Carter e Reagan em 1980, quando as divergências políticas não dispensavam a cortesia
Estas foram as sete eleições presidenciais menos fracturantes nos EUA até hoje, com vitórias esmagadoras de seis candidatos, um deles repetente aqui:
1804
Foi a quinta eleição presidencial norte-americana. Vencedor: o recandidato Thomas Jefferson, grande artífice da Constituição de 1789 e um dos "pais fundadores" da nação. Liderando o Partido Democrata Republicano, bateu por larga margem o antigo embaixador Charles Cotesworth Pinckney, do Partido Federalista. A sua popularidade deveu-se ao bom desempenho da economia e à expansão do país, com a aquisição do amplo território da Luisiana a França, em 1803, por 15 milhões de dólares. Foi quanto bastou para duplicar a área dos EUA, correspondente a 15 estados actuais, assegurando o domínio da cidade de Nova Orleães e do delta do Mississippi. Jefferson, que era presidente desde 1801, triunfou em toda a linha nesta reeleição: 105.524 votos contra 38.519 do opositor, 162 contra 14 delegados no colégio eleitoral, 15 estados conquistados e apenas dois perdidos. Percentagem nacional: 73,2%.
1864
Abraham Lincoln, republicano, vencera a eleição em 1860. Quatro anos depois tornou-se o primeiro chefe do Executivo reeleito desde 1832. Aconteceu em plena Guerra da Secessão e o sufrágio decorreu apenas em 25 estados, sem a participação dos onze que haviam formado a Confederação sulista. Lincoln concorreu sob a sigla União Nacional, que reunia republicanos e democratas apostados em prosseguir a luta armada contra os esclavagistas. O seu opositor era o antigo general George McClellan, liderando a facção pacifista do Partido Democrata. O presidente esmagou no colégio eleitoral: 212 delegados contra 21. Venceu em 22 estados com 55,1% (percentagem global), beneficiando do triunfo unionista na Batalha de Atlanta, que assinalou uma decisiva viragem na guerra. Mas seria assassinado antes de concluir o segundo mês do novo mandato.
1936
Franklin Roosevelt foi o presidente que permaneceu mais tempo na Casa Branca: 12 anos, tendo iniciado o mandato em 1933. E três vezes reeleito, cenário que deixou de ser possível em 1951, quando entrou em vigor a 22.ª emenda constitucional. A sua mais expressiva votação ocorreu em 1936, numa espécie de referendo popular às medidas sociais do New Deal que puseram fim à Grande Depressão. Triunfo esmagador do democrata nesses anos que antecederam a II Guerra Mundial: 523 delegados contra apenas oito do seu rival, Alf Landon, governador republicano do Kansas. No voto popular, Roosevelt recolheu 27.747.636 boletins (60,8%), muito acima dos 16.679.543 (36,5%) do opositor. Landon, orador medíocre e sem carisma, só venceu em dois estados: Vermont e Maine.
1964
Os EUA viviam ainda sob o trauma do assassínio de John Kennedy, ocorrido menos de um ano antes. O sucessor, o vice-presidente Lyndon Johnson, havia sido derrotado nas primárias democratas de 1960 e enfrentava o primeiro teste nas urnas a nível nacional. Sem oposição interna e com a economia em alta, o inquilino da Casa Branca defrontou o senador Barry Goldwater, oriundo da ala mais conservadora do Partido Republicano. O desfecho não deixou margem para dúvidas: Johnson conquistou 44 estados, além do distrito federal. Goldwater venceu apenas no seu Arizona natal e noutros cinco: Alabama, Carolina do Sul, Geórgia, Luisiana e Mississippi. Em delegados, a diferença foi abissal: 486 contra 52. Em percentagem nacional também: 61,1% contra 38,5%.
1972
Richard Nixon chegou a ser um presidente extremamente popular. Isto ficou evidente na sua reeleição, ao tornar-se o primeiro candidato republicano a dominar todos os estados do Sul, anterior feudo eleitoral do Partido Democrata. Beneficiou do alargamento do direito de voto nos EUA dos 21 para os 18 anos, introduzido em 1971 na 26.ª emenda constitucional, e da promessa de pôr fim aos recrutamentos para a guerra no Vietname. Enfrentou George McGovern, senador do Dakota do Sul e membro da ala democrata mais esquerdista. Obteve o maior triunfo de sempre numa corrida à Casa Branca, primeiro em 49 dos 50 estados: McGovern só venceu no Massachusetts. Conseguiu 47.168.710 votos (60,7%) e 520 delegados, contra apenas 29.173.222 (37,5%) e 17 delegados do seu opositor.
1980
Ronald Reagan era corredor de fundo. Foi governador da Califórnia durante dois mandatos e em 1976 disputou as primárias republicanas em competição cerrada com o presidente Gerald Ford, que venceu no partido mas perdeu a nível nacional. Quatro anos depois representou os republicanos na corrida à Casa Branca. Contra o chefe do Executivo, Jimmy Carter, quando os EUA enfrentavam grave crise económica, energética e reputacional. Reagan impôs-se com 489 votos do colégio eleitoral enquanto Carter só conseguia 49. Venceu em 44 estados, com 50,7%. Pela primeira vez desde 1932 um presidente recandidato ficava pelo caminho. E desde 1888 não acontecia nada semelhante a um inquilino da Casa Branca pertencente ao Partido Democrata.
1984
Reagan foi reeleito por larga margem. Beneficiando da recuperação económica dos EUA e da sua mensagem de contagiante optimismo, simbolizada no slogan «Amanhecer na América». Mesmo sendo, aos 73 anos, o mais velho candidato presidencial à época. Enfrentou Walter Mondale, que fora confrontado em primárias no Partido Democrata por Gery Hart e Jesse Jackson. O desfecho pouco surpreendeu: o antigo actor de Hollywood atraiu 525 delegados e 58,8% do voto popular. Mondale, ex-vice-presidente com Carter, só obteve 13 mandatos - dez do seu estado natal, Minnesota, e três do distrito federal, praça-forte democrata. Era a segunda maior vitória de um candidato no colégio eleitoral desde 1820 - e a maior de um republicano. Reagan triunfou até em tradicionais bastiões do partido rival: Nova Iorque, Oregon, Rhode Island, Massachusetts, Washington e Havai.