Presidenciais (27)
Cavaco Silva – Uma sombra do que foi noutros tempos. Começou de forma titubeante a campanha, que só pareceu ganhar gás com o tema BPN: um Cavaco momentaneamente vigoroso veio à tona nesses dias. O assunto funcionou também como agregador das hostes, que pareciam adormecidas. Mas o homem que desta vez nem contou com um blogue especial de apoiantes foi incapaz de qualquer golpe de asa. Termina a campanha a pedir uma vitória à primeira volta pelo pior dos motivos: para poupar dinheiro. E com um temor indisfarçável da abstenção.
Defensor Moura – O deputado socialista que mal ousou sair do perímetro de Viana do Castelo e chegou a ser notícia nas televisões por "dar um passeio improvisado na rua onde mora" esgotou-se nesta campanha a fazer o papel de lebre para dar alento à de Manuel Alegre, seu camarada de partido e seu colega de Parlamento. A estratégia saiu-lhe às avessas: o BPN funcionou como toque a rebate dos desmobilizados eleitores de Cavaco. A partir daí Moura praticamente desapareceu.
Fernando Nobre – O médico independente que muitos socialistas irritados com Alegre apoiam teve boas prestações nos debates televisivos e conduziu no terreno uma campanha que foi ganhando projecção, apesar das tentativas de muitos comentadores de o considerarem irrelevante. Tal como Alegre em 2006, o fundador da AMI utilizou o apelo da cidadania como trunfo eleitoral num país cansado de jogos partidários. Pode vir a protagonizar a maior surpresa da noite do escrutínio.
Francisco Lopes – Foi sólido, consistente e esforçado na tarefa de mobilizar os eleitores comunistas. Para esse efeito insistiu sobretudo em percorrer o tradicional circuito do partido, centrado no triângulo Lisboa-Setúbal-Alentejo. A candidatura deu projecção a nível nacional ao mais que provável sucessor de Jerónimo de Sousa no cargo de secretário-geral do PCP. Tenha o resultado que tiver no domingo, este desafio já foi vencido. E para ele, no fundo, era isso que contava.
José Manuel Coelho – A maior surpresa desta campanha. Trouxe irreverência à corrida presidencial recorrendo apenas aos seus naturais dotes oratórios e à sua vocação para a "sátira de rua", mordendo à esquerda e à direita com a saudável irreverência de uma personagem vicentina. Deixou de estar confinado ao estatuto de estraga-festas no reduto madeirense, ganhando projecção nacional. Foi o único candidato excluído dos debates. Vai receber bastantes votos de simpatia.
Manuel Alegre – Encarnou o papel que menos lhe convinha: o de Mário Soares na campanha anterior. Tal como Soares então, radicalizou excessivamente o discurso, procurando transformar a corrida a Belém numa espécie de ajuste de contas com Cavaco Silva. Esqueceu-se da sábia conduta que ele próprio revelou há cinco anos, quando evitou ataques pessoais e sublinhou que uma vitória de Cavaco não poria em risco a democracia. O discurso radical de esquerda, em sintonia com o BE, distanciou-o de muitos socialistas. Termina esta campanha talvez mais só do que estava em 2006.