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Delito de Opinião

Vai ser o último a entender. Talvez.

Paulo Sousa, 20.06.25

Em 1994 a Rússia assinou o Memorando de Budapeste. Em troca da entrega do terceiro maior arsenal nuclear do mundo, a Ucrânia recebeu garantias de segurança.

Nesse mesmo ano, a Geórgia estabeleceu com Moscovo o Tratado de Amizade, Boa Vizinhança e Cooperação. Com a Arménia foi 1997. O documento mereceu o nome de Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua. Com a Síria dos Assad os acordos eram vários, alguns já do tempo da URSS. Todos eles asseguravam cooperação militar e política.

Já depois de ter invadido a Geórgia em 2008, onde ainda controla as regiões da Abcásia e da Ossétia do Sul, Putin formalizou, em 2015 e 2017, a presença da Força Aérea e da Marinha Russa na Síria com carácter de longo prazo.

Depois disso invadiu a Ucrânia e deixou a Arménia à sua sorte quando o Azerbeijão atacou o enclave de Nagorno-Karabakh.

A lista destes acordos de "cooperação" alarga-se a África. República Centro-africana, Sudão, Líbia, Mali e Burkina Faso. O Kremlin apoia uma facção, explora recursos locais e se o jogo virar, põe-se ao fresco.

Quando o regime sírio caiu, o melhor que Putin teve para oferecer ao seu ditador foi uma autorização de aterragem. Depois disso o carrasco de Damasco nunca mais apareceu. Se Assad ainda não foi defenestrado, deve fazer tudo para nunca ir além do rés do chão.

Mais recentemente, e já este ano no dia 17 de Janeiro, foi a vez do Irão. A tinta do tratado de parceria estratégica assinado entre a Rússia e o Irão (com uma validade de vinte anos) ainda mal deve ter secado. Esperando receber apoio para o seu programa nuclear, o Irão partilhou a tecnologia dos seus drones Shaed e até ajudou na construção de uma fábrica na Rússia. Quando os generais iranianos começaram a ser eliminados, Putin fez o que costuma. Nada. O Irão já não tem nada lhe para dar, apenas a incerteza que faz subir os preços do petróleo.

O currículo do actual Czar tem muitas mais traições que as constam neste pequeno resumo. A sua “confiabilidade” é internacionalmente reconhecida. Quando se assina qualquer coisa com ele, é quase uma garantia do exacto contrário. A minha maior surpresa continua a ser a convicção da excepcionalidade de Donald Trump. Se algum dia lá ele chegar, será o último dos humanos a entender que Putin só respeita a força.

Tem tudo para entrar na História

Pedro Correia, 27.05.25

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Donald Trump é mentiroso compulsivo. Não há praticamente um tema em que seja capaz de fazer declarações sem qualquer mentira grosseira a coroá-las.

Uma das suas aldrabices mais recorrentes e repulsivas relaciona-se com o sacrossanto artigo 5.º da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Insiste ele em dizer que os EUA nunca receberam auxílio dos aliados europeus.

Acontece que esse artigo só foi accionado uma vez durante os 76 anos de história da OTAN. Aconteceu em Setembro de 2001, quando os EUA foram vítimas dos infames atentados terroristas que destruíram as Torres Gémeas. Washington, pela voz do presidente George W. Bush, clamou por auxílio. Nessa altura todos os aliados acorreram à chamada. Nenhum falhou.

Trump, que trata inimigos como aliados e aliados como inimigos, peca por reiterada desonestidade intelectual. E também por manifesta ignorância.

Tem tudo para entrar na História. Como o pior presidente norte-americano.

 

ADENDA 1: O nível político, intelectual e moral do inquilino da Casa Branca pode ser avaliado pela torrente de postais que vai despejando, todos os dias, na sua conta do Truth Social. Insultos, mentiras, narcisismo exacerbado. A palavra "eu" a sobrepor-se a tudo o resto, sem um pingo de decoro institucional. Eis, aqui em baixo, um exemplo concreto - com data de ontem - da maneira como este homem conduz os assuntos do mundo. Inenarrável.

ADENDA 2: Quando imaginamos que ele é incapaz de descer mais baixo, Trump demonstra o contrário, como impenitente sociopata, totalmente desprovido de empatia. Hoje voltou a injuriar Joe Biden, seu sucessor e antecessor, e criticou sem freio os juízes que ousam pôr em causa os seus decretos. A autocracia ganha terreno nos EUA.

 

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Wag the Dog II

Maria Dulce Fernandes, 03.05.25

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Durante a campanha eleitoral para a presidência dos EU, publiquei aqui uma foto do candidato do partido republicano após um alvoroço de onde o candidato emerge com aquilo a que chamei "ketchup" na orelha direita. 

Quase me enterraram viva.

Não sei se estava errada, ainda ninguém me provou o engano, muito pelo contrário,  já que como dizia Maquiavel "os fins justificam os meios" e ele foi eleito. O filme "Wag the Dog" tratava algo muito parecido.

Numa recidiva contínua em 100 dias de inanidades e insanidades, brindou-nos com mais uma, de se tirar o chapéu. Falta de gosto? Falta de respeito? Falta de moral...

E o maluco sou eu...

Assim escrevia Vance em 2017

Pedro Correia, 09.04.25

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Há oito anos, J. D. Vance - muito antes de se imaginar como braço direito de Donald Trump em Washington - apregoava nas redes digitais o oposto do que hoje a administração norte-americana pratica, já com reflexos calamitosos na economia global.

«Nunca é de mais repetir: se estamos preocupados com a economia dos Estados Unidos, devemos concentrar-nos mais na automação e na educação do que no proteccionismo comercial.» Assim escrevia o Vance de 2017. Quando se afirmava «never Trumper» - precisamente durante o primeiro mandato presidencial de Trump, a quem chegou a chamar «idiota»

Nada trumpista então, mas de uma inquebrantável lealdade agora. Virou proteccionista, com duplo mortal à retaguarda. Vance devia precaver-se: isto pode causar sérios danos à coluna.

Nave de Loucos

Pedro Correia, 05.04.25

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Há precisamente 110 anos, Theodore Roosevelt lançou o alerta com estas palavras sábias, referindo-se aos Estados Unidos da América:

«A única forma absolutamente segura de levar esta nação à ruína, de a impedir de continuar a ser uma nação, seria permitir que se transformasse num emaranhado de nacionalidades em disputa.»

A advertência nunca veio tão a propósito. Se em vez de «emaranhado de nacionalidades em disputa» estiver a expressão "guerra cultural", que fractura de alto a baixo a sociedade estadunidense, é um retrato dos EUA do nosso tempo. Com um traço insólito: esta fractura é hoje incentivada por quem teria a missão de funcionar como traço de união entre os norte-americanos, não como factor de clivagem profunda. 

Donald Trump devia meditar nas palavras de Roosevelt, que até era do Partido Republicano como ele e foi um dos mais prestigiados inquilinos da Casa Branca - ao ponto de ter a sua efígie esculpida no Monte Rushmore.

O próprio Trump gostaria de lá ver a sua imagem - aliás, uma iniciativa legislativa nesse sentido já deu entrada no Congresso. O culto da personalidade em torno do sucessor de Joe Biden raia um fanatismo inusitado em sistemas democráticos. Só estamos habituados a tal cenário em ditaduras.

O que torna ainda mais actuais as palavras de Theodore Roosevelt - galardoado em 1906 com o Nobel da Paz. Há quem diga que conquistar este prémio constitui a aspiração máxima do actual chefe da Casa Branca. Sonhar é fácil, mas jamais irá conseguir tal desígnio. Precisamente porque nada faz para o merecer. Com ele ao leme em Washington, o país está mais inseguro e o mundo está mais perigoso. O edifício do n.º 1600 da Avenida Pensilvânia, na capital federal dos EUA, parece transformado numa nave de loucos.

 

ADENDA: O antigo presidente costarriquenho Oscar Arias, Nobel da Paz em 1987, impedido de viajar aos EUA: foi-lhe recusado visto de entrada. Por ter ousado criticar o "imperador" Trump. A América de mal a pior.

A guerra de Trump aos pinguins

Pedro Correia, 03.04.25

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Donald Trump tem a ambição, juram alguns, de receber o Prémio Nobel da Paz. 

Embalado nesse sonho, vá-se lá saber porquê, acaba de declarar guerra comercial ao mundo inteiro com a imposição de tarifas brutais - 20% a Portugal, via União Europeia.

Nem escapam uns ilhéus perto da Antárctida que servem apenas de morada a pinguins, como revelou o primeiro-ministro australiano, com visível espanto. Certamente pensa o mesmo que muitos de nós: a Casa Branca transformou-se em Nave dos Loucos.

 

Mundo inteiro? Parece que exagerei.

Vendo bem, há uma parcela do planeta imune às trovejantes sanções do sucessor de Joe Biden: a Rússia, maior Estado do globo. O ditador Putin tem mais sorte do que os pinguins: Trump nem ousa beliscá-lo.

Coincidência? Claro que não.

Motivo acrescido para eu repetir o que aqui escrevi há quase um mês: trumpistas e putinistas vão-se fundindo a ritmo acelerado.

Certeiro!

Cristina Torrão, 30.03.25
Não sei se é permitido. Talvez eu esteja, à semelhança de Luís Montenegro, não a praticar um crime, mas a demonstrar "falta de ética". Porém, não resisto. Esta crónica de Miguel Sousa Tavares, publicada no Expresso, no passado dia 27, é tão, mas tão certeira... impossível não divulgar. Na verdade, copiei uma cópia, divulgada no Facebook.

Gostaria de acrescentar que não sou grande admiradora de Miguel Sousa Tavares, por, normalmente, tanto discordar dele. Depois de Trump ter ganho as eleições norte-americanas, porém, não podia concordar mais, pelo menos, sobre este assunto.

Os realces são da minha responsabilidade.

 

UM SÓ HOMEM (Miguel Sousa Tavares, Expresso, 27/03/2025)

 

«No dia 20 de Janeiro, depois de ter assistido à tomada de posse de Donald J. Trump como Presidente dos Estados Unidos, prometi a mim mesmo que não iria seguir obcecadamente cada passo da sua administração nem me deixaria deprimir pelo que aí vinha. A vida tem motivos muito mais interessantes do que acompanhar o desvario político, mental e humano do homem mais poderoso do mundo. Sim, Trump é Presidente dos Estados Unidos e os Estados Unidos detêm a maior capacidade militar e nuclear do mundo. Quer isto dizer que, em querendo, podem dar ordens ao mundo inteiro e ditar o destino de todos. Mas o meu, não.

 

Enganei-me: o meu também. Não consegui manter a minha promessa pela simples razão de que tudo o que está a acontecer na América ultrapassou em pior a minha imaginação, e como eu vivo neste tempo e neste mundo em que está um bandido à solta na Casa Branca e um grupo de marginais a acolitá-lo, não é possível, como cantava o Adriano Correia de Oliveira, viver serenamente. Não é possível, por mais que se queira — até como forma de resistência —, abstrair das malfeitorias diárias do Presidente dos Estados Unidos.

 

Se a agenda foi cumprida, o Conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Mike Waltz, acompanhado de altas patentes militares, está esta sexta-feira na Gronelândia para avaliar in loco as potencialidades militares de um território a que Trump disse que, por razões de segurança, ia deitar a mão, “de uma maneira ou de outra”, comprado ou invadido. Na comitiva vai também a “vice-primeira dama”, a mulher do idiota J. D. Vance, e um filho, viajando em missão turística para ela mostrar à criancinha a conquista que o pai e o seu amigo Presidente vão fazer para os Estados Unidos. A Gronelândia, recorde-se, pertence à Dinamarca e a Dinamarca pertence à NATO, a organização militar de defesa comum liderada pelos Estados Unidos. Isto parece inacreditável, mas somos forçados a acreditar depois de termos visto, apenas nos primeiros 60 dias de governo, Trump reivindicar, além da Gronelândia, o canal do Panamá, a Faixa de Gaza, as riquezas minerais e as centrais nucleares ucranianas, e mesmo o Canadá, a quem convidou a tornar-se o 51º estado da União!

 

Por falar em NATO, ficámos também a saber que Trump não garante que os Estados Unidos respeitem o artigo 5º do Tratado, o “um por todos, todos por um”, que é o fundamento da organização. Mas como poderia garanti-lo se ele próprio fala abertamente em tomar posse de territórios, ou mesmo de países, seus aliados na NATO? A sua regra é simples: se é do seu interesse, da sua segurança ou do seu aprovisionamento estratégico, os Estados Unidos têm o direito de fazerem o que quiserem. Ao mesmo tempo que ele, Trump, ordena aos aliados europeus que desatem a gastar fortunas em armamento comprado aos Estados Unidos e delicia-se a receber, em audiências de vassalagem, os grandes da Europa, Keir Starmer e Macron, ou o seu pau-mandado Mark Rutte, secretário-geral da NATO, que lhe foi dizer que as suas ordens serão obedecidas e que a organização atlântica está pronta a marchar “under your comand, Sir”.

 

Entretanto, ameaça os palestinianos com o “inferno”, como se fosse novidade para eles, e bombardeia os hutis no Iémen para se substituir ao “parasitismo europeu”, como lhe chamou Pete Hegseth, um atrasado mental vindo da Fox News directamente para chefiar o Pentágono. A devoção de Trump por Israel é tanta, o seu desejo de tudo dar ao seu amigo Netanyahu é tamanho, que a polícia de emigração está a expulsar do país estudantes que participaram em manifestações contra o massacre em Gaza, mesmo que sejam residentes legais nos Estados Unidos, e a impedir de entrar no país quem se manifestou pela Palestina: agora, para entrar nos Estados Unidos é preciso nunca ter posto em causa as acções de Israel e sair é arriscar não poder voltar a entrar. Uma após outra, as principais universidades do país vêem o governo federal cortar-lhes os fundos sempre que alguém, no governo de Trump se lembra de ter lá visto manifestações pró-Palestina: Harvard ainda resiste, Columbia já ajoelhou, pronta a alinhar com o desejo de Trump de “banir esta insanidade antiamericana de uma vez por todas”. De caminho — coisa verdadeiramente inédita — encarregou a ministra da Educação de extinguir o respectivo Ministério, declarando que “agora é que vamos ter educação a sério!”. O pretexto é a invocada “esquerdização” do ensino e das universidades, das suas políticas de integração agora proibidas ou o desperdício de dinheiros públicos em aprendizagens inúteis ou antipatrióticas. Mas, na verdade, esta fúria contra o saber que está a paralisar a investigação nas universidades e a aterrorizar todos fundamenta-se numa coisa que é própria da ignorância arrogante de Donald Trump: o ódio à inteligência e ao conhecimento, que, para ele como para os seus apoiantes do MAGA, representa apenas a justa revolta do povo contra as elites intelectuais e académicas. O programa de Trump não é o de aproveitar e tirar partido do melhor dos Estados Unidos — a excelência de um ensino universitário que deu ao país dezenas de Prémios Nobel e o colocou na vanguarda do conhecimento científico e tecnológico. O seu programa e o seu génio político é ter sabido interpretar a nova luta de classes, que não é entre quem tem e quem não tem, como imaginou Marx, mas entre quem sabe e quem odeia os que sabem.

 

Mas, bem entendido, a grande ameaça de Trump à democracia americana e ao Estado de Direito na América e no mundo é o seu profundo desprezo por princípios que temos como universais nas nações civilizadas. Trump comporta-se como um Nero reencarnado, cego de vaidade e embriagado com o desfrute de um poder sem limites. O exemplo extremo disto foi a deportação para a Guatemala, e para uma prisão tida como a mais desumana do mundo, de uma centena de imigrantes venezuelanos que alguém decretou subitamente serem membros de um grupo de criminosos. Sem julgamento, sem instrução e sem defesa, foram expulsos dos Estados Unidos e enfiados numa prisão guatemalteca, sem prazo definido de detenção. Assim, o Presidente americano, sem qualquer interferência da Justiça, arroga-se o poder de acusar, julgar, condenar, decretar e executar a sentença, mesmo em país alheio: juiz de instrução, juiz de julgamento e juiz de execução de penas. E quando um juiz verdadeiro quer saber porque não foi obedecida a sua ordem de suspender a expulsão dos venezuelanos, Trump ameaça afastar esse e todos os juízes federais que contrariem judicialmente os seus desejos, e começou a perseguir, com as suas já célebres notas executivas, até as sociedades de advogados que representaram ou onde trabalhou alguém que o tenha investigado no passado. Trata-se daquilo a que agora chamam o “brokenism”, a política de partir tudo, mesmo a Constituição dos Estados Unidos e os direitos e garantias individuais, em nome da revolução conhecida como Projecto 25 — a tomada de poder por um homem e uma facção ao seu serviço no mais poderoso país do planeta. E, sobre tudo isto, alia a um desejo de vingança sobre quem não lhe reconheceu a vitória eleitoral em 2020, uma crueldade assustadora. O Presidente que se dispõe a fazer propaganda a favor do homem mais rico do mundo, transformando a Casa Branca num stand de automóveis Tesla, é o mesmo que da noite para o dia extinguiu a USAID, mandando para o desemprego todos os seus funcionários e condenando milhões de pessoas à fome, à doença e à miséria, em África e na Ásia pobre, e que corta todas as verbas para a investigação de vacinas para doenças como a malária.

 

Como é que chegámos aqui? Como é que a “land of the free”, uma nação de referência do mundo democrático, num instante se está a transformar num fascismo unipessoal? Como é que chegámos aqui? Chegámos pelo voto popular, pela escolha da maioria dos americanos. Porque hoje já não é necessário derrubar as democracias por golpe militar: derrubam-se nas urnas por voto popular manipulado e planeado por golpistas silenciosos nas redes sociais.»

Norte-americanos pedincham ovos pela Europa

Cristina Torrão, 18.03.25

Devido à gripe das aves, obrigando à eliminação em massa de animais nos aviários norte-americanos, os ovos tornaram-se raros, naquele país, com grandes aumentos nos seus preços.

Os norte-americanos solicitaram mais exportações de ovos, em vários países da Europa. Já se dirigiram à Dinamarca (olha, a quem), à Suécia, à Finlândia, aos Países Baixos e, agora, vieram pedinchar também à Alemanha.

Não estão a ser bem sucedidos. Parece que por haver alguma escassez do produto também deste lado do Atlântico. Será apenas isso? O Ministro da Agricultura dinamarquês, Jacob Jansen, não resistiu a dar uma alfinetada: "Este é um bom exemplo de como os Estados Unidos continuam dependentes da Europa, a nível comercial".

Enfim, sempre têm como alternativa responder: "Querem ovos? Muito bem. Tarifas de 300%".

Não sei se os leitores/comentadores deste blogue conhecem o duplo significado de ovos ("huevos") em Espanha. Na Alemanha, é a mesma coisa. Podem, por isso, imaginar as anedotas que já se contam por aqui.

 

Link das informações: https://www.tagesschau.de/wirtschaft/verbraucher/usa-vogelgrippe-eier-deutschland-100.html. Para os mais cépticos, é um link do serviço noticioso do ARD, o primeiro canal alemão (estatal).

Que diferença entre Roosevelt e Trump...

Pedro Correia, 10.03.25

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«Quando a guerra terminar usarei um fato. Talvez semelhante ao seu, talvez melhor e talvez mais barato.»

Zelenski, a um repórter que o questionou na Sala Oval por não usar fato e gravata

 

Em Dezembro de 1941, o mundo mergulhara no mais devastador conflito bélico da História. Winston Churchill, primeiro-ministro britânico, foi convidado a visitar Washington, onde conferenciou com o Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt.

Apareceu perante o anfitrião e os jornalistas com o seu macacão de corte militar como símbolo de combatente, realçando o facto de representar um país em guerra.

Roosevelt tratou-o com cortesia e cordialidade: nada mais natural, tratando-se de um aliado. Jamais lhe passaria pela cabeça dizer - ou permitir que alguém proferisse - qualquer frase menos cordata sobre a indumentária do visitante.

Outros tempos. Totalmente ao contrário do que ocorreu há dias, no mesmo local, durante a visita do Presidente ucraniano, quando Zelenski se apresentou ali com a sua icónica sweatshirt militar, que jurou usar até ao fim da matança dos ucranianos pelos russos. Foi quanto bastou para desencadear um chorrilho de ganidos soezes, e .

Que diferença abissal entre a Casa Branca de Roosevelt e a Casa Branca de Donald Trump. Até nisto. Parecem dois mundos antagónicos: nada a ver um com o outro.

Contra a cobardia

Cristina Torrão, 01.03.25

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Ser pela Ucrânia é ser pela Europa.

E eu sou pela a Europa, contra os bullies. Contra quem gosta de humilhar e nunca enaltece ou defende direitos humanos. O discurso de Trump é profundamente misantropo, agressivo, humilhante, manipulador. Mente hoje e amanhã dá-lhe uma amnésia. "Disse isso, eu? Não me lembro". Não há honra, não há dignidade, não há palavra. E um homem sem palavra, não é um homem. É um rato. De esgoto.

Trump, Musk e Vance são ratos. São incapazes de empatia, ou de compaixão. São psicopatas.

Acredito que a partilha das dificuldades pode reforçar os laços e a identidade europeia. Num esforço de segurança comum. E é certo que também Trump tem muito a perder, sem a Europa do seu lado.

Por mim, o boicote à Casa Branca seria total. Nem mais um líder europeu de visita, por iniciativa própria, às ratazanas de esgoto! Chega de ir lá, dobrar a espinha! Deixemo-los a falar sozinhos, todos satisfeitos, na sua verborreia!

O mundo vai ficar mais perigoso? Para o bem e para o mal, estamos no meio do vulcão. Resta avançar de cabeça erguida. Sejamos gente!

Contra essa espécie de união entre comunistas e cheganos da pior espécie.

Contra os cobardes!

Fazer frente a bullies

João André, 01.03.25

Um amigo escreveu-me ontem que futuros historiadores dirão que a reunião de ontem entre Zelensky e Trump (mais Vance e demais esbirros) marcará o fim da NATO. Não sei se concordarei, penso que terminou quando Vance se dirigiu aos antigos aliados na conferência de Munique.

Poderá no entanto marcar o início do fim do poderio americano. Não creio que haja ainda líderes europeus com um módico de inteligência e decência que creiam que os EUA os ajudariam em caso de necessidade. O Departamento da Defesa americano já indicou que irá reduzir os custos com bases e as europeias estarão quase certamente na lista de coisas a cortar (tal como os mísseis nucleares no continente). Sem esse poder dissuasor, aos europeus resta renderem-se à irrelevância ou descobrirem a vontade de se defender a si mesmos.

Só que os EUA perderão acesso aos recursos europeus e, de arrasto, aos de muitos outros antigos aliados. Mesmo na Ásia, será difícil imaginar a Coreia do Sul ou o Japão a confiarem em Trump ou Taiwan a acreditar que os americanos estariam dispostos a arriscar o seu sangue para os proteger. Acrescendo a isto os cortes nas missões diplomáticas (que provavelmente se irão reflectir nos "países de merda de África e Ásia"), e a influência americana irá desaparecer e ser substituída pela chinesa.

Todos perderemos (bem, talvez não os chineses) com um mundo onde os EUA abandonam os seus princípios (mesmo quando os defendiam apenas no seu interesse). Será um mundo de instabilidade e onde a - ainda - maior potência está dominada por bilionários infantis ou maliciosos que só têm interesse nos outros como clientes ou servos.

Na sequência do vergonhoso comportamento de Trump e Vance, temo (e ao mesmo tempo quase desejo) que os ucranianos acabem por remover Zelensky para lá colocar alguém que se mostre obsequioso ao ogre laranja. Temo porque demonstra que o bullying resulta. Desejo porque nos ganharia tempo. A questão é qual opção os ucranianos, como eslavos que são e como tal altamente orgulhosos, irão escolher: apoio e subserviência, ou orgulho e dificuldade. Uma oferece alguma segurança no curto prazo (embora nunca se saiba o que Trump e Putin, falsos como são, decidirão fazer no futuro). A outra oferece riscos claros, mas poderá ser a única forma de existir uma Nação ucraniana dentro de algumas décadas.

Sejamos claros: o momento de ontem poderá ter sido o fim da NATO e da ordem pós-II Guerra Mundial (ou mais um marco no caminho). Poderá ser o início de um conflito ainda mais alargado do qual os EUA se alhearão. Poderá no entanto servir como fundação para o estabelecimento de uma Nação e de mais uma fundação para uma Europa do futuro. É preciso querer (e saber, como cidadãos dessa Europa) que o caminho para isso vai ser duro e custoso.

Da idolatria

Pedro Correia, 28.02.25

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Os comentadores da direita extremista - como se verifica nas caixas de comentários do DELITO - expressam um ódio à Europa liberal em tudo idêntico ao da esquerda mais extremista.

Ódio que tem hoje farol e guia: Donald Trump, cem por cento descendente de europeus, filho de imigrantes de segunda geração e neto de quatro avós que não tiveram o inglês como língua materna. *

 

Este ódio visceral está expresso numa frase debitada anteontem pelo novo-velho inquilino da Casa Branca, com a elegância que o caracteriza e a arrepiante ignorância histórica de que dá mostras quotidianas: «A UE foi criada para lixar os EUA.»

Mas este assumido anti-europeu e "pacifista" belicoso que acaba de declarar guerra comercial à União Europeia impondo taxas draconianas à importação de produtos aqui produzidos (prejudicando também Portugal), num ataque despudorado aos princípios liberais, vive no lado de lá do oceano.

Pode dar-se ao luxo de tratar inimigos como aliados e aliados como inimigos. É, aliás, o que tem feito desde o primeiro dia do seu novo mandato.

 

Os fanáticos apoiantes dele cá do burgo beneficiam da democracia liberal europeia (o sistema político mais invejado do mundo), mas escrevem como se odiassem Portugal. E como se desejassem viver na terra do Tio Sam.

Azar deles: o falso pacifista, filho e neto de imigrantes, declarou guerra também à imigração. Nenhum destes membros tugas do seu clube de fãs seria hoje admitido como residente nos EUA. Para não contaminarem a "Terra Prometida".

Terão de aplaudir o Bonaparte de Mar-a-Lago à distância.

Coitados, deve ser penoso. Idolatram quem os rejeita - a eles, ao país onde nasceram, ao continente onde residem.

 

* Trump assinou hoje um decreto impondo o inglês como idioma oficial dos EUA, facto inédito na história do país, independente há quase 250 anos. Freud talvez explique.

Sem título

jpt, 26.02.25

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Sem título e... com que texto? Posso compreender os eleitores norte-americanos, decidiram em função das suas considerações sobre o seu país. Mas que posso eu dizer sobre os doutores portugueses que ronronam com isto, que dão largas a interpretações refinadas - transaccionalismo e coisas quejandas - sobre isto? A minha querida irmã ausentou-se por uns dias. Mas deixou instruções explícitas à minha querida filha - que dentro de dias se ausentará - para que ela mantenha a guarda durante a sua ausência: "não deixes o teu pai escarrapachar nos blogs o que pensa desses doutores trumpófilos. Por mais razão que ele tenha! Mesmo nesses palavrões que só ele conhece...".

TRUMPUTIN

Pedro Correia, 25.02.25

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Washington juntou-se ontem a Moscovo, na Assembleia Geral da ONU, num voto contrário à condenação do assalto russo à Ucrânia e ao apoio à integridade territorial deste país soberano. No própria dia em que se assinalava o terceiro aniversário da criminosa agressão a Kiev, a mando do regime totalitário de Vladimir Putin. 

Só 16 países representados na Assembleia Geral acompanharam russos e norte-americanos nesta posição. Entre eles, a Bielorrússia, a Nicarágua, a Guiné Equatorial, a Eritreia, o Mali, o Sudão e a Coreia do Norte.

Podemos concluir: nunca os EUA andaram tão mal acompanhados.

Isto não impediu a resolução - proposta pela generalidade dos países da União Europeia e pela própria Ucrânia - de ser aprovada por larga margem: 93 votos a favor, 18 contra e 65 abstenções.

Assim se consumou, para quem ainda alimentasse dúvidas, a ruptura do consenso euro-atlântico por decisão unilateral da Casa Branca. À vista de todo o mundo, num lugar tão emblemático.

Confirma-se: esta administração de Donald Trump e J. D. Vance vai conduzindo os Estados Unidos da América a um colapso moral. Não demorou meses ou anos, como muitos previam. Bastaram trinta e poucos dias.

De elefantes e rinocerontes

Cristina Torrão, 20.02.25

Muita gente diz Trump ser como um elefante numa loja de porcelanas. Ou ter a elegância de um rinoceronte.

Vão-me desculpar, mas não posso discordar mais. Um elefante, ou um rinoceronte, dão realmente cabo de uma loja de porcelanas. Mas inadvertidamente.

Trump e seus compinchas entram na loja munidos de tacos de beisebol e escaqueiram tudo.

Porque não escolhem a loja de Putin?

Uma nova (des)ordem mundial

João André, 17.02.25

Há menos de duas semanas escrevi um comentário a um post do Pedro onde expressava o meu pessimismo relativamente a Trump e às consequências para Portugal e a Europa. O Pedro respondia que analisava (naquele caso) na perspectiva de cidadão português e expressava optimismo na resiliência europeia. Não voltei à discussão mas talvez uma nova reflexão faça agora algum sentido.

A verdade é que na presente estratégia trumpista (e da Heritage Foundation, que escreveu a estratégia, passo a passo) duas semanas são uma eternidade. Após a visita de Hegseth e Vance e algumas declarações extra de Trump, está neste momento claro qual a visão que a Casa Branca tem para o futuro. E passa por um elemento simples: a NATO é letra morta.

Primeiro vieram as declarações de Hegseth (segundo algumas notícias, algo diluídas da brutalidade inicial), que a Europa não mais seria o foco dos EUA, assim explicando que a defesa da Europa estaria a cargo dos Europeus, caso isso não fosse claro. Depois chegou Vance, que se apresentou numa conferência sobre segurança, falou durante 18 minutos sem tocar no tema, atacou a democracia europeia, demonstrou menosprezo pelo continente, foi embora assim que terminou, recusou reunir-se com o chanceler alemão sob o pretexto de não ir ficar no cargo muito mais tempo, e reuniu-se com a extremista líder da AfD que não tem a menor hipótese de ser eleita chanceler. De permeio surgiu uma declaração de Trump himself em que dizia querer procurar um processo de desnuclearização juntamente com China e Rússia. Por fim, há o facto de Trump querer ir debater o futuro da Ucrânia com Putin sem levar os ucranianos ou europeus em conta.

Ignorando o modo e focando-nos no conteúdo das mensagens, vemos aqui um tema essencial: os EUA vão dar prioridade a um mundo onde "might is right" ou, se quisermos, da lei do mais forte. Trump, já o sabemos, vê a política como transacional. Se não existe um quid pro quo - um toma lá dá cá em bom português - ele não está interessado. Trump quer portanto negociar com Putin, terminar a guerra, recuperar os recursos que puder, e deixar os ucranianos e europeus entregues a si mesmos. Note-se que nesta negociação Trump já disse que os ucranianos não podem esperar entrar na NATO nem recuperar as fronteiras de 2014 o que, mesmo que seja realista, é uma posição bizarra para iniciar negociações.

Excepto quando olhamos para o interesse de Trump: que quer ele em troca? Recursos minerais. O futuro da Ucrânia não lhe interessa, já que ele quer apenas e só acesso aos recursos do país. Já disse a Zelenskií querer condicionar ajuda futura ao acesso aos depósitos minerais em terreno ucraniano (especialmente terras raras, lítio, urânio, etc.), os quais estão parcialmente em territórios controlados pela Rússia. Disse inclusivamente que quer "tomar posse" de 50% desses recursos, como se fosse um extorsionista mafioso a dar a volta por Manhattan no início do século XX a exigir dinheiro em troca de protecção. Desta forma a sua posição ideal será a de "oferecer" à Ucrânia protecção em troca de pagamento e oferecer à Rússia o levantamento de sanções (e reentrada nos palcos internacionais) em troca de acesso aos restantes minerais (que obviamente se manteriam em mãos russas). O resto - reconstrução do país, defesa das fronteiras, defesa europeia - fica nas mãos de quem lá vive. O próximo passo será certamente a remoção de bases do continente. Se as eleições alemãs não correrem de forma que lhe agrade, as bases no país poderão muito bem ser as priemiras.

E quanto à desnuclearização? Do ponto de vista de Trump não faz sentido ter tantas armas nucleares quando existe redundância. Sendo uma mente que não entende subtileza, não percebe que as armas não foram todas criadas iguais e que muitas delas existem não para criar destruição mas para garantirem a possibilidade de retaliação ou "priemiro ataque" (First Strike). Se puder reduzir o arsenal nuclear, certamente que o irá fazer removendo muitas das armas do território europeu, assim ainda mais abrindo o flanco no continente. Além disso, um acordo deste género seria uma aceitação tácita que EUA, Rússia e China seriam as única potências internacionais e que cada uma teria a sua esfera de influência, na qual os EUA não interefeririam desde que possam beneficiar economicamente. Num tal cenário de desnuclearização (e note-se que a China provavelmente não reduziria o seu arsenal, antes o aumentaria para um nível semelhante ao americano e russo) os riscos de um conflito nuclear não diminuiriam (talvez se abrisse a possibilidade de vitória, algo impossível actualmente) e os riscos de conflito convencional seriam talvez superiores. E as probabilidades de China invadir Taiwan, EUA invadir Panamá e Gronelândia (o Canadá já duvido), e Rússia continuar a sua expansão para Oeste seriam muito elevadas.

E no que ficamos na Europa? Bom, como o Pedro diz noutro comentário no post, abre a possibilidade para a Europa finalmente fazer aquilo que já deveria ter feito há décadas (e perdeu a oportunidade de fazer no período de Trump45) e criar um sistema de defesa europeu. Isto não significa simplesmente aumentar os gastos em defesa. Significa também criar todo um sistema para poder sustentar a defesa. Diz-se habitualmente que o Pentágono tem a maior burocracia do mundo mas, mesmo que seja excessiva, é indicativo daquilo que a Europa tem que construir. Tem que criar um conceito, um sistema de liderança, de harmonização entre as diferentes forças armadas europeias, uma burocracia, processos de investigação e desenvolvimento, fomentar a indústria de armamento europeia, criar processos de compras de equipamento (não só de armas mas também de material extra - tendas, rações, roupas, veículos, etc.) e implementar uma forma de treinos conjuntos e criação de doutrinas conjuntas. Tudo isto é uma oportunidade, mas também demora muito tempo, custa capital financeiro, político e humano. E é muito difícil de vendar a uma população a quem não se é sincero sobre os problemas reais.

E o capital financeiro traz-me a um ponto no qual discordo algo da posição do Pedro. Ele escreveu a certo ponto «a Europa resistiu a um milénio de guerras violentas, epidemias mortíferas, catástrofes de todo o género» no que dá a entender que a resiliência europeia pode resistir a tudo isto novamente. Nisto deixo as minhas reflexões: a "Europa" não sovreviveu a nada disso. A "Europa" não existia, era um aglomerado de reinos, impérios, terras vistas como bárbaras, múltiplas religiões (que mesmo quando cristãs não impediam o morticínio) e era, essencialmente, o território menos interessante do mundo conhecido. A Europa é uma zona geográfica com pouco interesse. Não é particularmente fértil, rica em minerais, recursos naturais de outros tipos (madeira, especiarias) e tem pouco espaço disponível. É por isso que não era tão invadida como o Norte de África ou a Ásia. Tudo mudou com o período de conquistas ultramarinas (aquilo a que se chama habitualmente de "Descobrimentos") e expoliação dos recursos locais. Com o fim da época colonial, sem o guarda-chuva americano, sem recursos naturais significativos, sobra apenas o avanço tecnológico que o continente ainda tem sobre a maioria do mundo e a sua população (que é provavelmente a mais educada).

Como avançar? Sinceramente, o facto de não termos muitos recursos naturais poderá ajudar, dado que Putin não terá interesse no território europeu. O seu interesse expansionista está em obter os territórios que ele reclama serem "historicamente russos" (na mesma lógica com que Portugal poderia reclamar Angola como "historicamente portuguesa") e em criar zonas tampão entre a Rússia e uma região que lhe seja hostil. Aqui, se Trump criar realmente um mundo de esferas de influência onde a Europa seja ignorada, Putin poderá de facto ter pouco interesse em invadir muito mais. Ainda assim, o melhor cenário talvez seja os Europeus regressarem a África, desta vez sem se darem a poses ou atitudes sobranceiras, e criar parcerias reais e honestas. A Europa poderia obter os recursos e a África apoio para o seu desenvolvimento económico, humano, e tecnológico. A tal oportunidade de que o Pedro falava.

O problema é o que acontece até lá. A união na Europa é ténue - para ser diplomático - e será difícil ver Orbán, Meloni, Wilders, potencialmente Le Pen, Fico, e outros a apoiar tais acções. Por outro lado, imaginando que de facto a Europa decidiria colocar tropas na Ucrânia, que aconteceria quando Putin atacasse? Talvez nem atacasse as forças europeias, apenas as ignorasse e atacasse as ucranianas. Que fariam os europeus? Responderiam? Atacariam território russo? Fariam como as tropas neerlandesas em 1995 em Srebrenica? E se as forças europeias fossem atacadas directamente? Que fariam sem a ameaça do envolvimento americano? Alguém julga que Trump sancionaria uma resposta americana à invocação do famos artigo 5 do tratado da NATO?

Por isso me mantenho pessimista. Trump não quer saber e deixou-o claro. Talvez esteja a esperar um pouco antes de apertar ainda mais porque não tem o seu gabinete completamente formado, mas não irá tardar muito. Os EUA irão recuar dos palcos mundiais e concentrar-se-ão apenas no seu quintal (continente americano) e no que poderão obter economicamente. O resto do mundo que trate de si. Não discuto aqui se isso faz sentido para os EUA embora aminha opinião seja fácil de discernir, mas apenas nas consequências. Os EUA a controlar América do Norte e do Sul, China a controlar o sudeste asiático e parte de África, Rússia a controlar a Europa de leste, parte do Médio Oriente e algumas zonas de África, e restos para países/regiões como Índia, Europa e quem mais o conseguir.

A saída para isto estará nos EUA e na capacidade dos americanos de evitarem tal destino (que lhes seria adverso), mas da forma como as coisas avançam, não sei se Trump e o seu aparelho lhes dará essa escolha. Só que isso é assunto para outro post e este já vai longo demais.

Então o Vance...

Cristina Torrão, 15.02.25

... veio a Munique fazer campanha eleitoral num país soberano, que não é o seu, apelando ao voto no AfD, um partido que inclui nazis nas suas fileiras?

Participou numa Conferência de Segurança, sem abordar a guerra na Ucrânia e sem ouvir nenhum outro discurso. Entrou, falou durante 18 minutos e tornou a sair.

É difícil superá-lo em má educação, egocentrismo, arrogância e prepotência.

Quanto a mim, confirmei o que já supunha: Vance faz o jogo de Trump. Caso contrário, Trump e Musk livram-se dele num ápice.

Uma coisa, Vance conseguiu: em plena luta leitoral, juntou os partidos alemães (com excepção do AfD), em repúdio pela sua atitude. Confio que, no lado Oeste, este repúdio encontre eco entre os eleitores, enfraquecendo o AfD.

Preservativos para Gaza

jpt, 11.02.25

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Esta é a melhor do dia. Elon Musk contestou o envio de preservativos para Gaza - juntando-lhe, na sua rede X, uma veemente crítica questionando a razão de serem todos "Magnum" os preservativos atribuídos aos palestianos (ao Hamas, dir-se-á).
 
Mas, afinal, o envio era para Gaza, Moçambique....
 
(Neste filme o homem, ladeando o presidente Trump, explica o seu erro. Convém ver. Principalmente os que simpatizam com o novo governo dos EUA, para melhor entenderem os modos como aquilo está a decorrer... Surreais modos.)