Bons excessos
Como imaginam, raras vezes a leitura do Diário da nossa República nos reserva mais do que bocejos e urgentes escapadelas para um café. Devia estar no index: digo sempre. Combateríamos assim o absentismo e a contaminação do fenómeno da quadratura mental. Mas hoje saiu - como diria o Eça - um diplomazinho importante para a qualidade de vida dos portugueses, em que se estabelece o regime da formação do preço dos medicamento e se diminui a margem de lucro arrecadada pelas farmácias e pelos distribuidores.
A revisão da política do medicamento em Portugal era urgente por variadas razões, nem todas especialmente novas - como a transparência do mercado farmacêutico - mas agora assume um papel redobradamente importante, actuando também na suavização dos efeitos da austeridade.
Quer pelo lado do consumidor privado, porque a baixa generalizada dos preços lhe facilita o acesso a terapêuticas de custos comportáveis. Quer pelo lado do consumidor público, o Estado, que assim poderá reduzir os seus gastos sem comprometer uma parcela dos objectivos do SNS.
Algumas destas medidas cumprem metas assumidas no 'Memorando de Entendimento' com a Troika, é verdade. Mas vão mais além, concretizando linhas de acção estabelecidas no programa do Governo.
Era assim que eu gostava de ver o Governo a exceder os compromissos com a Troika: distribuindo o ónus da crise por todos os portugueses, incluindo os grupos de interesses privados.
- Isto não lhe diz respeito porque não toma remédios?
- Não importa: ligue-se, porque um dia tomará.