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Delito de Opinião

Falando em "símbolos coloniais"

Pedro Correia, 23.02.21

 

Nas últimas semanas tem havido muita discussão nas redes sociais, em Portugal, sobre a manutenção de "símbolos coloniais". Por vezes com vocabulário datado de há meio século e hoje totalmente ultrapassado. Qualquer folheto ou documentário de propaganda turística demonstra como o adjectivo colonial foi reabilitado, entre elogios ditirâmbicos à «arquitectura colonial», à «gastronomia colonial» e até à «atmosfera colonial» nas mais diversas paragens. Não faltam aliás, ainda hoje, países com possessões coloniais - com destaque para França, Holanda, Reino Unido, Dinamarca e até os Estados Unidos.

Alguns por cá, tolhidos por absurdos complexos de inferioridade e totalmente incapazes de assumir a História com as suas luzes e sombras, não perdem uma oportunidade de esgrimir contra "símbolos coloniais" - seja aos gritos contra a toponímia (como a da Praça do Império, em Lisboa) ou na diabolização de palavras consideradas malditas (como ocorreu na polémica em torno do putativo Museu dos Descobrimentos), passando pela vandalização de estátuas (como a do Padre António Vieira) ou até pela demolição de monumentos (como sugere um deputado socialista, aludindo ao Padrão dos Descobrimentos), mimetizando a histeria em curso nos States. 

Em qualquer dos casos, pretende-se submeter factos passados ao crivo de cartilhas ideológicas actuais em nome da correcção política. Ignorando vozes sábias, como a de Ramalho Eanes, que muito recentemente declarou: «Sem império, dificilmente teríamos mantido a independência em certas épocas. Seríamos uma Catalunha.»

 

Enquanto por cá isto se passa, vale a pena revisitarmos países e territórios que já fizeram parte do império colonial português. Para verificarmos como os símbolos históricos relacionados com Portugal são hoje ali encarados no espaço público. Proponho-vos uma pequena digressão em imagens oriundas de África, América, Ásia e Oceânia.

Sem lamúrias nostálgicas mas com respeito integral pelo tempo que passou.

 

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Mindelo, Cabo Verde: estátua do navegador Diogo Gomes

 

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Farim, Guiné-Bissau: padrão evocativo do Infante D. Henrique

 

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Huambo, Angola: estátua de Norton Matos, governador (1912-1915) e alto-comissário (1921-1924)

 

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São Tomé: estátuas dos navegadores João de Santarém, Pero Escobar e João de Paiva

 

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Ilha de Moçambique: estátua de Vasco da Gama

 

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Salvador, Brasil: estátua de Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil (1549-1553)

 

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Goa: Arco dos Vice-Reis, com estátua de Vasco da Gama 

 

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Damão: monumento aos portugueses que «morreram pela pátria»

 

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Diu: estátua de D. Nuno da Cunha, vice-rei da Índia (1529-1538)

 

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Macau: estátua do navegador Jorge Álvares

 

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Díli, Timor-Leste: padrão evocativo do Infante D. Henrique

A História e o pedestal

João André, 30.06.20

Faz-me pena a questão das estátuas vandalizadas ou derrubadas, não porque isso não faça necessariamente sentido, mas porque acima de tudo distrai do essencial: várias (quase todas, diria) sociedades são de facto estruturalmente racistas, mesmo que apenas como herança do passado.

É hoje indiscutível que as condições em que cada pessoa nasce e cresce condiciona fortemente o seu futuro. Há quem destrua todas as condições de privilégio em que nasce e outros que ultrapassam as limitações do seu ambiente. Em geral, contudo, quem nasce pobre tem de subir um plano inclinado e quem nasce mais confortável terá uma inclinação mais suave pela frente.

O racismo passado criou condições para múltiplas pessoas serem condicionadas fortemente a terem montanhas bem íngremes pela frente só devido à cor da pele dos seus antepassados. O similarity bias continua a garantir que tais montanhas se mantenham inclementes mesmo quando se consegue começar a subir. Isto é também indiscutível. Há casos em que certos grupos conseguem ultrapassar essas dificuldades mas habitualmente obtêm um patamar intermédio entre o grupo dominante e o grupo mais fortemente discriminado. Um exemplo extremo eram os indianos na África do Sul, discriminados mas acima dos negros (situação que continuará).

No fundo tudo se resume a um aspecto simples: acreditamos que há grupos que são mais ou menos capazes devido à cor da sua pele ou à sua origem geográfica? Se sim, então a visão é racista (os estudos honestos modernos continuam a negar tal conceito) mas a situação actual é compreensível e uma consequência destas diferenças. Se se entender (como eu) que não há qualquer diferença significativa nas capacidades das pessoas de grupos diferentes, então é a sociedade que é racista se não virmos uma representação em cargos públicos, nos quadros das empresas, nas universidades, etc, razoavelmente equivalente à distribuição dos diferentes grupos na sociedade.

Esta é a realidade actual e não é por o presidente anterior dos EUA ser negro (ou mestiço) ou o primeiro-ministro português ser de descendência goesa que o resto da sociedade é não-racista. E se é racista, é normal que haja grupos cujas frustrações colectivas mantidas ao longo de séculos a certa altura extravasam. Ainda mais normal é que estas se manifestem em símbolos desse passado, sejam estes símbolos do racismo (nos EUA, Jefferson Davis) ou apenas representantes do seu tempo (George Washington ou Thomas Jefferson, que possuíram escravos).

Relembremos: as estátuas não são a priori história, antes representam figuras históricas. Nalguns casos as estátuas pertencem à história, pelo que representam, pelo que demonstram, pela arte que as construiu. Não devem por isso ser destruídas, mas não significa que tenham que ser mantidas. Não devemos simplesmente juntar uma turba furiosa para as derrubar, mas a presença de tal exigência deveria levar a uma reflexão sobre o valor da mesma estátua e a validade de a manter. Isso sim, ajudaria a pensar a história. O resto é apenas esconder o passado debaixo do pedestal.

A vitória póstuma de Hitler

Pedro Correia, 15.06.20

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O impensável vai acontecendo por estes dias. Com o populismo mais radical a dominar a agenda política e a fazer recuar os governantes timoratos, que gostam de apregoar as virtudes do "centro" mas ajoelham e rendem-se à primeira gritaria extremista que ouvem ao virar da esquina.

Nada é tão vergonhoso, para mim, como aquilo a que temos assistido em Londres. Na mesma capital que nunca se subjugou a tirania alguma. Nem sequer quando toda a Europa estava sitiada. Nesses tempos de som e fúria, quando a besta alucinada cavalgava à solta no nosso continente, do lado de lá do Canal da Mancha houve um homem convicto que soube dizer a palavra "não". E, corajosamente, enfrentou Hitler quase sozinho. Enquanto muitos outros, de Estaline a Franco, lhe faziam vénias e prestavam vassalagem.

Confesso: é com indisfarçável repulsa que vejo estas imagens de Londres, captadas nos últimos dias. Com a estátua de Churchill conspurcada por aqueles que, se não fosse ele, andavam agora a marchar de braço ao alto em hossanas a um verdugo austríaco especializado em gasear judeus, cristãos, ciganos, homossexuais e comunistas. 

É com um asco ainda maior que observo como podem ser pusilânimes aqueles políticos que - como o alcaide de Londres, um tal Sadiq Khan -  mandam encaixotar a estátua, em jeito de mal menor, transformando simbolicamente Churchill, depois de morto, em algo que ele nunca foi em vida: um cobarde.

Desprezo profundamente esta gente, movida pela ideologia da correcção política, que é adubo de novas ditaduras. Graças ao império da estupidez, tantos anos depois, uns e outros conseguem aquilo que Hitler jamais foi capaz de alcançar, com ele vivo, pela força bruta: dobrar Churchill. Conferindo uma coroa de glória póstuma ao tirano nazi.

Metem-me nojo.

 

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Uma estátua para D. João II

Pedro Correia, 18.06.19

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D. João II (retrato do século XVI)

 

Quase todas as grandes cidades portuguesas têm estátuas de figuras ilustres da nossa História. Incluindo, naturalmente, dos monarcas que contribuíram para fundar e robustecer este Estado-Nação, um dos mais antigos do mundo com as suas actuais fronteiras, definidas no rectângulo continental desde 1249, com a conquista do Algarve, e na sua globalidade desde o século XV, com a descoberta e povoamento das ilhas atlânticas.

São conhecidas da generalidade dos portugueses estátuas tão majestosas e emblemáticas como a de D. José implantada em 1775 no Terreiro do Paço, ou a de D. Pedro IV, descerrada em 1866 no coração da Baixa portuense. Sem esquecer a do nosso monarca fundador, D. Afonso Henriques, que se ergue junto ao castelo de Guimarães. Ou a moderna evocação de D. Sebastião, no centro de Lagos.

Várias outras cidades ou vilas têm estátuas de reis que de algum modo lhes estiveram ligados por acontecimentos diversos - ou por lá terem nascido, ou por lhes terem atribuído carta de foral ou ali feito uma inauguração de vulto, ou porque as tomaram aos mouros, alargando o perímetro das fronteiras portuguesas. Acontece, por exemplo, na Guarda (D. Sancho I), em Silves (D. Sancho II), Faro (D. Afonso III), Leiria (D. Dinis), Cascais (D. Pedro I), Lisboa (D. João I), Alcochete (D. Manuel I), Coimbra (D. João III), Vila Viçosa (D. João IV), Mafra (D. João V), Queluz (D. Maria I), Castelo de Vide (D. Pedro V) ou Cascais (D. Carlos). Com maior ou menor mérito, todos são ostensivamente recordados em mármore ou bronze.

Há, no entanto, uma evidente lacuna neste vasto conjunto de estátuas régias distribuídas de norte a sul do País. Refiro-me a D. João II, que passou à História com o cognome de Príncipe Perfeito. Reinou durante 14 anos, entre 1481 e 1495, embora tenha assumido a governação do Estado desde 1477, por abdicação efectiva de seu pai, Afonso V. Foi sob o seu comando que Portugal deu um impulso decisivo à epopeia das navegações, assumindo-se como precursor da globalização em vários marcos: chegada de Diogo Cão às costas de Angola e da Namíbia; início da colonização de São Tomé e Príncipe; envio de Pero da Covilhã por terra à Etiópia, Cairo, Adém, Ormuz e Goa; passagem do cabo da Boa Esperança, assim baptizado por Bartolomeu Dias; assinatura do Tratado de Tordesilhas com os reis de Espanha; preparação da armada de Vasco da Gama que inauguraria o caminho marítimo para a Índia.  

D. João II é o único dos nossos grandes reis ainda sem estátua numa cidade portuguesa. Em 1998, numa rotunda do que hoje se chama Parque das Nações, foi inaugurada uma peça em bronze supostamente em sua homenagem: é um bloco abstracto, que em nada alude ao Príncipe Perfeito. Fica o desafio aos decisores políticos, a nível nacional, regional ou autárquico: pôr fim a esta chocante omissão erguendo um monumento a D. João II realmente digno desse nome. Em 2020 assinala-se o 525.º aniversário da morte do monarca: é um ano apropriado para tal fim.

 

Publicado originalmente no jornal Dia 15.

Estátuas dos nossos reis (apêndice 5 e último)

Pedro Correia, 23.04.19

S. Pedro de Moel - Estátua de D. Dinis e da Raín

Estátua de D. Dinis e da Rainha Santa Isabel, em São Pedro de Moel (1972)

 

D. Afonso Henriques (1128-1185) 26

Estátuas e bustos em Alcanede, Alcobaça (2), Amares, Arcos de Valdevez, Barcelos, Caldas da Rainha, Cartaxo, Castelo Branco, Corroios, Guimarães (4), Leiria, Lisboa (3), Ourique, Porto, Santarém, Torres Novas, Viseu, Luanda (Angola), Rio de Janeiro (Brasil) e Zamora (Espanha)

D. Sancho I (1185-1211) 10

Estátuas e bustos em Alcobaça, Castelo Branco, Famalicão, Guarda, Guimarães, Lisboa, Penalva do Castelo, Sesimbra, Silves e Torres Novas

D. Afonso II (1211-1223) 4     

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Guimarães e Lisboa

D. Sancho II (1223-1248) 6       

Estátuas, bustos e mini-estátua em Alcobaça, Castelo Branco, Elvas (2), Guimarães e Lisboa

D.Afonso III (1248-1279) 7   

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Faro, Guimarães, Leiria, Lisboa e Viana do Castelo

D. Dinis (1279-1325) 16      

Estátuas e bustos em Alcobaça, Caldas da Rainha, Castelo Branco, Coimbra (2), Guimarães, Leiria, Lisboa, Odivelas, Ourique, Salvaterra de Magos, São Pedro de Moel, São Roque do Pico, Trancoso, Vila Flor e Vila Nova de Foz Coa

D. Afonso IV (1325-1357) 4        

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Guimarães e Lisboa

D. Pedro I (1357-1367) 7  

Estátuas e busto em Alcobaça, Cascais, Castelo Branco, Coimbra, Guimarães, Lisboa e Lourinhã

D. Fernando I (1367-1383) 5     

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Guimarães, Leça do Balio-Matosinhos e Lisboa

D. João I (1385-1433) 6    

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Guimarães e Lisboa (3)

D. Duarte (1433-1438) 4 

Estátuas e busto em Castelo Branco, Guimarães, Lisboa e Viseu

D. Afonso V (1438-1481) 5      

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco, Guimarães e Lisboa (2)

D. João II (1481-1495) 6       

Estátuas e busto em Alcobaça, Alvor-Portimão, Castelo Branco, Guimarães e Lisboa (2)

D. Manuel I (1495-1521) 11     

Estátuas e bustos em Alcobaça, Alcochete, Almendra-Foz Coa, Castelo Branco, Elvas, Funchal, Guimarães e Lisboa (4)

D. João III (1521-1557) 7   

Estátuas e busto em Amarante, Castelo Branco, Coimbra (2), Guimarães, Lisboa e Portalegre

D. Sebastião (1557-1578) 9 

Estátuas e busto em Amarante, Amares, Castelo Branco, Esposende, Guimarães, Lagos e Lisboa (3)

D. Henrique (1578-1580) 4   

Estátuas, mini-estátua e busto em Amarante, Amares, Castelo Branco e Lisboa

D. António (1580) 2   

Estátua e busto em Angra do Heroísmo e Santarém

D. Filipe I (1580-1598) 2   

Estátua e mini-estátua em Amarante e Castelo Branco

D. Filipe II (1598-1621) 1

Mini-estátua em Castelo Branco

D. Filipe III (1621-1640) 1

Mini-estátua em Castelo Branco

D. João IV (1640-1656) 5 

Estátuas e bustos em Amares, Castelo Branco, Lisboa (2) e Vila Viçosa

D. Afonso VI (1656-1683) 3 

Estátuas e busto em Alcobaça, Castelo Branco e Lisboa

D. Pedro II (1683-1706) 4  

Estátuas e bustos em Alcobaça, Castelo Branco, Coimbra e Lisboa

D. João V (1706-1750) 8

Estátuas e bustos em Alcobaça, Alter do Chão, Castelo Branco, Lisboa (2), Mafra (2) e Santos (Brasil)

D. José (1750-1777) 5 

Estátuas e bustos em Alcobaça, Castelo Branco, Coimbra e Lisboa (2)

D. Maria I (1777-1816) 4 

Estátuas e bustos em Lisboa (2), Malveira e Queluz

D. João VI (1816-1826) 14  

Estátuas e bustos em Lisboa (3), Porto, Queluz (2), Brasília, Rio de Janeiro (6) e Salvador

D. Pedro IV (1826) 15

Estátuas e bustos em Alfeite-Almada, Angra do Heroísmo, Lisboa (2), Porto (3), Vila Nova de Gaia, Brasília, Itu-São Paulo, Rio de Janeiro (4) e São Paulo

D. Maria II (1834-1853) 4 

Estátuas e bustos em Famalicão, Lisboa, Mafra e Rio de Janeiro

D. Fernando II (1836-1853) 5 

Estátua e bustos em Alfeite-Almada, Lisboa e Sintra (3)

D. Pedro V (1853-1861) 7 

Estátuas e bustos em Braga, Castelo de Vide, Lisboa (3), Mafra e Porto

D. Luís (1861-1889) 6 

Estátuas e bustos em Alfeite-Almada, Cascais (2), Covilhã e Lisboa (2)

D. Carlos (1889-1908) 6

Estátuas e bustos em Cascais, Lisboa (3), Mafra e Ponta Delgada

D. Manuel II (1908-1910) 3

Estatueta e bustos em Lisboa, Oliveira do Hospital e Vila Nova de Gaia

Estátuas dos nossos reis (apêndice 4)

Pedro Correia, 22.04.19

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A mais célebre estátua do nosso primeiro Rei, erguida em Guimarães (1887)

 

O nosso Rei mais representado em estátuas é D. Afonso Henriques: ao longo de quase oito meses, contabilizei nada menos do que 26. Não admira: foi o fundador da nacionalidade, é um dos nossos heróis nacionais e distinguiu-se também por ser o monarca português com reinado mais longo.

Segue-se D. Dinis - rei-lavrador, rei-poeta, fundador da Universidade de Coimbra. Com 16 monumentos em forma de estátua ou busto espalhados pelo território nacional. 

O terceiro e quarto mais enaltecidos em estátua, com praticamente o mesmo número de monumentos evocativos, são pai e filho: D. João VI e D. Pedro IV. Contando, cada qual, com um bom contributo de representações no Brasil, como já indiquei. D. Pedro tem 15, D. João tem 14.

Na quinta posição figura o nosso Rei Venturoso, D. Manuel I, em cujo reinado foram inauguradas as rotas marítimas para a Índia e o Brasil. Conta com 11 estátuas. 

Seguem-se D. Sancho I (com dez), D. Sebastião (com nove) e D. João V (com oito). Amanhã, para rematar a série, publicarei aqui a lista completa das 232 estátuas que consegui identificar - mais duas do que o registo inicialmente estabelecido.

Estátuas dos nossos reis (apêndice 3)

Pedro Correia, 19.04.19

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Estátua equestre de D. Pedro IV (Pedro I do Brasil) inaugurada em 1862 no Rio de Janeiro

 

Das 230 estátuas de reis que aqui apresentei entre 27 de Agosto de 2018 e 13 de Abril de 2019, há 19 que não se encontram em território português. Cinco monarcas estão representados, em estátua ou em busto, noutras paragens. E existe até um homenageado em três países, além de Portugal.

Destaque, neste grupo de reis, para D. João VI - perpetuado em bronze ou mármore oito vezes nas cidades brasileiras do Rio de Janeiro, Brasília e Salvador. Algo que facilmente se entende, pois este monarca decidiu transferir a capital do reino de Lisboa (então ameaçada pela invasão das tropas napoleónicas) para o Brasil, numa inédita deslocação de uma corte europeia para outro continente. E lá permaneceu entre 1808 e 1821, dinamizando a cidade do Rio de Janeiro e criando de algum modo as bases para a independência do país irmão - prefigurada na criação do Reino Unido de Portugal e do Brasil, em 1815, ainda com D. João como príncipe regente, governando em lugar de sua mãe, D. Maria I, rainha titular mas incapacitada para a função.

O segundo Rei mais representado fora das nossas fronteiras é D. Pedro IV - que foi Pedro I do Brasil, após ter ali proclamado a independência, a 7 de Setembro de 1822, instituindo-se nos nove anos seguintes como imperador. Tem estátuas ou bustos em Brasília, Itaú, Rio de Janeiro e São Paulo. Seis, no total.

Outros dois reis de algum modo ligados ao Brasil são D. João V, que geriu um dos períodos de maior prosperidade desde sempre registados em Portugal precisamente devido à extracção do ouro brasileiro durante o seu longo reinado (1706-1750), e a sua trineta D. Maria II, nascida em 1819 no Rio de Janeiro - única monarca portuguesa vinda ao mundo fora do rectângulo lusitano. Ele tem um monumento em Santos, ela está representada em estátua na cidade onde nasceu e viveu até aos nove anos.

Falta mencionar o nosso primeiro Rei. D. Afonso Henriques é evocado em três estátuas implantadas fora de Portugal: a mais antiga está em Luanda e data de 1938, encontrando-se hoje na fortaleza de São Miguel; a segunda existe desde 1993 na cidade espanhola de Zamora para assinalar os 850 anos do tratado luso-castelhano que ali formalizou a independência de Portugal; a terceira foi descerrada em 2018 na sede da Casa do Minho do Rio de Janeiro.

A História em pedra viva lembra-os a todos, lá e cá.

Estátuas dos nossos reis (apêndice 2)

Pedro Correia, 18.04.19

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O levantamento que fui fazendo ao longo de quase oito meses no DELITO DE OPINIÃO permitiu-me concluir isto: há seis capitais de distrito sem qualquer monumento evocativo de um monarca português. O que não deixa de ser estranho, dada a estreita ligação de várias destas cidades a reis durante mais de sete séculos da nossa História. 

Sem surpresa, Lisboa é a cidade que mais se destaca nestas evocações em forma de estátua ou busto. Com representações de quase todos os monarcas, excepto D. Miguel, D. Maria II e os dois reis consortes (Pedro III e Fernando II), que não consegui vislumbrar. As mais célebres são as de D. José, dominando em estátua equestre o majestoso Terreiro do Paço, D. Pedro IV, no alto da coluna que se agiganta no centro do Rossio, e D. João I, imortalizado também sobre uma montada real, na Praça da Figueira.

Segue-se Castelo Branco, onde estão representados todos os nossos reis até D. José - incluindo o cardeal D. Henrique e os três Filipes, em ponto pequeno. No jardim do paço episcopal, o ponto mais emblemático da cidade.

Coimbra - que foi durante o primeiro século capital do Reino de Portugal, até ao reinado de D. Afonso III - é também, de algum modo sem surpresa, outra cidade com grande representação escultórica de monarcas. São cinco: D. Dinis, D. Pedro I, D. João III, D. Pedro II e D. José. 

Segue-se o Porto, com quatro: D. Afonso Henriques, D. João VI, D. Pedro IV e D. Pedro V. Destaque para as estátuas equestres de D. João VI, no Castelo do Queijo, e do seu filho que viria a ser igualmente imperador do Brasil, na imponente Praça da Liberdade.

Com três estátuas, destaca-se Leiria (D. Afonso Henriques, D. Afonso III e D. Dinis). Com duas, contabilizei Santarém (D. Afonso Henriques e D. António, prior do Crato), Viseu (D. Afonso Henriques e D. Duarte) e Angra do Heroísmo (bustos de D. António e D. Pedro IV). 

Finalmente, há representações em estátua ou busto de monarcas nas seguintes capitais distritais ou regionais: Braga (D. Pedro V), Faro (D. Afonso III), Funchal (D. Manuel I), Guarda (D. Sancho I), Portalegre (D. João III), Ponta Delgada (D. Carlos) e Viana do Castelo (D. Afonso III).

Não detectei a existência de monumentos alusivos a qualquer dos nossos reis em Aveiro, Beja, Bragança, Évora, Setúbal e Vila Real. Lapso meu? Se assim for, peço desde já aos leitores que me corrijam. Confesso alguma estranheza por ver cidades importantes assim desligadas de personalidades que marcaram a História de Portugal.

Estátuas dos nossos reis (apêndice 1)

Pedro Correia, 17.04.19

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Na sequência de uma outra, dedicada aos rios portugueses, lancei aqui no DELITO uma série de postais com estátuas (e bustos) dos nossos reis. Era só mudar uma vogal, para passar de rio a rei. Mas esta, confesso, demorou muito mais do que eu imaginava à partida. Iniciei-a a 27 de Agosto de 2018, crente de que três meses depois se esgotaria.

No entanto, à medida que fui fazendo pesquisas - e muitas horas demorei nisto, acreditem -, ia percebendo como estava enganado. Afinal eram muito mais as estátuas em memória dos nossos monarcas do que eu havia suposto. De tal maneira que, em vez de terminar a série no final de Novembro, como tinha previsto, acabei por encerrá-la só a 13 de Abril. Duzentos e trinta dias depois.

Contei, para o efeito, com a prestimosa e generosa colaboração dos leitores. Não vou destacar ninguém, para evitar a omissão involuntária de nomes que também mereciam ser realçados, mas deixo aqui o meu agradecimento a todos quantos me alertaram para a existência de estátuas ou bustos ou estatuetas que eu desconhecia. O que muito me satisfez, pois a assumida intenção destes postais blogosféricos é todos aprendermos alguma coisa. A começar por mim.

Nos próximos dias, farei aqui um pequeno balanço com as conclusões que esta série me permitiu extrair. Algumas, verdadeiramente surpreendentes; outras, nem por isso. Desde logo, a de que apenas existem dois reis portugueses sem representação escultórica, em pedra ou bronze.

O primeiro foi D. Pedro III - filho, irmão, marido, pai e avô de reis, monarca consorte pelo casamento com D. Maria I, entre 1777 e 1788. Era bisneto de D. João IV, o Restaurador. Filho de D. João V, irmão de D. José, pai de D. João VI, avô de D. Pedro IV e D. Miguel. Com a sobrinha Maria manteve um matrimónio feliz, segundo rezam as crónicas.

O segundo foi precisamente D. Miguel. O mais novo dos filhos de D. João VI, monarca absolutista, derrotado após seis anos de guerra civil pelo irmão Pedro, que sempre lhe chamou «mano» mas não evitou o seu banimento perpétuo do País após Miguel ter renegado a Convenção de Évora-Monte que selara a paz na sequência de seis anos de sangrenta guerra fratricida e da instauração das longas décadas de monarquia constitucional.

Um e outro, cada qual à sua maneira, foram apagados da memória histórica perpetuada em estátua. Quase como se nunca tivessem existido. Para compensar de algum modo esta omissão, trago hoje o belo retrato de D. Miguel que se encontra no Palácio de Queluz - pintado em 1827 por Johann Ender, quando o jovem monarca tinha 25 anos.

Um dia, se tiver tempo e paciência, talvez me lance noutra empreitada, reproduzindo aqui os quadros com imagens dos nossos reis, como fiz com as estátuas nos quase oito meses que ficaram para trás. Mas enquanto não chega a nova série, ainda há que cuidar do balanço da que agora terminou.

Amanhã regresso ao tema.