A final do Euro-2024
O Euro-2024, termina amanhã. O meu prognóstico é antes do jogo: a selecção de Espanha, país do nosso querido Roberto Martinez, tem sido a melhor do campeonato. Surge mesmo como uma equipa invencível...
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
O Euro-2024, termina amanhã. O meu prognóstico é antes do jogo: a selecção de Espanha, país do nosso querido Roberto Martinez, tem sido a melhor do campeonato. Surge mesmo como uma equipa invencível...
Nunca tinha visto sessão de penáltis tão rápida, até os meus nervos aguentaram.
Não costumo assistir a este tipo de desempate, esteja Portugal envolvido. E já me preparava para sair da sala, quando me apercebi de que seriam os eslovenos a inaugurar a sessão. Pensei: “OK, eles marcam golo e eu saio”. Mas Diogo Costa fez a sua primeira defesa! Quando vi que seria Ronaldo o primeiro português, estive novamente para sair, considerando a tragicidade que o envolvera neste jogo. Mas pensei: “Enfim, os eslovenos falharam o primeiro; se ele não marcar, desta vez, não é tragédia nenhuma”. Mas ele marcou! “Pronto, ainda aguento ver o próximo esloveno”. E o Diogo Costa tornou a defender! Já não havia desculpa para sair e o resto foi o que se sabe: tudo acabado em três tempos, com vitória de Portugal por 3-0. Era esta a eficácia que se esperava durante o tempo normal de jogo. Enfim, estamos nos quartos. E Diogo Costa escreveu a primeira página digna de registo na História deste Euro.
Bem, e onde entram as alemãs no meio disto tudo? Na transmissão televisiva do ARD, onde elas estiveram em maioria.
A locutora desportiva Christina Graf foi a voz-off de todo o desafio. Não pela primeira vez, é ela a responsável por muitos jogos do Euro transmitidos pelo ARD. Christina Graf foi igualmente jogadora de futebol, mas uma lesão grave no tornozelo obrigou-a a abandonar a carreira com apenas 23 anos. Enfim, ganhou-se uma excelente locutora e jornalista.
Ao intervalo e no fim da partida, tivemos as análises de Sebastian Schweinsteiger, ao lado de outra mulher, Esther Sedlaczek, também já habitual nestas andanças.
Não gostava de Sebastian Schweinsteiger como jogador. Excelente, sem dúvida, mas bastante agressivo e impaciente, muitas vezes, arrogante. Desde que casou, em 2016, com a antiga tenista sérvia Ana Ivanović, modificou-se, está um outro homem. Ponderado, calmo e simpático, nem sequer pratica o chamado “mansplaining” com Esther Sedlaczek, do estilo: “até podes ser competente, mas eu sou homem, fui um dos melhores jogadores do mundo e vai dar-me um gozo enorme pôr a nu as tuas deficiências nesta matéria”. Uma atitude muito comum em homens, mesmo não sendo estrelas e tendo uma mulher competente a seu lado. Schweinsteiger limita-se a opinar e a analisar o solicitado por Esther Sedlaczek, falando bem, sem hesitações, nem interrupções, mantendo um semblante simpático. Um comentador de grande classe.
Que diferença dos debates futeboleiros portugueses, entre homens! Mesmo não sabendo alemão, tentem ver um pouco do vídeo da análise final do jogo de ontem, uma análise dinâmica e descontraída (espero que os direitos permitam a visualização do vídeo em Portugal). Os dois começam aliás por falar da Eslovénia e, só depois, se dedicam à nossa selecção.
Mais mulheres no futebol português, fora das quatro linhas, precisam-se!
Sebastian Schweinsteiger e Ana Ivanović têm três filhos. O mais novo nasceu no ano passado.
Foto Gala
*Publicado originalmente no És a Nossa Fé.
Há uns dias comecei um post com observações sobre este Europeu de futebol mas depois não o acabei. Vai agora para o lixo e deixo apenas umas outras sobre Portugal, que se apurou ontem para os quartos de final da competição.
Pessoalmente não gosto de dizer que "Equipa X é uma das 8 melhores da Europa" com base no apuramento. Primeiro porque se ser uma das melhores depende de penalties, então o critério faz pouco sentido. Segundo porque tal equipa não joga com nenhuma das que foram eliminadas e que, se tivessem defrontado outro adversário, talvez estivessem nos últimos 8. Digamos antes: Portugal está nos últimos 8. Penso que basta.
Seja como for, Portugal é em teoria uma das melhores 8 deste campeonato, até uma das melhores 5 (a par de França, Alemanha, Espanha, Inglaterra),. O chato é que é preciso mostrar isso em campo (coisa com que a França e a Inglaterra também têm tido dificuldade). O que torna Portugal uma equipa tão boa? Uma enorme quantidade de jogadores de altíssimo nível e em múltiplas posições. A única coisa que Portugal nãotem neste momento é - tem termos de qualidade futebolística actual - uma superestrela.
E é aqui que a discussão obviamente resvala para Cristiano Ronaldo. Quem me tenha lido no passado sabe que eu não gosto muito dele. Não gosto dos ares, da atitude de superestrela, da obsessão com recordes e individualismo. Não há no entanto que negar certas coisas: é de longe o melhor jogador português de todos os tempos, é um dos melhores jogadores do mundo de todos os tempos, talvez o melhor goleador puro de sempre, adora jogar pela selecção e é provavelmente o melhor jogador internacional de sempre, tem uma atitude profissional impecável que o mantém numa forma física incrível mesmo à beira dos 40 anos. Há no entanto mais 3 coisas que são para mim claras: 1) não é nem nunca foi um bom líder (exemplo sim, líder não); 2) já não tem nada que se pareça com a velocidade de ponta, aceleração e velocidade de execução do passado, e mesmo o salto só sai às vezes; 3) não tem a acuidade de antes de ter ido para a Arábia Saudita.
Tudo isto tem sido visível no Euro, onde os colegas de equipa o têm servido múltiplas vezes com excelentes bolas mas ele tem desperdiçado as oportunidades de forma que seriam vistas com incredulidade há apenas 3-5 anos. Para ser claro: não falo do penalty falhado. O penalty não foi mal marcado, foi ao canto e com força e só não foi alto. Só que Oblak adivinhou o lado, lançou-se bem e colocou bem os braços. Mérito de Oblak, difícil ver o demérito de Ronaldo. No entanto as suas declarações no final do jogo demonstram o problema: «Durante um ano não falhei um penálti». A maior parte deles terão sido na Arábia Saudita, um campeonato de terceira linha (para ser simpático) onde as estrelas (a maior parte delas em fim de carreira) estão para receber salários milionários enquanto fazem jogging e os restantes jogadores são ou estrangeiros medianos ou locais de nível habitualmente muito baixo. Isto ajuda a manter uma boa condição física (e é por isso que Ronaldo ou Kanté estão na sua melhor forma física desde há muito) mas não para manter os níveis de competição necessários. E isto vê-se vezes sem conta em Ronaldo, nos tempos de salto, na dificuldade de gerir a robustez dos defesas adversários, na incompreensão de não receber decisões em seu favor, etc.
Isto não é culpa de Ronaldo. Ele esforça-se sempre ao máximo e isso fica claro em cada jogo. Mas o facto de tudo isto resultar em Portugal estar muit abaixo das suas possibilidades é culpa de Martinez, o seleccionador. E sim, Portugal está a ter um Euro fraco. A República Checa foi vencida nos descontos e com alguma sorte. Os turcos venceram-se a si mesmos e Portugal perdeu com uma Geórgia que foi das minhas selecções preferidas mas tem um nível muito limitado (e não foram só os erros de António Silva, o qual até poderia já meter-se num avião e ir de férias porque não vai jogar mais). E nos oitavos uma Eslovénia bem organizada mas que deveria ter sido vencida confortavelmente.
Martinez infelizmente desenhou uma estratégia que começa em Ronaldo, passa por Ronaldo e acaba em Ronaldo. Quando a bola entra a área, há normalmente dois jogadores para a receber: Ronaldo e mais alguém. Não há um esforço para sobrecarregar os defesas na área com jogadores vindos de trás. Passa tudo por não confundir as coisas e meter a bola para Ronaldo. Também se vê que Martinez não só desenha a estratégia para Ronaldo como depois tem uma hierarquia definida, com Bruno Fernandes e Bernardo Silva logo a seguir. Ontem nunca na vida deveria ter tirado Vitinha, que era o motor do meio campo e mantinha a bola a mexer e conseguia sempre fazer passes a penetrar as linhas defensivas. Ou, se estivesse cansado, que metesse João Neves ou Matheus Nunes, jogadores semelhantes. Fazer recuar Bruno Fernandes para longe da área é um disparate. Se quisesse fazer aquela troca, a melhor opção teria sido meter Bernardo Silva no meio campo (faz a posição com frequência no Manchester City), manter B. Fernandes onde estava, enviar Jota (ou Ronaldo) mais para a esquerda e Leão para a direita. No entanto até deveria ter feito sair Fernandes ou Silva, que estavam em rendimento mais baixo nesse momento.
Outras coisas que não se entendem: Pedro Neto a lateral/médio/ala esquerdo, coisa que provavelmente nunca fez; Nélson Semedo a entrar e operar numa espécie de posição de avançado interior direito (!), Cancelo com liberdade para ser médio (tudo bem) sem jogador para compensar as suas subidas (Palhinha é excelente no centro, não é tanto jogador para dobras nas laterais).
E sempre, mas sempre, não permitir que Ronaldo, B. Fernandes e B. Silva sejam substituídos.
Para o jogo com a França, Mbappé provavelmente vai pensar que se encontra na A7 (autoestrada que vai de Hamburgo - lugar do jogo dos quartos - para o sul da Alemanha e seria provavelmente usada para quem se dirige para Munique - lugar do jogo seguinte das meias). Cancelo a subir, pouca compensação de outros e Portugal a tentar ter posse de bola. Penso que Mbappé estará a aquecer os motores. A única coisa que poderá estar a favor de Portugal é que a França também não marca: 3 golos, 2 foram autogolos e 1 foi um penalty muito jeitosinho. A ver vamos na sexta feira.
Os meus destaques para já: Diogo Costa (depois de ontem ele até tem direito a um frango), Pepe (a fífia de ontem veio quando estava exausto), Ruben Dias, Nuno Mendes, Palhinha, Vitinha. Os outros? Nem por isso.
Desde 2022 que a ingratidão de muitos portugueses, nomeadamente os fatais "Velhos do Restelo”, alguns que pontuam por outras cores clubísticas e os fundamentalistas da religião e dos direitos humanos (que viram todos os jogos transmitidos pela TV desde o Qatar, com explosões de entusiasmo e crescente euforia sem pestanejar), têm tentado abater e arrasar um dos maiores futebolistas de todos os tempos a nível mundial, com um palmarés de recordes batidos invejável e, quem sabe, até difícil de ultrapassar.
Nem tudo o que é “velho” não presta. Para todos aqueles que conheço, que falaram cobras e lagartos deste fenomenal desportista e de um treinador que o chamou à selecção que tem representado brilhantemente durante anos, sendo um dos poucos, senão o único português conhecido e aclamado além-fronteiras pela sua ética de trabalho e excelência profissional, carregando em ombros o nome de Portugal pelo mundo fora, tenho afivelado o meu melhor sorriso sarcástico, aquele que guardo para as ocasiões especiais. Palavras para quê? O coxo velho da cadeira de rodas e das muletas em campo, seja qual for o desfecho do Euro 2024, deu-lhes já uma bela e justíssima bofetada sem mão.
Viva ele! Viva Portugal!