Ler (34)
Nada melhor do que um prazer que se partilha
Adquiri estes nas minhas três deslocações à Feira do Livro de Lisboa em Maio e Junho. De variados géneros - da ficção ao ensaio, passando pelo teatro e até ao desenho.
A Hora dos Lobos, de Harald Jähner (D. Quixote)
A Próxima Guerra Civil, de Stephen Marche (Zigurate)
Agarra o Dia, de Saul Bellow (Relógio d' Água)
Entre a Mentira e a Ironia, de Umberto Eco (Gradiva)
Fui Tão Feliz Com a Minha Thompson, de Sérgio Sousa Pinto (Avenida da Liberdade Editores)
Goodbye, Columbus, de Philip Roth (D. Quixote)
Jornada Para a Noite, de Eugene O'Neill (Cotovia)
O Render dos Heróis, de José Cardoso Pires (Moraes)
Os Ratoneiros, de William Faulkner (Portugália)
Pnim, de Vladimir Nabokov (Relógio d' Água)
São muito diferentes. Dois foram adquiridos em pavilhões de alfarrabistas, com chancelas de editoras há muito extintas (Moraes e Portugália). Andei anos em busca de ambos. Num caso por se tratar de um dos romances menos conhecidos de Faulkner, aliás há muito esgotado no mercado português. Noutro por ser talvez o único que me falta ler de Cardoso Pires.
A original obra pictórica de Sousa Pinto comprova que o talento deste deputado socialista - que conheço há 27 anos - não se esgota na escrita ou na oratória: está patente também nos seus desenhos, com óbvia influência de mestres da banda desenhada, como Hugo Pratt. A jovem editora que lhe lançou a obra merece-me igualmente simpatia. Gosto de incentivar novos projectos nesta área, contrariando os profetas da desgraça sempre prontos a jurar que os livros estão condenados. Alguns evacuam há décadas sentenças deste género, felizmente nunca confirmadas.
Russo que renegou o seu país sob a ditadura soviética, Nabokov escreveu Lolita, romance fundamental do século XX - é quanto basta como carta de recomendação. Bellow e Roth são ficcionistas norte-americanos que aprecio - mais o Nobel de 1976, confesso, mas senti curiosidade em conhecer a primeira novela do autor de A Conspiração Contra a América, publicada quando tinha apenas 26 anos. O dramaturgo O'Neill - Nobel de 1935 - é autor que lerei pela primeira vez.
Quanto aos ensaios políticos, um vira-se para o futuro próximo, outro para o passado. A Hora dos Lobos detalha a vida quotidiana na Alemanha em ruínas do pós-guerra, com raro aliciante: observar factos históricos na perspectiva dos derrotados em conflitos bélicos. Contrariando o relato dominante, na óptica dos vencedores.
Há ainda o livrinho de Eco, pensador sempre estimulante. Mesmo quando escreve sobre temas aparentemente menores.
Destes dez, já li dois. E sobre um deles até escrevi aqui, recomendando-o sem reservas: A Próxima Guerra Civil Americana. Tema mais actual que nunca: está já em marcha a próxima corrida à Casa Branca.
Sobre o outro terei ocasião de escrever também. Quando gosto a sério de um livro, sinto vontade de divulgar a notícia. Faz parte do sortilégio da leitura: nada melhor do que um prazer que se partilha.