Pinto da costa e o seu ungido
Já houve vários presidentes da Câmara de Lisboa sócios do Sporting. Nas últimas três décadas, lembro-me de Jorge Sampaio, Pedro Santana Lopes e António Carmona Rodrigues.
Imaginem a gritaria que não haveria, lá mais para Norte, se o presidente da Câmara de Lisboa, estando no exercício destas funções, aceitasse encabeçar uma lista concorrente a um órgão social do FC Porto. Não faltaria gente a rasgar as vestes, urrando contra a «promiscuidade entre a política e o futebol», exigindo imediata separação de águas.
Pois isso mesmo acaba de acontecer no FC Porto, com o actual alcaide da Invicta a encabeçar a lista para o Conselho Superior da agremiação azul e branca, sem que isso pareça perturbar as boas almas que reclamam linhas divisórias entre bola e política.
Rui Moreira aceitou o encargo, consciente de que isso o coloca na primeira linha dos ungidos, como presumível sucessor de Pinto da Costa, agora reeleito para o 15.º mandato à frente do clube, onde já leva 38 anos como dirigente máximo. Um mandato que, por vontade própria, poderá não levar até ao fim.
O astuto PdC, que nunca dá ponto sem nó, não apenas vence de forma categórica (com mais de dois terços dos votos expressos, 68,7%) a eleição para presidente da Direcção como suplanta a percentagem alcançada por Moreira (65%) na votação para o Conselho Superior. Numa espécie de aviso à navegação interna que evoca os dramas de Shakespeare: convém que o protegido nunca seja mais popular do que o seu mentor.