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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 03.03.25

«A Europa pensa a relação entre Estados com base em ideais plasmados num quadro normativo romântico. Pelo contrário, Washington e Moscovo orientam-se pelo pragmatismo dos interesses. Aqui chegados, façamos o mesmo. Apaziguar Moscovo não serve os interesses europeus, ainda que seja um passo lógico para as prioridades externas dos EUA. Não precisamos de gostar de Zelensky, de acreditar no vigor moral da Ucrânia, nem ter grande entusiasmo pela Ordem Liberal. Basta perceber que paz é um conceito exigente, muito mais ambicioso do que a mera ausência de guerra, e que qualquer acordo com Putin será um curto interregno na violência destinada a enfraquecer a Europa.»

 

Diogo Noivo, no Diário de Notícias

Contra a cobardia

Cristina Torrão, 01.03.25

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Ser pela Ucrânia é ser pela Europa.

E eu sou pela a Europa, contra os bullies. Contra quem gosta de humilhar e nunca enaltece ou defende direitos humanos. O discurso de Trump é profundamente misantropo, agressivo, humilhante, manipulador. Mente hoje e amanhã dá-lhe uma amnésia. "Disse isso, eu? Não me lembro". Não há honra, não há dignidade, não há palavra. E um homem sem palavra, não é um homem. É um rato. De esgoto.

Trump, Musk e Vance são ratos. São incapazes de empatia, ou de compaixão. São psicopatas.

Acredito que a partilha das dificuldades pode reforçar os laços e a identidade europeia. Num esforço de segurança comum. E é certo que também Trump tem muito a perder, sem a Europa do seu lado.

Por mim, o boicote à Casa Branca seria total. Nem mais um líder europeu de visita, por iniciativa própria, às ratazanas de esgoto! Chega de ir lá, dobrar a espinha! Deixemo-los a falar sozinhos, todos satisfeitos, na sua verborreia!

O mundo vai ficar mais perigoso? Para o bem e para o mal, estamos no meio do vulcão. Resta avançar de cabeça erguida. Sejamos gente!

Contra essa espécie de união entre comunistas e cheganos da pior espécie.

Contra os cobardes!

Esforço de segurança comum

Paulo Sousa, 01.03.25

O projecto europeu tem sido bem sucedido e é nos momentos de crise que tem avançado. O seu sucesso incomoda, e muito, a Rússia, parte da América e outras autocracias. Não duvido que, após tantos anos de cooperação bem sucedida, muitos cidadãos europeus sintam que efectivamente partilham valores e uma identidade que os distingue dos demais.

As inegáveis mudanças em curso exigirão uma abordagem diferente. Até que ponto os europeus estão dispostos a se sacrificar pela manutenção da paz dentro do seu continente? Já vimos que colocar bandeiras da Ucrânia à janela, ou no perfil das redes sociais, não é suficiente. Investir na indústria de armamento não é difícil, mas a barreira psicológica passa por colocar botas no terreno.

Eu gostava de saber o que é os europeus acham do cenário em que todos os considerados aptos, entre os 20 e os 55 anos, homens ou mulheres e de acordo com as respectivas capacidades, estariam ao serviço do esforço de segurança comum, durante um mês por ano e durante os anos vindouros. Não estou a falar de funções exclusivamente de natureza militar, mas naturalmente que uma parte significativa teria de o ser. Isto é uma ideia em bruto, que precisaria de ser afinada, mas gostava de ver um estudo de opinião sobre uma coisa deste género.

Para além de tudo o resto, não duvido que pelos laços que seriam estabelecidos, pela partilha das dificuldades e pelo significado para nós e para o mundo, o que possamos definir por identidade europeia seria profundamente reforçada. E os autocratas ainda teriam mais razão para se irritar com os europeus por estes se terem atrevido a mostrar-lhes o que deve ser feito frente aos bullies, como aqui refere o João André.

Fazer frente a bullies

João André, 01.03.25

Um amigo escreveu-me ontem que futuros historiadores dirão que a reunião de ontem entre Zelensky e Trump (mais Vance e demais esbirros) marcará o fim da NATO. Não sei se concordarei, penso que terminou quando Vance se dirigiu aos antigos aliados na conferência de Munique.

Poderá no entanto marcar o início do fim do poderio americano. Não creio que haja ainda líderes europeus com um módico de inteligência e decência que creiam que os EUA os ajudariam em caso de necessidade. O Departamento da Defesa americano já indicou que irá reduzir os custos com bases e as europeias estarão quase certamente na lista de coisas a cortar (tal como os mísseis nucleares no continente). Sem esse poder dissuasor, aos europeus resta renderem-se à irrelevância ou descobrirem a vontade de se defender a si mesmos.

Só que os EUA perderão acesso aos recursos europeus e, de arrasto, aos de muitos outros antigos aliados. Mesmo na Ásia, será difícil imaginar a Coreia do Sul ou o Japão a confiarem em Trump ou Taiwan a acreditar que os americanos estariam dispostos a arriscar o seu sangue para os proteger. Acrescendo a isto os cortes nas missões diplomáticas (que provavelmente se irão reflectir nos "países de merda de África e Ásia"), e a influência americana irá desaparecer e ser substituída pela chinesa.

Todos perderemos (bem, talvez não os chineses) com um mundo onde os EUA abandonam os seus princípios (mesmo quando os defendiam apenas no seu interesse). Será um mundo de instabilidade e onde a - ainda - maior potência está dominada por bilionários infantis ou maliciosos que só têm interesse nos outros como clientes ou servos.

Na sequência do vergonhoso comportamento de Trump e Vance, temo (e ao mesmo tempo quase desejo) que os ucranianos acabem por remover Zelensky para lá colocar alguém que se mostre obsequioso ao ogre laranja. Temo porque demonstra que o bullying resulta. Desejo porque nos ganharia tempo. A questão é qual opção os ucranianos, como eslavos que são e como tal altamente orgulhosos, irão escolher: apoio e subserviência, ou orgulho e dificuldade. Uma oferece alguma segurança no curto prazo (embora nunca se saiba o que Trump e Putin, falsos como são, decidirão fazer no futuro). A outra oferece riscos claros, mas poderá ser a única forma de existir uma Nação ucraniana dentro de algumas décadas.

Sejamos claros: o momento de ontem poderá ter sido o fim da NATO e da ordem pós-II Guerra Mundial (ou mais um marco no caminho). Poderá ser o início de um conflito ainda mais alargado do qual os EUA se alhearão. Poderá no entanto servir como fundação para o estabelecimento de uma Nação e de mais uma fundação para uma Europa do futuro. É preciso querer (e saber, como cidadãos dessa Europa) que o caminho para isso vai ser duro e custoso.

Trair a Europa, apunhalar a Ucrânia

Pedro Correia, 21.02.25

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Foi notícia esta tarde: Donald Trump poderá viajar em 9 de Maio a Moscovo, onde se sentará ao lado de Putin no chamado "desfile da vitória" - grande parada bélica na Praça Vermelha. Falta confirmar, mas com o antecessor/sucessor de Joe Biden nada é garantido. Por ter uma relação muito atribulada com a verdade. 

Inequívoca é a sua aversão a Zelenski, que - diz ele - «não tem lugar à mesa das negociações» para pôr fim a três anos de invasão russa. Enquanto confessa estar «já farto de ouvir» o homólogo ucraniano.

Decalcando cada vez mais a narrativa do Kremlin, o novo-velho inquilino da Casa Branca trai a Europa e apunhala a Ucrânia. Em velocidade furiosa, no 32.º dia do seu mandato presidencial. 

Há muitas maneiras de passar à História: pode ser também pelos piores motivos. Trump candidata-se desde já a isso.

De elefantes e rinocerontes

Cristina Torrão, 20.02.25

Muita gente diz Trump ser como um elefante numa loja de porcelanas. Ou ter a elegância de um rinoceronte.

Vão-me desculpar, mas não posso discordar mais. Um elefante, ou um rinoceronte, dão realmente cabo de uma loja de porcelanas. Mas inadvertidamente.

Trump e seus compinchas entram na loja munidos de tacos de beisebol e escaqueiram tudo.

Porque não escolhem a loja de Putin?

Sobre o expansionismo russo e a defesa europeia: a importância de saber pensar

Recordando uma excelente reflexão de José Cutileiro em Julho de 2007

Pedro Correia, 19.02.25

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Há artigos que, relidos à distância, nos confirmam a enorme capacidade dos seus autores de verem para além da espuma dos dias, antecipando tendências e captando sabiamente os sinais dos tempos.

É o caso deste que trago hoje, publicado na edição de 21 de Julho de 2007 do Expresso pelo embaixador José Cutileiro. Sobre a atribulada relação entre a União Europeia e a Rússia pós-soviética que tem o seu símbolo máximo em Vladimir Putin.

Exceptuando mudanças mínimas, poderia ter sido escrito hoje.

Acabo de recuperá-lo dos meus arquivos: parece-me tão luminoso e revelador que não resisto a partilhá-lo convosco. Sublinhando que esta excelente reflexão surgiu antes da anexação de partes da Geórgia por ordem do Kremlin e muito antes do assalto russo à Crimeia e ao Donbass - e cerca de década e meia antes da trágica invasão em larga escala do território ucraniano pelos blindados de Moscovo.

«Uma vela a São Putin». Transcrevo-o nos parágrafos seguintes com merecida vénia à memória de José Cutileiro (1934-2020). Quando ele partiu, deixou-nos mais pobres. Bem precisávamos da sua lucidez e da sua esclarecida opinião agora.

 

Nenhum país da União Europeia é uma grande potência. Quando os europeus eram fortes não se juntavam uns aos outros, guerreavam-se uns aos outros - e metiam-se a conquistar impérios e dominar o mundo. Hoje já não há impérios e é a União que faz a força. Força de fracos que têm se se juntar? Talvez, mas é a que há - e é preciso reforçá-la, pese aos patriotas à antiga.

Vem isto a propósito da Rússia de Putin. Passado o primeiro bafo de liberdade, o fim da União Soviética foi sentido em Moscovo como a derrocada de um império. Exacerbou a insegurança histórica do nacionalismo russo, que imagina sempre à sua volta perigos e ofensas que não existem e só sabe defender-se atacando. A nostalgia de Estaline foi crescendo: com mudança de letra - feita pelo autor dos versos originais - Putin mandou repor o hino nacional do tempo da ditadura. Entretanto, em meia dúzia de anos, o preço do petróleo subiu de $17 para $75 o barril. A Rússia vem logo atrás da Arábia Saudita na quantidade de petróleo extraído e tem no seu subsolo as maiores reservas de gás do mundo. Empoleirados nesta riqueza, Putin e a sua gente afirmam-se por maus modos contra um Ocidente que, acham eles, lhes quer mal e os humilhou ou ignorou nos anos de Gorbachev e Ieltsin.

Moscovo provoca, ameaça e tenta dividir. Ele é a carne polaca, o monumento aos soldados russos da Estónia, o projecto de defesa antimíssil que associa Estados Unidos, Polónia e República Checa, a independência do Kosovo, a recusa de extraditar o suspeito de assassinato por terrorismo nuclear de um dissidente em Londres. Ele é o esforço permanente de desunir os ocidentais em negócios de energia - importante porque a Europa vai buscar à Rússia um quarto do gás de que precisa. Ele é o orçamento militar, com o nuclear à frente, que cresceu seis vezes desde 2001. A mortalidade e a morbilidade russas, piores do que as de qualquer outro país não-africano, aumentam o alarme por denunciarem a fragilidade subjacente ao novo estado policial que se instala. 

O lado bom de tudo isto é que, perante a Rússia de Putin, a solidariedade europeia, ainda titubeante, começou a afirmar-se. O incómodo político-militar que se perfila a Leste junta-se ao fundamentalismo islâmico e à concorrência económica dos novos mundos para assustar saudavelmente os europeus.

Paul-Henri Spaak, combatente das lutas heróicas contra o nazismo e o comunismo, escreveu em 1969: «Nos últimos vinte anos vários homens de Estado europeus foram chamados pais da Europa ou pais da Aliança Atlântica. Nenhum deles merece o título. Este pertence a Estaline. Sem Estaline, sem a sua política agressiva, sem a ameaça que fez pairar sobre o mundo livre, a Aliança Atlântica nunca teria nascido e o movimento por uma Europa unida, englobando a Alemanha, jamais teria conhecido o seu espantoso sucesso.»

A Rússia não é evidentemente a União Soviética mas tal, como ela, poderá levar ao reforço da construção europeia.

O ditador Putin e o amigo americano

Pedro Correia, 18.02.25

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A administração Trump prepara-se para proporcionar hoje, em Riade, um enorme triunfo diplomático à Rússia de Vladimir Putin, que há três anos lançou sobre a Ucrânia um ataque sem precedentes, desencadeando o mais sangrento conflito no continente europeu desde a II Guerra Mundial - com o propósito declarado de riscar o país vizinho do mapa dos Estados soberanos.

Convém lembrar que em Fevereiro de 2022 os blindados de Moscovo chegaram a 15 quilómetros de Kiev. Dissolver as instituições ucranianas, instalar no palácio presidencial um fantoche semelhante ao bielorrusso Lukachenko e eliminar o Presidente Volodimir Zelenski eram os objectivos do ditador russo.

Sem ter feito a menor concessão, graças apenas à benevolência de Donald Trump, Putin vê o novo-velho inquilino da Casa Branca reconhecer-lhe estatuto de líder credível e digno de confiança, indiferente ao facto de haver contra ele, desde Março de 2023, um mandado de captura do Tribunal Penal Internacional. Indiferente também aos numerosos crimes de guerra cometidos pelas forças russas em território ucraniano. Em cidades-mártires como Butcha, Irpin e Mariúpol

 

Alguns, no conforto da Europa Ocidental, aplaudem. Alheios aos atentados aos direitos humanos cometidos na própria Rússia, onde Putin não hesita em assassinar opositores políticos. Enquanto vão pervertendo a palavra paz, associando-a ao carrasco de Alexei Navalny.

Argumentam que o fundamental é «haver um acordo». Como se fosse possível selar um acordo sobre o futuro da Ucrânia nas costas de Zelenski e com a total ausência de representantes da União Europeia, que nestes três anos enviou 145 mil milhões de dólares em assistência financeira, militar e humanitária a Kiev.

Falando em acordos, vale a pena mencionar duas datas:

5 de Dezembro de 1994. O dia em que foi assinado o Memorando de Budapeste. Honrando este compromisso, a Ucrânia entregou à Rússia todo o arsenal nuclear existente no seu território desde os tempos da URSS, em troca do reconhecimento da sua soberania e da sua integridade territorial. O acordo foi também subscrito por representantes dos EUA e do Reino Unido. Sabemos o que aconteceu depois. Em Março de 2014, Moscovo anexou a Crimeia e instalou governos de fachada, totalmente manobrados pelo Kremlin, nas províncias ucranianas de Donetsk e Lugansk.

12 de Fevereiro de 2015. O dia em que russos e ucranianos assinaram o segundo Acordo de Minsk, com mediação alemã e francesa. Kiev reconheceu a autonomia de Donetsk e Lugansk, em troca da promessa russa de respeitar a integridade territorial do país vizinho e retirar apoio militar aos separatistas. 

Sabemos o que aconteceu depois: Putin não respeitou nenhum dos compromissos. As últimas ilusões dissiparam-se em definitivo a 24 de Fevereiro de 2022.

 

Saia o que sair hoje de Riade, onde a União Europeia não comparece por óbvio veto de Moscovo, valerá coisa nenhuma. De caminho, desonra a administração norte-americana. Que em menos de um mês desde a entrada em funções já demonstrou viver num mundo às avessas: ameaça os históricos aliados de Washington e robustece os tradicionais inimigos dos EUA.

Antigos presidentes norte-americanos como John Kennedy e Ronald Reagan (que defenderam ao limite a "ilha" de Berlim Ocidental cercada por soviéticos como fronteira do mundo livre) e George Bush (que há 35 anos liderou uma coligação internacional, respaldada pela ONU, para libertar o Koweit invadido pelo Iraque) devem dar muitas voltas nas respectivas tumbas.

Dia após dia, Trump anda a trair o legado de todos eles.

Uma nova (des)ordem mundial

João André, 17.02.25

Há menos de duas semanas escrevi um comentário a um post do Pedro onde expressava o meu pessimismo relativamente a Trump e às consequências para Portugal e a Europa. O Pedro respondia que analisava (naquele caso) na perspectiva de cidadão português e expressava optimismo na resiliência europeia. Não voltei à discussão mas talvez uma nova reflexão faça agora algum sentido.

A verdade é que na presente estratégia trumpista (e da Heritage Foundation, que escreveu a estratégia, passo a passo) duas semanas são uma eternidade. Após a visita de Hegseth e Vance e algumas declarações extra de Trump, está neste momento claro qual a visão que a Casa Branca tem para o futuro. E passa por um elemento simples: a NATO é letra morta.

Primeiro vieram as declarações de Hegseth (segundo algumas notícias, algo diluídas da brutalidade inicial), que a Europa não mais seria o foco dos EUA, assim explicando que a defesa da Europa estaria a cargo dos Europeus, caso isso não fosse claro. Depois chegou Vance, que se apresentou numa conferência sobre segurança, falou durante 18 minutos sem tocar no tema, atacou a democracia europeia, demonstrou menosprezo pelo continente, foi embora assim que terminou, recusou reunir-se com o chanceler alemão sob o pretexto de não ir ficar no cargo muito mais tempo, e reuniu-se com a extremista líder da AfD que não tem a menor hipótese de ser eleita chanceler. De permeio surgiu uma declaração de Trump himself em que dizia querer procurar um processo de desnuclearização juntamente com China e Rússia. Por fim, há o facto de Trump querer ir debater o futuro da Ucrânia com Putin sem levar os ucranianos ou europeus em conta.

Ignorando o modo e focando-nos no conteúdo das mensagens, vemos aqui um tema essencial: os EUA vão dar prioridade a um mundo onde "might is right" ou, se quisermos, da lei do mais forte. Trump, já o sabemos, vê a política como transacional. Se não existe um quid pro quo - um toma lá dá cá em bom português - ele não está interessado. Trump quer portanto negociar com Putin, terminar a guerra, recuperar os recursos que puder, e deixar os ucranianos e europeus entregues a si mesmos. Note-se que nesta negociação Trump já disse que os ucranianos não podem esperar entrar na NATO nem recuperar as fronteiras de 2014 o que, mesmo que seja realista, é uma posição bizarra para iniciar negociações.

Excepto quando olhamos para o interesse de Trump: que quer ele em troca? Recursos minerais. O futuro da Ucrânia não lhe interessa, já que ele quer apenas e só acesso aos recursos do país. Já disse a Zelenskií querer condicionar ajuda futura ao acesso aos depósitos minerais em terreno ucraniano (especialmente terras raras, lítio, urânio, etc.), os quais estão parcialmente em territórios controlados pela Rússia. Disse inclusivamente que quer "tomar posse" de 50% desses recursos, como se fosse um extorsionista mafioso a dar a volta por Manhattan no início do século XX a exigir dinheiro em troca de protecção. Desta forma a sua posição ideal será a de "oferecer" à Ucrânia protecção em troca de pagamento e oferecer à Rússia o levantamento de sanções (e reentrada nos palcos internacionais) em troca de acesso aos restantes minerais (que obviamente se manteriam em mãos russas). O resto - reconstrução do país, defesa das fronteiras, defesa europeia - fica nas mãos de quem lá vive. O próximo passo será certamente a remoção de bases do continente. Se as eleições alemãs não correrem de forma que lhe agrade, as bases no país poderão muito bem ser as priemiras.

E quanto à desnuclearização? Do ponto de vista de Trump não faz sentido ter tantas armas nucleares quando existe redundância. Sendo uma mente que não entende subtileza, não percebe que as armas não foram todas criadas iguais e que muitas delas existem não para criar destruição mas para garantirem a possibilidade de retaliação ou "priemiro ataque" (First Strike). Se puder reduzir o arsenal nuclear, certamente que o irá fazer removendo muitas das armas do território europeu, assim ainda mais abrindo o flanco no continente. Além disso, um acordo deste género seria uma aceitação tácita que EUA, Rússia e China seriam as única potências internacionais e que cada uma teria a sua esfera de influência, na qual os EUA não interefeririam desde que possam beneficiar economicamente. Num tal cenário de desnuclearização (e note-se que a China provavelmente não reduziria o seu arsenal, antes o aumentaria para um nível semelhante ao americano e russo) os riscos de um conflito nuclear não diminuiriam (talvez se abrisse a possibilidade de vitória, algo impossível actualmente) e os riscos de conflito convencional seriam talvez superiores. E as probabilidades de China invadir Taiwan, EUA invadir Panamá e Gronelândia (o Canadá já duvido), e Rússia continuar a sua expansão para Oeste seriam muito elevadas.

E no que ficamos na Europa? Bom, como o Pedro diz noutro comentário no post, abre a possibilidade para a Europa finalmente fazer aquilo que já deveria ter feito há décadas (e perdeu a oportunidade de fazer no período de Trump45) e criar um sistema de defesa europeu. Isto não significa simplesmente aumentar os gastos em defesa. Significa também criar todo um sistema para poder sustentar a defesa. Diz-se habitualmente que o Pentágono tem a maior burocracia do mundo mas, mesmo que seja excessiva, é indicativo daquilo que a Europa tem que construir. Tem que criar um conceito, um sistema de liderança, de harmonização entre as diferentes forças armadas europeias, uma burocracia, processos de investigação e desenvolvimento, fomentar a indústria de armamento europeia, criar processos de compras de equipamento (não só de armas mas também de material extra - tendas, rações, roupas, veículos, etc.) e implementar uma forma de treinos conjuntos e criação de doutrinas conjuntas. Tudo isto é uma oportunidade, mas também demora muito tempo, custa capital financeiro, político e humano. E é muito difícil de vendar a uma população a quem não se é sincero sobre os problemas reais.

E o capital financeiro traz-me a um ponto no qual discordo algo da posição do Pedro. Ele escreveu a certo ponto «a Europa resistiu a um milénio de guerras violentas, epidemias mortíferas, catástrofes de todo o género» no que dá a entender que a resiliência europeia pode resistir a tudo isto novamente. Nisto deixo as minhas reflexões: a "Europa" não sovreviveu a nada disso. A "Europa" não existia, era um aglomerado de reinos, impérios, terras vistas como bárbaras, múltiplas religiões (que mesmo quando cristãs não impediam o morticínio) e era, essencialmente, o território menos interessante do mundo conhecido. A Europa é uma zona geográfica com pouco interesse. Não é particularmente fértil, rica em minerais, recursos naturais de outros tipos (madeira, especiarias) e tem pouco espaço disponível. É por isso que não era tão invadida como o Norte de África ou a Ásia. Tudo mudou com o período de conquistas ultramarinas (aquilo a que se chama habitualmente de "Descobrimentos") e expoliação dos recursos locais. Com o fim da época colonial, sem o guarda-chuva americano, sem recursos naturais significativos, sobra apenas o avanço tecnológico que o continente ainda tem sobre a maioria do mundo e a sua população (que é provavelmente a mais educada).

Como avançar? Sinceramente, o facto de não termos muitos recursos naturais poderá ajudar, dado que Putin não terá interesse no território europeu. O seu interesse expansionista está em obter os territórios que ele reclama serem "historicamente russos" (na mesma lógica com que Portugal poderia reclamar Angola como "historicamente portuguesa") e em criar zonas tampão entre a Rússia e uma região que lhe seja hostil. Aqui, se Trump criar realmente um mundo de esferas de influência onde a Europa seja ignorada, Putin poderá de facto ter pouco interesse em invadir muito mais. Ainda assim, o melhor cenário talvez seja os Europeus regressarem a África, desta vez sem se darem a poses ou atitudes sobranceiras, e criar parcerias reais e honestas. A Europa poderia obter os recursos e a África apoio para o seu desenvolvimento económico, humano, e tecnológico. A tal oportunidade de que o Pedro falava.

O problema é o que acontece até lá. A união na Europa é ténue - para ser diplomático - e será difícil ver Orbán, Meloni, Wilders, potencialmente Le Pen, Fico, e outros a apoiar tais acções. Por outro lado, imaginando que de facto a Europa decidiria colocar tropas na Ucrânia, que aconteceria quando Putin atacasse? Talvez nem atacasse as forças europeias, apenas as ignorasse e atacasse as ucranianas. Que fariam os europeus? Responderiam? Atacariam território russo? Fariam como as tropas neerlandesas em 1995 em Srebrenica? E se as forças europeias fossem atacadas directamente? Que fariam sem a ameaça do envolvimento americano? Alguém julga que Trump sancionaria uma resposta americana à invocação do famos artigo 5 do tratado da NATO?

Por isso me mantenho pessimista. Trump não quer saber e deixou-o claro. Talvez esteja a esperar um pouco antes de apertar ainda mais porque não tem o seu gabinete completamente formado, mas não irá tardar muito. Os EUA irão recuar dos palcos mundiais e concentrar-se-ão apenas no seu quintal (continente americano) e no que poderão obter economicamente. O resto do mundo que trate de si. Não discuto aqui se isso faz sentido para os EUA embora aminha opinião seja fácil de discernir, mas apenas nas consequências. Os EUA a controlar América do Norte e do Sul, China a controlar o sudeste asiático e parte de África, Rússia a controlar a Europa de leste, parte do Médio Oriente e algumas zonas de África, e restos para países/regiões como Índia, Europa e quem mais o conseguir.

A saída para isto estará nos EUA e na capacidade dos americanos de evitarem tal destino (que lhes seria adverso), mas da forma como as coisas avançam, não sei se Trump e o seu aparelho lhes dará essa escolha. Só que isso é assunto para outro post e este já vai longo demais.

Então o Vance...

Cristina Torrão, 15.02.25

... veio a Munique fazer campanha eleitoral num país soberano, que não é o seu, apelando ao voto no AfD, um partido que inclui nazis nas suas fileiras?

Participou numa Conferência de Segurança, sem abordar a guerra na Ucrânia e sem ouvir nenhum outro discurso. Entrou, falou durante 18 minutos e tornou a sair.

É difícil superá-lo em má educação, egocentrismo, arrogância e prepotência.

Quanto a mim, confirmei o que já supunha: Vance faz o jogo de Trump. Caso contrário, Trump e Musk livram-se dele num ápice.

Uma coisa, Vance conseguiu: em plena luta leitoral, juntou os partidos alemães (com excepção do AfD), em repúdio pela sua atitude. Confio que, no lado Oeste, este repúdio encontre eco entre os eleitores, enfraquecendo o AfD.

O poder no feminino

Pedro Correia, 12.02.25

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Ursula Von Der Leyen, presidente da Comissão Europeia

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Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu

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Kaja Kallas, chefe da política externa da UE

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Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu

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Giorgia Meloni, primeira-ministra de Itália

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Mette Frederiksen, primeira-ministra da Dinamarca

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Evika Silina, primeira-ministra da Letónia

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Ingrida Simonyté, primeira-ministra da Lituânia

A Cultura Portuguesa

jpt, 01.02.25

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Fruto do surto de imigrantes e da desestruturação do serviços estatais de controlo fronteiriço - os anos de governação de Costa foram de pungente incompetência, e não só nesta matéria - mas também eco dessa problemática na Europa, grassa por cá uma atrapalhada discussão sobre a imigração. Os repugnantes fascistas alardeam, sem pudor e assertivos, a sua boçalidade. Os esquerdalhos bolçam, convictos, alimentando-os. Ali ao "Bloco Central" o secretário-geral do PS inflectiu agora um pouco o seu discurso, no rumo do bom senso, o que chocou muitos dos seus cúmplices. Mas logo os do PSD, em vez de acolherem essa via acusam-no de "eleitoralismo", mostrando-se epígonos da infecunda tralha que fez do PSD o PSD, restringidos não aos respectivos umbigos mas sim aos seus imundos prepúcios. É o estertor do regime, prisioneiro de gente capim.
 
Santos terá dito que aos imigrantes cumpre adaptarem-se à "cultura portuguesa". Logo à "esquerda" se insurgiram. Por exemplo, a socratista Ana Catarina Mendes - que foi deputada por Setúbal (pobre concelho), ministra e agora vai como eurodeputada - terá posto a mão na anca e dito que não sabia o que isso era. Uma jovem autarca bloquista, Escaja, foi a um desses programas ao laréu clamar que "a cultura portuguesa é uma merda". É notório que a nenhuma destes - e de vários outros - socratistas ou esquerdistas passa pela cabeça a simplérrima distinção entre "adaptar" e "adoptar". E isto nem lhes é demagogia, são mesmo apenas esta miséria! E entretanto, presumo que lá para outras bandas, os mithás ribeiros deste rincão preparem romarias à espada de Afonso Henriques, entoando "São Jorge", para comprovarem a existência da tal "cultura" daquela que dizem "Nação", para sublinharem o seu imbecil apreço pelo Estado Novo. Sem rebuço, estamos entregues aos bípedes...
 
O que é estranho é que há não muito tempo no país esse assunto era muito abordado. Eduardo Lourenço disse qualquer coisa como "temos um excesso de identidade" (escrevo de cor, não consultando livros), e ele próprio - no seu elíptico ensaísmo - discorreu sobre isso, a equação cultura/identidade, Alfredo Margarido deu curta mas decisiva canelada nas asneiras do senso comum, João Leal mostrou-nos os rumos intelectuais dos seus construtores, Carlos Leone também, as pessoas entusiasmaram-se e compraram milhares (e louvaram) de exemplares do vácuo "Portugal, o medo de existir" de José Gil, alguns sociólogos e antropólogos escreveram sobre as mundividências rurais e suas transições para o urbano. Talvez XXI não tenha trazido muito de novo sobre isso, não sei, não é o meu ofício nem meu interesse crucial, não leio nem procuro mais sobre o assunto.
 
Mas quando o espaço público se enche de atoardas sobre uma putativamente inexistente "cultura nacional" muito lamento a inexistência de "intelectuais públicos" antropólogos - se não falam agora falarão quando? - que apartem os sentidos de "cultura", e ensinem (é o termo) a operacionalizá-los e, mais do que tudo, a entender o que é uma fluidez estruturante. Até porque nos arriscamos não só ao predomínio desta incúria intelectual como ao alardear da superficialidade convencida - há algum tempo caí do sofá quando vi o ar erudito de Paulo Portas a recomendar na tv o "O Crisântemo e a Espada" (1946) de Ruth Benedict, como se fosse a porta para entender o Japão actual, a sua "cultura nacional", uma coisa pungente independentemente da magnitude da autora, mulher do seu tempo, intelectual do seu tempo, livro do seu tempo... Pois não há mesmo antropólogos "intelectuais públicos" portugueses - o único que o poderia ser, dotado da densidade e gravitas para isso, legitimamente isentou-se do rumo, calcorreia a sua via. Estamos assim, e repito-me, entregues aos bípedes...
 
É fim do mês, estico os restos do rancho. Almocei massa com atum, este refogado com malaguetas. Ao tabuleiro, diante da televisão. Liguei para o Filmin, recomendável canal-cinemateca e de barata subscrição. Comecei o Lawrence da Arábia, que não vejo há mais de uma década. "Só o começo", prometi-me, no afã de regressar às minhas gratuitas inutilidades. Mas o filme é grandioso, e maravilhosa a subtil explicitude de O'Toole, fui-me deixando ficar, (re)descobrindo tudo aquilo, encantado. Dei comigo a dizer-me "que pobres, coitados, são os admiradores do Tarantino"...
 
E depois, um bom bocado depois, exultei. Parei e tirei esta fotografia, pois ali está a súmula de tudo isto. O'Toole e Omar Sharif atravessam uma terrível rota do deserto, um dos soldados de Sharif caiu do camelo durante a noite, o seu chefe recusa-se a recuar para o salvar, no fatalismo do que aquele era seu destino ("estava escrito"). O'Toole (Lawrence) insurge-se, vai sozinho salvar o "naufragado". Quando regressa, após inclemente travessia, Sharif, aliviado, passa-lhe o seu (precioso) cantil. E Lawrence (O'Toole) - essa peculiar figura do Império, do "Ocidente", retratado num filme típico mas passível de múltiplas leituras - responde-lhe "Nada está escrito", clamando, ainda ali trôpego, o primado da indeterminação, essa construção histórica e conflitual de uma civilização específica. Cultura.
 
E se eu tivesse a dimensão de um "intelectual público" faria deste fotograma a demonstração da mediocridade destes ignorantes demagogos. Mas sei que não o sou, sigo sapateiro sem rabecão. Por isso, acabrunhado, apago a televisão. Saio e vou beber uma cerveja com uma belíssima amiga, minha "mana". Depois tartamudeio comezinho com vizinhos. E sigo para tasquinhar um bom queijo com outra bela amiga. E com eles, mas muito mais com elas, afasto a tristeza de viver neste país de... bípedes. E de com estes, apesar deles, partilhar a "cultura portuguesa".
 
*****
 
Adenda: Quando lamento a mudez da antropologia (disciplina onde abundam esganiçados "activistas" e um ou outro degenerado socratista) tenho razão. Vejo agora de manhã que o historiador Rui Ramos disse ontem no Observador o necessário (estou grato a quem me ofereceu o acesso ao artigo) - "ai, o Rui Ramos é de direita", guincharão em falsete vários daqueles a quem o Estado, pouco mas certo, paga para ensinar as novas gerações de intelectuais!... Ramos, que é um intelectual público, nisso criticável e legível, deixou o artigo aqui
 
Como é importante e o texto não é de acesso livre roubo extracto, longo: "Pedro Nuno Santos a reconhecer que a política de portas escancaradas à imigração do governo de António Costa estava errada. (...) Para os últimos abencerragens de uma esquerda woke que ontem se julgava o futuro e hoje descobre que é o passado, tudo isto é uma rendição à “extrema-direita”. Se é rendição, temos de reconhecer que os partidos de governo dos regimes ocidentais não cederam sem luta. Durante anos, fizeram da imigração descontrolada um tabu. Mencioná-la já era “racismo”. No fim, nenhuma censura bastou para calar sociedades desequilibradas pelo afluxo súbito, caótico e ilegal de milhões de estrangeiros.
 
As sociedades ocidentais foram sujeitas à mais extraordinária de todas as experiências. As necessidades de mão-de-obra barata são reais. Mas tentou-se satisfazê-las abolindo as fronteiras. Nações antigas viram-se sob a ameaça de serem reduzidas a uma espécie de aeroportos internacionais, por onde as pessoas passassem sem nada mais terem em comum do que o acatamento de certas regras. Mas o fundamento das democracias liberais ou do Estado social não é simplesmente a obediência à lei, mas a comunhão de valores a que chamamos “nação”. As nações não são dados naturais: são o resultado da história, de séculos de conflito e compromisso. Na sua origem, não está qualquer homogeneidade, mas uma pluralidade que, sem desaparecer, chegou a um sentimento de solidariedade e destino comum que faz pessoas muito diferentes identificarem-se entre si. É a nação que explica que possamos ser diversos sem cairmos sempre em guerras civis. É um património que subjaz a quase tudo o que é precioso no Ocidente: a liberdade, a igualdade, a coesão social, o pluralismo. É a isso que chamamos “segurança”, que não é apenas a contenção da criminalidade, mas o sentimento de estarmos em casa.
 
Nada disto tem a ver com a cor da pele, dos olhos ou dos cabelos ou com origens geográficas, nem com todas as religiões ou ideologias. É uma questão de valores comuns. O problema das migrações descontroladas não é só a chegada de pessoas que não partilham tais valores, mas a proposta woke, que pareceu dominar os regimes ocidentais, de que não deveríamos pedir nem esperar adesão ou sequer respeito por esses valores. Foi o projecto woke, inspirado pelo ódio da extrema-esquerda ao Ocidente, que acima de tudo criou insegurança. O resto são tremendas dificuldades logísticas, que agravaram a falta de habitação e o colapso dos serviços públicos. O caos migratório não é compatível com qualquer integração. Através da imigração nestas condições, aquilo que a oligarquia fez foi reconstituir a massa de trabalhadores pobres e pouco qualificados (...)".

À atenção da brigada de psicólogos...

Cristina Torrão, 23.01.25

... que se juntou na caixa de comentários deste meu postal:

Afinal, o meu problema é inveja? Nunca pensei, caras e caros, que fossem tão pobres em argumentos. É o normal, em Portugal: quando não se tem argumentos, puxa-se da inveja.

Não, eu não invejo as mulheres verdadeiramente elegantes. As mulheres que não escondem os olhos debaixo de um chapéu foleiro. Como a rainha de Espanha, hoje, em Cádiz, numa verdadeira lição de elegância à Sra. Melania Trump:

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E porque havia eu de invejar uma mulher que copiou o look de uma banda desenhada dos anos 1960 (Spy vs. Spy)?

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Isto está cada vez mais divertido

Também no Parlamento Europeu.

O deputado dinamarquês Anders Vistisen mandou f***er o Trump.

E a deputada espanhola Laura Ballarín Cereza mandou Musk, Zuckerberg e outros que tais irem dar uma volta: "You can always take your Nazi salutes and your masculine energy and go back home".

 

A Europa não mete o rabo entre as pernas. A Europa reage.

E eu junto-me à deputada espanhola: Viva Europa!

Uma jovem de vinte anos, uma égua e uma viagem da Alemanha até Portugal (1)

Cristina Torrão, 03.01.25

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Jette é uma alemã de vinte anos, moradora nos arredores de Hamburgo e cuidadora da égua Pinou.

Muitas meninas alemãs são fascinadas por cavalos, uma fascinação que começa pelos cinco ou seis anos de idade. As escolas de equitação proliferam e o sexo feminino está em clara maioria, tanto a nível de alunos, como de professores. As crianças mais pequenas iniciam a sua aprendizagem com póneis.

Muitas vezes, essa fascinação acaba por desaparecer na adolescência. Caso se mantenha, os pais com mais posses compram cavalos para as filhas e alugam lugares nos estábulos das escolas ou de quintas. As moças pertencentes a famílias, cuja situação financeira não permite tal aquisição, prontificam-se a cuidar dos animais e a limpar os estábulos em troca da prática gratuita de equitação.

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Jette (pronuncia-se Iéta) trata da Pinou desde 2023. No ano passado, porém, a dona da égua resolveu mudar-se para Portugal, para os lados da Bemposta, alguns quilómetros a norte de Castelo Branco. Penso que essa senhora terá mais animais e não sei pormenores da mudança. Sei que ela não levou logo a Pinou, deixando-a num estábulo conhecido e aos cuidados de Jette, até organizar o seu transporte.

Depois de completar o liceu, Jette ainda não decidiu como continuar a sua vida. Muitos jovens alemães tiram um ano para viver no estrangeiro, ou exercer alguma actividade relacionada com serviço social, no seu país, antes de prosseguirem os estudos. Jette passou quase três meses na Nova Zelândia, no ano passado, a cuidar de cavalos e a dar aulas de equitação. E tenciona tornar a ir. Entretanto, regressada à Alemanha, no Verão, a mãe sugeriu-lhe, em tom de brincadeira: “porque não levas tu a Pinou, fazendo uma viagem a cavalo até Portugal?”

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A ideia não mais saiu da cabeça de Jette. E contactou a dona da Pinou que, depois de reflectir uns dias, lhe respondeu: “Faz isso, então, se é o que queres”.

Decidida a provar a si própria e aos outros de que seria capaz, Jette começou a treinar mais intensamente com a égua e a preparar a viagem. Os pais e o namorado colaboraram, discutindo os planos com ela. Iniciando-se a jornada em Setembro, e como seria irrealista atravessar os Pirenéus no Inverno, o pai prontificou-se a levá-la de carro através da França, até Bilbao, caso ela realmente conseguisse atravessar a Alemanha, de Hamburgo até à fronteira francesa, no Saarland (quase 1000 Km, na rota escolhida por ela; a viagem na auto-estrada é 300 km mais curta).

Reservaram dormidas para a primeira semana, em locais de turismo rural, com distâncias de 30 a 40 km entre eles. Depois, Jette teria de se desenvencilhar sozinha, munida de uma tenda, deixando o destino decidir. Os pais e o namorado comprometeram-se igualmente a ir buscá-la, fosse onde fosse, caso ela se achasse incapaz de prosseguir, ou algo lhes acontecesse (a ela e/ou a Pinou).

A 8 de Setembro de 2024, Jette iniciou a viagem da sua vida.

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Nota: Todas as fotografias e informações aqui divulgadas são retiradas do diário de viagem de Jette:

https://www.instagram.com/jette.horse.journey/

@jette.horse.journey

Pensamento da semana

Pedro Correia, 22.12.24

As democracias liberais têm má imprensa no Ocidente, onde as autocracias voltam a merecer acenos de simpatia cem anos após terem incendiado grande parte do solo europeu. A verdade, porém, é que estamos preparados para enfrentar a pulsão imperialista e neocolonial de Vladimir Putin. A Europa (obviamente dissociada da tirania de Moscovo, inimiga declarada do "decadentismo liberal") é mais forte do que a Federação Russa. Mesmo que acabe por perder o escudo protector dos EUA.

Não precisamos do Irão nem da Coreia comunista nem de mercenários do islamismo radical iemenita para nos fornecerem armamento e combaterem por nós. Ao procurar esses aliados entre a escória do planeta enquanto ameaçava destruir o Ocidente com bombas nucleares (cenário paranóico que nem Estaline ousou traçar), Putin escolheu um campo de onde já não sairá ileso. E deu enorme prova de fraqueza, não de força.

Tendo sido incapaz de conquistar Kiev, assassinar Zelenski, instalar um fantoche à frente do Governo ucraniano e até de preservar o seu vassalo Assad na Síria, é capaz de quê? De "conquistar" cerca de 45 mil kmde ruínas, o equivalente a menos de metade da superfície de Portugal. Entre avanços e recuos, apenas exibe isto como débil troféu de caça na Ucrânia desde Fevereiro de 2022.

É inútil os seus apaniguados cá na terra alimentarem ilusões: mais depressa cairá o ditador russo do que alguma pedra essencial mudará na Europa Ocidental - a tal "decadente" parcela do globo que muitos abominam, quase todos invejam mas onde ninguém recusaria viver. Por ser o pior continente, à excepção de todos os outros.

 

Este pensamento acompanhou o DELITO DE OPINIÃO durante toda a semana

Reflexão do dia

Pedro Correia, 23.09.24

«A guerra na Ucrânia, um dos dois grandes abalos sísmicos que a União [Europeia] sofreu no anterior mandato da Comissão (o outro foi a pandemia), provou à saciedade duas coisas: que a Rússia e a China partilham a mesma ambição de enfraquecer o Ocidente e de destruir o que resta da ordem internacional liberal; e que a Europa precisa dos Estados Unidos, não apenas para a sua segurança, mas também para vencer os enormes desafios geoeconómicos que enfrenta. [Ursula] von der Leyen foi uma convicta intérprete desta nova realidade.»

 

Teresa de Sousa, no Público de ontem

O Eixo

Putin, caudilho de um regime sem mulheres. Tenebrosamente só

Pedro Correia, 19.07.24

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Cada qual a seu modo, quatro mulheres mandam hoje na Europa: a alemã Ursula Von Der Leyen (ontem reeleita por larga margem para novo mandato como presidente da Comissão Europeia, muito acima dos 360 votos necessários), a maltesa Roberta Metsola, recém-reeleita presidente do Parlamento Europeu, a estónia Kaja Kallas, nova chefe da diplomacia comunitária, e Giorgia Meloni, que desde Outubro de 2022 chefia o Governo de Itália, terceira maior economia do euro. 

De famílias políticas diferentes, têm um traço comum: expressam intransigente apoio à Ucrânia, vítima da guerra de agressão que lhe move Moscovo.

Formam um contraste gritante com a ditadura russa, sistema sem mulheres, sistema de um homem só. Tenebrosamente só. 

O contraste torna-se ainda mais evidente quando reparamos nos aliados internacionais de Putin. O Eixo Moscovo-Minsk-Pequim-Teerão-Pionguiangue é formado em exclusivo por homens. «De barba rija», como diria um major-general putinófilo que ainda pontifica numa canal televisivo.

Até nisto o caudilho do Kremlin navega contra a História. Rumo a um passado ancestral que nada tem a ver com o nosso tempo.

 

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