Der Tag danach*
Cristina Torrão, 24.02.25
Das eleições alemãs realizadas ontem, sobressai, nas manchetes internacionais, a vitória dos conservadores e o resultado histórico do AfD. Apesar de ser verdade, é uma leitura muito redutora dos resultados. Por isso, deixo aqui as minhas impressões.
Sim, a extrema-direita (AfD) teve o melhor resultado de sempre. Mas ficou aquém das suas próprias expectativas. Mesmo depois de todos os elogios de Musk e da propaganda que Vance veio fazer em solo alemão.
O AfD falhou o seu objectivo principal: não se tornou essencial para a formação de um governo. Penso que isso foi evitado com a incrível afluência às urnas (mais de 80% dos eleitores exerceram o seu direito de voto). Uma coligação CDU/SPD chega para atingir a maioria absoluta do Bundestag. Essa era, aliás, a minha maior esperança. Que se cumpriu.
Trata-se da normalmente apelidada "Grande Coligação" (o Bloco Central em português), mas o SPD saiu tão fraco deste escrutínio, que não sei se a poderemos chamar assim. É verdade que uma coligação dessas não é fácil de negociar. Confio, porém, que os dirigentes políticos estão cientes da grande necessidade de um governo alemão estável. A bem da Europa, nestes tempos tão difíceis.
Estou, por isso, optimista. Até porque Scholz anunciou o seu afastamento (foi um péssimo chanceler). Espero que se abra assim o caminho para que Boris Pistorius se torne no vice-chanceler de Friedrich Merz. É um político muito bem visto, na Alemanha. Além disso, tem sido um bom Ministro da Defesa, essencial nestes tempos.
Por seu lado, o vencedor das eleições já se mostrou favorável ao crescimento rápido da capacidade de defesa europeia independente.
A Europa vai ressurgir. Tem muito mais potencial do que os ignorantes norte-americanos imaginam.
*O dia seguinte