(In)segurança
Em ano de cinquentenário da Revolução, até parece que regressámos ao PREC.
Não me admiraria muito que este governo entrasse em greve (para quem não saiba, isso aconteceu, em 1975).
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Em ano de cinquentenário da Revolução, até parece que regressámos ao PREC.
Não me admiraria muito que este governo entrasse em greve (para quem não saiba, isso aconteceu, em 1975).
Ontem, em Lisboa, umas duzentas pessoas manifestaram-se em Lisboa contra a imigração de islâmicos. Antes havia sido proibida uma manifestação similar, decisão estatal peculiar - e muito problemática - devida a expectativas de perturbação da ordem pública. É certo que o mote da manifestação é desagradável, acintoso até. E também é consabido que o tipo de gente atreita a participar neste tipo de eventos é infrequentável - alguns dos seus integrantes mesmo com passado escandaloso - tanto pelas suas crenças como pelo seu comportamento colectivo. Mas daí a retirar-se-lhe, a priori, o direito a se manifestarem vai um passo demasiado longo. Entretanto, e como uma organização reincidiu na organização da arruada, a pequena mole xenófoba congregou-se em prol das suas crenças e sensações, ao que consta sem prejuízo da paz municipal.
Também para ontem estava agendada a realização de um jogo de futebol em Vila Nova de Famalicão, integrado no campeonato nacional da I divisão, entre o clube local e o Sporting Clube de Portugal. A polícia faltou - o que haveria de conduzir ao cancelamento do jogo, adiado para data ainda incerta. Face à ausência da polícia, de imediato surgiram confrontos entre os adeptos dos clubes que ali iriam jogar, dos quais resultaram vários feridos, óbvia perturbação da ordem pública. Sendo que estes confrontos entre adeptos de clubes desportivos constituem já uma longa tradição, como é do conhecimento geral. Os quais desde há décadas vão sendo dinamizados pela constituição de grupos orgânicos (as ditas claques), que inclusivamente assumem cenografias para-militares. E que são muito potenciados pela fervorosa cobertura mediática às acções desses grupos - os grandes jogos com imensa cobertura televisiva dos seus antecedentes são verdadeiros momentos da sua exaltação, de glória claquística -, bem como de alguns dos seus dirigentes, tornados figuras públicas apenas devido ao seu destaque nesses "grupos de choque".
Ou seja, é óbvio que cada jogo de futebol, e mesmo já de outros desportos colectivos, em particular os que implicam grandes rivalidades nacionais ou regionais, se tornou um momento em que será de esperar grandes perturbações violentas da ordem pública. Por isso convocando imensa cobertura policial. Assim sendo, qual é a razão do Estado, por antevisão de confrontos, proibir uma manifestação - ainda para mais atractiva para meia-dúzia de gatos pingados, por raivosos que sejam - e não proibir estes jogos de futebol, e não só, que convocam milhares de gatos pingados, raivosos que são?
Finalmente, é mais do que possível que os agentes policiais tenham razões para reinvidicarem junto do governo, usando as formas que lhes são legalmente concedidas. Acontece que ontem se recusaram a trabalhar no jogo em Vila Nova de Famalicão. Não através de um qualquer formato de greve que lhes seja possível, mas sim alegando doença, entregando atestados de baixa médica. Os quais, dado estarem concertados, são evidentemente fraudulentos. Assim sendo o Estado tem a obrigação - até para salvaguardar a ordem pública, que assenta no respeito pelas ... "forças da ordem" - de punir rispidamente estes agentes desonestos. E ainda mais tem a obrigação de punir ao mais extremo nível que possa os médicos falsários que exararam esses atestados.
E isto nem tem a ver com as simpatias políticas de cada um, ou a compreensão por quaisquer reinvidicações de grupos laborais. Quando numa situação destas o presidente de um sindicato policial (Sindicato dos Profissionais da Polícia), o agente Paulo Macedo, vem lamentar que o primeiro-ministro não tenha "desejado as melhoras" aos agentes que simularam doença, isso demonstra que os polícias já atingiram o mais baixo nível da desonestidade política, e sindical. "Estão a brincar com a tropa", como se dizia. Ou melhor, estão a brincar com o povo. E quem assim despreza os cidadãos não pode estar incumbido de funções policiais.
É um quatro-dois-três-um mas muitas vezes é mais um quatro-cinco-um de uma equipa que não se desorganiza nem se desposiciona muito e que sai bem na transição sobretudo nas bolas a passar em momentos de definição dessa transição ofensiva com alguma criatividade e alguma atenção à bola parada e ao jogo aéreo muito forte com os laterais a centrar nessa circunstância pois quando pressionada em bloco meio alto a equipa vai jogar tendencialmente em bloco baixo sobretudo quando os alas não são jogadores de largura e têm dificuldade nas acções de construção e a contratransição é vital porque quando se perde a bola em zona ofensiva se o pressing foi imediato pode ser recuperada instantaneamente e a contratransição numa equipa que a faça bem e que tenha qualidade de finalização muitas vezes é fatal e este é um jogo em que interessa revelar capacidade de pressionar alto e de recuperar alto e de meter grandes intensidades sobretudo na primeira parte sem deixar o adversário trocar a bola naqueles dois metros de construção da zona defensiva nem jogar no risco pois quando se recupera mais atrás eles encontram-se lá todos.
Fui suficientemente claro ou preferem que faça um desenho?
O iraniano Taremi, avançado do Futebol Clube do Porto, é um bom avançado. E é manhoso, perito naquela consagrada tarefa de "cavar penalties" - e os mais-velhos lembrar-se-ão do sempre entusiástico Paulo Futre, então ainda jogador, a declarar qualquer coisa como "fui para a área para cavar o penalti". Nisto das grandes penalidades a nossa percepção, opinião, convicção, muito depende das marés que os trazem. Nos finais de 1983 o grande Chalana mergulhou para a grande área do (literalmente seu) estádio da Luz, o herói Rui Manuel Trindade Jordão converteu o justíssimo penalti, a malvada União Soviética foi assim arrasada, perestroikada / glasnostada avant la lettre, e a Pátria seguiu à bela campanha do Euro-84, 18 anos após a primeira (e então única) qualificação para um torneio de selecções. Já em 2000 um falsário árbitro inventou um penalti aos 119 minutos da meia-final do campeonato da Europa, afirmando ser mão a óbvia coxa de Abel Xavier e assim possibilitando que as potências do pérfido Eixo discutissem o triunfo final.
São apenas exemplos maiores do que acontece todos os fins-de-semana - aliás, todos os dias, nesta era digital, em que é preciso encher de bola os milhares de canais televisivos globalizados. E todos os adeptos, sem excepção, tendem a "puxar a brasa à sua equipa". Uns mais descaradamente, outros menos. Mas, repito, todos... Ainda assim nas últimas décadas algo vem mudando: primeiro com mudanças nos regulamentos disciplinares, com punições aos saltimbancos menos talentosos. E depois através da disseminação das ajudas tecnológicas às arbitragens, associada à tal globalização da televisão digitalizada, o que tornou as escandaleiras muito mais... escandalosas. Ou seja, a aldrabice dentro de campo passou a ser mais punida, menos produtiva e - exactamente por estas razões - menos respeitada.
Neste âmbito e nesta época Taremi será um dos "últimos moicanos", até um item de património cultural intangível, pois um lídimo representante de eras passadas. Pois atira-se para o chão sem rebuço e colhe lucros com a risonha desfaçatez com o que o faz. O que lhe será facilitado pelo seu enquadramento laboral, protegido que está pelo truculento e histriónico falso azedume regionalista do seu patrão e das massas a este congregadas.
É óbvio que os adeptos do seu clube sobre ele pensam, sentem e opinam de modo diferente - por questões da mera bola mas também "animados" pela propalada "alma" regional, essa que nos campos de futebol se imagina gritando até à exaustão "São Jorge!" contra os "mouros" ditatoriais, totalitários, cleptocratas, os centralistas que colonizam e esmagam o sacro Portucale. Por isso as quedas de Taremi são-lhes sempre naturais, legitimamente causas de castigos à Besta Alheia, pois efeitos de intencionais acções dos demónios coloniais, essas energias eólicas, hídricas, fósseis, animais, mesmo metafísicas. E, por vezes, até humanas.
Mas, de facto, o homem vem exagerando nas suas coreografias. Como aqui narrei há algumas semanas, fartei-me de rir ao vê-lo num Porto-Arouca, jogo que ficou celebrizado pelos 20 e tal minutos de descontos dados, a ver se o Porto não perderia o jogo, tamanha a desfaçatez com que ia fingindo ser alvo de incorrecções alheias. Seria até ridículo se os árbitros, sempre temendo as influências portistas e o crivo crítico do batalhão portista de comentadores radiotelevisivos e da imprensa escrita, não tendessem a aceitar as evidentes pantominas. Assim, pura e simplesmente, falsificando... as apostas desportivas, acção que julgo punível por lei extra-futebolística.
Leio agora que Carlos Xavier - antigo excelente jogador do Sporting e agora comentador do canal televisivo desse clube - "passou-se" com as constantes trapaças taremianas. E disse na televisão o que os adeptos dizem quando entre amigos. Qualquer coisa como o sacaninha deste estrangeiro veio para cá e agora é um fartar vilanagem.... Mas em vez de estrangeiro chamou-lhe "muçulmano", no que foi um verdadeiro autogolo. Cai o Carmo e a Trindade, hoje em dia entidades ecuménicas... E logo se conhecem invectivas de instituições consagradas na abjecta ditadura iraniana, que apresentam queixas de "racismo". Os mariolas regionalistas (de retórica secessionista) do FC Porto associam-se a esta inadmissível intervenção. Em vez de matizarem, como seria curial, a situação, para melhor entendimento estrangeiro do mero "fait-divers"...
Entretanto o agora comentador Carlos Xavier retractou-se (e não "retratou-se", como escrevem os patetas do AO 90, pois isso trata-se de outra coisa completamente diferente). Ainda assim a Federação Portuguesa de Futebol - essa instituição tutelada pelo Estado e que deste vem recebendo inúmeros apoios, o que não a impede de tentar descaradamente tornear o regime fiscal quando contrata trabalhadores - tem o atrevimento, decerto que inconstitucional, de instaurar um processo contra o canal televisivo do Sporting por causa do que um comentador disse. Estamos em 2023, nas vésperas do 50º aniversário do 25 de Abril. E a FPF instaura um processo destes. E o Dr. Fernando Gomes, seu presidente, não só não é rispidamente chamado à atenção por parte dos eleitos para os órgãos de soberania máximos da República, como decerto é e continuará a ser anfitrião e visita, muito cumprimentável, do PR, do PM, do PAR, de ministros, deputados, juízes, procuradores e etc. Se assim é para quê comemorar os 50 anos do regime? Para que irão gastar bons dinheiros em exposições, livros, conferências dos professores Fernando Rosas, José Pacheco Pereira e outros, sobre censura, e etc.
E entretanto uma tal de Entidade Reguladora para a Comunicação Social - sobre a qual apenas sei o que era a Alta Autoridade para a Comunicação Social, coisas risonhamente contadas pelo meu grande amigo Aventino Teixeira, que a essa pertenceu durante anos - tem também o desplante de anunciar que está "a analisar" as declarações de Carlos Xavier. Sobre o clima de guerra no comentariado futebolístico que grassa há tantos anos, e sua influência nas mundivisões mas também nas acções violentas do público dos espectáculos desportivos, nada diz a tal de ERC. Sobre o aldrabismo militante do jornalismo futebolístico, tantas vezes obviamente encomendado pelos agentes económicos envolvidos, nada diz a tal de ERC. Sobre o ataque à liberdade de imprensa efectivado pelo inaceitável processo instaurado pela FPF - como se esta fosse um Estado (ditatorial, censório) dentro do nosso Estado - nada diz a ERC. Está sim a analisar uma "gaffe" deselegante, inapropriada, excitada, do bom e íntegro Carlos Xavier.
Isto não é uma Entidade Reguladora para a Comunicação Social filiada ao actual "wokismo". É apenas a sua sonolência. A sonolência dos pequenos mandarins avençados, ali instalados pelos poderes...
Deixemo-nos de coisas. Taremi é um sacaninha, um jogador estrangeiro que no nosso país constantemente aldraba o jogo - mas em outros não o faria, pois seria constantemente castigado se fizesse coisas destas. Quer ele continuar assim, quer o seu patrão que continue assim? Ok, então faça-se isso sem queixumes, invectivas ao "racismo" e "xenofobia" alheia... Façam-no com elegância, até humor... Há trinta anos o grande avançado Jurgen Klinsmann tinha a fama (e o proveito) de se atirar para o chão nas grande-áreas adversárias, de "mergulhar". Foi contratado pelo Tottenham para a então ainda inicial, mas já milionária, Premier League. Logo se estreou a marcar. E introduziu este "mergulho" comemorativo - esse que ainda tanto se vê, mundo afora... Nessa festiva ironia mostrando que em nada se restringia à mera aldrabice, abjecta.
Nem à tal sonolência bem-remunerada dos pequenos mandarins.
(Jurgen Klinsmann's first Tottenham goal)
«Liga árabe é melhor do que a portuguesa.»
Cristiano Ronaldo, em conferência de imprensa (6 de Setembro)
Viver é ver morrer os nossos, os queridos e os ídolos, um contínuo desmate afectivo. Morreu agora Keita (o Keitá! dos locutores radiofónicos de então, Salif Keita Traoré), o enorme jogador maliano, uma estrela daquela época - e hoje seria uma macro-estrela global... - que o Eterno Presidente, Senhor João Rocha, teve artes de trazer para o Sporting.
Na época o divino Vítor Damas partira para a malvada Espanha, de onde nada de bom vinha, o herói Agostinho andava pelas Franças aos (gloriosos) terceiros lugares, e o nosso Hermes Carlos Lopes fora ultrapassado pelo finlandês Viren. E Yazalde transferira-se - pela fortuna de 12 500 contos (60 mil euros) - para Marselha, bem antes do malandrete Tapie lá mandar. O nosso panteão estava um bocado desertificado, enquanto os atrevidos lampiões controlavam o Portugal do PREC como o haviam feito no ocaso do Estado Novo, e a diabólica parelha Pedroto-Pinto da Costa começava as suas tétricas manigâncias, que ainda hoje perduram.
Mas no José de Alvalade ascendeu uma Trindade, em avatar de "tridente" (como então não se dizia), a preencher-nos o culto. Eram o sempre nosso "Manel" (Fernandes), o fabuloso Rui Manuel Trindade (lá está) Jordão - o que teria este avançado hoje em dia, um génio do futebol! E Keita! Chegado já trintão, veterano de inúmeras pelejas, fugido de Espanha - tal como Jordão - por razões de maus-tratos rácicos na imprensa (os tempos de então eram bem piores do que os de hoje). Classe pura, distribuindo júbilo pelas bancadas - ainda me lembro, ele, mesmo já o tal veterano, a meter a bola por um lado do defesa e a ir buscá-la pelo outro, que jogador é que faz isso hoje, todos amarrados às tácticas, à "posse de bola" e às "coberturas"?... Era o Maior!
Nestas ambivalências correntes uma das mais estuporadas é mesmo a confluência entre a resmunguice xenófoba (avessa a "estes gajos" que cá chegam) e a desvairada autocrítica ("isto lá fora nunca acontece"). E nisso vai vingando a pateta ideia de que "no estrangeiro é que é bom", outros comportamentos, outras éticas, outra racionalidade. Vem-me isto a propósito da convocatária para os jogos da selecção nacional de futebol, inseridos no apuramento para a fase final do Campeonato Europeu. Não serão jogos particularmente difíceis (sim, eu sei, há décadas que os comentadores dizem, como se fosse novidade, "já não há jogos fáceis"), diante da Eslováquia e do Luxemburgo. Mas é a selecção nacional, a trabalhar para se apurar e (sempre) a preparar-se para o futuro. E para o presente.
Acontece que o novo seleccionador nacional - o espanhol Martinez, solução até excêntrica numa era em que os treinadores portugueses são um "must" mundo afora (veja-se o Brasil, a milionária Arábia Saudita, a própria Inglaterra, para além de tantos outros compeonatos), uma "escola" privilegiada mas preterida pela tão abonada Federação Portuguesa de Futebol - acaba de anunciar os seleccionados para os dois embates. E se seria normal que colhesse o apreço ou a desconfiança oriunda do "no estrangeiro isto não acontece", o que se vê é que Martinez é o perfeito avatar do conservadorismo mesclado de servilismo clubístico do anterior seleccionador Santos. Pois para dois jogos relativamente fáceis - e com o apuramento muito bem encaminhado - Martinez não abre o jogo, não avança com jovens ou com consagrados de segunda linha. Chama, como Santos sempre fez, os oriundos do Benfica, independentemente do estado deles. Cancelo é um excepcional lateral. João Félix é um belíssimo jogador - é o João Vieira Pinto desta geração, insuficiente para um "grande" europeu mas precioso para o futebol português. Mas neste momento estão no limbo de não terem clube, decerto que treinando menos e nunca jogando. São assim chamados por "estatuto" e não por mérito actual. Martinez, o estrangeiro cooptado, mostra-se assim um homem do Antigo Regime, um homem da sociedade das ordens... Os "nobres" tem lugar cativo (porventura até "direito de pernada"). Os outros que se aguentem. Alternativas? Não é comigo, não sou profissional da poda. E não estou aqui a "puxar a brasa à minha sardinha" sportinguista. Apenas noto uma coisa: ao chamar gente que não está a jogar (que nem sequer tem clube) Martinez mostra que é um erro "de casting", como se diz. Infelizmente, só no final do mais do que provável medíocre futuro campeonato isso será institucionalmente reconhecido. É apenas mais uma etapa de uma velha história, no futebol e não só. Isto do clientelismo, amiguismo, "clubismo" neste caso. Ou mesmo "agentismo".
Enfim, ganhar-se-ão, por mais ou menos, estes jogos fáceis. Pois há muitos bons jogadores em Portugal. Só falta mesmo... bom seleccionador.
A plataforma SAPO publica um curto vídeo (que não é integrável em blog - e não compreendo como uma plataforma que acolhe blogs não inclui uma opção "incorporar" nos vídeos noticiosos que publica, como fazem várias outras plataformas) em que se vê a futebolista Jenni Hermoso e as suas colegas, recém-campeãs, a rirem-se, com humor e sem preocupações ou mágoas, da beijoca entre o presidente da Federação de Futebol e essa futebolista durante a cerimónia final do Campeonato de Mundo de futebol. É evidente o júbilo, brotado da vitória história, mas ressaltado para as brincadeiras entre várias jogadoras que, em coro, referem o brevíssimo episódio. O filme, que decerto muito em breve estará em plataformas que permitem a sua captação para blogs, está aqui.
Como é sabido, passados dias, após a estratégica intervenção de ministras socialistas espanholas - decerto que influenciadas pelo confronto com os peculiares discursos sobre este tipo de temáticas emanados do partido rival VOX, e isto sublinhado por se estar em pleno processo de formação de governo coligado no país - a jogadora apareceu a lamentar-se do caso, depois secundada pelas colegas. E por todo o lado - desde a patética intervenção do porta-voz da ONU até ao próprio Delito de Opinião, passando pelo primeiro-ministro espanhol até aos patetas televisivos nacionais do costume - cai o "Carmo e a Trindade", denunciando o caso de "assalto", "assédio sexual", de machismo empedernido que teria conduzido a tamanha violência. A própria SAPO destaca hoje um postal lacrimejante sobre o assunto, que remete - dando-lhe estatuto de prova - para um texto de jornalista espanhola que afirma haver machismo e falta de educação entre os membros da federação espanhola de futebol. Nem duvido que haja, mas a questão é outra: o que aconteceu ali, durante a cerimónia?
Já aqui botei sobre o assunto: o que o homem fez - ainda por cima sendo ele não um "doutor" tutelando a bola nacional, mas um antigo jogador -, é mesmo o inverso, tratou a jogadora "como um homem", replicando um gesto tantas vezes feito pelos praticantes quando em júbilo. Para não me repetir sumarizo: é um gesto assexuado (no sentido de desprovido de erotismo). Basta ver. Voltei ao assunto aqui, diante da histriónica incapacidade analítica de propalados intelectuais. Esse tipo de gente para quem é porreiro surfar as vagas em voga, e botar umas coisas na imprensa...
O assédio sexual (laboral e não só), a violência sexual, o mais abrangente machismo, são temas fundamentais. A combater, pela lei, pelas instituições, pela opinião pública, pela sensibilização. Profissionalmente cruzei casos tétricos disto. Até incríveis, de inacreditáveis, passe a aparente redundância. Mas quando uma mulher feita e realizada, trintona bem sucedida, campeã mundial, se ri a bandeiras despregadas, quando um conjunto de mulheres feitas e realizadas, profissionais campeãs mundiais, se riem a bandeiras despregadas, isso a propósito de um gesto que bem entendem desprovido de qualquer violência ou ameaça, não podem depois invocar terem estado sob "assalto", "assédio", "violência". Nem há argumentos convocando contextos "infalsificáveis" (a la Popper) que justifiquem estas inflexões interpretativas. Ou seja, entenda-se, como prevalece um machismo violento e desrespeitador aquele gesto é violento e desrespeitador. Isso é um acto falsário, um silogismo aldrabão. E contestar essa evidência, em nome de uma qualquer "boa causa", é apenas desvalorizar, apagar, superficializar, as abissais realidades do "assédio", da "violência sexual", do "machismo", mundo afora. É uma pantomina abjecta. Matéria-prima por excelência para políticos demagogos e para os "activistas" de agora. Mas uma vergonha para quem se veste (ou traveste, melhor dizendo) de intelectual, de militante. Ou, pior do que tudo, de professor. Uma vergonha intelectual. E uma vergonha moral.
E isto tudo independe de Rubiales.
Neymar à chegada a Riade, após um voo de seis horas em que foi passageiro único
Neymar, contratado por 98 milhões de dólares pelo Al-Hilal, número inédito na Liga da Arábia Saudita, viajou como único passageiro para este reino árabe num luxuoso Boeing 747-400 de 344 lugares que num só voo contamina 32 vezes mais a atmosfera do que uma pessoa comum num ano inteiro.
Nesta rota de seis horas entre Paris e Riade, o aparelho custa ao meio ambiente 230.000 kg de emissões de CO2, enquanto um cidadão comum, em 365 dias, é responsável por 7.000 kg. Cada hora de voo deste avião custa 23 mil euros, além dos danos ambientais causados.
Da crónica de Francisco Sena Santos no Sapo24
O melhor texto que li sobre este episódio confrangedor é de autoria de um homem. O que, ao contrário do que muitos possam pensar, me encanta.
Espanha é campeã do mundo de futebol feminino. Na cerimónia no estádio o presidente da Federação exulta e beija uma jogadora. Logo ministras saem à liça dizendo que se trata de um assalto, os defensores das boas causas manifestam-se irados, a internet está cheia de acusações de "assédio" (assim mesmo). E pululam imagens - nem são fotografias, são fotogramas, que dão a impressão de um beijo sensual, o velho "french kiss", esse nosso linguado. O homem vê-se obrigado a desculpar-se, sinal dos tempos, mas não chega! Pois agora é o próprio primeiro-ministro Sanchez que vem considerar "inaceitável" o gesto e exigir mais do que desculpas - decerto que a demissão do presidente da federação.
É impossível não reduzir tudo isto a uma patética hipérbole discursiva, colonizadora e deturpadora de problemas sociais efectivos - o tal "assédio sexual", a violência masculina, a violência doméstica. E mais ainda, torna-se óbvio que Sanchez vampiriza o facto para uma posição política, sendo sabido que na campanha para as recentes eleições o partido de extrema-direita Vox assumiu uma excêntrica linha discursiva, avessa às questões da luta contra os efeitos perversos do machismo e da violência doméstica. O mundo, a Europa, a própria Espanha seguem como seguem e aquela gente enrodilha-se nestas questões, e vistas deste paupérrimo e histriónico modo. Se a maluquice grassa nas redes sociais e a demagogia acampa nas tais ministras, esta intromissão de Sanchez é mesmo sinal do traste político que o homem é.
É que nem se justifica argumentar, basta ver o filme - e não ficar agarrado ao fotograma. Trata-se de um efusivo beijo nos lábios, num ápice, seguido de duas vigorosas pancadas nas costas. É um gesto de celebração que os homens hetereossexuais também fazem entre si - e bem me lembro de que quando o lateral-direito Miguel Garcia aos 119 minutos, na sequência de um canto, marcou o golo que apurou o Sporting para a final da então Taça UEFA, saltei da mesa do "Eagles" em Maputo para o colo do amigo Rui B. e trocámos vários beijos destes, tamanha era a nossa felicidade. E inúmeras pancadas nas costas... Há meses, num almoço de amigos ali perto do rio Sousa, bem nos rimos com esta memória.
Andam os espanhóis, por enquanto entregues a este Sanchez bem mariola, e tantos outros a discutir o sexo dos anjos. E o "beijo espanhol". Algo está podre no reino da... Europa. Daí o mau hálito que grassa...
Os profissionais do futebol são também cidadãos. Muitos deles, com experiência de trabalho em vários países, são autênticos cidadãos do mundo. Incluo neste lote o treinador Paulo Fonseca, que sempre mereceu a minha simpatia pela competência e pela atitude cordata, dentro e fora de campo.
Este ex-técnico do clube ucraniano Shakhtar Donetsk e agora ao serviço do Lille, em França, acaba de lançar um apelo firme aos dirigentes do Sport Lisboa e Benfica e do Sporting Clube de Braga, pedindo-lhes para não fazerem negócios com emblemas russos visando transferir para o país de Putin os jogadores Chiquinho e Tormena.
Diz Paulo Fonseca - e é difícil não lhe dar razão - que tais negócios, a concretizar-se, serão pagos com preço de sangue.
«Uma coisa eu sei: se o Benfica e o meu Braga fecharem negócio com os clubes russos, esse dinheiro virá a pingar com o sangue das crianças que morrem todos os dias na Ucrânia. E muitas dessas crianças amavam o futebol.» Palavras do antigo técnico do FC Porto e Braga, casado com uma ucraniana.
Tem toda a razão, o treinador do Lille. Basta reparar nas notícias mais recentes da criminosa invasão russa da Ucrânia: sete pessoas, incluindo um bebé com apenas 25 dias de vida, foram mortas no domingo por mísseis de Moscovo na região de Quérson: uma família inteira ficou desfeita.
Dois dias antes, mísseis hipersónicos russos tinham assassinado um menino de oito anos na região de Ivano-Frankivsk.
Civis indefesos perante o mal absoluto que vem do Kremlin, traiçoeiro e homicida. O meu aplauso solidário ao Paulo Fonseca pelas palavras sentidas e desassombradas que escreveu.
Aveiro, Leiria, Algarve: três "sobras" do Euro-2004
Portugal, Espanha e Marrocos (!) vão apresentar candidatura conjunta à realização do Campeonato do Mundo de Futebol de 2030 - juntamente com a Ucrânia (!).
Serei só eu a considerar isto um absurdo?
Anda meio mundo a conversar e a ler sobre as desbragadas contratações de futebolistas pelo futebol árabe - desde Cristiano Ronaldo e Benzema até Iuri Medeiros e Rúben Neves tem sido uma azáfama. Contratos supra-milionários, que multimilionários já eram os anteriores. Francamente não compreendo os objectivos dos responsáveis dos países árabes. Posso aventar ("mandar bocas") mas não percebo - com toda a certeza não se trata de "massificar o desporto" naquelas populações "ensofazadas" pelos petrodólares. Nem será um mero objectivo económico, até pelos montantes envolvidos. Mas mesmo politicamente - em termos de "imagem" interna e externa, e de geoestratégia - não consigo entender o que pretendem com isto, que surge na sequência de terem, em particular a Arábia Saudita, assumido relevância na organização (que não na prática) de competições de elite de outros desportos. Enfim, julgo que só alguém minimamente sagaz e que acompanhe as dinâmicas sauditas, cataris e vizinhas, poderá interpretar o que se passa.
Mas um efeito terá esta desmedida investida dos responsáveis árabes sobre a grande "indústria" de entretenimento europeu. Estou certo que muito em breve será recuperado o projecto dos grandes clubes europeus de constituir uma Super Liga Europeia, mais ou menos encerrada, congregando alguns clubes históricos e outros propriedade de macro-capitalistas, "oligarcas", replicando o modelo anti-liberal das "ligas" desportivas norte-americanas, e possibilitador da concentração de gigantescos recursos. Disso afastando um alargado de clubes de países menos centrais, menos lucrativos aos mercados televisivos globais.
Se o popular futebol do Oriental, Carcavelinhos, Barreirense, Lusitano de Évora, etc. é já há muito uma esconsa nota de rodapé, muito em breve poucos atentarão nos Guimarães, Leiria, Boavista ou Chaves. E, no virar da década, nos Sportings e Benficas desta Europa.