(Kevin Lamarque/Reuters)
“Our history has been a constant struggle between the American ideal that we are all created equal and the harsh, ugly reality that racism, nativism, fear, and demonization have long torn us apart.
The battle is perennial.
Victory is never assured.
Through the Civil War, the Great Depression, World War, 9/11, through struggle, sacrifice, and setbacks, our "better angels" have always prevailed.
In each of these moments, enough of us came together to carry all of us forward.
And, we can do so now.
History, faith, and reason show the way, the way of unity.
We can see each other not as adversaries but as neighbors.
We can treat each other with dignity and respect.
We can join forces, stop the shouting, and lower the temperature.
For without unity, there is no peace, only bitterness and fury.
No progress, only exhausting outrage.
No nation, only a state of chaos.
This is our historic moment of crisis and challenge, and unity is the path forward.” (Joe Biden, 46th President of the USA)
Chris Wallace, o incontornável jornalista que, entre outros prémios, venceu três Emmy, disse ter sido o melhor discurso que ouviu na tomada de posse de um presidente dos EUA.
Eu não sei se terá sido. Não tenho nem a memória, nem a experiência, nem o conhecimento de Wallace.
Admito, no entanto, que seja essa a verdade para quem, sendo filho de Mike Wallace, acompanha a política do seu país pelo menos desde que em meados da década de 60 do século passado, como adjunto daquele que foi “o homem mais confiável da América”, Walter Cronkite Jr., cobriu a II Convenção Nacional do Partido Republicano.
Mas não custa perceber, mesmo para quem não segue regularmente o que se passa na vida pública dos EUA, que depois de quatro anos caóticos na Casa Branca, em que a ignorância, o nepotismo e a loucura andaram de braço dado com a mentira, a irresponsabilidade, a trafulhice e a vigarice, o simples facto de se sentir que existe um regresso à norma, às instituições, à racionalidade e à civilidade constituem um respirar fundo, um aliviar da tensão e um reagrupar de energias para fazer face a um difícil futuro.
A tomada de posse de um Chefe de Estado é sempre um momento solene, prenhe de simbolismo, incerteza e esperança.
Esperança nos homens e nas instituições. Esperança nas exigentes tarefas de manutenção da paz, também no equilíbrio entre as diferentes instituições e os poderes que representam. Esperança na capacidade dos povos e das nações superarem a adversidade e construírem algo de útil em que todos se possam rever, sem que se desprestigie a história, se arrisque a confiança no presente e se hipoteque a que um dia se espera que seja a herança do futuro.
Quaisquer que venham a ser as contingências do dia-a-dia da vida política norte-americana ou as vicissitudes das suas relações externas, num mundo que atravessa uma crise profunda, num país dilacerado pela pandemia, pelo racismo sistémico e socialmente desequilibrado, o apelo de Biden à unidade e aos princípios fundacionais da democracia que tanto entusiasmou Tocqueville, constituiu o mais poderoso estímulo para a reconstrução de um país fracturado e a abertura de uma nova página no relacionamento internacional dos EUA, com o regresso deste a uma agenda de responsabilidade e ao convívio internacional através da imposição de um rumo definido.
Não será fácil juntar os cacos deixados pelo seu antecessor, restabelecer um diálogo sereno e profícuo nas duas câmaras do Congresso, e encetar um caminho nas relações externas que permita a recuperação da confiança dos parceiros e o respeito de adversários e inimigos declarados.
Ciente da magnitude da tarefa que o espera, com o apoio de uma mulher que é o melhor exemplo do espírito de compromisso que emergiu de Filadélfia, Biden começou pelo mais difícil, pelo apelo à unidade nacional.
Saber se conseguirá levar a carta a Garcia é outra questão, para a qual só teremos resposta definitiva dentro de quatro anos.
Por agora, sabemos apenas que começou uma viagem e que todos, dentro e fora dos EUA, esperam da dupla Biden/Harris quase o impossível. De que ainda assim o mais fácil era começar por fazer esquecer, o que conseguiu, o troglodita a quem sucedeu. E esse só por si seria um bom começo.