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Delito de Opinião

Euro-2021, não Euro-2020

Pedro Correia, 13.06.21

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Até 11 de Julho, irei acompanhar o Europeu de Futebol na medida do possível. Como fiz aqui em 2016. Está documentado.

Euro-2021, para mim. Chamar-lhe Euro-2020 é fake news, como dizia o outro na sua linguagem rudimentar.

Em 2020 estávamos encerrados, devido à pandemia: foi adiado o Europeu, foram adiados os Jogos Olímpicos. Não contem comigo para alimentar aldrabices ou reescrever a história.

Facto nacional de 2016

Pedro Correia, 06.01.17

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PORTUGAL CONQUISTA EUROPEU DE FUTEBOL

Tínhamos tudo contra nós. Jogávamos em casa da selecção adversária, perante um público maioritariamente hostil e tradicionalmente muito arrogante. Éramos apontados como “patinho feio” em todas as casas de apostas desportivas. Para cúmulo, vimos o nosso melhor jogador – e melhor jogador do mundo – inutilizado a partir do minuto 8 por falta que o árbitro entendeu não assinalar.

Mas soubemos resistir a todas as adversidades. Abdicámos do tradicional futebol-espectáculo que durante décadas nada mais nos propiciou senão umas quantas “vitórias morais” e trouxemos para Portugal  o mais cobiçado troféu até hoje conquistado pelo futebol português: o Campeonato da Europa ao nível de selecções seniores, arrebatado na épica final do Parque dos Príncipes, em Paris.

A conquista do Euro-2016 foi considerada o Facto Nacional do Ano pelo DELITO DE OPINIÃO, numa votação que congregou 27 dos 31 membros deste blogue e em que era possível eleger mais de um tema, como é costume entre nós, ano após ano.

 

Não faltaram desde o início os profetas da desgraça ao nível do comentário desportivo, prontos a vaticinar o desaire da equipa das quinas em geral e do seleccionador Fernando Santos em particular.

Indiferente às aves agoirentas, a selecção trilhou a sua rota ascendente, passo a passo, com persistência, sem nunca perder: 1-1 com a Islândia, 0-0 com a Áustria, 3-3 com a Hungria, 1-0 com a Croácia, 1-1 com a Polónia (vitória no desempate por penáltis), 2-0 com o País de Gales e 1-0 na final de 10 de Julho frente à anfitriã, França.

Cristiano Ronaldo (3), Nani (3), Renato Sanches, Quaresma e Éder marcaram os golos portugueses. Rui Patrício foi designado melhor guarda-redes deste torneio que nos encheu de orgulho e júbilo.

Motivos redobrados para todos festejarmos o maior título de sempre do futebol português. Mesmo aqueles que não costumam ser grandes apreciadores de futebol.

 

Aos 14 votos que recaíram no Euro-2016 seguiram-se cinco nas trapalhadas da Caixa Geral de Depósitos, nas suas diversas versões, que se sucederam ao longo do ano e ainda não terminaram.

O terceiro facto nacional mais mencionado - com quatro votos - foi o sucesso da geringonça, contrariando muitos prognósticos.

Houve ainda referências ao aumento do turismo em Portugal (dois votos), ao processo de "reversões e crescimento" capitaneado pelo Governo, à generalização da oferta da Uber em Lisboa e ao facto de a Câmara Municipal de Mafra ter enterrado a antiga polémica com José Saramago, falecido em 2010.

 

Facto nacional de 2010: crise financeira

Facto nacional de 2011: chegada da troika a Portugal

Facto nacional de 2013: crise política de Julho

Facto nacional de 2014: derrocada do Grupo Espírito Santo

Facto nacional de 2015: acordos parlamentares à esquerda

Reflexão do dia

Pedro Correia, 13.07.16

«A verdade é que o que venceu o Euro foi um novo modelo nacional. E, nesse sentido, o oposto da realidade pátria.

Uma forma de pensar, de ver, de agir, e obviamente um modo de seleccionar e treinar, que insiste mais na realização objectiva e nos resultados (no fundo, naquilo que está em jogo) do que na "beleza" discutível.

Nalgumas alturas, o ataque foi a melhor defesa. Noutras, a defesa, o melhor ataque. E jogou-se com um fito único, até ao último segundo: passar.

Tudo isso é o contrário dos hábitos nacionais, onde se reproduzia em campo o melhor do futebol de praia, e aquilo de que gostamos, os que nos deleitamos a jogar: mais uma finta, mais um adorno. Como no resto da vida comunitária, o que havia era o desporto como forma superior de poesia. Agora é o romantismo da eficácia, a batalha da produção, a frieza dos deveres, o "realismo".»

Nuno Rogeiro, na Sábado

O "fascínio" das derrotas

Pedro Correia, 13.07.16

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Mesmo com a Taça da Europa já conquistada e exibida em Portugal, e com largos milhares de pessoas apoiando a selecção nas ruas das mais diversas cidades mundiais, de Paris a Díli, não passa um dia sem que as carpideiras de turno surjam nas pantalhas a bramir contra o "futebol feio" praticado pela equipa das quinas no Euro 2016.

Curiosamente, nenhuma dessas carpideiras nos indica qual terá sido o "futebol lindo" observado nos estádios franceses que sirva de modelo a Portugal.

Era bom que elucidassem gente como eu, incapaz de ver tão bem.

 

Na primeira linha dos disparos, o que não é inédito, figura um técnico de futebol: Manuel José.

Há pouco mais de 24 horas, na RTP 3, o português que chegou a brilhar no campeonato egípcio ultrapassou tudo quanto já dissera antes, proferindo esta declaração: "Dizem que jogámos futebol [no Euro 2016], não jogámos à bola. Então eu prefiro que se jogue à bola. Porque no fundo o que o povo quer é isso: ganharmos com qualidade. Se temos qualidade não podemos jogar um futebol medíocre. Quanto melhor jogarmos, aumentam as possibilidades de podermos ganhar. De vez em quando não ganhamos, mas isso é o fascínio que o futebol tem."

 

Admiro a ousadia destes comentadores que falam em nome do "povo", como Manuel José agora fez. Ignoro quem o mandatou como porta-voz dos portugueses, mas declaro desde já que não lhe passei procuração para falar por mim.

Eu, ao contrário dele, não sinto o menor "fascínio" em perder. Foi isso que sucedeu nos campeonatos da Europa durante mais de meio século: fomos perdendo sempre. Ou porque não atingíamos a qualificação para a fase final ou porque sucumbíamos à beira do fim, quase a atingir o objectivo.

Ao contrário do que sucedeu agora. Fascinante, para mim, é ganhar.

 

Quanto ao "futebol medíocre" a que alude Manuel José, lamento desiludi-lo, mas a UEFA não partilha da opinião dele.

Se partilhasse, não teria incluído dois golos portugueses nos cinco que seleccionou com vista à votação em linha que decorre para eleger o melhor do torneio: o de Cristiano Ronaldo contra o País de Gales e o de Éder contra a França.

Presumo que nenhum deles merecerá o voto de Manuel José. Mas garanto-lhe que é retribuído: eu também não votaria nele para seleccionador nacional.

Eu e Ronaldo

José António Abreu, 12.07.16

Informação nº 1: percebendo apenas um pouquinho mais de futebol do que de termodinâmica ou de mulheres, sigo os campeonatos de clubes tão pouco quanto a comunicação social e a decrescente destreza dos meus dedos na manipulação do telecomando televisivo me permitem.

Informação nº 2: a capacidade da minha memória diminuiu tanto nos últimos anos como... caramba, juro que ainda agora tinha uma analogia perfeita.

Avancemos. Não obstante tudo o que está atrás ser 100% verdade (OK, exagerei num ponto: sei o bastante sobre termodinâmica para estar consciente de que dois corpos em fricção causam aumento de temperatura e tendem a gerar trabalho), lembro-me do Cristiano Ronaldo dos tempos do Sporting. Um rapaz muito verde (desculpem, não resisti à piada; caso vos seja insuportável, pensem numa folha em branco) mas já com potencial futebolístico para chegar a estrela. Nos anos seguintes, sem prestar grande atenção mas sem conseguir evitá-lo (como poderia?), fui dando conta do nascimento dessa estrela. Tinha e tem duas facetas: a de jogador excepcional, mescla de talento inato e dedicação maníaca, e a de prima-dona, dentro do relvado (ah, aquelas poses na marcação dos livres, que Sepp Blatter tão bem parodiou, antes de infelizes acontecimentos o afastarem de um cargo que distraídos como eu chegam a pensar ser vitalício) e fora dele (carros, mulheres, declarações variadas, campanhas publicitárias, bling bling de gosto duvidoso, microfones e a tendência para exibir aquele torso de Photoshop, exasperante para qualquer macho humano normal). Mesmo consciente de que a segunda faceta podia estar a chegar-me distorcida pela duvidosa acribia (sim, estou a tentar meter nojo) dos títulos dos jornais e dos rodapés dos noticiários televisivos, ainda assim ela impedia-me de ser um fã de Ronaldo. Achava que ele tinha todo a direito a estar orgulhoso do que alcançara (falsas modéstias são-me tão irritantes como textos nos quais os autores procuram desesperadamente introduzir humor) mas descoroçoava-me que ele mostrasse o orgulho de formas ostentatórias e por vezes agressivas. Para ajudar à minha má-vontade, Ronaldo raramente jogava ao mais alto nível nos encontros da selecção (os únicos em que o via), apesar de todos os outros jogadores parecerem ter sido convocados apenas porque as regras não permitiam que jogasse sozinho (manobras de Blatter, certamente).

E depois chegou anteontem e aquela final no Instituto Entomológico de Paris (achei estranho irem incomodar as traças, confesso). Num encontro em que praticamente não jogou, Ronaldo mostrou-me outro Ronaldo. Mostrou-me uma espécie de Ronaldo dos tempos do Sporting, actualizado para um homem de 31 anos. Um Ronaldo esforçado, sincero, sem poses. Um jogador de equipa, que não desiste e dá o seu melhor, até mesmo quando não o pode fazer dentro do campo. Anteontem, num encontro em que o jogador fora de série não pôde surgir porque levou uma cacetada antes dos dez minutos (Ça Alors!, Par Toutatis! e Mille Sabords!), Ronaldo fez-me respeitá-lo como raramente o conseguira antes.

E pronto. Lamento o anticlimático final piegas mas este texto não passa da nota de arrependimento e apreço de um ex-crítico. As piadas foram só uma tentativa para disfarçar o incómodo.

Perdoem-me a piroseira de um post dirigido a alguém na segunda pessoa

Marta Spínola, 12.07.16

Em 2004 choraste, e eu, que nunca chorei com a selecção, tive vontade de chorar contigo. "É tão menininho..." pensava, dizia. Nunca te deixei, segui-te sempre, quis saber sempre mais, ver mais. Saber onde podias chegar. Ano após ano.

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Ontem, quando te vi no chão e depois em lágrimas, pensei "não chores. Não chores, que também choro". Voltaste, porque és o maior e não desistes à primeira, não desististe em 12 anos, nunca viraste a cara a tanta ingratidão que se viu e ouviu, não sei quantos teriam essa capacidade, mas tu tens.

Não deu para continuares, e vieram as lágrimas novamente. Porque vives para todos os jogos, mas aqui entre nós, uma final é uma final, e detestas não estar presente.

Depois o momento de um verdadeiro capitão. E deixa-me dizer já aqui que muitas vezes eu disse: "ser capitão é uma pressão de que ele não precisa", e hoje sei por que nunca deixaste de o ser. Cresceste, amadureceste, sabes ser capitão nos momentos cruciais. Quem me conhece sabe como gosto do capitão da Itália e - detesto admitir isto - vê-lo de costas nos penalties dos colegas, quando se apregoavam um grupo unido, custou-me. Podem ser superstições, crendices, pode ter sido para não dar um grito ao Zaza, mas esse gesto ficou-me. No prolongamento vieste dar ânimo a todos, dentro e fora de campo. Abraços, gritos ou sussurros, o capitão estava ali com eles. O mimado, o birrento (atenção, adoro essas pequenas birras), estava ali a dar de si aos restantes.

Mais lágrimas no golo do Éder. És maravilhoso quando choras de alegria. És o maior, o melhor do mundo mesmo a chorar,quero lá saber. Chorei contigo antes, chorei contigo agora.

Quando levantaste a taça, senti as lágrimas chegarem. Talvez por tudo o que ouvi e li de 2004 para cá, em cada europeu e mundial, sempre a mesma conversa, sempre os mesmos argumentos idiotas e ressabiados. Ou talvez me tenha voltado simplesmente a emocionar com Portugal.

Doze anos, esperei 12 anos para te ver ali, assim. E vi. És o maior, meu ric'menine.

Só lhe resta o cachecol

Diogo Noivo, 12.07.16

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Não é necessário ser-se versado em Weber para entender a importância das convicções e da vontade em política. Importa, no entanto, não confundir convicção e vontade com um apego cego ao poder. Mário Centeno, Ministro das Finanças, ajuda a perceber esta diferença.

O programa económico elaborado por Mário Centeno para o Partido Socialista sofreu mais de 70 alterações, consequências inevitáveis da negociação com o Partido Comunista Português e com o Bloco de Esquerda. O resultado final é uma pálida imagem do estudo inicial. Ainda assim, Centeno aceitou ser ministro. Fosse por uma determinação irrefreável em tutelar a pasta das Finanças, fosse a lendária capacidade de persuasão de António Costa, fosse por sentir o chamamento do serviço público, Mário Centeno mordeu a bala e aceitou implementar um programa que não era o seu.

Mais tarde, na Assembleia da República, o já Ministro Mário Centeno é submetido a uma acareação com o académico Mário Centeno. Um deputado do PSD leva a plenário uma passagem de um livro escrito por Centeno, o académico, onde este defende ideias sobre o emprego absolutamente incompatíveis com o projecto do Governo. O Ministro Centeno desvalorizou, distanciou-se do académico Centeno, e manteve-se no cargo.

A governação prosseguiu, mas os números não batem certo. Exportações, crescimento da economia, confiança dos credores, enfim, tudo corre mal. Demonstra-se que o princípio fundador da actual maioria – acabar com a austeridade e obter crescimento económico – é, no mínimo, falso. Porém, Mário Centeno continua ministro.

Perante as fracas previsões de crescimento da economia portuguesa, o Ministro das Finanças tem um arrebato de consciência e decide por breves instantes abraçar a realidade. Centeno admite então a possibilidade de cortar as projecções de crescimento económico que suportam o Orçamento do Estado. Era algo normal, autorizado pelos números, e não susceptível de gerar polémica. Contudo, foi rapidamente desautorizado pelo Primeiro-Ministro. Mas não há problema. Mário Centeno sente-se em condições para continuar nas Finanças.

Mário Centeno foi-se enredando uma corda da qual dificilmente sairá com módico de verticalidade. Portanto, à falta de êxitos próprios, não lhe resta outro caminho que não seja o de se apropriar de vitórias alheias e apresentar-se no Eurogrupo com o cachecol da selecção nacional. Resta saber se Mário Centeno é consciente da vacuidade política deste numerito. Para além das palmadinhas nas costas, a vitória de Portugal no Europeu de Futebol e o cachecol nada alteram. A economia, o emprego, as exportações, a confiança dos credores e o futuro do país não se decidem entre as quatro linhas.

Os rapazes de Fernando Santos não nos deram pão e circo, mas sim um troféu conseguido com trabalho, cumprindo as regras que todos aceitam, e sem desculpas. Era importante que o Ministro Mário Centeno seguisse o exemplo.

Futebol e Fátima

Rui Rocha, 12.07.16

Li por aí que o Professor Marcelo, o mais alto beato da Nação, rezou muitos terços para que a selecção nacional tivesse um bom resultado e que admite ir a Fátima. Ora, há coisas que não percebo. Quer dizer, se eu fosse crente, era capaz de rezar pela saúde e pela felicidade da minha mulher, dos meus filhos ou da humanidade em geral. Pela nossa saúde ou por uma felicidade nossa que não prejudicasse a dos outros. Mas neste caso, rezar pelo sucesso da selecção de Portugal é pedir o insucesso da selecção de França. E parece-me que isto não é assunto em que se deva meter Nossa Senhora de Fátima. Como é que Nossa Senhora de Fátima fica? Qual é o critério de decisão? Favorece os que pedem mais, os que fazem mais barulho? Beneficia os que se portam melhor? Mas como? O Bruno Alves é melhor do que o Payet? Há coisas que pessoas bem formadas não pedem. Muito menos a Nossa Senhora de Fátima. Na verdade, o que Marcelo e os outros como ele querem é tráfico de influências. Que Nossa Senhora mexa uns cordelinhos, que interceda aqui e ali, para beneficiar uns e prejudicar outros. Aliás, se eu fosse Nossa Senhora de Fátima e me aparecesse o Marcelo ou outros como ele com um tercinho na mão e conversa do tipo "ah e tal podias dar aqui um jeito" mandava-os logo foder.

Tensão no estacionamento (Ou: Mais do que o jogo, importa a celebração?)

José António Abreu, 11.07.16

Partilho a alegria e acho muito bem que se venha festejar para as ruas: em tempos de individualismo, os momentos de comunhão só podem ser benéficos. O que me confunde é a rapidez com que surgiram as caravanas de veículos. Ainda Ronaldo não começara a coxear pelas escadas acima em direcção à taça e a cacofonia nas ruas do Porto - mais serenas do que numa manhã de São João durante o encontro - já era indescritível (um adjectivo muito útil para os momentos em que não sabemos como descrever as coisas). Honestamente, fica-me a ideia de que antes de Éder desferir aquele rematezito fulminante já centenas de pessoas estavam sentadas dentro dos carros, aguardando no escuro a oportunidade de poderem sair a apitar.

O que eles escreveram

Sérgio de Almeida Correia, 11.07.16

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"Portugal can duly reflect on their greatest ever victory, made all the more remarkable by the fact they could not beat Iceland, Hungary or Austria in the group stages. Their safety-first tactics will not appeal to everyone but nobody could dispute their competitive courage and mental toughness after the jarring challenge that meant their three-times Ballon d’Or winner was unable to influence the game in the way he would have imagined." - Daniel Taylor, The Guardian

 

"The winner always merits their trophy. They didn’t make it to the final by chance. This is the first time a team who finished third in their group finishes as European champions. They didn’t win many games in normal time, but they won the important one. Perhaps there were some other generations in Portuguese football with more talent, but they didn’t win. This team won." - Didier Deschamps, The Guardian

 

"So the one-man team become European champions, defeating the host nation without the one man they apparently could not win without." - The Independent

 

"Having received the ball on the halfway line, Ronaldo was flattened by a clumsy, and reckless, challenge by Payet which went unpunished by referee Mark Clattenburg." - The Independent

 

"Critiqué tout au long de la compétition pour son manque d'ambition offensive, le Portugal a fini par remporter son premier Euro. Le tout grâce à l'entrée du seul véritable attaquant de pointe du groupe : l'attaquant lillois Eder." - FranceFootball  

 

"Admirable esta Portugal que sólo ha ganado un partido en los 90’ minutos, pero que ha sabido salir de situaciones difíciles. El fútbol también es esto." - Alfredo Relaño AS

 

"Cuando saltó Eder al campo, en el Fado brotaron las dudas. Hasta que Luis Loureiro, un chaval portugués nacido en Celorico Beira, me susurró al oído: “Roncero, le han criticado mucho y justo por eso meterá el gol de la victoria. Ya lo verás”. No hace falta que les diga cómo vivieron mis amigos el triunfo final. Paulo lloraba junto a su niño Diego (con cuatro añitos sabe de fútbol como si tuviera 34) y las camisetas de Cristiano, Figo, Futre y Eusebio se fundían en un sentimiento común. Va por todos ellos. ¡Viva Portugal! ¡Viva Cristiano!" - Tomás RonceroAS

 

"Y Santos estuvo inteligente cuando en el 79’ (parecía tarde) dio campo a Éder para pelear con la defensa francesa. Desde el principio se le vio fantástico, aguantando balón, girando, saltando, inquietando. En la prórroga arruinó a Francia con su golazo." - P.P. San MartínAS

 

"Es cierto que Portugal no ha jugado mejor en esta Eurocopa que en torneos anteriores, y que su llegada a la final no significa un chorro de fútbol, pero se han apreciado dos o tres señales de cambio. La primera ha sido su resistencia a la derrota, una virtud que esta vez no ha estado ejemplificada sólo por Cristiano Ronaldo. Todo el equipo le ha acompañado, con el admirable Pepe —uno de los tres mejores jugadores de la Eurocopa— a la cabeza. Tan importante o más ha sido la compañía. Junto a tres veteranos de toda la vida —Rui Patricio, Pepe y Nani—, Cristiano se ha visto rodeado de una imprevista malla de jóvenes jugadores, o sin apenas experiencia en la selección: Cédric, Raphael Guerreiro —el mejor lateral izquierdo del torneo—, William, Danilo, André Gomes, Joao Mario, Adrien Silva y esa dinamo inagotable que es Renato."- Santiago SegurolaAS 

 

"A Saint-Denis, les Bleus ont été dominés par le Portugal de Cristiano Ronaldo, pourtant sorti sur blessure dès la 25e minute de la partie. La Selecçao conjure ainsi « sa » malédiction face aux Tricolores. Elle n’avait plus gagné contre l’équipe de France depuis un match amical disputé au Parc des Princes en 1975… Battue en finale de « son Euro » par la Grèce, en 2004, la sélection lusitanienne réussit ainsi à remporter le premier trophée majeur de son histoire." - Le Monde

 

"È la grande notte dei portoghesi, che qui, nella Parigi multi-etnica, sono noti più che altro per essere ottimi portinai e muratori. Da oggi sono anche i campioni d'Europa. E scusate se è poco." - La Gazzetta dello Sport 

 

"Un destro poderoso. Un fulmine. Il catenacciaro Fernando Santos, perso Ronaldo, ha deciso a 11 minuti dalla fine di mettere dentro un attaccante che nella fase a eliminazione diretta non aveva mai schierato: aveva capito che poteva vincere sfruttando la sua forza, i suoi 188 centimetri. La sua potenza. E ha vinto." -  La Gazzetta dello Sport 

 

"La selección portuguesa se aseguró con el título en la Eurocopa su presencia en la Copa Confederaciones del próximo año en Rusia. Los portugueses acudirán como campeones continentales a un torneo que se celebrará del 17 de junio al 2 de julio en cuatro diferentes ciudades rusas. Además de Portugal, estarán allí Alemania (campeona del mundo), Rusia (anfitriona), Australia (campeona de Asia), Chile (campeón de la Copa América), México (campeón de la Copa Oro) y Nueva Zelanda (campeón de Oceanía). Falta por saberse el representante africano, que saldrá de la próxima Copa de África." - Aritz GabilondoAS

 

"Tras perder a su referente, Portugal, que ya tenía previsto salir a jugar sin correr el más mínimo riesgo, aumentó sus precauciones defensivas mientras que Francia, aferrada a un fútbol metalúrgico a más no poder se estrellaba una y otra vez ante el muro portugués que protegió a la perfección el portero Rui Patricio demostrando que para ganar un partido de fútbol no basta con tener un equipo de decatletas, más preparados para hacer una mudanza o llevar un paso de Semana Santa, hay que tener una idea de juego colectivo, calidad e inteligencia. Y de esto último, Portugal tuvo mucho porque los de Fernando Santos supieron adaptarse al medio y llevar a cabo el plan que les ha servido para llegar a la final. Un plan, que dicho sea de paso, que mata de aburrimiento al más pintado, pero que es tremendamente efectivo." - Aritz Gabilondo, AS

 

"Für manche ist er ein arroganter Fatzke. Für andere ein Held. Nach dieser EM ist er aber auf jeden Fall: POKALNALDO!"- Bild 

 

"Portugal ganó una Eurocopa de forma heroica. Jugando casi todo el partido sin su estrella Cristiano Ronaldo , en campo contrario, logró su primer Euro, el trofeo que el fútbol le debía desde el 2004. Lo hizo con un gol milagroso de Éder en la segunda parte d ela prórroga, la quinta del torneo. Tuvieron todo en contra y supieron resistir como leones. Al final tuvieron la suerte de los campeones, aunque nadie puede negar su lucha. Los lusos ganaron, por primera vez, a Francia en un partido oficial. Esta final vale por las otras tres derrotas. Fue una final sin fútbol como todo el campeonato, pero plena de emoción."- Francesc AguilarMundo Deportivo

 

É sempre possível ir mais longe

Pedro Correia, 11.07.16

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10 de Julho de 2016: nunca mais nos esqueceremos desta data. Portugal chegou onde muito poucos previam, contrariando todos os profetas da desgraça: somos enfim campeões da Europa. O nosso maior troféu de sempre no futebol sénior a nível de selecções.

Um troféu com que vários de nós sonhávamos há décadas.

Foi com indescritível alegria que vi o nosso capitão Cristiano Ronaldo acabar de erguer o troféu conquistado com tanto suor e tanto sofrimento pela selecção nacional no Stade de France, silenciando a arrogância, a pesporrência e o chauvinismo gaulês.

 

É uma vitória de Portugal, sim. Mas é antes de mais nada a vitória de um grupo de trabalho muito bem comandado por um homem - Fernando Santos - que revelou ambição desde o primeiro instante e soube incuti-la na selecção, que jogou unida como raras vezes a vimos, com uma maturidade táctica inegável e um ânimo que não claudicou quando Cristiano Ronaldo se lesionou gravemente num embate com Payet, iam decorridos apenas 8', e deixou de poder dar o seu contributo para esta final, acabando por ser rendido aos 25'.

As lágrimas que lhe caíam pelo rosto enquanto era retirado em maca integrarão a partir de agora a inapagável iconografia do desporto-rei.

 

Com ele em campo tudo teria sido mais fácil. Mas assim provámos à Europa do futebol - e a alguns comentadores portugueses que nunca deixaram de denegrir a selecção durante toda esta campanha europeia - que a equipa das quinas não é só "o clube do Ronaldo". É muito mais que isso. É uma equipa madura, sólida, solidária. Capaz de chegar mais longe do que qualquer outra.

Que o digam os jogadores franceses, que enfrentaram Rui Patrício - para mim o herói da final, naquela que foi talvez a melhor exibição da sua carreira como guarda-redes da selecção. E uma dupla imbatível de centrais formada por Pepe e José Fonte. E o melhor lateral esquerdo deste Europeu, Raphael Guerreiro, que disparou um petardo à barra da baliza de Lloris aos 108', naquilo que já era um prenúncio do golo português. E um Cédric combativo, que nunca virou a cara à luta. E um William Carvalho que funcionou como primeiro baluarte do nosso dique defensivo. E um João Mário com vocação para brilhar nos melhores palcos europeus. E um Nani que nunca deixou de puxar os colegas para a frente. E um Éder que funcionou afinal como a mais inesperada arma secreta da selecção nacional, marcando aos 109' o golo que levou a França ao tapete e nos poupou ao sofrimento acrescido das grandes penalidades que já muitos antevíamos.

 

Dirão alguns que tivemos sorte, que jogámos feio e jogámos mal: porque haveriam de mudar agora o discurso se não disseram outra coisa durante mais de um mês?

Mas é claramente injusto reduzir a estas palavras e estes rótulos um trabalho iniciado há quase dois anos e que já com Fernando Santos ao leme da selecção registou 14 jogos oficiais - com dez vitórias e quatro empates. Não perdemos uma só partida nesta fase final do Europeu, em que eliminámos a Croácia (uma das selecções apontadas como favoritas antes do torneio), o País de Gales (equipa sensação durante dois terços da prova) e a campeoníssima França, anfitriã e principal candidata à vitória desde o apito inicial do Euro 2016.

Todos os obstáculos foram superados. No momento em que Cristiano Ronaldo ergueu a Taça da Europa perante largos milhares de portugueses em delírio nas bancadas do estádio, estavam vingadas todas as outras ocasiões em que jogámos bem, jogámos bonito - e regressámos a casa sem troféu algum.

Esse tempo acabou de vez.

 

Ficaram também vingadas as nossas derrotas nas meias-finais do Europeu de 1984 e do Euro 2000, e o nosso afastamento do Mundial de 2006, igualmente nas meias-finais. Sempre contra a França. As tradições existem muitas vezes para isto mesmo: para serem quebradas.

O momento é de celebração nacional, com o campeão europeu mais velho de sempre (Ricardo Carvalho) e o mais novo de sempre (Renato Sanches). Enquanto escrevo estas linhas escuto uma sinfonia de buzinas na avenida onde moro e gente a gritar "Nós somos campeões!"

Muitos dos que buzinam e gritam nem se lembraram de pôr este ano bandeirinhas à janela e não deixaram de lançar farpas sarcásticas ao seleccionador, descrentes das nossas possibilidades de vitória. Nada como um triunfo desportivo para apagar memórias e congregar multidões.

Atenção, porém: ninguém merece tanto celebrar como Fernando Santos e os nossos jogadores. Sim, esta vitória é um pouco de todos nós. Mas é sobretudo deles.

Comentários a quente: Portugal - França

João André, 10.07.16

8' - Porrada no Ronaldo. Era falta clara, mas enfim.

10' - Alguém precisa de mudar a roupa interior do Pepe.

14' - Portugal quer embalar mas parece adormecido. Os franceses estão a jogar a outra velocidade.

16' - Acabou o europeu do Ronaldo. Lá se fez o jeito aos franceses.

21' - Ainda está em campo. Se aguentar até ao intervalo talvez venha a agulha. E os primeiros 3 meses da próxima época vão ao lixo. Se se aguentar e contribuir, creio que o Ronaldo se esteja marimbando.

23' - Não aguentou. Há Schadenfreude por esse mundo fora.

28' - Quaresma na teoria faz sentido. Mas para quem vai ele cruzar? Para o João Mário?

33' - O nosso Ronaldo para o resto do jogo terá de ser o Rui Patrício.

34' - Era de facto amarelo para o Cédric. Mas onde está o do Payet?

36' - José Fonte é o nosso Iniesta. Numa frase explicado Portugal neste Europeu.

41' - Tacticamente a equipa está mais equilibrada. Quaresma e Nani estão a esticar a defesa francesa no contra-ataque. O reverso da medalha é que os franceses estão menos cautelosos.

45' - Cabeçada mútua entre Evra e Quaresma. Já vi piadas étnicas começadas por menos.

 

Intervalo: tempo para comer qualquer coisa.

 

51' - Nani: «Toma! Também me pisaram a mim!»

53' - Está na hora da táctica 3x2. Dois jogadores lesionam adversários em sucessão. Primeira falta: deixa passar. Segunda: amarelo. Terceira: vermelho. Isto duas vezes e o jogo passa a ser jogado 9 contra 8. No secundário funcionava.

55' - Umtiti cortou com o nariz... Hmm, isto soa ao início de um livro infantil.

57' - William Carvalho queria ser polícia sinaleiro quando era pequenino.

58' - Só não consigo imaginar William Carvalho em pequeno. O Robin Hood tinha um problema semelhante.

60' - Kingsley Coman entrou. É bom jogador. E tem nome de realizador porno. Esperemos que não nos f...

65 - Quase realizou um. Faltou Viagra ao Griezmann. Felizmente.

68' - Alguém diga ao Quaresma para olhar antes de centrar.

70' - Confesso que tenho já uma entrada pré-escrita com vários palavrões. Deixo que adivinhem que tipo de entrada.

74' - Este Portugal sem Ronaldo é um tigre velho. Grande, ainda bonito, às vezes com mau feitio e capaz de se defender, mas essencialmente sem dentes ou garras...

77' - Há duas versões de Giroud. O Giroud bom e o Giroud mau (isto ainda dá telenovela). Hoje tivemos o Giroud mau. O Deschamps, infelizmente, percebeu isso.

78' - Éder?????? Nãããããããããããããõoooooooooo!!!!!!!!!!

78,5' - Estamos sem ataque que se veja... Porque raio manda o Fernando Santos mais um central francês para o jogo?

80' - Lado bom da lesão do Ronaldo: o João Mário finalmente pode ser visto.

82' - Tacticamente a decisão percebe-se: mandou o Nani para a ala para apoiar o Cédric contra Coman, que Quaresma não andava a ajudar muito. Mas Éder? A senhora da lavandaria aleijou-se?

84' - Bruno Carvalho está a ver este jogo ao som de "Money" dos Pink Floyd.

87' - Éder anda a atrapalhar os franceses. Com a transferência para o Lille, o Fernando Santos deve tê-lo convencido que se naturalizou.

89' - Quaresma demonstra o poder de futebol de rua: estrangula Koscielny e esfrega-lhe a cabeça: «Está tudo bem miúdo, está tudo bem... Mas não digas à tua mãe senão conversamos no fim das aulas.»

91' - Que santo português é São Denis?

93' - Fim do tempo regulamentar. Não sei como, mas os franceses ainda não ganharam.

 

Re-intervalo: E vamos a prolongamento. Porque dois jogos seguidos só com 90 minutos não tem piada.

Para quem tenha curiosidade porque razão me dou ao trabalho (sim, vocês três aí atrás!), isto é porque estou a ver o jogo sozinho. Sem companhia para os comentários da praxe, sofrem os leitores.

 

91' - Eu devia era ir-me deitar. Como se conseguisse adormecer.

93' - Fernando Santos é homem de Fé. Num estádio com nome de santo está a fiar-se nele e nos seus apelidos e em que Éder tenha uma veia de Charisteas.

96' - Estou a ficar tão esgotado como os jogadores. Os comentários tornar-se-ão mais esporádicos. Penso.

104' - O Éder quase marcava. Estou a delirar por causa da ansiedade, só pode ser.

 

Intervalo do prolongamento: É difícil perceber este jogo. A França deveria estar a vencer por uns 4 ou 5 mas Portugal ainda se está a aguentar. Ou os deuses estão connosco ou estão numa de ser mesmo cruéis. Eu inclino-me para o último, depois da lesão do Ronaldo.

Nota extra: depois de revisto, retiro parte do comentário do minuto 8. Não foi realmente falta, penso. Ou poderia ser, mas soft. O que houve, e muito, foi azar.

 

109' - O ÉDER?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?

 

110' - A sério. O Éder? Vou telefonar ao médico que estou mal. Muito mas mesmo muito mal. Mas só depois do fim da alucinação.

112' - Esqueci-me de comentar: o Raphäel Guerreiro demonstrou porque razão era parvoíce ter o Ronaldo a marcar livres.

114' - O William Carvalho fez um pacto com o diabo. É impossível que tanto centro lhe vá parar direitinho.

116' - O Raphäel Guerreiro não tem autorização para estar lesionado. Que vá para ponta-quieta, mas tem de ficar em campo.

119' - Dói-me.

 

122' - EU NÃO ACREDITO!!!!!

 

Fim do jogo. Morri. Até amanhã quando acordar no hospital e me disserem que imaginei.

Allez, allez

Teresa Ribeiro, 10.07.16

Faltam poucos minutos. Nas ruas, quase desertas, o silêncio incha com o calor.  No mini-mercado os empregados, habitualmente palavrosos, fecham-se num mutismo amuado. É que faltam poucos minutos e ainda estão ali. O vizinho do rés-do-chão abreviou o passeio ao cachorro e recolhe-se à pressa. Nem me vê. Em volta os prédios dilatam, cheios de gente. Famílias reunidas em torno da televisão suspendem-se com o coração aos pés, respiração na mão. Ninguém me vê. Só o gato branco, que patrulha a rua em passadas furtivas, me olha expectante, a avaliar se sou um perigo. 

Há cerveja gelada no frigorífico e até champagne. Enchidos, preguinhos, bifanas, coisas de picar. E raparigas de cachecol posto, apesar do calor, e miúdos prontos a alinhar com o pai e o tio e o irmão mais velho nas vocalizações apaixonadas quando a partida começar. Faltam poucos minutos e os principais spots da cidade, de todas as cidades, vilas e lugarejos, estão cheios de gente. Há milhares que nem gostam de bola, mas quem resiste a surfar esta onda que se agiganta? Bora lá!