DUAS CADEIRAS VAZIAS
Cumprindo as suas obrigações de serviço público, a RTP promoveu no dia 13 de Maio - em sinal aberto, no seu canal generalista - um debate entre os cabeças de lista dos partidos que não têm representação no Parlamento Europeu. Doze, no total.
Foi um bom modelo de debate, que só não permitiu uma verdadeira discussão de ideias devido à notória inépcia de alguns candidatos, impreparados e recorrendo a chavões inconsistentes.
Destaque, pela positiva, para a competente moderação da jornalista Maria Flor Pedroso, directora de informação do canal público.
Destaque, pela negativa, para a ausência de dois cabeças de lista. Um, por aparente amuo, recusou comparecer. Outro preferiu discutir bola, à mesma hora, noutro canal - peculiar noção de prioridade cívica por parte de quem gasta muita saliva a apregoar responsabilidade e ética.
Só ontem pude assistir a este debate. Fica uma breve resenha do que lá se disse - e do que ficou por dizer.
André Ventura (Basta). Preferiu palrar sobre futebol, à mesma hora, na CMTV.
António Marinho e Pinto (PDR). Não compareceu por discordar do «critério editorial» da RTP. Aparentemente, este eurodeputado que em 2014 foi eleito sob a sigla MPT desejaria ter participado num debate entre os partidos já representados no Parlamento Europeu. Esteve muito bem o canal público, uma vez que o PDR - partido que nem existia há cinco anos - se candidata pela primeira vez a uma eleição europeia.
Fernando Loureiro (PURP). Quer aproximar os salários das pensões. Não explicou como.
Era o mais velho neste debate. E foi o único candidato que esteve sempre de esferográfica na mão.
A frase: «Setenta e cinco por cento das pessoas ligadas à política são altamente corruptas. E não devo estar a exagerar.»
Francisco Guerreiro (PAN). Quer assegurar uma licença de maternidade de um ano em todo o espaço europeu. Como? Com verbas do orçamento comunitário, desviando dinheiro hoje atribuído ao investimento na actividade pecuária.
Foi o único candidato a aparecer com uma argola na orelha.
A frase: «Se todos os europeus consumissem como um português, nós teríamos consumidores para dois planetas.»
Gonçalo Madaleno (PTP). Quer uma «bolsa de arrendamento», à escala europeia, para assegurar «habitação digna para todos». Não explicou como.
Estudante de Direito, é o candidato mais jovem. E era também o mais nervoso.
A frase: «A sociedade é composta de seres humanos.»
João Patrocínio (PNR). Afirmou-se defensor de «uma política de natalidade». Sem entrar em pormenores, eventualmente embaraçosos.
Foi o candidato que elevou mais a voz.
A frase: «Esta Europa está moribunda.»
Luís Júdice (MRPP). Quer Portugal fora da União Europeia a partir de agora para «ganharmos soberania». Não chegou a citar a célebre frase «orgulhosamente sós», mas andou lá perto.
Foi o único a aparecer todo vestido de preto.
A frase: «Trabalharemos afincadamente para a dissolução da União Europeia e para a dissolução do euro como moeda única»
Paulo Morais (Nós, Cidadãos). Quer uma entidade externa - supostamente paga por dinheiros públicos - a «fiscalizar os eurodeputados», em nome da transparência. Mas quem fiscalizaria por sua vez a referida entidade?
Foi um dos dois candidatos a usar gravata (o outro foi Paulo Sande).
A frase: «Os cidadãos europeus, e os portugueses em particular, têm todo o direito de saber para onde vai o dinheiro dos seus impostos.»
Paulo Sande (Aliança). Quer «aproximar a Europa dos portugueses». Como? A Assembleia da República deve «ter muito mais a dizer sobre políticas europeias». Na «coesão», por exemplo. Provavelmente, nem todos os telespectadores terão entendido.
Foi um dos dois candidatos a usar gravata (o outro foi Paulo Morais).
A frase: «Os extremos à esquerda e os extremos à direita tocam-se em quase tudo. A moderação é hoje quase um novo radical.»
Ricardo Arroja (IL). Quer «menos burocracia, menos impostos, mais liberdade.» Como? Aumentando a concorrência. «Há que questionar se as leis da concorrência têm vindo a ser aplicadas em Portugal.»
Foi o que falou em tom mais cordato.
A frase: «Temos de reconhecer, no espaço da UE, todas as categorias profissionais.»
Rui Tavares (Livre). Quer «uma esquerda verde e europeísta» que possa implantar uma «rapidíssima transição energética» na «maior democracia transnacional do mundo». Não ficou bem claro como pretende criar «milhões de empregos» na «economia verde», cor que parece ter substituído o vermelho no imaginário de certa esquerda contemporânea.
Foi o candidato que usou mais palavras por minuto.
A frase: «O novo Pacto Verde é um Plano Marshall da nossa geração.»
Vasco Santos (MAS). Quer criar um «salário mínimo europeu» de 900 euros, tendo como referência o que existe em Espanha. Sem esclarecer como.
É o candidato mais magrinho. Ou elegante, para usar um eufemismo em voga.
A frase: «Se continuarmos desta maneira, a espécie humana não tem futuro possível.»