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Delito de Opinião

Fernando, o comendador polivalente

Sérgio de Almeida Correia, 22.05.14

Fernando Seara anunciou a sua candidatura à Liga de Clubes. Ainda não fez um ano que foi eleito para exercer o lugar de vereador da Câmara de Lisboa para um mandato de quatro anos e já está a preparar-se para dar o salto, uma vez mais deixando enganados os eleitores que o elegeram para cumprir o mandato, depois de ter jurado a pés juntos que iria ficar na autarquia.

O homem que desde há anos é especialista em todas as áreas, nunca dando o dito por não dito, do comentário televisivo futebolístico à presença assídua em jornais, sem esquecer a militância política, primeiro no CDS, depois no PSD, passando pelo exercício de cargos partidários, parlamentares e autárquicos, a advocacia, gabinetes ministeriais, o exercício da docência e o conselho de opinião da RTP; e que ficou ultimamente conhecido por liderar o "comboios dos parolos" no Copacabana Palace, predispôs-se agora a ocupar a presidência da Liga de Clubes.

Os benfiquistas até podiam ter razões para estarem satisfeitos. Eu desconfiaria. O candidato é a imagem acabada da demagogia populista e um espelho da proximidade entre a política, a bola, a construção civil e a comunicação social. Por mais sério que seja, e consta que nesse aspecto é irrepreensível, é um daqueles casos em que a personalidade pública e o currículo académico, profissional e político acabam por falar contra si. Não por ser irrelevante, mas pela polivalência. Pela facilidade com que num estilo moluscóide salta de um lugar para outro e a tudo se adapta com um sorriso e uma palavra simpática. Se a tudo isso juntarmos uma passagem por um colégio universitário ligado aos franciscanos e uma escola militar, está encontrado o homem ideal para nadar no pântano do futebol nacional, fazendo acordos com o mesmo à-vontade a norte e a sul, no interior e no litoral.

Pelo menos desta vez não corre o risco de voltar a ser humilhado nas urnas com a camisola do PSD. Basta-lhe fazer as habituais promessas e negociar apoios, coisa que já começou a fazer prometendo um rendimento mínimo para os clubes e um pacote fiscal, tanto mais que a troika já fez as malas. Para quem diz que vai unir e credibilizar parece-me um mau começo. Ou bom, dependendo da perspectiva. Unir é capaz de conseguir, nem que seja pela distribuição de euros em tempo de vacas magras. Credibilizar, com o seu currículo e exemplos recentes, é que será outra conversa. Se no fim faltarem os euros para distribuir a culpa será do Governo, dos clubes, de alguém lá mais para a frente. E assim se vai perdendo o talento e o que ainda restava de simpatia pela personagem.

Uma campanha feita com os pés.

Luís Menezes Leitão, 19.09.13

 

 

Acho que constitui um autêntico recorde a quantidade de disparates que foram ditos por Fernando Seara nos cerca de três minutos que durou esta entrevista. A culminar na frase "tu pour moi viens de charrette". Pode ter a certeza que os lisboetas lhe vão dizer isso em português vernáculo já no próximo dia 29 de Setembro.

Uma campanha triste.

Luís Menezes Leitão, 21.06.13

 

 

Mais uma vez um tribunal, desta vez o Tribunal da Relação, confirmou a clara ilegalidade da candidatura aos municípios vizinhos de autarcas que ultrapassaram o limite de mandatos. Mas, contrariando tudo o que prometeu, Fernando Seara vai desrespeitar as decisões judiciais e iniciar uma campanha que foi impedido de conduzir. Acho espantosa a teimosia com que o PSD se decidiu meter neste enredo de onde era evidente que não poderia sair bem. Mesmo que o Tribunal Constitucional decida, contra todos os outros tribunais, salvar a sua candidatura, é óbvio que o mal está feito, já que ninguém em Lisboa acredita neste momento que Seara possa levar a água ao seu moinho.

 

Esta situação é dramática para os lisboetas que se verão impedidos de ter uma candidatura que possa derrotar a pior gestão da Câmara de Lisboa desde tempos imemoriais. Isto já para não falar do descrédito total da classe política, vista pela opinião pública como absolutamente incapaz de respeitar os tribunais e acatar as suas decisões, mesmo quando se trata de aplicar uma lei que foram os próprios políticos a fazer.

 

Mas há uma coisa boa que resulta desta campanha triste em Lisboa. Enquanto que nos concelhos vizinhos se multiplicam os cartazes de propaganda, com enorme impacto visual nas cidades, a nossa linda cidade tem sido poupada a isso, não tendo até agora aparecido um único cartaz de propaganda. Era bom que todas as campanhas eleitorais fossem assim.