas isso não interessa nada porque ninguém sabe bem onde fica a Lituânia ou a Hungria, por exemplo. E depois, para quem tem o rendimento absolutamente certo ao fim do mês, seja funcionário público, reformado, pensionista, fornecedor habitual do Estado ou empregado de empresa pública que ainda não entrou em corrupio, não se pode acenar com reformas do Estado porque essa gente se encolhe logo com medo que lhes toque a eles – que são quem decide as eleições. O regime de esquerda minou o terreno bem minado, e um governo como o de Costa sabe que reformar seja o que for lhe diminui a popularidade – é muito melhor dar um bodo qualquer, modesto que seja, montar uma barragem de propaganda e contar com o matraquear da esquerda à esquerda, que vai difundindo o ideal de progresso do país capitaneado por um Estado obeso. Isto permite ao PS apresentar versões edulcoradas das mesmas políticas, o que passa por moderação e equilíbrio.

O PSD e a IL apresentam soluções que passam a maior parte do tempo desapercebidas, e quase sempre evitam cuidadosamente falar de reformas desagradáveis – um propõe-se expurgar os piores defeitos das políticas pêessísticas e o outro quer fazer reformas fiscais que originam crescimento a prazo sem explicar como se resolve a quebra de receita enquanto o crescimento não chega.

O Chega tem herdado os deserdados e os indignados do regime e quer cortar nos podres porque os seus militantes e simpatizantes são puros, enquanto os outros são uma corja de ladrões e patifes para cujos desmandos promete cadeia. De reformas nada salvo a do Código Penal. É provável que cresça à medida que crescem os problemas do país e se vão destapando as águas pútridas em que chafurda o aparelho que o PS montou e é provável que chegue ao Poder. Será menos mau tudo o que remeta o PS para uma longa cura de oposição, mas não mais do que isso.

Como dizia Pessoa, enquanto o destino mo consentir continuarei fumando. E como não gosto de pipocas, como já disse, mas, como não disse, aprecio fritos e guisados, vou assistindo com gosto ao longo cozinhado destes peixes, dos quais a maior parte são lampreias.