Só vejo duas hipóteses: ou é mentira ou irresponsabilidade.
Entretanto, na outra margem do rio, o responsável pelo sobreendividamento de Gaia esqueceu-se de colocar o símbolo do PSD nos cartazes de campanha mas promete heliportos, cortar o trânsito em parte da rotunda da Boavista e, numa tentativa de agradar aos abrunhosas do burgo, órfãos de carinho e fundos públicos há doze anos, centros de artes, fazer de Wim Wenders o embaixador do vinho do Porto e forçar a Academia de Hollywood a atribuir o Óscar honorário a Manoel de Oliveira. Diz o candidato: «É no centro-esquerda que se ganha a maioria absoluta e é para aí que aponta o nosso objectivo.» Julgando pela história recente do país, o centro-esquerda é bem capaz de lhe dar a vitória.
Lê-se e não se acredita. Parece que Luís Filipe Menezes não quer abandonar Gaia sem deixar os gaienses afundados — literalmente — em mais um projecto megalómano e despesista. Efectivamente "a Câmara de Gaia está a projectar a construção de um túnel rodoviário mergulhado nas águas do Douro para ligar a praia de Lavadores (Gaia) à zona do Castelo da Foz (Porto). A obra custa 54 milhões de euros. Para o túnel ser sustentável deverá ser portajado". Vão ser assim gastos 54 milhões de euros para permitir aos milhares de carros que todos os dias desesperam na Praia dos Lavadores para chegar ao Castelo da Foz que lá cheguem num moderno túnel. E como não poderia deixar de ser, é necessário pagar a portagem, coisa que não existe em nenhuma ponte do Porto. Naturalmente que o túnel só será viável com mais uma parceria público-privada, em que a autarquia assegurará ao privado o retorno do investimento, já que, se o privado contasse apenas com o dinheiro das portagens a receber, não haveria túnel até ao dia do juízo.
Enquanto houver autarcas com estas ideias despesistas e megalómanas, o país está completamente perdido. Não vale a pena o Governo pedir sacrifícios, pois com autarcas assim nunca veremos a luz ao fundo do túnel.
Leio hoje no Público: "Em vésperas de extinção Gaianima faz ajustes directos de 130 mil euros." "Os contratos foram feitos com as empresas NextPower Comunicação Lda e com a Boston Media Comunicação Imagem SA".
Conheço relativamente pouco as máquinas partidárias, mesmo a do PSD, mas nesta notícia (além do relato preocupante de um ajuste directo numa empresa municipal) o nome da empresa "NextPower" soou-me familiar e fui investigar. Confirmou-se. Segundo o seu perfil do LinkedIn, Fernando Moreira de Sá (julgo que militante do PSD), um activo apoiante de Luís Filipe Menezes e de Carlos Abreu Amorim, é CEO da NextPower e de outra empresa chamada Comunicatessen. Constatei também que os domínios oficiais na Internet das campanhas para o Porto e para Gaia foram registados em nome da Comunicatessen. Daí que surja naturalmente a pergunta: é afinal a Gaianima (empresa municipal de Gaia presidida por Ricardo Almeida, também presidente da Concelhia do PSD/Porto) que está a pagar as campanhas de Menezes e de Amorim?
Momento 2:
Miguel Noronha faz eco no Insurgente da nota publicada no TAF.
3. A Nextpower não trabalha a campanha de Carlos Amorim que, aliás, nem tem nenhuma empresa de comunicação a trabalhar com ele mas sim um assessor de imprensa que nunca trabalhou em agências…
11. Por último, deixo uma pergunta: acham que seria assim tão estúpido para fazer tudo às claras se existisse alguma coisa a esconder? Não acham, no mínimo, estranho?
Extremamente interessantes são também alguns dos comentários feitos por leitores do post do Miguel Noronha. Quanto ao ponto 3 da resposta de Fernando Moreira de Sá, importa ter em conta o que se dirá no Momento 4. Já no que diz respeito ao ponto 11, devo desde já salientar que é um argumento tão imbecil que dificilmente se compreende que seja utilizado por alguém que faz da comunicação e da mensagem a sua profissão.
Este vosso servidor tenta contribuir modestamente com a transcrição de uma passagem que encontrou por aí e que também pode ter o seu interesse no esclarecimento do ponto 3 da resposta de Fernando Moreira de Sá:
Sim, podíamos investir o nosso tempo discorrendo longamente sobre o momento e a oportunidade em que estas coisas surgem, trazendo ao caso máximas populares sobre comadres e as suas zangas ou aproveitando para salientar que é incrível como se escreve mal em certas actividades de "comunicação". Exacerbadamente rigorosos que fôssemos e até bateríamos no peito com indignação arengando sobre a utilização do dinheiro dos nossos impostos, as funções sociais do Estado ou a taxa de solidariedade imposta aos pensionistas. Claro que nada disto vale a pena. Resta-nos emigrar para longe desta porra toda ou ficar, fazermo-nos de parvos, e cantar com o Emanuel. Vamos lá, rapaziada:
Carlos Abreu Amorim, candidato do PSD à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, em entrevista à Sábado de hoje:
O seu projecto limita-se a continuar a obra de Menezes?
Sei que na política portuguesa a frase que vou dizer tem outras conotações, mas as frases não ficam marcadas para sempre... É uma evolução na continuidade. Temos um projecto considerado valioso por toda a gente, tirando os partidos de extrema-esquerda.
[…]
Menezes não fez nenhum erro de gestão?
Falamos do melhor presidente de câmara da história do poder democrático português, com um apoio entre os 60% e os 70%.
Se um presidente de câmara que atinge o limite de mandatos num determinado concelho pode candidatar-se a funções idênticas num concelho limítrofe, pergunto-me se não seria possível o Rui Moreira candidatar-se simultaneamente à presidência das câmaras municipais do Porto e de Gaia. Não sei, digo eu.
Leio que anda por aí muita indignação com a deslocalização do Praça da Alegria e o corte de financiamento das actividades da Casa da Música. Pelo visto, há até quem proponha a realização de uma manifestação nos Aliados, uma espécie de 15 de Setembro com pronúncia do Norte. Tenho dificuladade em avaliar os fundamentos que levam a tais posições. Mas, de uma coisa estou certo. Se existe situação que justifica um levantamento popular, essa é a indicação pelo PSD de Menezes e de Marco António Costa como candidatos às Câmaras Municipais do Porto e de Gaia. Sejamos sinceros. Isto não se faz a ninguém, carago!