O figurão
Anda agora muita gente indignada com as baboseiras de Berardo, que vai gozando à brava com o pagode - desde os tribunos de São Bento aos meretíssimos dos tribunais, passando pela banca que lhe foi prestando vassalagem sem cuidar da idoneidade financeira do figurão.
Mas convém avivar memórias: quando o indivíduo foi duas vezes condecorado por diferentes Presidentes da República ninguém soltou sequer uma palavra de perplexidade - começando por alguns patrões da imprensa, que andavam com ele ao colo. Quando perseguiu jornalistas que ousavam enfrentá-lo com histórias incómodas (e um deles chegou a ser destituído das relevantes funções que desempenhava num importante periódico português devido às pressões exercidas pela criatura junto da estrutura accionista), nem o mais remoto brado de indignação se ergueu. Quando fez um acordo leonino com o Estado para exposição pública dos quadros que acumulara, não faltaram basbaques em fila a elogiar-lhe o "gosto artístico". Quando se vangloriava de vinhateiro, logo surgia gente de cálice em riste a brindar com moscatel, entre mil hossanas em letra impressa ao putativo "mérito empresarial" do cavalheiro.
Tantos anos depois, ei-lo enfim sujeito às indignações da turba. Chegam tarde. E, em certos casos, tresandam a hipocrisia.