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Delito de Opinião

O Fim do Mundo

Maria Dulce Fernandes, 16.02.24

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2012 foi o ano de todos os perigos. Governava o “diabo” que comia criancinhas ao pequeno almoço e roubava a pensão aos velhinhos reformados e os subsídios ao povo, povo esse que, com os pés aquecidos nas suas pantufas, gritava e barafustava do seu sofá, aguardando ansiosamente que tudo regressasse ao normal, àquela normalidade desonesta, mas reconfortantemente pútrida, que fora herdada do governo do filósofo, de quem se dizia ser também engenheiro nas horas vagas.

2012 foi também o ano do Fim do Mundo, segundo milhares de profecias coincidentes, desencantadas numa tumba etrusca ou nos pergaminhos do Mar Morto, e fielmente comprovada pelo fim do ciclo b’ak’tun da contagem mesoamericana no Calendário Maia de Contagem Longa. Previa-se então que a 21-12-2012 uma grande hecatombe se abatesse sobre a humanidade na entrada do equinócio de Inverno, em forma de terramotos, tsunamis, alterações dos polos magnéticos da Terra ou fusão do seu núcleo, vinda do Anticristo, etc.

Para mim, a teoria apocalíptica mais credível é a do Planeta X ou Nibiru, um planeta situado para lá de Plutão, cuja órbita se esconde pelo sol e que todos já viram a olho nu ou em fotos, porque aquilo que pensam ser apenas efeito do reflexo da luz a que vulgarmente se chama flare da lente, é na realidade o planeta Nibiru. A cada 3600 anos este planeta faz uma “razia” ao sistema solar e estaria previsto chocar com a Terra em 2012, mas faltou um “bocadinho assim”. Isso não impediu que uma considerável força táctica de Anunnaki, a raça predominante e extraordinariamente evoluída que habita em Nibiru, tenha feito uma nova incursão ao nosso planeta e tenha assentado arraiais por cá. Exploradores, implacáveis, esclavagistas, rapaces e adeptos do moto dividir para conquistar, rapidamente se infiltraram em todos os quadrantes da vida humana na terra e, utilizando esquemas e artimanhas, em três anos ajudaram os corruptos a estabelecer uma nova ordem mundial.

E foi assim que a partir de 2015 o mundo mudou para muito pior e foi o começo do fim da macacada…

No nosso país em 2024, teme-se que o Mundo vá acabar para os portugueses a 11 de Março, tal não é o impacto das ameaças constantes e veladas dos futurolólogos sobre a data em causa. Já houve por cá uma intentona nessa data, que deu em nada e como tal a frouxidão das  expectativas apenas corrobora a tese da alienação colectiva, mas pronto, é o que é. Haverá por acaso algo mais natural do que um Anunnaki chegar a chefe do governo? O que é que está mal? The Larch, the larch… And now for something completely different, number two, the larch.

Dias inteiros sempre a chover

Paulo Sousa, 17.12.20

Lembro-me de ser pequeno e ouvir com frequência queixas atormentadas com medo do fim do mundo. Os mais antigos, mais devotos e mais “tementes a Deus”, garantiam com quantos dentes tinham (e que só eram abundantes quando postiços) que se durante o dilúvio bíblico Deus tinha recorrido à água para nos castigar, da próxima vez recorreria ao fogo. Daí até à terceira guerra mundial e ao holocausto nuclear era apenas um saltinho do tamanho de um copo de abafado. Por não conseguir argumentar que a confirmar-se esse caso, talvez os comunistas cumprissem algum desígnio divino, ficava apenas com medo. O sentimento generalizado era de que antigamente é que era bom. Mesmo com a guerra e a fome nada era comparável ao Apocalipse em forma de cogumelo.

Os anos foram passando, foram assinados tratados de não proliferação nuclear, reduziu-se o arsenal do Juízo Final e finalmente pudemos respirar de alívio.

Ainda estávamos a inspirar livre e profundamente pela primeira vez, e logo começámos a ser flagelados pelas notícias do buraco no ozono. A culpa era dos aerossóis e dos gases CFC que existiam também dentro dos frigoríficos e dos ares condicionados. Sem a protecção do ozono seríamos cozinhados pelos raios ultravioleta. No melhor cenário os cientistas garantiam cancros na pele para todos, sem apelo nem perdão. O sentimento generalizado era de que antigamente é que era bom. Mesmo com a ameaça da guerra nuclear, nada era comparável a ser transformado em torresmos.

Os CFCs foram banidos e retirados do mercado e, para gáudio de toda a vida na terra, em poucos anos as medições feitas pelos satélites garantiam que o buraco do ozono estava bem menor.

Quando nos aliviámos pelo fim de mais esta ameaça, o novo fim do mundo passou a ser o efeito de estufa e o aquecimento global. Depois de uns invernos com frio de rachar, a ameaça terá ido ao registo civil e passou a chamar-se Mudanças Climatéricas e Fenómenos Extremos. Quase como que uma revelação do fim dos tempos, chegou a nevar em Évora. Era um fenómeno nunca visto em mais de cem anos. Ninguém perguntou como é que poderia ter nevado em Évora no século XIX, mas o sentimento generalizado era de que antigamente é que era bom. Pelo menos podíamos andar de carro à vontade, sem nos sentirmos culpados de cada redução de caixa para fazer uma ultrapassagem. Pior que saber que a carga fiscal de cada litro de gasolina ascendia aos 70%, era saber que íamos morrer asfixiados e cozidos a vapor.

Mais ou menos na mesma altura ainda houve tempo para aterrar o mundo com o bug do ano 2000, também conhecido pelo Y2K bug. As datas em informática tinham sido criadas numa base de seis dígitos, DDMMAA, e o ano 2000 iria ser confundido com o 1900. O cálculo de juros de um dia poderia ser transformado num século, e mesmo quem não estava endividado temia o caos que seria desencadeado pela queda dos satélites, que começariam a chover em cima das nossas cabeças, e aquilo era coisa para aleijar. Antes ser cozido a vapor do que levar com um satélite no cachaço. Fonix! 

Durante cada um destes tormentos o sentimento foi sempre de que vivíamos tempos mais ameaçadores do que os vividos no passado.

Eu acho que isto se deve a que a nossa memória de ameaças passadas seja minimizada pela ameaça presente. A ameaça actual é que é efectiva, as outras já lá vão. Tudo aponta para que, neste jogo de sobre-avaliação das dores potenciais, acabamos por não saborear devidamente as garantias do presente.

A pandemia em curso mete no bolso qualquer dos terrores de outros tempos. Nós é que estamos a sentir os efeitos e isto ainda vai piorar. O futuro nunca foi tão incerto, até porque o futuro no passado nunca se comparou ao futuro da actualidade. Além disso, a pandemia é só mais uma camada em cima das Mudanças Climatéricas. Os octogenários da minha terra garantem com quantos dentes têm (e que só continuam a ser abundantes se forem postiços) que nos invernos de antigamente chovia durante dias e dias seguidos, sem parar. Olhando para as medições pluviométricas deste início de Dezembro, as crianças que hoje frequentam a primária poderão garantir o mesmo quando também forem octogenárias. Só não sabemos se nessa altura terão ou não próteses dentárias.

A ansiedade e a incerteza matam mais que o Covid. Usufruamos pois dos pequenos prazeres, dos momentos em que não temos dores físicas, de quando nos aquecemos com um café, de quando saboreamos o sol na testa, de quando somos prendados pelos sons da natureza ou apenas pela ausência de ruído. Saboreemos a vida, em vez de sofrer por antecipação.

E não tenhamos dúvidas que, passada esta, a próxima ameaça será a mais assustadora de sempre.

15 dec 2020 PNSAC.jpg

Foto de Irene Pereira tirada no Parque Natural Serra de Aire e Candeeiros a 15 de Dezembro de 2020

Novamente o fim do mundo

Paulo Sousa, 22.03.20

“Gabriel Malagrida assegurava no Juízo da Verdadeira Causa do Terramoto (1756), que só por castigo a face da omnipotência divina se tornara tão horrenda. Hereges, judeus e católicos, todos eram responsáveis pela vingança implacável de Deus. A causa próxima do flagelo radicava, no seu entender, nos mundanos e profanos modos de vida urbana, com os seus ”teatros, as músicas, as danças mais imodestas, as comédias mais obscenas, os divertimentos, as assistências aos touros, sendo tanto o concurso, que enchiam as praças, e as ruas todas; e nas igrejas, nas festas sagradas, nos sermões, nas missões apostólicas, por mais fervorosas que fossem não aparecia uma alma”. (…)

Na generalidade dos casos, o pregador, interpelando directamente os crentes, avoluma os terrores visíveis da destruição e as incertezas do povo em relação ao futuro.”

O Terramoto de 1755, Lisboa e a Europa, de Ana Cristina Araújo

Edição Clube do Colecionador dos Correios

 

Já aqui falei sobre os profetas do Apocalipse e da sua intenção de nos fazer mudar de comportamento. Sempre existiram e sempre existirão.

Querer procurar uma causa humana para algo natural é o cúmulo do antropocentrismo. Usar algo natural como argumento para sugerir o fim da produção intensiva do capitalismo é tão razoável como razoável era a convicção de Gabriel Malagrida.

Já todos vimos nas redes sociais comentários insinuando, ou até afirmando, que o bicho que nos faz ficar em casa era uma criação do homem. Para se acreditar nisto é necessário conseguir também acreditar que o génio humano é mais sofisticado que a natureza, o que é outro corolário idiota de uma visão antropocentrista do mundo.

Não somos assim tão capazes. A impotência em agir perante a realidade sempre foi um estímulo para a espécie humana, e certamente que depois disto a ciência continuará a avançar. E quem protagonizar a solução para este problema será certamente beneficiado pelo seu desempenho e ganhará dinheiro e vantagens com isso. Querer acabar com o capitalismo é discordar que isso assim funcione.

A dimensão da mortandade de outras pestes foi aumentada pelas fragilidades alimentares das populações, especialmente quando estas se seguiam a maus anos agrícolas. Até nesse ângulo, e graças ao capitalismo, nunca a população humana esteve tão bem preparada para lidar com o que está a acontecer.

Por isso, Malagridas dos dias hoje, ponham a viola no saco, olhem para história e lembrem-se que até este devoto pregador do sex XVIII acabou garrotado como herege no processo dos Távoras.

Vai uma aposta?

Paulo Sousa, 24.01.20

Uncle-Scrooge-via-ISB-80Hats.jpgQuando lia livros de quadradinhos do Tio Patinhas, lembro-me de que a punição clássica de quando se fazia uma aposta ou uma previsão errada, se traduzia em comer o seu próprio chapéu. Em casos mais graves poderia ser mais do que um chapéu.

Lembrei-me disso quando li este título do Público, segundo o qual “especialistas” afirmam que estamos simbolicamente a 100 segundos do Apocalipse.

O relógio é simbólico mas a intenção não é. Assustar as pessoas para mudar este sistema capitalista.

Assim, deixo aqui o desafio. A parada pode ficar nos 80 chapéus. Daqui a 100 simbólicos segundos, ou são os especialistas a comer os chapéus, ou sou eu.

Está a contar.

Aqua alta

Paulo Sousa, 14.11.19
O debate já tem várias décadas, mas a conclusão é clara. O aquecimento global levará ao desaparecimento das principais cidades costeiras e obrigará ao deslocamento de milhões de pessoas.
 
A única forma de interromper, ou pelo menos atrasar, o anunciado fim do mundo passa por:
1 - comprar um carro de mais de 50.000€ equipado com baterias de litio, explorado nos Andes
2 - acabar com o consumo desenfreado do sistema capitalista
 
Quem tiver dúvidas desta verdade já confirmada por 5.500 cientistas (escolhidos um por um de acordo com as suas convicções climatéricas) veja com atenção o que está a acontecer em Itália:
 
Veneza está alagada!!
 
 
PS: Qual terá sido a explicação para este fenómeno em 1966?

Sobre o fim do mundo

Paulo Sousa, 17.09.19

O terramoto de 1755 - Pintura de João Glama Strobërle que pertence ao espólio do Museu Nacional e Arte Antiga

 

Se a vida na terra tivesse 24 horas, o ser humano teria aparecido apenas nos últimos minutos. Isto significa que o conceito do "fim do mundo" é geologicamente recente pois só existe desde que o primeiro humano formulou esse pensamento. Antes disso existia apenas mudança permanente e que afinal nunca foi interrompida.

Os equilíbrios da natureza são importantes porque dependemos deles, mas não são estáticos nem são definitivos.

A extinção de espécies é algo que aconteceu regularmente ao longo do comprido dia da vida na terra. Uma imensidão delas nem sequer fósseis nos deixaram e isso coloca-as em pé de igualdade com os dragões que, esses sim, nunca existiram. É triste saber que os ursos polares, uns animais fantásticos, irão provavelmente desaparecer, mas isso aconteceu regularmente desde que existe vida na terra.

Sem o aquecimento global que se verificou há cerca de 10.000 anos o gelo cobriria toda a Europa. A civilização como a conhecemos não teria acontecido e não estaríamos aqui a trocar ideias através da blogosfera, algo cujo conceito seria difícil de explicar há 50 anos.

Alguns ambientalistas criticam a espécie humana por se comportar como se estivesse no centro de toda a vida na terra. No minuto seguinte usam o futuro das próximas gerações de humanos como argumento de defesa das suas convicções. Não fazia mais sentido defender a natureza pelo que ela tem de fantástica?

O ponto óptimo de poluição não é a ausência de poluição. É claro que vivemos muito acima desse ponto óptimo e devemos fazer um esforço para a reduzir. Estou convicto da necessidade de se fazer um esforço para minimizar o impacto na natureza, principalmente porque… esta é extremamente bela.

Na dinâmica do combate às alterações climáticas, que no fundo não é mais do que um combate contra a mudança, existe uma histeria e uma vertente de fé que faz lembrar períodos na história em que se verificaram grandes catástrofes, como o terramoto de 1755 ou a peste negra. Nesses períodos conturbados sempre surgiram os pregadores do fim do mundo. Estas figuras apresentam-se como explicadoras do inexplicável e fonte de conforto a todos quantos queiram ouvir a mensagem de uma entidade superior.

Surgem ora com um sino, ora com um grande crucifixo, ora com os dois e garantem que todos os que almejem salvar a respectiva alma imortal devem deixar de pecar, arrepender-se, devem orar e devem sacrificar-se.

Actualizando a mensagem recomendo que:

Onde se lê deixar de pecar pode ler-se comprar um carro eléctrico.

Onde se lê arrepender-se pode ler-se viver como os Amish.

Onde se lê orar pode ler-se votar no PAN.

Onde se lê sacrificar-se pode ler-se ir de avião semanalmente para Bruxelas mas descarregar a consciência pagando a taxa de compensação pelas emissões de CO2.

Esta é a postura do PAN, da menina Greta e da sua legião de globetrotters passageiros frequentes das companhias de low cost.

Profetas do apocalipse existiram em todos os tempos e em todas as latitudes e sempre tentaram mudar o comportamento dos outros.

Se a mudança é permanente e se de facto estivermos a viver um período especial, o mais ajuizado será estarmos alerta e para tentar ser capaz de, como nos ensinou Darwin, se adaptar. A confirmar-se o que nos garantem os profetas desta nova religião, alguns territórios que agora tem um clima ameno podem vir a tornar-se inóspitos assim como o contrário. A geografia sempre foi um factor determinante no equilíbrio dos povos e das nações e isso não se alterará.

Só falta mesmo esperar pela confirmação das profecias.

Vade retro fim do mundo

Paulo Sousa, 11.09.19

O PAN é o partido que nos defende do fim do mundo. Sempre que o PAN avança é o patife do fim do mundo que recua.

A medida nº 1081 do “programa eleitoral” do PAN consistia na realização de uma sessão semanal obrigatória dos criminosos com as suas vitimas, ou com os seus familiares em caso de homicídio, com o sentido de promover a reconciliação.

Bastava que não houvesse excepção nos casos de homicídio para parecer uma medida do PNR ou do Chega.

Mas alguém se terá lembrado que isto ainda podia descambar num cenário aterrador em que, numa eventual condenação futura do Eng. José Socrates, se pudesse aplicar. Considerando que as suas vitimas são todos os contribuintes, o fim do mundo esfregou logo as mãos.

Por sorte o André não imprimiu programas para adiar o fim do mundo. Bastou editar o documento - a medida 1082 vem logo depois da 1080 - fazer novo upload e já está. Mais um prego no caixão do fim do mundo. Respiremos de alívio.

Nada se passa enquanto nada se passar

José Navarro de Andrade, 22.12.12

Kamrooz Aram, "O fulgor do primeiro raio do dia"

 

De modo que o mundo pode muito bem ter acabado ontem sem darmos por isso. Não era a primeira vez que acontecia. Por exemplo, daqui a quatro dias vamos celebrar o nascimento fictício de um bastardo judeu, num dos piores momentos políticos da história hebraica, com a terra prometida ocupada por um enfastiado império de Roma e quem diria, então e durante um bom para de séculos seguintes, o que estava prometido para aquela criança que pelos vistos nem um burro ou uma vaca teve para agasalhá-la? E já agora quem diria que os romanos, e por acréscimo os latinos, não iriam predominar para todo o sempre?

Quem diria também que se fosse preciso escolher uma data para marcar o ocaso da Europa ela bem poderia ser 30 de Janeiro de 1933? E que ainda hoje, tantos anos passados, há quem acredite – porque é uma crença – nas promessas do nosso futuro? Afinal, não vimos todos do futuro, como diria ajuizadamente Eduardo Lourenço, desse futuro projetado para onde caminhamos agora?

Cá por mim nada mudou e de nada sinto falta, mas não será isso prova cabal que o mundo acabou mesmo à revelia da minha compreensão?

Lá ao fundo as luzes continuam ligadas de noite, devem ser automáticas.

Mais um fim do mundo

Ana Vidal, 07.12.12

"Meus caros companheiros australianos, o fim do mundo está a chegar. Afinal, o calendário Maia estava certo. Independentemente se o fim vier com zombies comedores de carne, bestas demoníacas ou o triunfo total do K-Pop, saibam que vou sempre lutar por vocês, até o final".

 

Eis o estranho sentido de humor, ou o ainda mais estranho faro político, da primeira-ministra australiana. Os tempos não estão para brincadeiras deste género, e Julia Gillard parece desconhecer que as pessoas tendem a tomar como certas as notícias catastróficas. Assim como parece desconhecer um antecedente famoso: foi com uma destas graças que Orson Welles aterrorizou a América. O alvoroço tem sido tão grande que a Nasa, depois de milhões de telefonemas e mails desesperados, já teve que desmentir, pública e formalmente, possuir quaisquer informações secretas que confirmem a veracidade da célebre previsão Maia.

 

Por cá, a habitual ignorância confunde os Maias com a Maya, que com toda a certeza não se importa nada com a inesperada publicidade. Mas não é a única a ganhar com a histeria geral: as agências de viagens registam picos nunca vistos de viagens vendidas para o México nesta data, e justificam o boom dizendo que as pessoas querem estar perto dos locais sagrados dos Maias quando chegar o dia D, ou porque acreditam que uma força qualquer as livrará do destino fatal, ou simplesmente porque querem morrer perto deles. Ou talvez, acrescento eu, porque acham que o dinheiro não lhes fará falta nunca mais e, assim-como-assim, sempre ganham uma corzinha nas praias de Cancun para a grande viagem.

 

E la nave va, como diria o sábio Federico.

Absolutamente ridículo

Rui Rocha, 28.11.12

Décio Antônio Colla, prefeito da cidade de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul, aconselhou a população a preparar-se para o fim do mundo, contrariedade que, de acordo com o autarca (que se baseia no calendário Maya), terá lugar no próximo dia 21 de Dezembro. Preocupado com a população, aconselhou o armazenamento de lenha, fósforos, lanternas, alimentos e água. Em declarações a órgãos de comunicação social, afirmou que fez o alerta porque pretende que os habitantes não sofram ou sofram o menos possível. Ora, tudo isto é absolutamente ridículo. E, embora seja de saudar que um eleito demonstre preocupação pelo destino dos que o elegeram, é preciso denunciar este tipo de comportamentos alarmistas que podem, ainda que involuntariamente, dar origem a situações de pânico sem jutificação. Afinal de contas, toda a gente sabe que o fim do mundo ocorrerá, apenas, no dia 23 de Dezembro.