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Delito de Opinião

Eram o conhecimento e a informação, estúpidos

Rui Rocha, 09.01.14

A memória de Sócrates sobre o jogo da reviravolta contra a Coreia provocou o regresso das redes sociais aos velhos tempos. De um lado, artilharia pesada, escrutínio ao pormenor, argumentos esticados e estocada satírica. Do outro, fogo de barragem e manobras de diversão. No fulgor da batalha, regista-se o testemunho de Fernando Moreira de Sá sobre o tema. Noutra encarnação, Moreira de Sá, especialista em comunicação cujos escritos raramente entendo (coisa que é naturalmente da minha total responsabilidade), dedicou-se de acordo com o próprio depoimento a criar perfis falsos no facebook, a intervir em programas radiofónicos para queimar adversários políticos e a outras variadíssimas campanhas negras. Desta vez, todavia, elabora sobre a melhor forma de combater a manipulação. Nada mais nada menos do que conhecimento e informação, revela-nos o mestre enquanto nós lhe agradecemos com voz trémula, embargada pela comoção da descoberta. Logo de seguida, Moreira de Sá levanta ligeiramente as vestes e, enquanto se prepara para caminhar sobre as águas com um portátil da Apple na mão (só não cofia a longa barba branca porque tanto quanto sei não a tem), afirma: 

Era tão simples saber que nesses anos os estudantes tinham aulas ao sábado. Era tão simples primeiro procurar a informação e só depois comentar. Mas não. A lógica nas redes sociais é primeiro atirar e perguntar depois. Como no velho oeste.

 

Entretanto, várias testemunhas garantem que, depois de publicar o post, Moreira de Sá acenou a familiares e amigos com a mão que mantinha livre e dirigiu-se a um mosteiro budista, dedicando-se agora a uma vida de recolhimento e oração. 

Rui Rocha entrevista Fernando Moreira de Sá

Rui Rocha, 24.11.13

Rui Rocha: Na entrevista que deste à Visão referes uma operação de descredibilização de Paulo Rangel. Queres dar-nos mais pormenores?

Moreira de Sá: Sim, vou contar-te tudo. O verdadeiro Rangel é um tipo expansivo, com uma capacidade de comunicação brutal, uma pessoa capaz de arrastar multidões com meia-dúzia de palavras. À altura de um Kennedy, de um Obama.

Rui Rocha: A sério? Pois olha que vendo assim à distância…

Moreira de Sá: Pois é isso mesmo. Trabalho meu. Consegui construir a imagem de que o Rangel é um chato. Um tipo que só se entusiasma com discussões à volta da hermenêutica constitucional. Que usou botas ortopédicas em criança. E que anda com os pés para o lado, como os  pinguins.

Rui Rocha: O Rangel não anda com os pés para o lado?

Moreira de Sá: Népias. Essa é a imagem pública dele que eu próprio construí. Ahahah. O gajo tem os pés mais direitos que uma régua.

Rui Rocha: E também vais dizer que não usa aquela barba à vocalista dos Azeitonas?

Moreira de Sá: Ihihih. Usa, usa. Essa tem muita piada. Fizemos uma edição pirata da Monocle só para o Rangel: o líder do Século XXI tem pêlo na venta. Até fui eu que a entreguei lá em casa. Depois, foi tiro e queda. O dono da farmácia ao lado do prédio dele diz que só no primeiro mês foram mais de vinte embalagens de colagénio hidrolisado. O tipo agora até tem pêlos nas palmas das mãos. Ainda hoje a única sobremesa que o gajo come é gelatina. Gelatina, pá. Gelatina há não sei quantos anos para os pêlos crescerem mais fortes, tás a ver?

Rui Rocha: P-porra! Essa é mesmo do caraças. E com a Manuela Ferreira Leite? Ela é mesmo assim ou também estamos a ser influenciados pelo teu trabalho na sombra?

Moreira de Sá: Oh pá! Eu sou um gajo que conhece os seus limites. Não estou aqui a pôr-me em bicos dos pés, nem nada. Se o Abreu Amorim podia ter ganho em Gaia se tivesse feito o que eu lhe disse? Podia, claro. Por exemplo, não tinha nada que ir ter ao almoço dos velhotes em Fátima. Assim parece que andava só à caça de votos. Devia ter ido logo no autocarro, ali no meio, a cantar O Menino Era Eu do  Tony Carreira e essa tralhas. É assim que se ganha legitimidade. Aparecer só para o almoço não dá. Agora a Manuela Ferreira Leite não. Não há ali manipulação nenhuma. Ela é mesmo assim. Parece que está sempre a sair de um banho de naftalina. Não consigo criar uma percepção pior do que essa. Eu sou só consultor de comunicação. Milagres? Não faço.

Rui Rocha: E o Sócrates? As “manobras” continuaram?

Moreira de Sá: Pá, isso agora é pedir muito, não posso entrar aqui em pormenores confidenciais…

Rui Rocha: Tudo bem, tudo bem. Não podes dizer, não digas.

Moreira de Sá: Não, pá. Tu és mesmo terrível. Insistes, insistes, e um gajo acaba por descair-se. Pareces a Judite a entrevistar o brasileiro do Ferrari. Só te vou dizer isto: continua. Eh, pá. Não ponhas esse olhar, que me intimidas. Pronto. Vou dizer-te tudo. A coisa do mestrado do Sócrates…

Rui Rocha: Não pode ser…

Moreira de Sá: Fomos nós que arranjámos os 120.000€ para o gajo ir para Paris estudar e lhos pusemos na conta.

Rui Rocha: Bah! Nessa não acredito. O tipo diz que foi a CGD que lho emprestou!

Moreira de Sá: Eheheh. Que és um menino, é como te digo. Então acreditas que a Caixa emprestava 120.000€ a um tipo  sem rendimentos, nem subvenções… Tsk, tsk…

Rui Rocha: Bem, vistas as coisas assim…

Moreira de Sá: Fomos nós, pá. Acredita no que te digo.

Rui Rocha: Nós?

Moreira de Sá: Pois. Bem, plural majestático. E a tese fui eu que escrevi.

Rui Rocha: Não. Essa não. A tese do gajo está bem escrita. Até o Paulo Otero a elogiou no Diário de Notícias. E a tua, pelo que vi, está cheia de vírgulas fora de sítio, tem erros constantes de concordância…

Moreira de Sá: É mesmo genial, não é? Enviei a tese em nome do gajo à Sciences Po e entalei-o. Primeiro, o tema. Ihihih. A tortura. Tema de meninas. E depois sólida e bem escrita. Ninguém acredita que é dele. No final, a chave de ouro. Entrego em Vigo uma tese minha que não vale um chavelho. Só para despistar. Até o Óscar Mascarenhas caiu. E o Sócrates obrigado a defender aquilo. Eheheh. Teve que ler o Kant dez vezes.

Rui Rocha: Caramba!

Moreira de Sá: Olha, Rui… A conversa tá boa, mas vou mesmo ter de ir. Vou jantar com uma malta de Braga. Grande cidade. Fui eu que estive à frente da Capital  Europeia de qualquer coisa com o … como é que se chama, o Mesquita Machado. São os maiores. Comigo a puxar os cordeinhos. Estão à minha espera.

Rui Rocha: Filet-mignon?

Moreira de Sá: Naa, francesinha. Bem vou mesmo indo. Toma lá o meu cartão. Para o que precisares. Desculpa não te cumprimentar, mas gosto de ter um portátil da Apple numa mão e apetece-me ter a outra pousada entre o peito e a barriga, como o Napoleão.

Rui Rocha: Fernando…

Moreira de Sá: Han?

Rui Rocha: O cartão que me deste é de um tal Artur Baptista da Silva… Por acaso…

Moreira de Sá: Oh, caraças. Enganei-me. Eheheh. Fui eu que apresentei o Artur ao Nicolau Santos, coitado.

10 primeiras páginas que, com um bocado de sorte, ainda lerás em Dezembro

Rui Rocha, 19.11.13

  1. Fernando Moreira de Sá entrevista-se a si mesmo, recusa a publicação da entrevista, denuncia-se publicamente por censura e contrata um detetive para se investigar.

  2. Rui Tavares abandona o LIVRE e funda o LIVRE-TRÂNSITO, um novo partido situado à esquerda do centro, mais exactamente a meio caminho para o PS.

  3. Inspirada pelo exemplo de frugalidade do Papa Francisco, Igreja Portuguesa decide pintar todos os objectos de ouro de que é proprietária em tons de cinzento.

  4. César das Neves pega fogo a um pensionista e acusa-o de ser inflamável.

  5. Poiares Maduro e Aguiar Branco promovem Alto Douro Vinhateiro.

  6. Crato lança o Parque Escolher, um programa de reabilitação de escolas particulares que pretende lançar as bases para uma efectiva liberdade de escolha no ensino.

  7. Soares detido depois de lançar falsa ameaça de pomba.

  8. Canceladas as buscas iniciadas há mais de 30 dias na sequência do desaparecimento de Tózé Seguro.

  9. Luanda e Lisboa decidem construir monumento para celebrar as boas relações entre os dois países. Director do Jornal  de Angola atirará a primeira pedra.

  10. Operação Regresso salda-se com mais duas entrevistas de José Sócrates.