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Inaugura hoje na Casa de Cultura dos Olivais, Lisboa – à Rua Conselheiro Mariano de Carvalho, entre os Olivais Velhos e a Expo – e ficará até 27 de Outubro, esta exposição fotográfica do Sandro (João Alexandre Taborda). É uma memória única – que então fotografar era muito mais raro – da geração lisboeta, olivalense, dos anos 1970s e início dos 1980s, roupas, hábitos, personagens, artefactos usados, e a arquitectura vivida daquele bairro. Pura história cultural, se quiserem. Há dias em que custa estar longe …
Quando o Sandro morreu, há (já!?) um ano, deixei um breve postal – Driol (o grão-diminutivo que nos merecia), e recupero agora um pouco do que dele disse, e que se associa a esta exposição:
"O Sandro era da “geração acima”, 4-5 anos mais velho. Por isso então a seita dele era outra, esses que a gente conhecia de vista e nome, cobiçando-lhes as motos e as maravilhosas namoradas. Ou pelos irmãos mais novos. Mas, vizinho, também acampava por vezes, e, mais tarde, já nós mais crescidos, ainda mais, já ombreando. O Drinô (como alguém graffitou em fugaz era de influência do “glamour rock”) era um dos tipos mais idiossincráticos que havia (...)
Mas o que muito marcou a imagem pública do Driol foi o ter ele sido o fotógrafo “oficial” daquela nossa geração: raros eram os que tinham máquina, ainda menos os que tinham dinheiro para rolos e revelações, apenas dois ou três os que tinham o gosto, mas só ele trazia a tiracolo a paixão de fotografar. (...) E fez um arquivo lindo sobre aquela época de “dias gloriosos”.
Nesta foto (a do cartaz da exposição) estava a fotografar os irmãos mais novos da sua geração, os finais dos anos 70s, os putos a descerem (descermos) as ruas nos carrinhos de rolamentos. Em tantas outras tem os outros, as andanças de nós mais-velhos. Voltar ao acervo do Driol é uma delícia, cada um encontra-se e aos seus queridos de então, na beleza da memória. Certo, há uma “patine” afectiva que nos convoca, coisas até da nostalgia. Mas há outro registo, bem mais alargado, pois tem muito mais nesse legado do Driol. Encontra-se a memória da paisagem urbana como foi: as vestes, os tiques, os penteados, as poses – e quão cinéfilo tudo parece, ainda para mais naquele preto-e-branco. As ruas, os carros, as motos, a arquitectura então tão nova. Mas é ainda mais do que essa memória social. Pois o Driol teve um olhar, amador, jovem de juvenil a júnior, mas muito cuidado e assim tão adulto, sobre a sua geração naquele tão especial bairro. Por isso nessa sua colecção o que nós encontramos não é o retrato daquela geração. É mesmo um auto-retrato, a voz própria de uma “malta”, esses que nos sonhámos “heróicos” naqueles confusos tempos do pós-pós-Abril. E, se calhar, fomos."
Vão ver, para saberem (como se que recordando) como foi, como fomos e nos fizemos:
Passei aqui o meu dia de Natal. Quem quiser poderá fazer o mesmo que eu fiz até 16 de Fevereiro. Basta que se atrevam a entrar no segundo andar da Praça do Rossio, no MGM Macau, para darem de caras com todo o esplendor da Florença renascentista. No final do percurso, depois de encontrarem o retrato do próprio Botticelli, de cumprimentarem Rafael e Leonor de Toledo com seu filho Giovanni di Mantua, num retrato imortalizado por Agnolo Bronzino, de se deliciarem com as imagens da Madonna com a Criança e Oito Anjos, de se cruzarem com La Calumnia e de esfregarem o focinho do Porcellino de Pietro Tacca, enquanto o Nascimento de Vénus vos guarda, entramos numa sala escura onde Simonetta Vespucci nos espera tal qual veio ao mundo com toda a riqueza das suas formas perante os olhos e o pincel do artista. A Vénus e Il Porcellino são os originais. As restantes obras são fotografias em tamanho real, aliás autorizadas pelas próprias galerias depositárias das obras, realizadas em materiais e com um acabamento que são só por si uma obra de arte e que servem para nos situar e preparar antes do encontro com a aclamada Vénus. A recriação da Piazza della Signoria é uma obra única. Resta dizer que a entrada é livre. Sim, leram bem, livre.
Até 25 de Agosto podemos encontrar, no Palácio Nacional da Ajuda, osgas, rãs, caranguejos, um lustre de tampões, obras em cerâmica, obras em crochet... Mas esta instalação artística com modelos vivos é irrepetível...
Vale a pena ir ver João Penalva, no CAM.
Texto e imagem. Ou imagens apenas, daquelas para as quais fazemos um conto imediato, quebrando o seu silêncio petulante.
Não percam esta viagem, da qual se volta diferente.